São Paulo pode parar ?
Lema de muitos prefeitos e de paulistanos durante centenas de anos ouviu-se: São Paulo não pode parar, também o poeta Mario de Andrade chamou-a de Paulicéia Desvairada.
São Paulo completa hoje 462 anos de existência, fundada em 1554 pelos jesuítas vindos de Portugal, a cidade se tornou o maior centro financeiro da América Latina, mas isto poderá parar ou mudar, tornando-a mais possível de ser humanizada e vivida ?
Seus números são exagerados, cerca de 12 milhões de habitantes sem contar as cidades vizinhas, mostram a sua dimensão: São Paulo é a cidade que produz o maior PIB do Brasil, tem uma malha metroviária pífia (se comparada a cidades do mesmo porte), um dos maiores engarrafamentos do mundo e taxas de homicídos que, apesar de estar em seu menor nível, ainda podem ser comparada a números de uma guerra civil.
As eternas inundações, problemas básicos de infraestrutura permanecem: água, saneamento, luz e mobilidade; e a apesar disto tudo o paulistano ama sua cidade e quer ocupa-la.
Resgato Mário de Andrade porque foi um intelectual avante do seu tempo ao discutir os efeitos da modernidade Brasileira, conforme afirma Alain Touraine: “a afirmação de que o progresso é o caminho para a abundância, a liberdade e a felicidade e que estes três objetivos estão fortemente ligados entre si, nada mais é que uma ideologia constantemente desmentida pela história (Touraine, 1999, p. 10).
Podemos, guiados pelo conceito de metáfora de Paul Ricoeur, olhar com uma visão mais estética e menos desenvolvimentista de São Paulo.
Paul Ricoeur partiu da noção de Aristóteles de metáfora e afirma que esta se refere a “um estado de alma” e que, portanto, seria centrípeta, assim parte de um real para um imaginário, que por sua vez recriaria poeticamente este real, este é o OCUPAR.
A função desta metáfora é redescrever a realidade, relacionando-a com uma função cultural e poética capaz de mudar o referencial ou duplicar a referencialidade (Ricoeur, 2000).
No sentido literal é recriar a realidade, inserindo nela o homem expulso, isto reconstrói o sentido e a re-humanizá-la, trazendo de volta uma referencia perdida: suas ruas, paisagens e histórias, fazendo o homem reviver e ocupar o espaço em que vive.
ANDRADE, Mário. Paulicéia Desvairada. São Paulo: Editora Universidade de São Paulo, 1987.
RICOEUR, Paul. A metáfora Viva, trad. Dion Davi Macedo. São Paulo: Edições Loyola, 2000.
TOURAINE, Alain. Crítica da Modernidade. Petrópolis: Vozes, 1999.