Arquivo para outubro, 2022
Retomar a cultura da vida
Em todo planeta vive-se um impasse entre escolher uma cultura que avance para a paz e a prosperidade de toda humanidade, incluindo toda diversidade, e uma cultura da ódio, da guerra e da ad-versidade.
A guerra é esta perspectiva, entrar naquela corrente polarizada nós contra eles, e a guerra da Ucrânia e o perigo nuclear devem acordar a humanidade para riscos maiores do que a diversidade, que em última análise é benéfica e ajuda a reflexão sobre o futuro e os valores humanos.
Entre as ameaças de Putin, a tomada da cidade de Kherson na Ucrânia com a população expulsa, os blecautes de energia e um novo embargo dos grãos da Ucrânia, Putin faz um fraco aceno ao Ocidente e diz que não é inimigo e capaz de conviver, há sugestões inclusive de mediação da paz pelo papa e possibilidades de acordos, são urgentes porque o inverno está chegando no norte.
A Europa já sente a forte crise que se aproxima, não conseguindo controlar a economia a primeira ministra inglesa Liz Truss renunciou, que ficou pouco tempo no cargo, sendo substituída por Rishi Sunak, um inglês de origem indiana, o que em si já é muito interessante, embora seja do Partido Conservador, é um alento de diversidade para o Reino Unido, já que a saída da Índia do império britânico foi dolorosa no tempo de Ghandi, que fez a primeira guerra colonial pacífica.
O cenário político se movimenta, agora quase toda américa latina dá uma guinada para a esquerda, a entrada no Brasil neste cenário pode trazer grandes mudanças, no entanto, é preciso primeiro internamente pacificar as forças literalmente divididas e em confronto pouco civilizado.
É preciso defender a vida, também no aspecto de saúde e equilíbrio emocional, muito veneno foi destilado com palavras aparentemente pacíficas e amorosas, e este é o pior tipo de guerra, a que é feita com requintes de cinismo e hipocrisia.
É tempo de pacificar os ânimos de verdade, de olhar para o futuro para que seja menos sombrio e num final de ano que se aproxima voltarmos a desejar paz, prosperidade e saúde, em falta nos tempos atuais.
Ostentação e pobreza
É preciso produzir para distribuir riqueza, o empreendimento, sua oportunidade e logística são fatores que requerem investimentos e capacidade para isto, em uma palavra: exige vocação.
O que produz pobreza e miséria é a incapacidade de distribuir em bens sociais necessários a riqueza e os benefícios de um processo inteligente de produção e uma organização social do estado, ostentadores e apropriadores de bens sociais e públicos existem nos dois campos.
Os países que não produzem riqueza organizam apenas a miséria, não pode distribuir o que não produziu e não entregou em mãos capazes e responsáveis pela construção da riqueza de um povo.
A ideia de que a riqueza era um produto ligado apenas a determinadas nações, vindo do modelo liberal de Adam Smith evolui para a ideia de intercâmbio de bens e riquezas entre nações, inclusive o socorro de nações mais pobres, infelizmente evolui também para ideias colonialistas.
No âmbito da riqueza e dos bens pessoais, mesmo Adam Smith alertava para os bens morais, aqueles que tornam uma sociedade equilibrada e saudável, não está fora da construção de socorro e ajuda ao Desenvolvimento dos mais pobres e das periferias sociais e nações, há nações inteiras no limite da pobreza e em geral ali alguma ostentação os explorou.
É possível que aqueles que produzam e governem pensem além dos próprios bens pessoais, se não forem perdulários e ostentadores com certeza entenderão que possuem além do que necessitam para a própria sobrevivência e o investimento em desenvolvimento da riqueza social, entretanto como indivíduos precisam ir além do egoísmo e ostentação pessoal.
A ostentação não é exclusiva de determinada camada social, também aqueles que tem acesso a riqueza saindo das periferias podem evoluir para este padrão de poder pelo dinheiro e aparência.
