Arquivo para dezembro, 2022
O escândalo do Natal
Pode-se pensar apenas em escândalos negativos: de corrupção, de imoralidades ou guerras, mas não há maior escandalo do que um Deus se tornar mortal e vir ao mundo por um nascimento normal.
Não é só o fato que nasceu, mas de maneira simples, num momento em que se fazia um recenseamento e isto é importante porque foi contato entre os mortais, com uma forte perseguição de Herodes que ouvira dizer que nasceria o rei dos judeus, e pensava em um poder humano, o que significa que perderia o seu poder dado pelo Império Romano.
Além deste escândalo de um Deus que se rebaixa em vem habitar a terra dos mortais, a sua vida será marcada por muitos fatos extraordinários, curas, desvios ao poder religioso estabelecido pelos judeus, ainda que fosse eles o povo prometido, afinal Jesus nasceu judeu, filho adotivo da descendência de David por José e de sua mãe a judia Maria.
Muitos eram os profetas daquele tempo, e muitos se proclamaram o messias, e até mesmo entre os mais próximos de Jesus continuavam as dúvidas sobre quem de fato era ele, o próprio Jesus pergunta aos seus discípulos quem o povo pensa que ele é quem os discípulos pensam que ele é, de fato não e ‘algo simples de acreditar, é um escândalo um Deus que se torna mortal.
Até mesmo João Batista que é o último profeta, e aquele que anunciava a vinda do Salvador, manda seus discípulos perguntarem pessoalmente a Jesus se de fato ele é o que todos esperam naquele tempo.
A resposta de Jesus é com fatos (Lc 7,20-23): “Ide contar a João o que vistes e ouvistes, os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a boa nova é anunciada aos pobres”, é feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!”.
De fato hoje não é mais escândalo, predomina a indiferença ou o desprezo, até mesmo dentro de cultos e templos há uma certa normalidade e confundem a cultura cristão divina, com a mundana, o escândalo é mesmo os que dizem crer inventaram um Deus tão humano, que não é mais aquele que veio ao mundo (um advento), mas um período normal de festas e alegrias passageiras.
Entre o que se diz e o que se fala
Em tempo forte de narrativas, o que se falanada ou pouco tem a ver com as atitudes de fato dos homens, vale para a política, para a cultura e para a religião, assim nem todos os que apontam desejar fazer socorro aos mais humildes de fato fazem, nem todos que se dizem religiosos estão de fato ligados aos valores e à mensagem divina, seja de qualquer religião ou denominação cristã.
Há coisas bem simples para serem identificadas: boa árvore dá bons frutos, palavras corretas devem indicar uma vida reta, porém o discurso filosófico ou teológico muitas vezes se confunde e neste caso é preciso se orientar por atitudes também simples de serem observadas e que dizem muito: não haver a soberba do poder temporal de qualquer tipo que ele seja, desde um chefe de departamento aos governos e autoridades constituídas, a história passada e recente está cheia destes exemplos.
A razão pela qual vivemos num tempo que as verdades não são bem vindas, é mais que a construção de narrativas e elas não faltam a criatividade humana, é principalmente pelo fato que é difícil dizer que as coisas vão mal, apesar de todos sentirem um mal estar, não faltam falsos profetas a fazer promessas irrealizáveis, consolos de autoajudas e até aqueles que receitam a felicidade como uma bula de remédio.
O mal estar civilizatório detectado por Freud (livro da década de 30) mais do que apenas aspectos psicológicos falava de impulsos pulsionais (fizemos alguns post sobre isto) e a vazão inadequada para eles.
Claro que isto vai para a política, e da política para aspectos sociais: economia, saúde, educação e o cada vez mais grave problema ambiental, porém a profundidade desta crise requer outra análise: a guerra.
Como dizemos um pouco atrás a soberba das autoridades constituídas e a adesão coletiva raivosa, não estou falando de nenhuma corrente específica e sim de quase todas, estimula o ódio e a violência, e o caminho e desaguadouro desta corrente não há outro senão o mar da violência humana: a guerra.
A mensagem positiva neste aspecto é fazer o que se problema, e muitas nem vezes nem proclamar, mas dar o exemplo daquilo que é justo e sensato, diz a sabedoria popular: o exemplo arrasta.
