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A mente emergiu da matéria ?  

23 set

Esta pergunta está no trabalho de Terrence W. Deacon  filósofo, antropólogo e cientistaIncompleteNature cognitivo de Berkeley, em Incomplete Nature: how mind emerge from matter (2013), onde Deacon considera a informação um fenômeno cuja existência é determinada respectivamente por uma ausência essencial, algo como um não realizado que pode ou não vir a ser o realizado. Se no século 19 o grande paradigma foi admitir a existência da energia e sua relação com a matéria, agora modificada por Constantino Tsallis (veja nosso post), o século 20 trás para nós suas dificuldades em assimilar a irrealidade existencial da informação.

Uma explicação completa sobre a real natureza da informação é tal que seria necessário distinguir a informação de relações meramente materiais ou energéticas que também requerem uma alteração de paradigma, então uma alternância forma/fundo que nós chamamos neste blog de in-forma-ação, seria ainda mais fundamentalmente uma visão contra-intuitiva que a exigida pela energia.(DEACON, 2013, p. 373)

Deacon usa para seu argumento, diversos exemplos vindos da biologia e da matemática para justificar sua ideia, em essência emergentes de um nada, na verdade não é nova na filosofia e na ciência, menos ainda na lógica e na matemática, mas ao contrário de Descartes onde a primeira certeza é o Eu, na matemática moderna a primeira certeza é o 0, o conjunto vazio e agora com o digital, o 0 e 1, que emerge uma metamatemática como quer Gregory Chaitin, que já abordamos em outro post.

O modelo de números cardinais do matemático Von Neumann define todos os números literalmente a partir do zero: existe o conjunto vazio. O conjunto do conjunto vazio tem um elemento: o próprio conjunto vazio, Alain Turing e Claude Shannon idealizaram a máquina, mas foi Von Neumann que a construiu, se pensamos que o Mark I e a máquina de Konrad Zuze, não eram mais que calculadoras eletromecânicas.

Um matemático ligado à teoria dos Conjuntos, Ernst Zermelo, embora faça um raciocínio distinto, também parte do zero para chegar a todos os cardinais.

A informação faz parte do homem moderna, não só na cidade, mas agora na chamada Sociedade da Informação, que nós mesmo vamos produzi-la a partir de situações onde identificamos que algo está faltando.

Essa aparenta ser a melhor postura para abordar a natureza da informação. Ela é sempre um quê que falta. Como se a todo instante a realidade estivesse se perguntando: e agora o que falta?, e providenciando o que pode.

Essa ideia é mesmo conhecida para nós. Ser previdente, eficiente, organizado, é sempre ter uma atitude preventiva e pró-ativa em relação a situações possíveis. É um antecipar-se. É detectar o que falta e providenciar. Segundo Deacon, essa lógica perpassa toda a realidade. Além da abundante infosfera em que nos situamos, a informação emergente é uma demanda constante, seja através de seres vivos ou não.

Deacon reivindica a ideia do matemático e teórico da comunicação Claude Shannon, que associou entropia máxima à informação mínima e vice-versa, trazendo a informação para a origem da dicotomia ordem/desordem, tão cara às teorias de sistemas complexos, à matemática do caos e à termodinâmica irreversível das estruturas dissipativas de Ilya Prigogini, Prêmio Nobel de Química de 1977, de onde emergem as ideias de Caos e Complexidade.

Terrence Deacon, Constatino Tsallis e Gregory Chaitin estarão no EBICC, evento da USP no fim deste mês.

DEACON, T. W. Incomplete Nature: the mind emerged from matter. 2013.

 

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