Exegese e Hermenêutica: dicotomias
Qualquer texto fora do contexto é crítico, mas o que é exatamente contexto, o que significa os termos na linguagem da época em que foi escrito e principalmente qual a exata interpretação que se pode dar dele é a hermenêutica, já a exegese depende apenas da interpretação.
A primeira grande falácia é que uma é de origem bíblica, neste caso a exegese e outra de origem gregas, falácia pois ambas são de origem grega, a Exegese (do grego ἐξήγησις de ἐξηγεῖσθαι “levar para fora”) é uma interpretação ou explicação crítica, ainda que tenha a particularidade para o texto religioso, enquanto a hermenêutica vem do grego “ermēneutikē” que significa “ciência” e “técnica”, mas refere-se ao deus Hermes, que deu origem a linguagem e a escrita.
Se considerarmos a antiguidade clássica, já a hermenêutica é mais completa, pois significa estudar a língua, literatura, cultura ou civilização sob uma visão Histórica, nos documentos escritos, embora não fale explicitamente de memória, fala de cultura e literatura.
Já apontamos aqui que foi Friedrich Schleiermacher (1768-1834), no início do século XIX, a hermenêutica recebe um dos objetivos era unificar a hermenêutica bíblica e do direito, por isto a chamou de hermenêutica universal, teve profundas influencias no pensamento de Dilthey e Heidegger.
Heidegger, afirma que a compreensão apresenta uma “estrutura circular”, de onde vem o círculo hermenêutico: “Toda interpretação, para produzir compreensão, deve já ter compreendido o que vai interpretar” (HEIDEGGER, Martin. Being and Time. New York: Harper & Row, 1972).
Wilhelm Dilthey, diz que a explicação (próprio das ciências naturais) e compreensão (próprio das ciências do espírito ou ciências humanas) estariam em oposição ou seja: “Esclarecemos por meio de processos intelectuais, mas compreendemos pela cooperação de todas as forças sentimentais na apreensão, pelo mergulhar das forças sentimentais no objeto.” (PALMER, Richard. Hermeneutics: Interpretation Theory in Schleiermacher, Dilthey, Heidgger, and Gadamer. Evanston: NUP, 1969).
Paul Ricoeur quer superar esta dicotomia, para ele compreender um texto é encadear um novo discurso no discurso do texto, pois por um lado não há reflexão sem meditação sobre os signos; do outro, não há explicação sem a compreensão do mundo e de si mesmo. (RICOEUR, Paul.Teoria da Interpretação. Lisboa: Ed. 7O, 1987).