A passagem Bíblica que Jesus anuncia para Zaqueu, que era baixo e para enxergar Jesus subiu em uma árvore, uma metáfora importante, ao entender e mudar seus valores e Jesus percebia que todo povo não entedia aquela aproximação de Jesus (Lc 19,7-8)“:
“Ao ver isso, todos começaram a murmurar, dizendo: “Ele foi hospedar-se na casa de um pecador!”. Zaqueu ficou de pé, e disse ao Senhor: “Senhor, eu dou a metade dos meus bens aos pobres, e se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais”, mas isto permanece difícil de interpretação pelos religiosos, que continuam a murmurar.
Não é a produção e a posse da riqueza que produz injustiça e sim sua má distribuição.
A diversidade e a adversidade
Uma sociedade que vive em equilíbrio e serenidade é aquela queadmite a diversidade, veja que adversidade é justamente a negação da diversidade, onde diferenças podem conviver.
Não é possível o processo civilizatório e a esfera pública se desenvolver sem que a diversidade seja aceita, harmonizada em que todas diferenças sejam respeitadas, diz Byung Chul Han: “O respeito é o alicerce da esfera pública. Onde ele desaparece ela desmorona. A decadência da esfera pública e a crescente ausência de respeito se condicionam” (Han, No exame, 2018, p. 12), que aliás é uma crítica fundamentada e equilibrada sobre as mídias digitais.
Assim a escola da a-diversidade é a escolha do conflito, do ódio, da disputa e da morte.
A adversidade é pior ainda quando parte dos poderes constituídos, porque tendo autoridade deveriam justamente se contrapor ao clima hostil e odioso entre as diferenças, isto não significa que exatamente devem coibir os exageros e os abusos que poderes não tem legitimidade para ter.
A esfera pública tem os espaços e foros corretos onde se devem recorrer aqueles que sentem que abusos podem estar cometendo, é verdade, há casos em que o desejo de reagir é violência podem entra-se no circulo vicioso do qual muitas vezes é possível não encontrar a volta, eis as guerras.
O maior desejo da religião sincera, não pode ser outro onde do que aquele espaço onde haja paz, justiça, harmonia e respeito as diferenças, a diferença é parte da natureza e nela está a natureza humana, um dos equívocos é não vê-la dentro do ecossistema, leia-se a Natureza da Natureza, de Edgar Morij, já fizemos um post sobre isto.
A angustia de Jesus ao ver os religiosos divididos, era maior que ver seus conterrâneos divididos pelo império romano, maior que o roubo e a exploração dos humildes, voltamos amanhã sobre isto.
A diversidade é uma riqueza para a pluralidade, para o diálogo, o ódio e a vingança são a a-diversidade, a não aceitação do que não é espelho, a falta de respeito e de empatia.
A ética e a moral são importantes
Desde a sociedade grega, passando por todas as culturas e gerações as sociedades elaboram regras e condutas morais como parte de sua estabilidade social, é verdade que devem evoluir, mas sem elas o vácuo de organização e poder leva a uma crise civilizatória cultural.
Até o teórico da escola de Frankfurt Adorno escreveu um livro chamado “Minima moralia”, o livro além de mostrar a superação da Fenomenologia do Espírito de Hegel, ao argumento que a vida “do espírito só conquista a sua verdade quando ele se encontra a si mesmo no absoluto desgarra mento …não é este poder como o positivo que se aparta do negativo” (Adorno, 1951, p. 5-6) e argumenta que isto se deve ao seu apego ao pensamento liberal que super valoriza o individual.
Filosofando sobre o conflito de gerações, onde expõe problemas das várias idades da vida, vai afirmar que: “Com horror se deve reconhecer que muitas vezes já antes, na oposição aos pais, porque eles representavam o mundo, se encontrava em segredo o porta-voz de um mundo pior em face do mundo mau” (Adorno, 1951, p. 11).
Assim ao contrário de Marx que praguejou contra a família, quem quiser leia seu escrito “A sagrada família”, Adorno vai dissecar os casamentos por interesses, ao afirmar “quanto mais “generosa” foi originariamente a relação mútua entre os cônjuges, quanto menos tinham pensado na propriedade e na obrigação, tanto mais odiosa será a degradação; pois é no âmbito do juridicamente indefinido que prospera a disputa, a difamação, o incessante conflito dos interesses! (Adorno, 1951, p. 21T
Faz uma analogia com o bater a porta, no sentido de respeitar a individualidade e também ter a leveza dos cuidados, compara isto as portas de carros e geladeiras: “Desaloja dos gestos toda a hesitação, todo o cuidado, toda a urbanidade” (Adorno, 1951, p. 29) e explica o fato de fecharem-se sozinhas.
