Aonde vai a civilização ?
A crise civilizatória, profunda ao menos no ocidente, é evidente, os recuos com problemas de guerras, economias em crise e intolerância cultural e religiosa, são cada vez mais evidentes, mas aonde vamos ?
Primeiro é preciso reconhecer que em diversos processos históricos houveram recuos, um dos casos mais claro foi a restauração da monarquia na França, período que foi desta a queda de Napoleão Bonaparte em 1814 até a Revolução de julho de 1830.
Peter Sloterdijk escreveu “Se a Europa despertar”, na virada do milênio, criticando também a Europa como “império do centro”, enquanto Edgar Morin fala em romper “com todas as formas de dominação, imperialismo, colonialismo, coisificação na relação com os seres vivos, nas relações com a natureza, e nas próprias relações inter-humanas …” (MORIN, VIVERET, 2013, p. 45).
Entretanto mudanças profundas culturais estão em processo, toda mudança desperta uma dose de inercia e conservadorismo, esta é a análise que fazemos do renascer de nacionalismos exagerados (é preciso diferenciar de questões culturais e étnicas que são justas), novas formas de concentração de renda e de exclusão.
Morin analisa o processo de transformação da modernidade como: “o processo de pacificação, de civilização utilizava o perigo representado pelos bárbaros, pelos estrangeiros e pelos infiéis” (Morin, Viveret, 2013, p. 57), alertando que o processo de pacificação falhou, o que está também descrito na principal obra de Peter Sloterdijk “Regras para o parque humano”, que foi uma resposta a “Cartas sobre o humanismo” de Heidegger.
Assim como alertava o antropólogo e economista Karl Polanyi em “A grande transformação”, Morin alerta para o perigo das sociedades de mercado em oposição as economias de mercado, onde ouve uma passagem do que tinha valor não tinha preço, “para o que não tem preço não tem valor” (Morin, Viveret, 2013, p. 61), onde a lógica perversa da especulação financeira e corrupção politica destrói economias e nações, isto sem falar de situações de crise humanitária por todo o planeta.
É preciso profundas mudanças estruturais: o modelo de estado e de democracia, o controle no mercado e serviços das novas mídias sociais, a reestruturação do modelo educacional que inclua a transdisciplinaridade entre diversas áreas, e a conscientização da diversidade cultural e religiosa, entre muitas outras necessárias.
É como diz a palavra bíblica em João 6,60: “Ao ouvirem isso, muitos dos seus discípulos disseram: Dura é essa palavra, quem pode suportá-la?” isto parece bem aplicável ao momento histórico presente.
MORIN, E., VIVERET, P. Como viver em tempo de crise? Rio de Janeiro: Bertrand Russel do Brasil, 2013.