Arquivo para abril, 2018
Reflorescimento: é possível uma primavera no ocidente ?
Martha Nussbaum é a autora desta ideia, a que um reflorescimento é possível, gosto desta ideia não pela fundamentação que a autora tem na antiguidade clássica, de fato o renascimento foi uma fase promissora da humanidade, mas deu no liberalismo e no idealismo, que são correlatos, então que faltou ao renascimento ? penso que alguma disrupção.
É um fato que a justiça moderna se fundamenta nas teses de Hobbes, Locke, Rousseau e em última análise de Kant e, depois atualizada com Smith Bentham e Mill, mas Amartya Sem um co-autor com Martha Nussbaum de uma obra sobre a justiça, enumera três características do que chamam de “institucionalismo transcedental” (muito apropriado, diga de passagem):
– em primeiro lugar, porque a ideia de se pensar uma situação ideal que possa promover um acordo arrazoado e imparcial faz com que a teoria da justiça caia numa factilidade de um acordo (nada mais idealista é claro), e,
– o exercício da razão prática nos convida a refletir sobre quais são as alternativas viáveis para a promoção da justiça, e isto não significa (os fatos comprovam) superar as desigualdades.
Os autores nos orientam para perceber o sentido que as riquezas como meios nos levam a ter mais liberdade para viver a vida que valorizamos, e, isto significa expansão das capacidades.
Temos que valorizar as ações que nos habilitam para que nos tornemos seres humanos mais completos, e que nos capacitem principalmente para sermos protagonistas do mundo atual.
É necessário em primeiro lugar que o compreendamos bem, não há como fazer isto sem conhecimento, mas conhecimento das culturas e dos seres humanos que possuem as culturas.
Estou a 14 dias em Portugal, ao mesmo tempo tão próximo e tão distante, já me vi diante de situações e palavras que desconheço, expressões de contentamento e repulsa que desconhecia, entendi na pele o que significa “choque cultural”, mas encontrei muita coisa em comum, o que passei a chamar de “paternidade lusitana”.
A abordagem da capacitação de Martha Nussbaum e Amartya Sen me pareceram muito mais apropriadas, pois apesar de ter recursos para sobreviver em Portugal, falta-me incultura e os meios necessários para um convívio humano razoável com uma cultura próxima e distante.
Próxima pela língua, por muitos hábitos e até ditados e expressões comum com Portugal, mas distante porque é uma cultura mais densa, mais arraigada por quase um milênio de existência, que já teve uma fase imperialista e expansionista, um motorista de táxi que esteve em Angola e Moçambique me confidenciou: sempre fui estrangeiro lá, ainda que conhecesse a cultura.
Para reflorescer será necessário uma educação mundial para a paz, e isto implica em respeito a cultura diversa, a admissão de uma cidadania planetária e principalmente superar desigualdades sociais e econômicas.
Já é primavera em Portugal, mas ainda ocorrem os “aguaceiros” chuvas rápidas e repentinas que vem de repente e parecem gelar a alma
NUSSBAUM, M. “Capabilities as Fundamental Entitlements: Sen and Social Justice,” Feminist Economics, 9(2/3), 2003, p. 33–59.