O homem não tão natural
A filosofia moderna, de Hobbes a Hegel, depois a crise se instala, não conseguiu definir o que de fato seria natural, e perguntamos o natural é o homem em guerra ? ou em paz ? se é que podemos deixar de lado o que seja de fato natural e natureza.
Comecemos por Hobbes, afirmou o autor: “Se não houvesse a corrupção e o vício de homens degenerados, não seria preciso outras leis, nem a necessidade de formar, no lugar de grande e natural comunidade, sociedades separadas, fundadas sobre contratos positivos.” (Locke, 1978, p. 5), parece atual e é porque o Estado idealizado por Hobbes e divinizado por Hegel é o que foi implantado, mas isto será o post seguinte.
Para Hobbes o Estado de Natureza é o próprio Estado de Guerra de todos contra todos, na verdade do estado contra o cidadão, mas isto não é tá claro, enfatiza ele que diante da ameaça de morte violenta, a vida se caracteriza como: “sórdida, pobre, embrutecida e curta”, nos termos por ele expostos no capítulo XIII do Leviatã, a sua principal obra.
A guerra é então uma sensação permanente de medo que implica na preocupação constante com a autoproteção, muito atual, e é de 1651 (na foto a capa original).
John Locke vem a seguir, para estabelecer como um dos grandes precursores do liberalismo que os homens são iguais e livres, e que dentro dos limites da lei da natureza pode decidir, em contrato estabelecido com os demais, quais ações podem ser praticadas na relação com os demais, pode-se dizer que não está em um estado de guerra, mas deve estabelecer regras para que os limites “naturais” sejam respeitados.
Não podendo o homem destruir as dádivas da natureza ele deve, em prol de sua liberdade “ilimitada”, justificar sua atitude para preservar a humanidade, dito em sua pobra Dois tratados sobre o governo (II, § 6).
Cada um está obrigado a preservar-se, e não abandonar a sua posição por vontade própria; logo, pela mesma razão, quando sua própria preservação não estiver em jogo, cada um deve, tanto quanto puder, preservar o resto da humanidade, e não pode, a não ser que seja para fazer justiça a um infrator, tirar ou prejudicar a vida ou o que favorece a preservação da vida, liberdade, integridade ou bens de outrem (LOCKE, 1998, p. 385).
Finalmente vem Jean Jacques Rousseau que defende o “bom selvagem”, ou seja, o homem é bom por natureza a sociedade o corrompe, dito desta forma:
“os homens nesse estado [de natureza], não tendo entre si nenhuma espécie de relação moral, nem deveres conhecidos, não poderiam ser bons nem maus, e não tinham vícios nem virtudes (…). Não vamos, sobretudo, concluir com Hobbes que, por não ter a menor ideia da bondade, o homem seja naturalmente mau; …” (ROUSSEAU, 1978, p. 158).
Depois isto se tornará idolatria moderna do estado em Hegel, mas é preciso retomar este estado “ideal” desde Kant para fazer um percurso do pensamento.
HOBBES, T. Leviatã, Coleção Os pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1978.
LOCKE, John. Dois tratados sobre o governo. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
ROUSEAU, J.J. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, Coleção Os pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1978.