Guerra da Ucrânia e a pandemia
A guerra na Ucrânia continua em situações cada vez mais dramátias em função do frio e da estratégia russa de minar as fontes de energia do país, que é um crime de guerra uma vez que atinge em cheio toda a população civil e não apenas o meio militar, enquanto a Ucrânia procura atacar as bases militares agora em solo russo através de drones suicidas.
As bases atacadas foram em Engels, na província de Saratov e de Diaguilevo, perto de Ryazan, distantes apenas 240 km de Moscou, mostrando que tem armas para atingir alvos em solo russo.
A Rússia teme um ataque na Criméia, enquanto intensifica a defesa na região estratégica de Dombass, território reivindicado pelo governo tusso, as bases para negociação praticamente não existem, uma vez que esta região é disputada pelos dois países e não há acordo possível neste quesito.
A Rússia reitera que não será a primeira a usar armas nucleares, e que sabe o risco deste uso, uma guerra de proporções humanitárias inimagináveis, porém os dois lados tem armas para isto, e as próprias bases que são atacadas pela Ucrânia tem como objetivo destruir possíveis bases destas armas.
Em pleno inverno o martírio do povo ucraniano prossegue e os apelos para a paz não são ouvidos.
A Covid 19 ainda que mais branca segue com índices preocupantes, uma vez que não dá sinais de trégua, no Brasil o número de mortes e a média móvel de casos conhecidos segue em lento crescimento.
No país parece haver uma paralisia de estratégia, recomendações de medidas preventivas e incentivo a vacinação, mas sem respostas da sociedade como um todo, ou de políticas de controle efetivo.
Mais que profecias e milagres
O tempo de dor e sofrimento é prenuncio de um tempo de graça e grandes mudanças, porém elas não podem vir sem uma mudança de mentalidade, se os homens não mudam, o que muda é aparente.
Este sentimento está no ar e vai de incitações a guerra, ao ódio e a violência até falsas profecias e milagres que não há neles nada de religioso ou divino, o que virá então, .que se espera deste Natal, deste advento?
Embora no nascimento do menino-Deus muitos desconfiavam de uma vinda daquele que estava prometido ao povo judeu, muitos também eram os profetas e que se auto anunciavam como o salvador, também como hoje no campo político devido a opressão do império romano, mas a surpresa foi grande embora as leituras da época anunciavam exatamente como ele viria, indicando até o local que era Belém.
Assim se esperamos mudanças e elas certamente virão, não será como pensa a maioria dos homens, dos sábios e profetas, mas do modo como age a divina sabedoria, que espera as ilusões humanas passarem.
Os discípulos de João Batista, embora ele anunciasse a vinda de Jesus, e a necessidade urgente de mudança, principalmente da mentalidade religiosa da época, também tinham dúvidas, e o próprio João, que estava preso manda os seus discípulos perguntarem a ele quem era de fato Jesus, e se era de fato o prometido.
A resposta de Jesus corrige a mentalidade humana dos discípulos de João: e a primeira resposta é uma pergunta (Mt 11,9): “Então o que fostes ver? Um profeta? Sim, eu vos afirmo, e alguém que é mais do que profeta. 0É dele que está escrito: ‘Eis que envio o meu mensageiro à tua frente; ele vai preparar o teu caminho diante de ti’. 11Em verdade vos digo, de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele”, para fazer entender que o anuncio é além das evidencias e visões meramente humanas dos fatos.
No nosso tempo é necessário mais que explicações e realidades mundanas, que são importantes, mas limitadas, não há nelas a verdadeira clareira que pedem até mesmo filósofos e pensadores profundos, a maioria paira numa cultura rasa e mudança, onde é difícil alcançar realidades realmente superiores e necessidades de uma humanidade à deriva e com enormes riscos civilizatórios.
Para bons leitores, a leitura do trecho que indicamos é claro nos versículos anteriores, diz Jesus aos discípulos de João (Mt 11,4=6): “Jesus respondeu-lhes: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: 5os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados. Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!” e claro isto é mais que milagres e demonstrações de ‘poder divino”, não é assim que o divino age, e sim com a clareira e a verdade, mesmo que escandalize alguns.
Aos que não creem resta dizer que a ação divina é além da humana, age no extraordinária, não age como paliativo a dor, mas a sua eliminação completa, porém vem depois da dor e do sofrimento da cruz.
Entre o ordinário e o extraordinário
O imenso universo e as imagens e pesquisas que o telescópio James Webb vai revelando nos mostram mais do que a grandeza da ciência o quanto a natureza e conhecimento humano são ínfimos perto da riqueza orgânica e misteriosa do universo se revela.
