Uma “querela” entre a razão e os nomes
Este problema, que vem desde a antiguidade clássica, com Sócrates, Platão e Aristóteles é um problema ainda hoje para a ciência, ou aquilo que consideramos científico no sentido de verdadeiro, mas a disputa esquentou no final da Idade Média, com nominalistas e realistas.
Tudo parte de um escrito de Boécio (480-525 d.C.), no início da alta Idade Média, que usou um texto (que ficou conhecido como Querela dos universais) de Isagoge de Porfírio (234-309 d.C.), veja iluminura ao lado (foto), que afirmava:
“Assim, pois, evitarei em falar sobre os gêneros e as espécies, acerca da questão de saber se são realidades subsistentes em si mesmas ou se consistem apenas em meros conceitos mentais, ou se são corpóreas ou incorpóreas, ou se são separadas ou se existem nas coisas sensíveis e delas dependem, uma vez que se refere a uma questão que exige um tratamento profundo e requer um exame maior”.1
O problema percorreu a idade média e foi fundamental para estabelecer uma ideia primeira do racionalismo, através da lógica e da construção do conhecimento, mas no final da idade média, a chamada baixa idade média o problema quase desapareceu.
Foi Pedro Abelardo, um monge que era leitor de Orígenes, que reapresentou a tese como uma releitura da Hierarquia das espécies e dos gêneros de Porfírio, mas afirmou que as palavras (nomes) descrevem o mundo não se referem às palavras no sentido físico (os sons que emitimos quando falamos), mas às palavras como portadoras de significado.
Foi através da releitura dos escritos de Aristóteles sobre a alma e a metafísica, que no século XIII Tomás de Aquino e Duns Escoto elaboraram formas sofisticadas do realismo, no entanto no século XIV Guilherme de Ockham (em inglês Wilheim Ockham) rejeitou a ideia aristotélica de que o conhecimento intelectual resultava do fato que nossas mentem eram informadas por ideias universais resultantes dos objetos percebidos, substitui-a pela navalha de Ockham.
A navalha de Ockham é a ideia que entre uma explicação simples de determinada coisa e outra complexa, ficamos com a mais simples e, portanto não há “universais” que são inatos.
Para os realistas, um universal é um ente predicado de outros (ou especialmente) de todos os demais entes. Ele existe objetivamente, tanto como realidade em si, transcendente em relação ao particular (em latim: universais ante rem), seja como imanente, nas coisas individuais.
1Porfírio. Isagoge. Introdução, tradução e notas de Juan José García Norro e Rogelio Rovira. Edição trilingue (grego, latim e espanhol). Barcelona: Anthropos Editorial, 2003, p. 2-3.