A metáfora, o imaginário e o velamento
Já postamos que o velamento é parte essencial da verdade e do belo, em Paul Ricoeur isto está mais claro em sua “Metáfora Viva” (1975), porque parte de sua hermenêutica fenomenológica está em relação essencial com a obra de arte, em que faz a passagem do momento arqueológico da hermenêutica para o teleológico, isto é, a lógica dos fins, além da lógica proposicional.
Já na mímesis grega, a produção artística e o novo tinham significado como instrumentos que dão sentido a realidade, porém a ultrapassa e pode-se dizer havia também algo teleológico.
Isto é inteiramente valido, pois ao ler a Metáfora Viva percebe-se que é uma releitura da Poética de Aristóteles, mas ele próprio esclarece a diferença ao expor que a metáfora vai além (meta) e transpõe (pher) para uma coisa que designa outro objeto, enquanto mimesis é a ideia de imitar.
Mas além da metáfora a questão importante em Ricoeur é a da imaginação, deve-se separá-la do virtual, as palestras inéditas de Paul Ricoeur nos Estados Unidos, foram documentadas e comentadas, isto já uma tradução, por George H. Taylor, onde aparece o conceito de “imaginação produtora” em 4 categorias: utópica, epistemológica, poética e sacro simbólica (Taylor, 2006), que me parecem mais ligadas ao virtual.
O próprio Aristóteles afirma que esta figura de linguagem (metonímia – substituição da palavra, sinédoque – substituem a parte pelo todo, etc.) é tangente a quem deseja expressas questões na oralidade e deve fazê-la na escrita.
Façamos uma passagem, usando recursos do virtual, da sintaxe (a estrutura da frase) ao sentido (sua semântica) chegando a lógica do discurso (a hermenêutica), isto sai de uma teoria da substituição do sentido (a falsa semântica em muitos discursos) para uma teoria do sentido, uma lógica subjacente ao hermenêutico, não mais como verdade dogmática, mas dialógica.
A questão da classificação cara ao enciclopedismo e iluminismo, resultará na questão de Gadamer se em toda ela não há uma metáfora subjacente, enquanto Derridá pergunta se não está nela toda a capacidade racionalista de classificar conceitualmente todos objetos.
Byung-Chul Han responde de maneira não dualista, a verdade e o belo estão “velados” e só que é capaz de ver através deste véu chega a “clareira” desejada, então a metáfora é um recurso e a hermenêutica dialógica um caminho, este caminho oscila entre o real e o virtual.
O virtual é assim o visível além do véu, e o real é o desvelado no atual, o represente, cuja memória no momento seguinte só poderá ser re-presentada ou atualizada.
Chul Han também fala do recurso da metáfora na Bíblia, como um recurso proposital para “para as tornar objeto de desejo”, penso que é mais que isto, é que alcançar a verdade se faz em passos e que grande parte da vida ainda é mistério.
RICOEUR, P. La Métaphore Vive, Paris, Éditions du Seuil, 1975.
TAYLOR, G. H., Ricœur’s Philosophy of Imagination. Journal of French Philosophy, Vol. 16, p. 93, 2006; U. of Pittsburgh Legal Studies Research.