Arquivo para agosto 10th, 2018
Idealismo e o pão da vida
O livro Crítica da Razão Cínica de Peter Sloterdijk, da década de 80 é uma alusão direta ao clássico de Kant Crítica da Razão Pura, é impossível ler num só folego, e também difícil de concordar numa primeira leitura, mas duas coisas me saltam os olhos o fato que vivemos num tempo de inocências perdidas, tudo é cruel e cínico, e o fato que nos tornamos “cúmplices”, os acadêmicos e estudiosos em especial, de uma desorientação geral, da política ao sagrado.
Sloterdijk trabalhos ao lado de Rüdiger Safranski, biografo de Kant e de Heidegger, até 2012, é, portanto, leitor atento e credenciado para a leitura do mundo atual, e em especial, para a crítica de Kant, a nosso ver a mais fundamental de nosso tempo.
Em entrevista de 2016, para Fronteiras do pensamento, o filósofo esclarece o conceito equivocado de Feuerbach, que Deus é uma projeção da humanidade no céu, e para Marx, as religiões seriam uma invenção errônea da humanidade.
Antes de fazer diferença entre a ilusão ingênua, ela existe nas camadas menos esclarecidas da sociedade e a “falsa consciência esclarecida”, que é sua definição de cinismo, esclarece que as religiões são parte de sistemas imunológicos (e não é a única) mais abrangentes que ele chama de cultura.
É logo o caminho de Sloterdijk para explicar que o idealismo só podia dar nisto, faço um caminho mais curto separar sujeitos de objetos é a forma mais fácil de tornar os objetos “ideais” incluindo todas as concepções destes nas culturas (os sistemas imunológicos de Sloterdijk) e exigir dos sujeitos um comportamento “ideal” de relação aos objetos.
Faço um contraste religioso com o pão da vida, o alimento concreto da humanidade, pois o pão está em quase todas culturas e o pão não é um alimento direto da natureza, mas trigo “processado” pelo homem, dito de outra forma é um produto humano sacralizado como alimento da vida, e que no uso pedagógico de Jesus torna-se sagrado, sem deixar de ser objeto real: o pão.
Em João 6,49-50 pode-se ler a atualização do Maná do deserto, do tempo de Moisés: Os vossos pais comeram o maná no deserto e, no entanto, morreram. Eis aqui o pão que desce do céu: quem dele comer, nunca morrerá”, relação direta entre sujeito e objeto, que nem cabe separação.