RSS
 

Arquivo para janeiro 10th, 2024

O que são as coisas

10 jan

Ao reler as “Não-coisas” de Byung Chul-Han, que relembra com propriedade que o termo vem de Vilém Flusser, que viveu no Brasil boa parte de sua vida, o autor retoma também os conceitos de Hanna Arendt e Heidegger, mas não penetra na essência da coisa, que não é só informação.

Os filósofos medievais já haviam desenvolvido a questão da quididade, que não é nem uma ideia nem um conceito, mas algo que buscava compreender a essência das coisas, do latim, “quidditas” significa “o que é isso” e estava relacionada à ideia de identidade e singularidade.

Assim ao transformá-la em informação, faz aquilo que Luhman fez com o conceito (lembre-se que este autor trata mais a questão da comunicação do que a coisa em-si), diz citado por Byung Chul-Han: “Sua cosmologia é uma cosmologia não do ser, mas da contingência”, ou seja, algo que não possui essência, não tem identidade ou singularidade e não pode “ser”.

Esclarecendo que é uma forma particular de ver a informação, como “coisa transmitida”, e nisto o autor tem razão: “As informações não se deixam possuir tão facilmente quanto as coisas. A posse determina o paradigma da coisa. O mundo da informação não é governado pela posse, mas pelo acesso” (Han, 2022), isto é tão verdadeiro, que o dicionário português no Brasil passou a ter uma nova palavra que é “logar”, do inglês, log “registro” no sentido de marcar um acesso à “informação”, no sentido de Chul-Han.

Citando Jeremy Rifkin, Han adverte que a transição da posse para o acesso é uma mudança de paradigma que leva a mudança drástica no mundo da vida, subtítulo do livro, ele prevê um novo tipo de ser humano: “acesso, logo, ´access´são termos-chave da era nascente (Han, 2022).

Jeremy Rifkin, a transição da posse para o acesso é uma profunda mudança de paradigma que leva a mudanças drásticas no mundo da vida. Ele prevê até mesmo o surgimento de um novo tipo de ser humano: “Acesso, ‘logon’, ‘access’ são os termos-chave da era nascente. […]

Sobre a identidade modificada do sentido medieval, diz o autor: “Nós nos produzimos nas mídias sociais. A expressão francesa se produire significa colocar-se em cena. Nós nos encenamos. Nós performamos nossa identidade” (Han, 2022), veja bem: produz nas mídias.

Mídias são meios, a confusão com a ideia das redes, não de propósito é claro, destrói a terceira característica da coisa que é sua singularidade, não neste ensaio, mas em outros, o autor lembra que tudo no mundo se caracteriza pela mesmice, tudo parece muito igual.

Este mundo da “não posse” é diferenciado pelo desfrutar mais que o viver, faz da “idealização das coisas” uma tarefa, não é raro ver em programas e nas mídias sociais um grande número de perguntas utópicas e bizarras, tais como, o que seria se você fosse um objeto, se morasse em outro planeta, etc. e isto diverte o público das não-coisas.

Não se assustem os revolucionários, mas citando Walter Benjamim, Chul-Han escreve: “a relação mais profunda que se pode ter com as coisas”, esta substancialidade não é materialista e sim uma relação racional e “informacional” com as coisas, informação aqui em outro sentido.

Han, Byung-Chul Não-coisas : reviravoltas do mundo da vida / Byung-Chul Han ; tradução de Rafael Rodrigues Garcia. – Petrópolis, RJ : Vozes, 202