Embora relativamente antigo, sua leitura é atual ao confrontar a autoconsciência de Hegel, que era a verdade da certeza de si mesmo; dito na Fenomenologia: “o reino nativo da verdade” para aquilo que hoje é o self conscious: “a reflexão do eu como perplexidade, como percepção da impotência: saber que nada se é” (Adorno, 1951, p. 40).
Fala da crise do pensamento: “falar sempre, pensar nunca” (p. 55), a ausência de interioridade em “dentro e fora” (p. 57) e pede “para uma moral do pensamento” (p.64) na sociedade de narrativas.
Valorizar as relações familiares, a relação de pais e filhos, a empatia e a sensibilidade ainda existem.
ADORNO, T. Minima Moralia, primeira edição 1951, Portugal: Lisboa, edições 70. (Pdf)
As sementes da paz
As sementes da vida por menores que sejam erguem-se como árvores depois de germinarem, os que desejam ter áreas desérticas precisam lançar sobre elas fortes vermífugos e pesticidas que que não permitam que nenhuma forma de vida se inicie.
Assim é limitando a entrada na vida de qualquer semente e seus colaboradores os adubos que contém microrganismos que limitamos o crescimento de vida, a área desértica pode parecem limpa e até de certa forma bonita, e este é o equívoco moderno, não permitir que a vida evolua.
Pode parecer contraditório, mas não é empobrece a terra aqueles que para plantar monoculturas vão acrescentando pesticidas nela, sim os frutos parecem “menos perfeitos”, mas a imperfeição pode fazer parte da terra, recente descobertas mostram que determinados fungos salvam as bananeiras que estejam condenadas a não mais dar frutos.
Assim é a pureza da vida, o desejo de eliminar “inimigos” da vida que acabamos por eliminar a própria vida, todo ideal de “pureza” acaba matando a possibilidade de vida, já postamos aqui sobre as “comunidades dos eleitos” no caso religioso e no caso político é a “pureza ideológica”.
Também o nazismo falou de pureza racial, enfim, basta permitir que as pequeninas sementes se desenvolvam, sob cuidados de água e proteção de sol é claro, que elas próprias vão dando origem a vida.
A ´polarização social não é outra coisa senão dois ideias de “pureza” em choque, ambos limitam a vida onde deve ser permitido a diversidade crescer e os conflitos devem ser vistos como uma boa oportunidade para o diálogo.
A bíblica compara a origem da vida como um grão de mostarda, pequenina semente que dá uma árvore frondosa.
Uma peça nova na guerra: Irã
A presença de militares iranianos na Rússia, abriu um novo alerta aos países da OTAN, mas também o envio de baterias antiaérea da Alemanha e o treinamento de militares ucranianos na França abre novos fronts de guerra na Ucrânia.
Os ataques na Ucrânia não foram realizados apenas por mísseis, também os drones iranianos do tipo Shahed-136, que são triangulares e medem 3.5 m, podendo transportar até 36 kg de carga explosiva e também driblam ou confundem os radares antiaéreos devido o grande número.
O Irã nega o envio de drones, porém a presença de militares na Criméia foi confirmada pela inteligência da OTAN, e os países da União Europeia já ameaçam com sanções, porem a dependência do petróleo na atual crise do gás russo é imensa, e um fechamento do golfo persico teria uma repercussão bombástica na economia europeia e por efeito dominó na mundial.
Num quadro de conflito americano na região o fato se torna mais grave ainda, não é preciso destruir um porta aviões para coloca-lo fora de combate, basta atingir uma parte que provoque alguma inclinação e ele já estará fora de combate, é preciso lembrar que o Irá é potencia nuclear.
É preciso lembrar também que estamos a menos de um mês da Copa do Mundo, que será num país do Golfo Persico, a última na Rússia levou mais de 700 mil pessoas, acredita-se que no Catar é provável que chegue a um milhão de turistas de todo o mundo.
