Traduzir em coisas simples, pode complicar
As redes são simples, mas qualquer análise mesmo usando conceitos simples como “elos fracos”, “pontes”, “centralidade” e “graus de separação” poderá na medida que o número de atores de uma rede aumenta, aumentar exponencialmente sua complexidade.
Diversos são os raciocínios cotidianos que levam a este pensamento equivocado, a simples ideia que a vida, a sua origem no universo, o que fazemos e o que somos, tem respostas simples leva a um raciocínio simplista equivocado, desde o científico até o religioso.
A ideia que Deus exista ou não por exemplo é complexa, pois seus três elementos estruturantes não são simples: fé que é a crença no que não é evidente (porisso não tão simples), esperança cujo elemento muitas vezes pode chegar ao absurdo que é te-la mesmo em situações de desespero, guerra ou qualquer extrema gravidade; e por último: a caridade (no sentido de amor ágape) que é talvez a coisa mais impossível de se codificar, embora fácil de sentir quanto realmente está na presença dela.
Mas o raciocínio científico é o mais complexo, pois vem de formulas reducionistas como a de Wilhem Ockham, nominalista inglês do século XI que criou a famosa Navalha de Ockham, que se estiver entre duas explicações de determinado objeto, fico com o mais simples, mas fica a pergunta: quem garante que a explicação correta não é a complexa.
O nominalismo foi combatido pelos realistas, e o problema de fundo é saber se existem ou não universais, que são realidades em si, e transcendentes em relação aos particulares, ou seja, as qualidades (Platão enunciou a formula universais ante rem*), ou as propriedades uma vez que são coisas imanentes as qualidades (para Aristóteles: universidade in re**). (* antes do existente), (**universalidade na coisa).
A partir de Duns Scoto, que chamava a navalha de princípio da economia (de raciocínio?) e posteriormente Descartes e Kant, ainda que a obra prima de Kant fosse uma crítica a Descartes: A crítica a razão pura, mas o que está na base desta discursão, é por vezes esquecido, ou negligenciado: a subjetividade, o transcendentes e a fé.
Duns Scoto que está na origem deste pensamento, curiosamente afirma que as verdades da fé não poderiam ser compreendidas pela razão, o contrário que tinha dito Tomás de Aquino, que era realista, e o que Kant deseja ao criticar a “razão pura” é o fato que ela não pode subsistir por si própria, precisa “transcender” até o objeto, cria um subjetivismo próprio ao qual alguma correntes fundamentalista se associarão, Kant era descendente de protestantes puritanos.
Sua tarefa no nível epistemológico era tentar fazer uma síntese entre o racionalismo de Descartes e Leibniz e o empirismo de Hume, Locke e Berkeley, mas ele será especialmente útil ao liberalismo nascente, embora esta ligação seja complexa, pode-se simplifica-la ao gosto do simplismo: separar sujeito e objeto.
Sim não é só isto, mas Hegel finalizará a tarefa do idealismo liberal: construir uma ideia eterna de Estado, organizar a religião de modo conveniente ao “subjetivismo” retirando-a das coisas concretas e objetivas, e finalmente criar uma “Fenomenologia do Espírito”.
Os que desejam fazer desta compreensão uma tarefa reducionista e simplista, lerão a história como aqueles que desejaram escrevê-la o fizeram, separar o subjetivo: religioso, histórico, política e até religioso, da consciência histórica concreta: os fatos, as misérias e corrupções.
A apologia da ignorância, da ausência de um pensamento profundo, servem a quem ? A pós-verdade.