A policrise e pensar alto
Quando pensamos apenas nas coisas cotidianas, elas são importantes e até fundamentais, muitas vezes deixamos de perceber o que de mais profundo implicam nelas, o pensamento e a cultura que estamos imersos e que apontam aceleradamente para uma policrise.
A palavra cunhada por Morin foi retomada em uma entrevista ao Le Monde, onde ele enfatizou: “A crise da saúde desencadeou uma engrenagem de crises que se concatenaram. Essa policrise ou megacrise se estende do existencial ao político, passando pela economia, do individual ao planetário, passando pelas famílias, regiões, Estados. Em suma, um minúsculo vírus em um vilarejo ignorado na China desencadeou a perturbação de um mundo”(Le Monde, em 20 de abril de 2020).
Em seu livro VI do Método: a ética, ele explica: “Nossa civilização separa mais do que liga. Estamos em déficit de religação e esta se tornou uma necessidade vital”, assim não como não pensar em coisas do alto: a empatia, a civilidade, a cordialidade e outros valores que aos poucos foram se perdendo e nos embrutecendo como civilização.
Como pensador complexo o seu pensamento é antidisciplinar (no sentido de especialidades rígidas) e transdisciplinar (no sentido de recuperar o todo perdido em fronteiras rígidas do pensamento que definem apenas um aspecto da vida).
Os operadores do pensamento complexo (o livro Introdução à Complexidade é fundamental) é como diz a própria palavra intrincado e abrangente, porém destaco dois pontos essenciais ao seu método, o aspecto dialógico e hologramático.
O dialógico considera a união de termos opostos e contraditórios como complementares, por exemplo vida e morte, este paradoxo é vivido no sentido sagrado nesta semana de Páscoa, embora não se limite ao religioso, pode e deve ser pensado no existencial e político.
O hologramático destaca que o aparente paradoxo dos sistemas são partes componentes de um todo (na figura a formação do universo), assim como cada parte tem prefigurado um aspecto do todo, o exemplo mais comum é o do caleidoscópio, porém o do corpo humano também é interessante, cada parte é viva pelo funcionamento do todo e auxilia o todo a funcionar.
Nos comportamos como torcidas fanáticas e desinteressadas do todo por exercer de modo demasiado uma cultura material, puramente terrena e humana que torna o todo, o alto e o divino inconcebíveis no dia a dia.