A verdade e a hermenêutica
Foi Hans-Georg Gadamer que desenvolveu e fundamentou um critério mais profundo para fazer uma correta interpretação de método e verdade (o nome do seu livro em dois volumes) nas ciências humanas, e não se trata de opor as ciências naturais , mas dar às ciências sociais uma alma e um “espírito”, mesmo aquele compreendido estritamente no pensamento não religioso, porém que busque de fato a verdade e não o silogismo, a pura lógica ou até mesmo o sofisma.
Esclarece Gadamer logo no início de sua obra magna: “O fato de eu ter-me servido da expressão “hermenêutica”, pesando-lhe às costas uma velha tradição, conduziu certamente a mal-entendidos” (GADAMER, 1997, p. 14).
Para retornar a questão das ciências naturais, esclarece o autor o mal-entendido “a famosa distinção kantiana da questio júris e da questio facti” (Gadamer, 1997, . 16), não se tratava de um tribunal da razão e sim “.Ele colocou uma questão filosófica, quer dizer, ele perguntou pelas condições de nosso conhecimento, através das quais torna-se possível a ciência moderna, e qual o alcance da ciência” (idem).
Assim seu comportamento filosófico em resposta a questão: “o que é conhecimento” foi desenvolvendo a análise temporal da existência: “que Heidegger desenvolveu, penso eu, mostrou de maneira convincente que a compreensão não é um modo de ser, entre outros modos de comportamento do sujeito, mas o modo de ser da própria pré-sença (Dasein)” (ibidem).
Antes de entrar na questão da história, ele vai buscar suas origens ao afirmar: “Porém, onde separa-se propriamente mundo e mundo posterior? Como a significância vital do originário passa para a experiência reflexiva da significância da formação?” (GADAMER, 1997, p. 17).
Não seara o humanismo do fenômeno religioso: “Dever-se-ia reconhecer e admitir que uma antiga imagem de deuses, por exemplo, que não foi representada no templo como obra de arte para um desfrute estético da reflexão, e que hoje tem a sua representação no museu moderno, contém em si o universo da experiência religiosa.” (GADAMER, 1997, p. 18)
Assim antes de refletir sobre a história, Gadamer refletirá sobre a arte, e não cai no dualismo do subjetivismo, expõe sua convicção que: “Assim, ninguém convencer-me-á, objetando-me que a reprodução de uma obra de arte musical é interpretação em um sentido diferente do que, por exemplo, a realização da compreensão na leitura de uma poesia ou na observação de uma imagem.” (GADAMER, 1997, p. 19).
A experiência artística em seu “método” e “verdade” não é exclusiva, porém é a que permite maior amplitude em sua concepção do que realmente nos leva ao “método” que encaminhe a “verdade”.
GADAMER, H.G. Verdade e método. tradução de Flávio Paulo Meurer. – Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.