Uma chance para a civilização
No auge de quase 102 anos (completará em julho) em entrevista dada a Cesare Martinetti no jornal La Stampa, Edgar Morin fala de seu novo livro Di guerra in guerra (De guerra em guerra, editora Rafaello Cortina, 2023) onde faz suas reflexões sobre um interminável século XX que vive como testemunha, para ele ainda há coisas para serem digeridas:
“Queria recordar não só os terríveis males físicos, mas também os males intelectuais causados pelas guerras, ou seja, mentiras, visões unilaterais, maniqueísmo, ódio por todo o povo inimigo, por sua cultura, sua língua, suas obras literárias e artísticas e quis ajudar a mim mesmo e aos leitores a desenvolver essa consciência, diante de uma guerra que corre o risco de nos levar ao pior, através do processo de escalada e de radicalização.
Sua síntese desta guerra é que é militarmente localizada, mas mundialmente globalizada, porem tem esperança que podemos escapar dela.
Lembra que nos primeiros anos pós queda do muro o próprio Putin veio a Alemanha e chegou a fazer um discurso muito pró-europeu, porém os avanços da OTAN nas fronteiras da Rússia o irritaram e já em 2015, quando houve um acordo sobre a Criméia, a região do Donbass eclodiu em hostilidades.
Ressalta por outro lado “as guerras de reconquista lideradas pela Rússia na Chechênia e na Geórgia trouxeram os Estados Unidos, aliás a pedido dos países próximos da Rússia, a estender a OTAN até um cerco que os dirigentes perceberam como ameaça”.
Um Donbass compartilhado sugere o centenário pensador, sabe que sua posição parece mais utópica do que realista, mas pensa que esta é a função dos pensadores: misturar utopia e realismo, afinal é preciso despertar a esperança e a serenidade.