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O outro e o narcisismo

09 jan

O brain rot tem uma face que não é facilmente detectável, é a do narcisismo, o mito grego que deu origem ao nome a esta patologia, é que Narciso se julgava tão belo que desprezou diversas pretendentes até apaixonar-se pela própria imagem e morre de fome e sede à beira de um rio que refletia a própria imagem (na foto, desenho encontrado em Pompéia).

Ao ficarmos presos as próprias convicções, aos próprios valores e costumes vamos elaborando narrativas que justificam nossa visão de mundo, nossa posição ou mesmo a desprezar outras que possam parecer até razoáveis, mas prefiro seguir minhas próprias orientações.

O Outro é assim uma negatividade para o narcisista, na filosofia não é apenas pessoas ou ente distinto em relação a si mesmo, pode ser também a diversidade de experiências, culturas, crenças e hábitos, enfim tudo o que sintetiza uma nova visão de mundo, diferente do Narciso.

Assim trends midiáticos que enfatizam determinado comportamento e forma de pensar são um perigoso instrumento de brain rot, criam narrativas e verdades que parecem verdadeiras, mas em geral abusam do marketing, do uso de sons e imagens que prendem o seguidor.

A base de tudo, na raiz está o idealismo e a ideia de “modelos” a serem seguidos, porém já em estágio mais avançado com uso de mídias, fixar ideias e conceitos dependem de certa habilidade de marketing e de uso de coisas confiáveis, as vezes até inteligentes, mas fragmentadas, por isto já abordamos um pouco atrás, a ideia da simplicidade e dificuldade de compreensão do complexo é que permitem esta metodologia.

O Outro resumindo em poucas palavras é tudo aquilo que não é espelho, tudo aquilo que está longe de ser o que temos como modelo quer seja para a minha visão de mundo, quer seja para a minha crença e o que é mais complicado, para diferentes posições políticas.

O fato de ser necessário uma nova metodologia, como o círculo hermenêutico que propõe a fusão de horizontes antes do “diálogo”, uma nova epistemologia que escape da bipolaridade do Ser é e o não Ser não é, criando um terceiro incluído, como aquele já apontado na física quântica moderna.

Assim não é um diálogo necessariamente convergente, mas que parte de um ponto em comum, há uma inicial fusão de horizontes inicial, isto é, parte-se de uma certa “convergência” inicial.

Considerar o Outro é essencial para fugir da bipolarização e dos sensos-comuns de explicações simplistas para questões que são complexas, também aqui pode-se fazer necessário uma certa simplicidade: o Outro embora não seja um espelho, tem algo em comum, no mínimo o fato que co-dividimos o mesmo momento histórico, a mesma época e o mesmo desejo de paz.

 

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