A civilização e a clareira
O mérito de Heidegger ter escrito sobre a clareira em pleno período pós guerras mundiais, foi o de voltar a contemplar aquilo que essencialmente estava obscurecido: O Ser, não só o ser humano, já que suas Cartas sobre o Humanismo foi polemizada por Peter Sloterdijk (bem mais tarde), mas principalmente por retomar a questão da Vida do Ser.
Diz a leitura Heideggeriana: “O destino se apropria como a clareira do ser, que é, enquanto clareira. É a clareira que outorga a proximidade do ser. Nessa proximidade, na clareira do Da lugar, mora o homem como ex-sistente, sem que ele já possa hoje experimentar e assumir esse morar” (em Cartas sobre o Humanismo, 1967).
Esta clareira é diferente de qualquer ideia sobre a modernidade, como iluminismo ou algum processo místico de iluminação, diz Heidegger: “”… o claro, no sentido do livre aberto, não possui nada de comum, nem sob o ponto de vista linguístico, nem no atinente à coisa que é expressa com o adjetivo luminoso’, que significa ‘claro'”, em outro escrito seu sobre a tarefa do pensamento.
Volta a ser importante em meio a ameaças de guerra (veja nosso post anterior), o pensar e o desejo de transformação política e social não pode deixar submergir a ideia do “Ser”, o fato que somos e que a morte e a guerra escondem este verdadeiro propósito, que é a vida do Ser.
Este livre aberto significa que podemos diante de uma situação de negação do Ser, ter a visão do que é ex-sistente, não como iluminação, mas coo visão real daquilo que está em nossa presença, na filosofia grega o nosso “ón”
Não se trata de revelação, mas sim de “desvelação”, isto é, algo que está sempre presente em nós, mas oculto e quase dormente, retomando a leitura de Parmênides sobre o Ser, escreveu Heidegger: “Na medida em que o ser vige a partir da alétheia, pertence a ele o emergir auto-desvelante. Nós denominamos isso a ação de auto-iluminar-se e a iluminação, a clareira “, entendendo iluminação aqui como visão e não como “esclarecimento” e aletéia como não-esquecimento (a-lethe).
A crescente barbárie não é fruto só das questões sociais emergentes ou da disputa política territorial, mas da ocultação do Ser.
HEIDEGGER, Martin. Carta sobre o humanismo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 61.