Não se tratam de descobertas de outros planetas habitados por seres orgânicos como o nosso, mas sim os limites das próprias leis da física a ponto de questionar o que é o tempo e o espaço absoluto a maior revelação da modernidade e da racionalidade, que agora está em mudança pelas leis da relatividade e encaminhada pela noção mais exata do que chamamos de eternidade.
Também na vida cotidiana existem fatos extraordinários, não aqueles proclamados por adivinhos, falsos profetas ou oráculos de uma sabedoria que já se sabe limitada, pela própria visão correta da ciência, incerteza e erro é o seu caminho mais seguro, ou como escreveu Bohr para Einstein: a raiz d todos males é a ideia humana de que alguém detém toda a verdade.
O período do Natal é para os cristãos a revelação de uma verdade nova e extraordinária, no sentido que ela está além de toda razão e ciência humana, por desejo divino Deus se fez homem, numa relação trinitária, desejo de Deus-Pai, concepção do Espírito Santo em uma virgem (ver post anterior) e um divino-humano Deus entre nós entra na história.
O fato é extraordinário porque a história se modificou e se modificará mais ainda como o passar da dimensão espaço-temporal na qual a vida humana está imersa, todos morrem e outros nascem e uma verdade divina vai se revelando através da noosfera, a esfera que a mente ou o espírito habita e a qual ninguém pode negar, porque até mesmos os erros e concepções filosóficas e teológicas estão imersos nela.
Os personagens bíblicos, homens sinceros apesar de seguidores de Jesus, também duvidaram de sua concepção, de sua vida (andar sobre as ondas do mar, a multiplicação dos pães, a cura do cego de nascença, a ressurreição de lazaro) ao todo 36 atos extraordinários dos quais 22 são curas, tudo isto um dia será conhecido pela ciência, é possível, porém foram feitos aquém deste tempo, quando a ciência dava passos iniciais.
Mas há os atos só divinos, como a passagem a pé enxuto pelo mar, a visão da sarça ardente de Moisés e o maior de todos os atos extraordinário, aquele que só a revelação divina pode confirmar, e talvez um dia a faça com algum fenômeno extraordinário, a virgem concebeu e Deus veio habitar entre nós, também ele morreu, mas a crença cristã é que ressuscitou e vive na vida eterna.
Até mesmo a virgem que concebeu, a jovem Maria prometida em casamento a José, que ao saber da notícia anunciada por um anjo duvida do que está acontecendo com ela própria (Lc 1,29): “Maria ficou perturbada com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da salvação”, assim os personagens bíblicos idealizados por teólogos e pastores, foram na verdade muito humanos e não supersticiosos (quadro de Leonardo da Vinci, Anunciação, por volta de 1472).
É verdade depois Maria cantará o seu Magnificat, sabendo que Deus a engrandeceu, mas só depois de andar quilômetros até a casa da prima Izabel, que também recebeu uma graça de ficar virgem na velhice, porém no caso dela não há algo tão extraordinário, são conhecidos casos na história de mulheres com idade avançada que conceberam.
A fé é acreditar no extraordinário, ainda que não esteja na posse dele, saber que é possível a intervenção de Deus na história, e o que o Natal representa é a grande intervenção que é a própria vinda do menino-Deus.
A vereda e a porta estreita
É cultura do senso comum que devemos buscar uma região de conforto ou de segurança, porém ela não está nem nos grandes caminhos desenvolvidos pelas ideologias correntes e nem pela porta larga das facilidades, na verdade os grandes populistas da atualidade são vendedores de facilidades que custam caro a segurança e a à economia popular.
[E sempre mais fácil e mais popular propor aquilo que parece óbvio, distribuir benefícios ou favorecer as grandes empresas e os grandes bancos para fazer a economia crescer, mas são eles os maiores causadores de estragos na economia popular, assim como desenvolvemos no post passado a ideia de tolerância aos crimes como forma de destruir a cultura e favorecer a marginalidade, o que é chamado de impunidade é na verdade o caminho da porta larga para a reeducação cultural social.
Pessoas que crescem e desenvolvem uma vida segura e segura, se não são ladrões e vendedores de facilidades, são aquelas que passaram por privações e dificuldades para construir uma vida estável e sustentável, mesmo em meio a crises e períodos de dificuldades como está sendo a pandemia que custa a ser finalizada, os órgãos de saúde social são importantes, porém sem o cuidado pessoal o que fazem é paliativo.
