O que fizeram com a cultura
Theodore Dalrymple, é o pseudônimo do psicanalista inglês Anthony Daniels, que trabalhou em prisões inglesas com criminosos de alta periculosidade, e viu neles não apenas aspectos de pobreza e exclusão, mas também o desenvolvimento de uma cultura de tolerância a atos de arrogância, furtos e imoralidades.
Em um livro composto de 26 ensaios ele descreve a nossa cultura atual o que restou dela (foto).
Escreveu em uma de suas obras: “Para o sentimentalista, não existe criminoso, mas apenas um ambiente que não lhe deu o que devia”, e assim aqueles que diziam em voz alta que sofriam muito em situações triviais da vida, que muitas pessoas passam e nem por isto caem na delinquência, é claro isto não quer dizer que não seja necessário reeducação, mas a educação preventiva é melhor que o remédio.
Não se trata de um setor exclusivo da sociedade, ou apenas uma questão ideológica como muitos autores apontam, e sim uma questão de influência cultural, em especial de rádio, televisão e cinema, quando todos passam a justificar a violência, o ódio e a crueldade, lembro de frases do filme Coringa que foram repetidas em tom cult, por exemplo, “frio, sarcástico e sem coração. Foi no que me transformei e agradeço à sociedade”, a pergunta é qual sociedade ele escolhe: a da eficiência ou a da solidariedade.
Não quero dar popularidade e nem fazer o papel da indústria cultural que condeno, e ela sim é a verdadeira produtora de valores estranhos e sem perspectiva humanística, como aponta o psicanalista em seus livros, os valores penetram na sociedade pela cultura editorial seletiva que é altamente permissiva em valores e costumes.
A verdadeira solidariedade não condena apenas, há casos que a condenação é necessária para reprimir a violência e o ódio, mas educação, dá dignidade e reergue as pessoas que sucumbiram a uma sociedade da eficiência e da arrogância, lembro aqui outro livro de sucesso, que li até a décima página: “A Sutil arte de ligar o f**” (em inglês a palavra também começa com f), sim é verdade que há no livro um grito contra o perfeccionismo e a cultura do eficientíssimo em fotos e textos nas “mídias” de redes sociais, mas é importante lembrar que o autor é americano e lá isto é uma cultura geral e não apenas nas mídias.
Se na semana passada postamos sobre os “caminhos” e as “veredas”, queremos agora salientar a micro-cultura, o dia a dia com mais empatia, mais respeito e menos ódio, e se possível mais polido.
Não há como encontrar caminhos solidários e de paz na sociedade se a grande maioria optou por combater com armas iguais àquelas que os odiosos combatem.
DARLRYMPLE, Theodore. Nossa Cultura ou o que restou dela. E Realizações. São Paulo. 2015.