O que é agir diante da contemplação
Foi Hanna Arendt em sua análise da “Condição Humana” (1958 – original) que reagiu a ideia do “nivelamento da vita activa” (Han, 2016, p. 121), o “erro em crer que o primado da contemplação é responsável pela vita activa em trabalho” (idem) é que destruiu e hierarquizou o ser em função da substância.
Arendt define sua “vita activa” em três atividades humanas que não são iguais: trabalho (labor), obra (work) e ação (action) que compreende como fundamentais.
A primeira, aquela que a sociedade industrial consagrou e que tornou o homem aquilo que a autora chama de “homo laborans” é a pura atividade sem reflexão ou meditação, não é o mesmo que o trabalho porque ele é precedido do pensamento, não só o trabalho intelectual no qual o pensar é imanente, mas também tarefas diárias como cuidar da natureza ou cozinhar, por exemplo.
Sem a determinação do agir, o homem fica reduzido ao homo laborans e nisto Arendt tem razão, porém Byung-Chul a corrige: “mas Arendt, erroneamente, entende a contemplação como uma detenção (Stillegegung) de todos os movimentos e atividades, como uma tranquilidade passiva, que faz com que qualquer forma da vita activa se apresente como inquietação” (HAN, 2016, p. 122).
Byung-Chul reivindica Aristóteles que “descreve claramente a vita contemplativa (bios theoretikos) como uma vida ativa”, onde o pensar como Theoria é, com efeito uma energia – que significa literalmente “atividade em obra” ou “estar em obra” (en egô einai)” (idem) e assim a classificação de Arendt faz sentido, apesar do erro.
Assim deixamos para a parte final a importante ligação a ação (action) como parte da vita activa, que não se opõe, mas complementa a vita contemplativa, e põe Tomás de Aquino de acordo com Aristóteles: “os movimentos corpóreos externos opõe-se ao repouso da contemplação, que consiste em ser-se alheio a ocupações exteriores. Mas o movimento que as oeração da inteligência implicam faz arte do próprio repouso” (T. Aquino em Han, 2016, p. 122).
Assim, afirma embora Arendt perceba que a vida moderna se afasta cada vez mais da vita contemplativa, não se trata de abandonar o work nem o action, e sim pausar o tempo, a respiração e permitir espaço a contemplação, ao sabor, ao aroma e ao gosto da vida.
ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução de Roberto Raposo. 11a. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.
HAN, Byung-Chul. O aroma do tempo. Trad. Miguel Serras Pereira. Lisboa: Relógio d´Água, 2016.