Para os cristãos a passagem bíblica que diz (Mt 11k28): “vinde a mim todas vós que estão cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso” é complementada logo no versículo seguinte Mt 11,29): “Tome sob vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e vós encontrareis descanso”, que é omitido pelos religiosos que proclamam a porta larga dos milagres e favores.
Nas inúmeras correspondências que o famoso físico Niels Bohr trocou com Albert Einstein, uma delas é bastante reveladora, nela Bohr escreve a Einstein que a raiz de todos os males está na ideia dos homens que alguém possa possuir toda a verdade, ela que não era um crente escrevendo a Einstein que era, traz uma ideia fundamental para saber que toda a sabedoria não está presente na consciência humana.
Assim também aqueles que proclamam a soberba de possuírem toda a verdade ou toda a resposta aos desígnios humanos, ainda que proclamem as ideias divinas, não detém toda a verdade, por isto a importância no versículo que apontamos: “aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”, não há soberba na sabedoria divina e nem desejo de guerra ou de contenda.
O que fizeram com a cultura
Theodore Dalrymple, é o pseudônimo do psicanalista inglês Anthony Daniels, que trabalhou em prisões inglesas com criminosos de alta periculosidade, e viu neles não apenas aspectos de pobreza e exclusão, mas também o desenvolvimento de uma cultura de tolerância a atos de arrogância, furtos e imoralidades.
Em um livro composto de 26 ensaios ele descreve a nossa cultura atual o que restou dela (foto).
Escreveu em uma de suas obras: “Para o sentimentalista, não existe criminoso, mas apenas um ambiente que não lhe deu o que devia”, e assim aqueles que diziam em voz alta que sofriam muito em situações triviais da vida, que muitas pessoas passam e nem por isto caem na delinquência, é claro isto não quer dizer que não seja necessário reeducação, mas a educação preventiva é melhor que o remédio.
Não se trata de um setor exclusivo da sociedade, ou apenas uma questão ideológica como muitos autores apontam, e sim uma questão de influência cultural, em especial de rádio, televisão e cinema, quando todos passam a justificar a violência, o ódio e a crueldade, lembro de frases do filme Coringa que foram repetidas em tom cult, por exemplo, “frio, sarcástico e sem coração. Foi no que me transformei e agradeço à sociedade”, a pergunta é qual sociedade ele escolhe: a da eficiência ou a da solidariedade.
Não quero dar popularidade e nem fazer o papel da indústria cultural que condeno, e ela sim é a verdadeira produtora de valores estranhos e sem perspectiva humanística, como aponta o psicanalista em seus livros, os valores penetram na sociedade pela cultura editorial seletiva que é altamente permissiva em valores e costumes.
A verdadeira solidariedade não condena apenas, há casos que a condenação é necessária para reprimir a violência e o ódio, mas educação, dá dignidade e reergue as pessoas que sucumbiram a uma sociedade da eficiência e da arrogância, lembro aqui outro livro de sucesso, que li até a décima página: “A Sutil arte de ligar o f**” (em inglês a palavra também começa com f), sim é verdade que há no livro um grito contra o perfeccionismo e a cultura do eficientíssimo em fotos e textos nas “mídias” de redes sociais, mas é importante lembrar que o autor é americano e lá isto é uma cultura geral e não apenas nas mídias.
Se na semana passada postamos sobre os “caminhos” e as “veredas”, queremos agora salientar a micro-cultura, o dia a dia com mais empatia, mais respeito e menos ódio, e se possível mais polido.
Não há como encontrar caminhos solidários e de paz na sociedade se a grande maioria optou por combater com armas iguais àquelas que os odiosos combatem.
DARLRYMPLE, Theodore. Nossa Cultura ou o que restou dela. E Realizações. São Paulo. 2015.
O Guerra no Leste europeu e covid
O Chanceler alemão Olaf Scholz conversou com o presidente Putin pela primeira vez desde setembro, na sexta-feira passada (02/12), por mais de uma hora, mas pouco avançou.
O líder alemão tentou encontrar um caminho diplomático para a guerra, sugerindo uma retirada de tropas russas das regiões em disputa na Ucrânia, usou as palavras “o mais rápido possível”, que indica um possível agravamento próximo.
O envio de armas de longo alcance para a Ucrânia sugere que é possível um ataque ao território russo o que representaria uma escalada nova na guerra.
