Arquivo para janeiro, 2014
Japonês desenvolve pinturas com Excel
A planilha eletrônica pode ser usada para muitas coisas, as principais são tabelas e gráficos, também para contabilidade, fazer estatísticas, mas o japonês Horiuchi a usa para pintar.
A história dele não é nova, em 2006 ganhou um prêmio no Excel Art Contest, e já naquele momento a sua arte era bem mais expressiva que de seus concorrentes.
Para ele o Excel é uma ferramenta bem melhor que o Paint, mais simples e usada por muitas pessoas ou mesmo o Adobe Photoshop usado por designers e artistas, conta que inicialmente pensava num passatempo, e vendo Excel pensou “provavelmente eu consigo desenhar nisso”.
Ele estava para se aposentar, Tatsuo Horiuchi queria um desafio para o restante da sua vida. Ele viu então pessoas usando o Excel para criar gráficos, e pensou “provavelmente eu consigo desenhar nisso.” Ele nunca precisou usar o Excel para trabalhar, mas não demorou para dominar as técnicas do software. E, agora, ele acredita que o Excel é melhor para esse tipo de coisa do que o Paint, o software bem simples da Microsoft para criação e edição de imagens.
Mas a novidade não para aí, suas obras estão compartilhadas e você pode baixar o arquivo de Excel de duas obras: Flores de Cerejeira no Castelo Jogo (2006) e Kegon Falls (2007) , provavelmente será o primeiro mestre de paintsourcing ou se preferir crowdpainting.
Alguns vão dizer que não é arte, mas Tatsuo está feliz e compartilha com todas as belas telas que faz.
http://www.moug.net/img/campaign/2007/a3.zip
Primeira biblioteca sem livros físicos
Faz alguns meses que ela começou a operar, e foi muito bem recebida pelo público, mas alguns questionamentos devem ser feitos já que as próprias notícias dizem parecer uma Apple Store, com os bibliotecários imitando as vestes da Apple “com camisas combinando com o capuz”.
Sim a Biblioteca chamada BiblioTech imitam as Apple Store, a notícia da Associated Press afirma: “O Texas viu o futuro das bibliotecas públicas, e elas parecem muito com uma Apple Store: fileiras de iMacs brilhantes acenam. iPads montados em uma mesa cor de tangerina convidam os leitores. E centenas de outros tablets estão prontos para serem levados por qualquer pessoa com um cadastro na biblioteca.“.
Olhando as fotos do interior BiblioTech, parece mais ser uma loja comum e não de uma biblioteca, talvez um laboratório de informação de alguma faculdade, mas não uma biblioteca, nem mesmo bibliotecas modernas com pontos culturais e muito espaço.
O prédio onde fica a BiblioTech tem 45 iPads, 40 laptops e 48 desktops para serem consultados por seus visitantes, que podem navegar por um catálogo de 10.000 e-books.
A pessoa que não tem um tablet ou e-reader pode também emprestar o dispositivo para ler a versão digital do livro em casa, ela pode pegar um dos aparelhos e aluga-lo são 600 e-readers tradicionais e 200 outros voltados para crianças, não necessariamente Apple.
Por enquanto muito se discute do futuro dos livros, se eles serão apenas digitais, ou se ainda há espaço para as suas formas físicas, ao nosso ver as bibliotecas podem começar a se preparar para os dois cenários: aquele em que todo mundo lê apenas versões digitais de obras sem a necessidade de carregar livros pesados, e, aqueles que sentem que o contato com o livro físico é necessário e não abrem mão dele.
Se o futuro seria cruel com livros físicos ou não, ainda não sabemos, mas a missão das bibliotecas é compartilhar informação e pode possibilitar, entre outros, os dois serviços.
A nova era Pátria-Mundo
Conforme já esclarecemos Edgar Morin e Anne Brigitte Kern chamam de Pátria-Terra, e embora vejam a importância ontológica do conceito, entendo que ver o Mundo como Pátria é mais abrangente pois incorpora além dos povos e o próprio Planeta, o mundo como um ser vivente e presente na realidade das culturas e dos povos.
Os capítulos 2 e 3 da identidade terrena e da agonia planetária, ainda que os temas sejam relevantes, essencialmente penso que a crise envolve algo além das contradições e das questões culturais e políticas em jogo, o que está em jogo, nisto concordo com o autor, é que o homem agora se vê como um todo, assiste sua vivência planetária e as comunicações jogam um papel importante nesta visão humana é claro, mas com dispositivos midiáticos auxiliares.