Também marca o início do inverno europeu, e a guerra em solo europeu não tem sinal de trégua a vista, bem ao contrário, sofre uma escalada perigosa.
Faltam forças da paz, faltam países e forças políticas capazes de liderar uma cruzada pela paz, o quadro é bastante perigoso e poucos se dão conta da gravidade.
O fariseu e o pecador
Há pecados pessoais e públicos, porém a relação entre eles é clara, quem não é honesto e moralmente correto individualmente terá dificuldade em sê-lo em público, e isto é notório.
A falsa espiritualidade é aquela que esconde seus próprios interesses atrás da religiosidade sem uma adesão de fato aos valores da solidariedade e da fraternidade necessários a isto.
Cada cultura, religião ou grupo social desenvolve seus próprios ritos e linguagens, e as vezes, isto torna fácil a manipulação por aqueles que não conhecem a fundo o que está em cada cultura, como muitos possuem raízes ancestrai pode ser difícil entender sua origem social e seus valores, isto torna a manipulação mais fácil.
Porém o que revela de fato a verdadeira face de cada cultura é sua atitude pública porque nela se revela de fato o que se é.
Há uma fábula de Esopo na qual uma gata se torna a mulher mais bela de uma festa na corte e encanta a todos, no entanto ao aparecer um rato ela o devora, mostrando sua verdadeira face.
Na religião não é diferente, aqueles que não possuem verdadeira espiritualidade encontram certa dificuldade de vida pública com seus valores, não exercem o diálogo pois são intolerantes, não praticam a solidariedade porque são egoístas e não amam porque estão próximos da rigidez do ódio e isto dificuldade enxergar o diferente, o Outro.
Há diversas passagens bíblicas que se referem ao tema, como aquela que chama falsos religiosos de “sepulcros caiados”, outra que diz que louvam a Deus com palavras, mas o coração está longe, porém a passagem mais clara é a do pecador que se senta ao fundo porque teme a Deus e o fariseu que senta-se a frente para se engrandecer, ao final o texto diz (Lc 18,14): “Eu vos digo: este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado”.
Pode haver uma divisão justa
A união da sociedade e dos povos sempre foi desejável em meios pacíficos, o que acontece quando ela se tornainviável numa sociedade polarizada, aquilo que algumas forças sociais não só incentivaram como difundiram no tecido social.
O que acontece num horizonte mais amplo é a guerra, num ambiente mais próximo do cidadão é o crescimento do ódio, da intolerância e de pouca empatia e diálogo.
Apresentar valores que não se pratica é além de uma hipocrisia um grande engodo social, aposta-se naquilo que jamais será realizado, e tanto a paz quanto a guerra são realizáveis.
A divisão justa é assim aquela que dentro de um processo amplo de divisão social, de imposição de ideias e intolerância política, religiosa, de gênero (heteros também são um gênero) promovem a concórdia e a possibilidade de diálogo, é heroico, porém é verdadeiro.
Verdadeiro porque promove a divisão justa entre os intolerantes e os verdadeiros e sinceros democratas, pacíficos e que desejam uma convivência entre diferentes e diversos, é um tipo de divisão também porque separa os hipócritas dos realistas e sinceros.
Estas posições também exigem firmeza, resiliência e tenacidade, não é para os fracos e sim para aqueles que são verdadeiramente fortes, porém sem uso da força bruta, usam apenas a coerência das ideias, dos argumentos e estão de fato abertos ao diálogo.
É a divisão com autoritários, impostores, mentirosos e demagogos, jamais fazem aquilo que de fato dizem promover, querem ver apenas o “seu lado” da história, apenas sua versão dos fatos, sua imposição de ideias “comunitárias”, porém de poucos e não do conjunto social.
Há uma leitura simples deste tipo, caracterizam-se pela arrogância, pela rejeição do diálogo, o “outro lado” está sempre errado, porém os argumentos são apenas a ironia e o desprezo.
Quem despreza o diferente, o diverso, não tem base democrática nem lógica do diálogo, com estes há sim uma divisão social, porque são contrários a convivência pacífica entre contrários.