Os diplomatas do Kremlin admitiram a pressão alemã, e a resposta de Putin a Schols foi: “reconsiderasse suas abordagens do contexto dos eventos ucranianos” e chamou a atenção para a “linha destrutiva dos Estados ocidentais, incluindo a Alemanha” e por isso rejeitou as propostas de negociação diplomática.
Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin disse aos jornalistas anteriormente que Putin estava aberto as negociações destinadas a “garantir os interesses” russos, mas está claro que Moscou não está disposta a aceitar as condições impostas pelos EUA: “o que o presidente Biden disse de fato ? Ele disse que as negociações só são possíveis depois que Putin deixar a Ucrânia”, e esta hipótese não existe para a Russia.
A guerra continua a preocupar a humanidade e sua escalada pode levar a um conflito de proporções catastróficas.
Outro problema que a afeta a humanidade é a Covid 19, cujos números voltaram a subir, ainda que menos que o pico da Pandemia, no Brasil foi registrado 86 mortes na e uma média móvel de 26 mil casos na última semana.
Cegueira e novos caminhos
A maior de todas as cegueiras pessoais é o ódio, e a maior social é a guerra, nela os homens perdem a razão e se tornam fanáticos.
É comum em tempos de crise e poucos conhecem e defendem de fato o caminho da serenidade e da sensatez nestes momentos, a polarização e a guerra eram indícios, recorrer ao autoritarismo e ao descaminho social é a consequência.
A limitação física visual me fez ter o exato sentimento do que significa isto, primeiro reconhecer a própria cegueira e depois saber como caminhar com ela e aceitar os limites recorrendo a cura.
Socialmente não é bem assim porque as narrativas fazem os homens crerem no que dizem e falam e naquilo que imaginam enxergar, já postamos aqui do ensaio de Saramago e de outras cegueiras, também o seu significado em torno da pandemia.
O rumo social de uma sociedade em desiquilíbrio e sob tensão é sempre preocupante, porque nem sempre a sensatez vence, lembremos das duas guerras e os seus desastres humanitários e de outras pandemias.
A liturgia cristão neste tempo natalino não fala apenas do advento do menino Jesus, fala também da Parusia, ou seja, de um novo advento, onde também diz que haverão cortes e mudanças (Mt 3,10): “O machado já está na raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será cortada e jogada no fogo”, ou seja, a raiz de todos males e desavenças.
Em termos religiosos é pedida a conversão, a mudança de rota, em termos sociais é preciso reconhecer aquilo que não está no caminho da esperança e do amor, e cortar pela raiz pois é a única forma de mudar.
Nem tudo que reluz é ouro
Quem proclama ou ouve falar em mudanças, pensa em valores e situações imediatas que indicam benefícios terrenos e não caminhos retos e novos que levem a uma ascese superior, então não é este o tempo que virá, não é este um novo advento.
Mudanças estruturais implicam em mudança de mentalidade, em termos religiosos significam conversão, não para esta ou aquela determinada posição e sim para uma nova ascese moral e social.
As palavras muitas vezes são ditas para convencer os homens, mas não significam que se fato há coerência naquilo que se diz, em termos atuais significam construir narrativas para favorecer interesses pessoais.
Assim como nem tudo que é novo é revolucionário, e diz o adágio popular nem tudo que reluz é ouro, também para os que creem nem todo aquele que se diz religioso está de fato mudando de valores.
A leitura ao pé da letra é (Mt 7,21-24): “nem todo aquele que diz Senhor, Senhor entra no Reino dos Deus, mas o que põe em pratica a vontade do meu Pai que está nos céus. Portanto, quem não ouve estas minhas palavras e as põe em prática, é como um homem prudente que construiu sua casa sobre a Rocha”.
Quando de fato as mudanças começarem a acontecer, os tempos de crise sempre indicam isto, também as consciência serão iluminadas, entrarão numa “clareira”, porém por hora tudo é confuso e incerto, cada qual quer prevalecer seu ponto de vista, e assim se opõe de modo fanático ao que considera oposto aos seus interesses, porém um novo advento se anuncia.
Mais do que palavras proféticas ou apocalípticas são condições e estruturas necessárias a um novo tempo social,, moral e espiritual, tudo está imerso em conflitos de grupos de interesse e política imediatista.
Assim enquanto se arruma a casa, tudo parece revirado e incerto, e de fato o é, mas ao reorganizar se verá quanta sujeita e desarrumação havia por organizar, e não será como a “antiga” casa.