Uma nova etapa civilizacional se realiza, e sua análise no capítulo 4, embora divida em 5 etapas, a saber: o início da hominização, o homo erectus, o homo sapiens, o nascimento da história (agricultura, agropecuária, cidade-estado) e o quinto que estaria acontecendo que seria o nascimento da “sociedade/comunidade dos indivíduos, das etnias e das nações” (pag. 112 do livro Terra-Pátria dos autores).
Essencialmente concordo que estaríamos no fim da idade do ferro, e que a “noção de desenvolvimento tem que ser repensada, total e radicalmente” (pag. 112), mas os autores afirmam que isto se deu a partir dos anos 50 no pós-guerra, entretanto a visão de Pátria-Mundo é ampliada entendendo que a partir do final da idade média ocorreu um aprisionamento do “espírito humano” (da noosfera portanto) ligando-a ao domínio da natureza e com ela do próprio homem pelo homem.
Os autores discorrem corretamente: “que temos pois que separar a noção de desenvolvimento do seu invólucro economicista” (pag. 112) e constatam que é um erro de natureza econômica redutor “julgar que o mercado contém em si todas as soluções para o problema de civilização” (pag. 113) e “o socialismo e o capitalismo foram, em sua, mitos de desenvolvimento” (pag. 114) e que ambos não podem ser “concebidos como noções providencialistas, imperialistas e redutoras” (pag. 114).
Os autores constatam o fenômeno-chave da era planetária: “o subdesenvolvimento moral, psíquico e intelectual” (pag. 115) dos desenvolvidos, e a proliferação de ideias gerais: “ocas e das visões mutiladas, a perda do global, do fundamental e da responsabilidade” (pag. 115).
Devemos respeitar as cultuas locais na era planetária, porém os autores citam usando M. Murayama que cada cultura tem qualquer coisa de “disfuncional (defeito de funcionalidade), de misfuncional (funcionando num mau sentido), de subfuncional (efetuando uma performance ao nível mais baixo) e de toxifuncional (criando prejuízos no seu funcionamento)” (pag. 116) e é por isto que devemos nos abrir a “outras culturas” sem precisar perder a própria.
Uma pausa para a tecnologia
Estamos navegando pela leitura de Edgar Morin sobre a emergência de uma era “planetária” de um mundo que se vê em conjunto, talvez mais unido mas respeitando sua diversidade.
Finalizou na semana passada a feira CES (Consumer Eletronics Show) em Las Vegas, onde estiveram presentes mais de150 mil pessoas, com 3.500 produtos nov os, que iam desde as TVs 4k (quatro vezes a HD alta-definição), drones (aviões teleguiados), carros inteligentes, dispositivos versáteis como máquinas de lavar roupa e outros eletrodomésticos mais inteligentes.
Uma novidade já conhecida mas que promete em 2014, são os smartwatches, relógios inteligentes alguns interessantes e discretos como o Toq, da Qualcomm, outros mais criativos e vistosos como o Galaxy Gear, da Samsung, mas o destaque para os tecnólogos foi o Nabu, da Razer, que muda o conceito de relógio e mais parece uma pulseira com diversas funções.
O outro destaque são os carros mais inteligentes, os recursos mais apreciados são os que evitam colisões durante as manobras de estacionar e sair, mas a tendência de carros sem motoristas parece ser prá valer, pois já estão em testes nas montadoras.
Depois de algum tempo sem muita novidade, os novos chips com processamento gráfico parecem decididos a migrar dos games para os tablets e PCS, a Nvidia promete trazer visuais dignos dos videogames de nova geração para tablets e smartphones. Um com 192 núcleos, o K1 emprega a tecnologia das placas de vídeo Kepler e eleva a qualidade de imagem dos jogos de aparelhos móveis para o nível dos consoles de mesa e PCs.
As TVs 4k já são a muito anunciadas e devem chegar ao mercado nacional este ano, os equipamentos iterativos 3D para games interativos também mostraram um incrível realismo (ver foto).
Uma teleparticipação planetária
Todo este processo excluiu pessoas e culturas, Edgar Morin e Anne B. Kern ao analisarem a emergência da Terra-Pátria, lembram que a invasão da China pelo Japão em 1931 foi ignorada pela europa, a “guerra do Chaco entre a Bolívia e Argentina (1932-1935) ocorreu noutro planeta” (pag. 38), e “só depois de 1950 é que a guerra da Coréia, a do Vietnam e (com a generalização da televisão) as do Médio Oriente se tornaram próximas.” (pag. 38).