Entre as faltas e os crimes
Diante de uma situação de perigo ou de pressão todos podemos cometer faltas e equívocos, porém os crimes mais punidos socialmente são aqueles que são cometidos intencionalmente ou pior ainda premeditados, planejados cuidadosamente e com requintes de maldades.
Também há crimes que são tolerados e não deveriam, são os casos de preconceitos ou roubos sistemáticos, mesmo que de coisas de pequeno valor, a sociedade pode e deve se defender nestes casos para evitar que o que é mal não se propague, e se a justiça é conivente ela também é cumplice destes crimes.
Porém a sociedade moderna não sabe como tratar faltas e deslizes humanos cometidos e que a pessoa tenha direito de se corrigir ou reparar possíveis danos, diante da mensagem religiosa estas pessoas são passíveis de reparação, porém devem reconhecer as faltas.
Pode acontecer também que faltas graves sejam cometidas por pessoas que tem certo respeito social, administradores, homens públicos e autoridades religiosas e elas não reconheçam que suas faltas são igualmente graves e este tipo de hipocrisia ou farisaísmo ocorre com certa frequência.
São particularmente graves porque estão sendo praticados por aqueles que deveriam fazer o papel justamente oposto ao que fazem e o poder de propagar culturalmente o mal é maior.
Isto precisa estar exposto socialmente para que a sociedade tenha defesa também destes crimes, eles são potencialmente maiores porque vão além do próprio crime e espalham falsos valores.
A sociedade que não os combate vai moralmente ficando perversa e pode chegar ao ponto de uma ruptura civilizatória, as guerras em geral estão nestes limites e só por isto são perigosos.
Uma cultura de paz deve incluir em valores cotidianos mensagens referentes a valores da paz.
O Teocídio e a comunidade dos eleitos
Já conceituamos em outro post o Teocídio numa linha de diálogo com O pós-Deus de Peter Sloterdijk, conceituamos ali, de certa forma também de Nietzsche, como uma tentativa de matar Deus, porque se não existe não se pode matá-lo e se existe é imortal, então podemos apenas apagá-lo de nossa mente temporariamente e voltará intuitivamente.
Porém a reação ao Teocídio hegeliano, aquele de Feuerbach, em que Deus só existe na mente e assim é um algo pensamento ideal e só com a “transcendência” idealista o alcançamos, há a reação religiosa de se fechar na “comunidade dos eleitos”, os prediletos de Deus, os escolhidos por critérios que uma certa comunidade determina e o restante são leprosos, pecadores públicos e indignos do “reino”.
Já fizemos um longo percurso sobre a questão do erro, parte da realidade humana, e cuja leitura pode ser finalizada na passagem bíblica que diz que o médico deve ir aos enfermos e não aos sãos.
De certa forma a reação a este Deus elevado, distante dos homens “todo poderoso” não passa de um poder também mundano e temporário e de uma forma de ascese desespiritualizada, a vida de “exercícios” como preconiza Peter Sloterdijk.
Fundada no perfeccionismo e no moralismo extremado, a moral é importante e não se deve negá-la, porém, levada ao extremo torna o “vício” muito mais próximo e passível de cair nele, ou seja, são na verdade falso moralistas porque não conseguem pôr em prática o que defendem, e muitas vezes são estes falsos exercícios que levam a uma prática de desvios e aberrações morais.
A união destes conceitos com a política leva a uma forma de moralismo político insustentável, não se trata de defender o roubo ou a corrupção, mas de entender que é preciso um equilíbrio, por exemplo, os políticos devem desejar benefícios para a sua região, a sua base eleitoral e a força econômica local.
Tudo tem que ser pensado de um modo equilibrado, outro exemplo é o tamanho do estado, o estado grande é um paquiderme, o estado mínimo é incapaz de executar políticas públicas necessárias.
O que é então de fato religiosidade ou espiritualidade, difícil de encontrar na modernidade, o equilíbrio entre as práticas sociais que devem ter doses de fraternidade e as práticas espirituais que devem ter doses de verdadeiras asceses e que seja reflexo daquilo que é vivido na vida “mundana”.
O homem tem sede de verdadeira justiça, verdadeira espiritualidade e está farto de hipocrisias.