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A verdade e o Ser

09 out

Para Sócrates a verdade não estava com os homens, mas entre os homens, com isto se opunha a Protágoras que dizia o “homem é a medida de todas as coisas”, o relativismo dos sofistas.

Heidegger atualiza o conceito de verdade do ser (alétheia) e esclarece o mal entendido que o ser como presentar-se ao ser do homem, o equívoco trata-se que poderia ocorrer que seria tomar a abertura do ser (geschlosenheit) como elemento determinantes para a compreensão da verdade do ser (alétheia), a verdade não é do homem, mas do ser.

Esta relação dinâmica própria da re-velação do ser (re velar, ou seja, outros véus) não se trata da “função de sujeito transcendental” que tem poder das chaves para abrir o verdadeiro e o não verdadeiro, que fica no campo da lógica binária, mas sim o poder de desvelar o ser.

A ambivalência do jogo de tensões entre o Ser e Aparência fica no campo da re-velação, onde a verdade é também ambivalente, porém se pensada como Ser, ambas podem conduzir a uma nova re-velação diz, Heidegger: “o ser, como aparência, não é menos poderoso do que o ser, como re-velação e descobrimento (unverbogenheit)” (Heidegger, 1984, p. 254).

De certo modo, tanto para Descartes como para Kant, Heidegger os vê como olhando o mundo como algo simplesmente dado, como o mundo físico e material, visto que a ontologia tradicional se estrutura deste modo, o ser vive uma relação entre a coisa e o intelecto.

Já Tomás de Aquino via assim, e o que muda a partir de Franz Brentano é uma sub-categoria tomista da consciência, que é consciência de algo, e depois Husserl estende para uma volta  a “coisa em si” (a natureza para Kant e Descartes) como intencionalidade e redução (aidética, nome que vem de ideia, mas para os gregos) que para ele é criar um objeto mental.

Heidegger desvela esta verdade do ser, ao perceber que há uma ser ek-sistente de um ser que se agita de um objeto para outro na vida cotidiana, desviando-se do mistério do Dasein.

Não há em Heidegger uma pura contemplação do Ser e sim uma relação entre o Ser e o Ente, entre aparência e essência, porém, a nosso ver, ainda permanece um velamento de sua finitude, de ainda permanecer um ser-do-ente, ou seja, uma coisa ainda que tenha relação ontológica, a transcendência permanece no objeto, o que somos além do ente?

Retorna-se a pergunta parcialmente respondida de Heidegger: “O que preserva o deixar-se nesta relação com a dissimulação?”, não quero forçar uma hipótese teológica, mas deixo no ar: o puro Ser pode entrar no Ente, sem perder sua essência, o que retornará desta finitude?

Heidegger, M. A tese de Kant sobre o ser. São Paulo: Abril Cultural (Col. Os Pensadores), 1984.

 

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