É então que os acontecimentos mundiais começam a parecer que ocorrem no nosso quintal, os autores citam o assassinato de Kennedy, no Dallas, em 1963, a chegada de Sadat a Jerusalém e o seu assassínio em 1981, o atentado contra o Papa em Roma, o assassínio de Indira Gandhi e seu filho Rhajiv e o assassinato de Mohammed Boudiaf na Casa da Cultura de Anaba, e acrescentam os autores “nem que seja só durante o tempo de um flash a emoção humana brota ao ponto de levarmos nossas roupas, o nosso óbolo às organizações internacionais de ajuda às missões humanitárias” (pag. 39).
É só quando as pessoas veem é que a ajuda médica e alimentar chegam, mas quando os autores escreveram o livro (no ano 2000) diziam que ainda “sentíamo-nos planetários por flashes” (pag. 39), será que agora com os vídeos e fotos simultâneos podemos dizer o mesmo?
Os tsunamis, os furacões, as inundações parecem que ocorrem em lugares distantes nos fazem sentir mais ao lado de povos tão distantes, e nos trazem o “sentimento de pertencer à mesma comunidade de destino, agora comunidade do planeta Terra” (pag. 39)
Os autores finalizam o capítulo 1, apesar da preocupação com “convulsões agônicas” afirmam que “apesar de não haver agora uma comunidade de destino, ainda não existe consciência comum desta Schicksalgemeinschaft.” (pag. 41) (comunidades que em certas situações compartilham o destino: náufragos, pessoas presas numa mina, etc. e que agora pode tornar-se um sentimento comum a todo o planeta) e nisto incluo a noosfera, “o espirito” planetário.
Os autores analisam ainda a identidade planetária (capítulo 2) e os problemas da agonia planetária (capítulo 3), mas sou otimista creio que é possível agora que temos um espelho midiático em rede, ver de fato a cara que temos e decidir como torna-la agradável criando uma nova Pátria-Mundo: povos, culturas, biosfera e noosfera compartilhadas por todos.
A mundialização da cultura
O desenvolvimento de uma cultura mundial e também a sua contracorrente é observado pelos autores Edgar Morin e Anne B. Kern para apontarem que ao mesmo tempo em que o mundo caminha para uma maior unidade, também a diversidade reage e procura dar subsistência às culturas.
Embora o “consumo, a alimentação (fast-food), a viagem, o turismo” e também: as “comunicações multiplicam-se entre adolescentes, portadores das mesmas aspirações, da mesma cultura cosmopolita, dos mesmos códigos” em contrapartida, engenheiros, cientistas e homens de negócios circulam por redes internacionais de relações, colóquios congressos e seminários, mas deve dizer-se também que as contracorrentes que sacralizam a nação e a etnia restabelecem os tabiques e as rejeições. Também neste caso, o processo comporta uma profunda ambivalência” (pag. 35 do livro Terra-Pátria destes autores).
E esta ambivalência é apontada pelos autores como tendo dois aspectos antagônicos: “1) homogeneização, degradação, perda das diversidades; 2) encontros, novas sínteses e novas diversidades” (pag. 36), mas havendo a compreensão neste multiculturalismo a longo prazo significa que será possível harmonizarem-se numa “unidade na diversidade”.
É assim que segue o texto: “quando se trata de arte, música, literatura, pensamento, a mundialização cultural não é homogeneizante … assim foi a Europa com o Classicismo, as Luzes, o Romantismo, o realismo e o Surrealismo” (pág. 36), agora o século XX assiste à mundialização deste processo cultural. As traduções multiplicam-se. Os romances japoneses, latino-americanos e africanos são publicados nas grandes línguas europeias e os romances europeus são publicados na Ásia e nas Américas”. (pag. 36)
“Paralelamente, as culturas orientais suscitam no Ocidente diversas curiosidades e interrogações … já traduzira Avesta e Upanishads: no século XVIII, Confúcio e Lao Tse objetos de estudos eruditos” (pag. 36) … “Surge então uma procura para a qual ocorrem as formas vulgarizadas e comercializadas do ioga e do zen, que prometem harmonia do corpo e da alma” (pag. 37), enquanto isso se formava um “folclore planetário” como chamam os autores.
Ao mesmo tempo em que o cinema americano propagava pelo folclore mundial os filmes de western, a comédia musical, o desenho animado de Walt Disney, cresceram co-produções de diferentes nacionalidades como Leopardo de Visconti ou Ran de Kurosawa, citados no livro.
Finalizam esse tópico observando que a mundialização cultural é inseparável do desenvolvimento mundial das redes midiáticas e da difusão mundial dos meios de reprodução (vídeos, discos compactos) são citados já que o livro é do ano 2000, mas agora podemos acrescentar Blu-rays, pendrives, smartphones e o compartilhamento em nuvens.
