Fala, escrita pictórica e fonética
Relendo Marshall McLuhan em “Os meios de comunicação como extensões do homem” (1969) vejo o quanto ainda é primitivo nosso pensamento sobre a tecnologia e a comunicação.
Apesar do livro de McLuhan este extraordinário pensador da comunicação, vejo a comunicação ainda incompreendida quase meio século depois, releio um trecho, da fala de um disk-jockey (pag. 95) “que geme, grunhe, rebola, canta … sempre reagindo as suas próprias ações” (pag. 96).
Ele mergulha num diálogo com Bergson, para afirmar que este “considerava a língua como uma tecnologia humana que debilitou e rebaixou os valores do inconsciente coletivo” (pag. 97) para concluir ir logo a frente convergindo com o pensamento de Bergson “a consciência coletiva e o conhecimento intuitivo ficam diminuídos por esta extensão técnica da consciência que é a fala” (pag. 98).
Ao introduzir a palavra escrita, o autor destaca logo de início a distinção clara entre as escritas fonéticas e os ideogramas, para que se compreenda “essas formas de escrita culturalmente mais ricas não ofereciam aos homens uma passagem do mundo magicamente descontínuo e tradicional da palavra da tribo para meio visual frio e uniforme” (pag. 102).
Para resumir “as escritas pictóricas e hieroglíficas … representam um sentido da extensão visual para armazenar e facilitar o acesso à experiência humana” (pag. 107) enquanto “em contraste o alfabeto fonético se estende também aos efeitos sociais e psicológicas” (pag. 107) mas isto implicou “a separação de ambos os signos, oral e visual, de seus significados semânticos e emocionais” (pag. 107).
É sobre estas reflexões, que via (a internet não havia nascido) “as novas formas elétricas”, como uma forma de “inter-relação instantânea e não-visual, passamos a encontrar pois, a maior dificuldade de definir o ‘racional’, se mais não fosse o simples fato de nunca havermos percebido de onde nasceu” (pag. 139).