O dualismo pós-moderno
Poder-se-ia discorrer sobre o dualismo da pós-modernidade, mas ler Hegel é demasiado enfadonho, mesmo para aqueles que dominam o discurso filosófico, e penso particularmente que a questão do objetivismo x subjetivismo, natural x cultural e outras questões postas pelo pensamento da modernidade, e que são correntes no cotidiano, está já em outro ponto.
O ponto que situo é o das dicotomias infernais de Eduardo Viveiros de Castro: “Metafísicas caníbales: líneas de antropologia postestructural” (Katz Editores, 2010), ainda que possa haver uma edição em português caiu em minhas mãos uma edição espanhola, traduzida do francês.
Me chamou a atenção porque ele começa o livro sobre questões que julgo fundamentais: o retorno às coisas, o perspectivismo, o multinaturalismo e a esquizofrenia antropológica.
O início do primeiro capítulo “Anti-narciso” confessa que abandonou a ideia de fazer um livro para escrever sobre ele, como fazia Borges, e lança uma pergunta: “o que deve ser conceitualmente a antropologia dos povos que estuda ?” e segue a esta: “Las diferenças e as mutações internas da teoria antropológica se explicam principalmente (e desde o ponto de vista histórico-crítico exclusivamente) por estruturas e conjunturas das formações sociais, dos debates ideológicos, dos campos intelectuais e dos contextos acadêmicos que surgiram os pesquisadores ? é esta a única hipótese pertinente? No seria possível proceder a um deslocamento da perspectiva que mostro que os mais interessantes entre os conceitos, os problemas, as entidades e os agentes introduzidos pelas teorias antropológicas tem sua origem na capacidade imaginativa das sociedades (ou dos povos, ou dos coletivos) que propõem explicar?” (Viveiros de Castro, 2010, p. 14).
A estas perguntas penetra finalmente na dicotomia infernal que considero essencial na modernidade: “Não será ali onde reside a originalidade da antropologia, nesta aliança, sempre equívoca, porém com frequência fecunda, entre as concepções e as práticas provenientes dos mundos do “sujeito” e do “objeto” ? “ (idem).
A pergunta então do “Anti-Narciso” é então epistemológica, isto é, política, e o autor afirma que se todos estão mais ou menos de acordo que é preciso uma descolonização do pensamento, e nisto reside o “anti-narciso”.
O discurso de Viveiro de Castro é consistente porque afirma que o “outro” é sempre pensado e “inventado” de acordo com os sórdidos interesses do Ocidente, e depois irá discorrer sobre o “perspectivismo” e “multiculturalismo”, é impossível sintetizá-los num post, então só pontuamos estas perspectivas, chamadas pelo autor de “canibais” ou metafísicas da predação”.
O perspectivismo é a ideia que toda teoria é particular e depende da “perspectiva do sujeito”, ou multiculturalismo é a ideia da “convivência” de muitas culturas em diversas regiões, mas ambas carecem e uma “descolonização” do pensamento, então a dicotomia permanece.