Esboços de uma consciência planetária
A ameaça atômica (iniciada pelo ocidente) continua a ser um fator presente, recordemos o recente episódio do tsunami no Japão que afetou as usinas nucleares de Hiroshima, Edgar Morin e Edgar B. Kern iniciam a questão da consciência planetária, analisando esta questão em conjunto com a questão ecológica e “a entrada do Terceiro Mundo” até então apenas um joguete nas mãos da luta econômica dos países mais desenvolvidos.
“A descolonização dos anos 195-1960 fez surgir no proscênio do Globo 1,5 bilhões de seres humanos até então atirados pelo Ocidente no caixote do lixo da história” (pag. 34) e essa humanidade “inspire medo ou compaixão, suas tragédias, as suas carências, a sua massa obrigam-nos permanentemente a relativizar as nossas dificuldades euro-ocidentais … os problemas do Terceiro Mundo (demografia, alimentação, desenvolvimento) são sentidos cada vez mais como os problemas do próprio mundo” (pag. 34).
Isto fez avançar uma unidade do homem do planeta, “apesar de todos os recuos etnocêntricos” (pag. 34) o que pode ser visto nas obras antropológicas de Levi-Strauss, Malaurie, Castre, Jaulin” e dos filmes e documentários que citam vários, entre eles Derzu Uzalá, de Akira Kurosawa, que falam de modo novo das pessoas “primitivas”.
É algo novo que a cultura ocidental tenta retomar da consciência perdida no pensamento da modernidade, que vê o homem apenas como “A consciência é a percepção imediata do sujeito daquilo que se passa, dentro ou fora dele.” ou ainda, como a relação com seus instrumentos, de produção, de consumo, ou no caso da ciência, com os objetos de estudo, mas ainda não é uma consciência ainda de mundo, planetária, que veja todos e tudo com um sentido relacional e humano.
A consciência planetária, sobre o problema das guerras, os problemas econômicos e sociais, fazem crescer é prisioneira da visão centrada no sujeito, e a ecologia é a primeira tentativa de liberar a consciência de um antropocentrismo, é o que chamo de pátria-mundo, que deve ser maior que a Pátria-Terra, ainda que este percepção planetária do sujeito seja muito importante.
Economia e consumo planetários
Se pode pensar que a visibilidade mundial é apenas pela nova comunicação midiática, porém já na metade do século passada isto se fazia presente.
Mesmo antes da queda do muro de Berlim, haviam “forças de integração de mundialização e de desintegração culturais, civilizacionais, psíquicas, sociais, políticas, a própria economia mundializou-se (e fragilizou-se) cada vez mais: assim a crise econômica nascida em 1973 da penúria do petróleo sofreu diversas transformações, sem nunca recuperar-se verdadeiramente” (pag. 30 do livro Terra-Patría de Edgar Morin e Anne B. Kern), ocorre numa “dialógica mundial”.
Os autores explicam que a queda da cotação do café, por exemplo, incita os camponeses da Colômbia a cultivar coca, que alimenta as redes internacionais do tráfico da droga, assim como os aumentos do salário na Alemanha podem afetar a cotação do cacau na Costa do Marfim, e os autores apontam o “abrandamento geral da atividade econômica” das quais destaco duas:
“… d) os Estados Unidos, com falta de dinheiro, fazem subir a taxa de juro; … f) os países do Terceiro Mundo onde a taxa de juro é indexada têm de reembolsar a uma taxa mais alta; …“ (pag. 31) que são interessantes de refletir para aqueles que acham que há no Brasil e em outros países da América Latina alguma independência da economia “mundial”.
Mas o outro aspecto da planetarização, que os autores chamam de “holograma” é que “cada parte do mundo faz cada vez mais parte do mundo, também o mundo, enquanto um todo, está cada vez mais presente em cada uma das suas partes. Isso acontece não só com as nações e os povos, mas também com os indivíduos” (pag. 31).
Cita inúmeros casos “toma-se chá do Ceilão, Índia ou China, a menos que seja um café moka da Etiópia ou um arábica da América Latina … pode-se encontrar sobre sua mesa de inverno [meu caso na Itália] morangos e cerejas da Argentina ou do Chile, o feijão verde fresco do Senegal ….” (pag. 32), etc. numa mundialização dos objetos do consumo.
Assim, “para o melhor e para o pior, cada um de nós, rico ou pobre, traz em si, sem o saber, o planeta inteiro. A mundialização é ao mesmo temo evidente, subconsciente e omnipresente” (pag. 33), mas será em nossa consciência, refletimos sobre isto ?
