Arquivo para janeiro 2nd, 2024
Da narração a informação.
O título é propositalmente o inverso do primeiro capítulo do livro de Byung Chul Han sobre a crise da narração, embora ele cite Walter Benjamin que cita a experiência de narração num período anterior a internet, porém o filósofo coreano-alemão não vê claramente esta crise anterior a internet, e assim ele próprio cai naquilo que condena, a ausência da análise no tempo.
Se é verdade que a Internet e sua ferramenta para disponibilizar a informação aos leigos que é a Web (nasceu nos anos 90, mais de 20 anos após a internet) não apenas fez uma profusão de meios de divulgar a informação e suas narrativas, como também criou a possibilidade da sua profusão em áudio e vídeo, que dá origem a uma nova possibilidade de narração gravada os podcasts e vídeos.
Claro, não quer dizer que aquela narrativa primitiva anterior a escrita e a imprensa, própria da oralidade primária tenha retornada, ela subsiste em culturas originárias e também algumas culturas e crenças ocidentais, por exemplo, entre os curdos existem os “çîrokbê” que se fosse traduzido literalmente seria o que entendemos na cultura ocidental por “história”.
A sentença de Byung Chul Han sobre o universo digital é clara: “A digitalização descoisifica e desincorpora o mundo. Ela também elimina as memórias” (Han, 2022) em parte é verdade, porém a própria mídia digital uma vez gravada se coisifica, e uma vez que é feita uma narração, só por exemplo, de narradores curdos, a informação (no sentido de Chul Han) se volta a narração, ou seja, é possível o processo reverso.
Seu erro, do ponto de vista filosófica, é uma questão antiga sobre o que é (ou o que são) as coisas, a relação entre sujeito e objeto é fruto do dualismo ocidental desde Parmênides, e só uma visão não dual pode entender que a coisa é em si também não coisa, uma vez narrada.
Assim a informação será sempre paradoxal, é narrada quando é e não narrada depois que se tornou informação-narrada e que está sujeita a um distanciamento histórico, porém se vista do ponto de vista da física quântica é mais complexo ainda, porque ali é as duas coisas, de onde surge a questão de alguns físicos que o tempo não existe, difícil para a cultura atual.
Esta questão do tempo surgiu em 2012 num TedTalk do italiano Carlo Roveli: “O Tempo Não Existe e Te Provo Isso em 15 Minutos”, mas ganhou popularidade agora porque o mega-telescópio James Webb propõe diversos novos paradigmas ao olhar mais profundamente o universo, estamos no fim da era copernicana, o centro de nossa galáxia é um buraco negro e eles já começaram a dizer o que são, também a matéria escura e energia escura começam a ser desvendadas.
Quem dá a história desta idéia é o físico teórico Michio Kaku, “Em A equação de Deus“ (Record, 224 pp, trad.: Alexandre Cherman), e ali faz uma narração escrita da física de hoje.
HAN, Byung-Chul Não-coisas : reviravoltas do mundo da vida / Byung-Chul Han ; tradução de Rafael Rodrigues Garcia. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2022.