Arquivo para janeiro, 2024
A física e a mente de Deus
A questão originária básica do homem é a linguagem, porém ao buscar a informação o homem foi obrigado a olhar o universo e a tentar entender seus enigmas, o geocentrismo (a terra como centro de tudo), o heliocentrismo (o sol como centro de tudo) dominaram a linguagem e o pensamento humano durante milênios, em todo este tempo o antropocentrismo dominou a concepção humana e com isto a tentativa de dominar toda a natureza cresceu, porém a física quântica mudou tudo.
Porém a natureza é indomável, a modernidade foi uma tentativa de dominar as forças da natureza e afirmar o antropocentrismo sobre ela, porém ela tem sua própria lógica, e ao olhar mais profundamente o universo que tinha uma explicação mitológicas deslocou-se para um foco mais claro de indagação escatológica: de onde viemos e para onde vamos.
O livro do físico teórico Michio Kaku: “A equação de Deus” dá um mergulho nesta questão a partir da física e da cosmologia contemporânea, o físico é o grande teórico da física das cordas (Hiperespaço é um de seus livros), professor de Harvard e apresentador de programas na Discovery Channel.
Em seu livro esclarece a busca de físicos como Stephen Hawking e Albert Einstein sobre a tentativa de explicar todas as forças do cosmos, aquilo que é chamado de teoria do tudo, e que em sua formulação atual é chamado Teoria da Física Padrão, a descoberta das forças quânticas das partículas, entre elas o bóson de Higgs, a visão do fóton com partícula de massa zero, as partículas do magnetismo terrestre ajudaram esta unificação, mas não é tudo.
Muitos físicos falharam, a explicação quântica rompe com a ideia de “coisa” que alguns autores dualistas continuam a ter, o “quantum” é algo além tem um terceiro estado, chamado na física de “terceiro incluído” onde uma partícula está entre o Ser e o Não-Ser e não é dual.
Se este estado da física quântica já é realidade, o que são de fato as partículas ainda é um mistério, e a “candidata mais promissora (e, na minha opinião, a única candidata) é a teoria das cordas, que diz que o universo não é feito de partículas puntiformes, mas sim de minúsculas cordas vibrantes, onde cada modo de vibração corresponde a uma partícula subatômica” (KAKU, 2022).
Precisaríamos de um microscópio poderoso o suficiente para ver elétrons, quarks, neutrinos, etc. são nada mais do que vibrações de laços minúsculos, parecidos com elásticos de borracha. Se colocarmos esses elásticos para vibrar inúmeras vezes e de formas diferentes, eventualmente conseguiremos criar todas as partículas subatômicas do universo, e isto quer dizer que as leis da física se resumem nestes modos de vibração das pequenas cordas.
Diz Kaku na introdução de seu livro: “a química é um conjunto de melodias que podemos tocar com elas. O universo é uma sinfonia. A mente de Deus, a que Einstein eloquentemente se referiu, e uma música cósmica que se espalha pelo espaço-tempo” (KAKU, 2022).
KAKU, Michio. A equação de Deus. Trad. Alexandre Cherman, R.J.: ed. Record, 2022.
Da narração a informação.
O título é propositalmente o inverso do primeiro capítulo do livro de Byung Chul Han sobre a crise da narração, embora ele cite Walter Benjamin que cita a experiência de narração num período anterior a internet, porém o filósofo coreano-alemão não vê claramente esta crise anterior a internet, e assim ele próprio cai naquilo que condena, a ausência da análise no tempo.
Se é verdade que a Internet e sua ferramenta para disponibilizar a informação aos leigos que é a Web (nasceu nos anos 90, mais de 20 anos após a internet) não apenas fez uma profusão de meios de divulgar a informação e suas narrativas, como também criou a possibilidade da sua profusão em áudio e vídeo, que dá origem a uma nova possibilidade de narração gravada os podcasts e vídeos.
Claro, não quer dizer que aquela narrativa primitiva anterior a escrita e a imprensa, própria da oralidade primária tenha retornada, ela subsiste em culturas originárias e também algumas culturas e crenças ocidentais, por exemplo, entre os curdos existem os “çîrokbê” que se fosse traduzido literalmente seria o que entendemos na cultura ocidental por “história”.
A sentença de Byung Chul Han sobre o universo digital é clara: “A digitalização descoisifica e desincorpora o mundo. Ela também elimina as memórias” (Han, 2022) em parte é verdade, porém a própria mídia digital uma vez gravada se coisifica, e uma vez que é feita uma narração, só por exemplo, de narradores curdos, a informação (no sentido de Chul Han) se volta a narração, ou seja, é possível o processo reverso.
Seu erro, do ponto de vista filosófica, é uma questão antiga sobre o que é (ou o que são) as coisas, a relação entre sujeito e objeto é fruto do dualismo ocidental desde Parmênides, e só uma visão não dual pode entender que a coisa é em si também não coisa, uma vez narrada.
Assim a informação será sempre paradoxal, é narrada quando é e não narrada depois que se tornou informação-narrada e que está sujeita a um distanciamento histórico, porém se vista do ponto de vista da física quântica é mais complexo ainda, porque ali é as duas coisas, de onde surge a questão de alguns físicos que o tempo não existe, difícil para a cultura atual.
Esta questão do tempo surgiu em 2012 num TedTalk do italiano Carlo Roveli: “O Tempo Não Existe e Te Provo Isso em 15 Minutos”, mas ganhou popularidade agora porque o mega-telescópio James Webb propõe diversos novos paradigmas ao olhar mais profundamente o universo, estamos no fim da era copernicana, o centro de nossa galáxia é um buraco negro e eles já começaram a dizer o que são, também a matéria escura e energia escura começam a ser desvendadas.
Quem dá a história desta idéia é o físico teórico Michio Kaku, “Em A equação de Deus“ (Record, 224 pp, trad.: Alexandre Cherman), e ali faz uma narração escrita da física de hoje.
HAN, Byung-Chul Não-coisas : reviravoltas do mundo da vida / Byung-Chul Han ; tradução de Rafael Rodrigues Garcia. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2022.