Mudanças no pos-guerra e esperança
A análise dos autores segue, e apesar de no pós-guerra haver “esperanças imensas num mundo novo, de paz e justiça … no enfraquecimento ou na ignorância de que o exército vermelho trazia não a liberação, mas uma outra servidão e de que o colonialismo relançara a sua influência na África e na Ásia … a guerra fria começa em 1947” (pag. 29, do livro Terra-Pátria de Edgar Morin e Anne B. Kern, que estamos analisando).
“A despeito de aberturas passageiras, os antagonismos dos dois grandes sistemas mantêm a sua virulência até 1985 e exasperam-se durante a guerra do Afeganistão” (pag. 27).
Mas “o definhamento do mito do ´socialismo real´, iniciado com o relatório Kruchtchev, continuado pela repressão húngara (1957) e da Primavera de Praga (1968), o mito do socialismo chinês definha também em 1975 (o ‘complot’ de Lin Piao, o caso do Bando dos Quatro), assim como o mito do Vitename liberador (sujeição do Camboja) … o processo reformador da Perestroika, que leva a implosão do totalitarismo comunista e ao desmembramento do seu império (1987-1991), fez ruir a grande religião de salvação terrena que o século XIX tinha elaborado para suprimir a exploração do homem pelo homem … “ (pag. 28).
O período subsequente parecia demonstrar que “as leis do mercado e os princípios do mercado livre triunfam aparentemente” (pag. 28) mas “as convulsões do pós-comunismo aceleram e amplificam um formidável processo de regresso ao passado, à tradição, à religião, à etnia, nascido, um pouco por todo o mundo, da crise do futuro [que os autores retornam no capítulo 3 e que fizemos neste blog uma relação com a tecnologia no texto de Alvin Tofler] e dos sobressaltos de identidade contra a homogeneidade.” (pag. 29)
Embora a análise possa parecer caótica, e é no sentido de complexa, há uma perspectiva de unidade na diversidade no ambiente do planeta-mundo que constroem nesta análise e a queda do muro de Berlim ainda é um ícone forte de outros “muros” que ainda devem cair.
As ideias e a Pátria-Mundo
Edgar Morin e Anne B. Kern chamam de Pátria-Terra o ambiente do início do século XV e explica que as religiões universalistas “abriam-se desde os primórdios a todos homens da terra” (pag. 21) mas “no começo da era planetária “os temas do ‘bom selvagem’ e do ‘homem natural’ foram antídotos, é verdade que muitos débeis” contra o desprezo pelos bárbaros civilizados, mas será em torno disto que se desenvolvem as ‘nações-estado’ da modernidade.
A evolução destas ideias vai fazer a antropologia europeia principalmente, vê nos arcaicos não ‘bons selvagens’, mas ‘primitivos infantis’ afirmam os autores (pag. 21).
Mas serão justamente os ‘teóricos’ dos ‘primitivos infantis’ que desencadearão a guerra de 1914-1918, quando um tiro em Sarajevo mata o herdeiro do trono dos Habsburgos (pag. 22), assim “um atentado local num canto perdido dos Balcãs determinou uma reação explosiva em cadeia que” acabou abrangendo quase toda Europa.
Os autores mostram que as análise não podem ser simplistas: “se a explicação da guerra é marxista (rivalidades entre os imperialismos) ou shakespeariana (desencadeamento do tumulto e da fúria, delírio da vontade de poder), porque a guerra é o produto histórico monstruoso da copulação força de Marx e de Shakespeare” (pag. 23) sentenciam.
E avançam na análise do período que se segue: “A economia mundial é agitada por sobressaltos no começo dos anos 1920, até que, em plena atmosfera de prosperidade reencontrada, a grande crise de 1929 faz emergir do desastre a solidariedade econômica planetária: um crash em Wall Street leva a depressão econômica a todos continentes” (pag. 24).
“Os anos 30 são dramáticos” … “A Alemanha nazi invade a Noruega, a Holanda, a Bélgica, a França em 1940” … chega ao leste europeu e a África … “num total de 100 milhões de homens e mulheres empenhados no conflito mundial”.
Finalizada a guerra, fundada a ONU (Organização das Nações Unidas), reinicia a guerra fria, “o planeta é polarizado em dois blocos, travando-se em toda parte uma guerra ideológica sem remissão” (pag. 26).
Que lições tiramos do bombardeio de Guernica (acima, 16 de abril de 1937) e da bomba atômica em Hiroshima (abaixo, 6 de agosto de 1945) ?