Dualismo e ontologia
Se tudo que há no mundo é relacional, se como diz o filósofo Mário Ferreira dos Santos: “não dizemos tudo de uma coisa, nem muito, quando apenas a classificamos em um conceito, pois sabemos que, na coisa, há muito mais, que não é do conceito que a assinala.” (pag. 56)
Portanto ver ontologicamente significa ver a relação entre os vários aspectos do ser e a relação entre os seres, o que Mário Ferreira vai chamar de decadialética, dez campos de análise da dialética, entre as quais encontramos a idealista oposição entre sujeito x objeto, “e no sujeito o campo da razão e da intuição.” (pag. 64)
A maneira única de nosso filósofo é romper o dualismo por dentro, ou seja, não refutá-lo mas incluí-lo então estabelece “um esquema fáctico-noético da coisa:, que é uma representação, com imagem, um esquema sensível do que a coisa é; ou melhor, do que a coisa simboliza em esquemas sensíveis. O esquema abstrato-noético, construído pela razão, é o conceito.” (pag. 64).
Sempre considerando as contradições, “o terceiro e quarto campo o do desconhecimento e conhecimento racionais, que operam na captação dos esquemas abstratos, que, ao mesmo tempo, implicam os que são desprezados, inibidos, ou seja, o da atualização e da virtualização racional e o da atualização e da virtualização intuitivas.” (idem)
Faz uma constatação fundamental para os dias de hoje (ele morreu em 68): “O objeto, não sendo totalmente captado por nós, podemos considerá-lo como atualidade e virtualidade.” (pag. 65)
Então atualidade e virtualidade são campos de tensão do objeto, afirma o filósofo.
Destes campos “um ser só pode atualizar o que está na sua forma. Outras possibilidades só poderão estar mais próximas se sofrerem uma mutação substancial, como ainda veremos adiante.”
É justamente neste campo que surgem os três novos campos: sétimo, oitavo e nono campos, onde vai analisar os aspectos intensos e extensos, que surgem da tensão do objeto.
O quantitativo é sempre extensivo ao objeto, enquanto o qualitativo é intensivo, e usando uma analogia, afirma que a qualidade é vertical, enquanto a extensividade é horizontal, exemplifica com a qualidade cor verde, “o verde é mais verde ou menos verde, tomando-se como medida um verde perfeito, embora sem posse atual por nós, mas apenas virtual.” (idem)
O mecanicismo, explica, é justamente a redução das intensidades à extensidade, neste caso deduz Mario Ferreira: “não há solução da crise aberta entre essas antinomias, porque a redução é meio abstrato de fugir a ela, e não compreendê-la dialeticamente”, neste caso, decadialeticamente.
‘O décimo campo, de grande importância no exame dos fatos, é o do variante e do invariante” (pag. 67), que é a consciência que devemos ter da historicidade, embora Mario Ferreira não se refira a Gadamer, provavelmente nem conheceu sua obra pelo ano que morreu, faz sua análise baseada na relatividade de Einstein.