Entre a lógica da proibição e da permissividade
O fato que o estado moderno vive uma crise é fácil de observar pelo número de governos autoritários que cresce em todo o planeta, de modo especial no Ocidente e nas Américas, não era de imaginar até anos atrás, um discurso nacionalista nos Estados Unidos da América e ainda a volta de alguns governos autoritários na América Latina.
A educação para a democracia e para o humanismo fracassou na modernidade, é o que constatava Peter Sloterdijk em Regras para o parque Humano, que não é senão uma resposta (dialogal é bom que se frise) as Cartas sobre o Humanismo de Heidegger, onde pergunta: “o que domestica o homem se em todas as experiências prévias com a educação do gênero humano permaneceu obscuro quem ou o quê educa os educadores e para quê? Ou será que a pergunta pelo cuidado e formação do ser humano não se deixa mais formular de modo pertinente no campo das meras teorias da domesticação e educação?” (Sloterdijk 2000).
A educação moderna é para com os direitos e deveres do estado, ainda que o nome tenha sido apagado, a famosa “educação moral e cívica”, onde civismo e moral remetem-se ao estado.
Na lógica bíblica, onde é fundamental o amor agápico e que nem sempre é facilmente compreensível pela cultura teológica, ainda mais quando há polarização social e política, é fundamental que se estabeleçam relações e que elas tenham respeito à opinião e à ação alheia, e isto se dá diante da máxima: “não faça ao outro o que não quer que seja feito a você”, a chamada regra de ouro.
É comum o uso do discurso do outro, pela escassez de pensamento, não se trata de plágio, apenas o uso de máximas ao invés de algo elaborado, assim que algo entra em evidencia. logo já há aqueles que adotam os slogans, sem nem sempre adotarem as ações, mas Jesus diz aos discípulos aos que usavam seu nome Mc 9,39-40: “Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim. Quem não é contra nós é a nosso favor”.
Esta devia ser a lógica paraconsistente do diálogo, nunca a lógica exclusivista: “quem não está conosco é contra nós”, mas esta lógica penetrou na política e no seio da sociedade, assim os discursos vão se tornando mais autoritários e mais excludentes aos que não estão de acordo com determinada bandeira.
O que é ilógico, em qualquer sistema lógico, é considerar que seja inclusiva a lógica do ódio, o humanismo não acabou, acabou um humanismo que prega a lógica da força do estado.
Sloterdijk, Peter. Regras para o parque humano – uma resposta à carta de Heidegger sobre o humanismo. Trad. José Oscar de A. Marques. São Paulo: Estação Liberdade, 2000.