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Posts Tagged ‘peace’

Administrar o bem comum e a paz

22 set

Pensei em fazer um silêncio e apenas escrever hoje PAZ, PAZ, PAZ, mas seria calar diante do perigo da guerra.

Administrar o bem comum é fazer a paz prosperar, desconsiderá-lo é permitir um grande espaço para o ódio, a intolerância, a violência e em uma escala maior: a guerra.

O dia 21 de setembro foi instituído pela ONU como dia internacional da Paz, o secretário geral António Guterres citou em vídeo o efeito de conflitos que expulsam um número recorde de pessoas das suas casas, e não deixou de falar também destes fatores pessoas, outros fatores como: incêndios fatais, cheias e altas temperaturas, aliados à pobreza, às desigualdades e às injustiças numa realidade de desconfiança, divisão e preconceito.

Na Itália um grupo com inúmeras iniciativas sociais lançou uma campanha “Itália unida pela paz”, a Comunidade de Santo Egídio se destaca por uma visão desapaixonada e bilateral sobre os problemas das guerras e da paz, tem autoridade para falar de paz.

Já haviam promovido nos dias 10 a 12 de setembro em Berlim na Alemanha, um encontro religioso que intitularam “A ousadia da paz”, e não faltaram reflexões sobre as desigualdades sociais, as intolerâncias e as injustiças presentes em vários âmbitos em todo planeta.

Precisamos administrar aquilo que a Natureza, o Planeta e o próprios desenvolvimentos humanos nos deram para permitir um mundo mais fraterno, mais justo e mais humano.

Para quem crê tudo isto é dádiva divina, mas é preciso administrá-la bem pois seremos cobrados de alguma forma pelas consequências de nossos atos, como diz a parábola bíblica dos empregados aos quais foram confiados os talentos através do dono de uma vinha.

Chegam os trabalhadores contratos, mas como precisava de mais foi a praça e contratou também os que estavam desocupados, e perguntou porque estavam ali sem trabalho, eles responderam: “porque ninguém nos contratou” (Mt 20,7) e então também foram contratados.

Ao final da tarde pagou o mesmo salário 1 moeda de prata a todos, e alguns que estavam ali desde o início não acharam muito justo, mas o patrão lembro que o combinado era uma moeda de prata então todos estavam recebendo o combinado.

Assim o sentido do bem comum é este todos tem direito ao salário digno, mas é preciso a administração correta e a honestidade e zelo de quem paga, o justo é todos receberem o salário digno.

Mas a paz requer também um coração aberto ao justo e digno direito do outro excluído.

 

Uma voz para a paz

18 set

Poucos foram escritores e jornalistas que não se envolveram em meados do século XX em apelos ideológicos e nacionalistas que faziam a Europa em meio ao enfraquecimento do Império Austro-húngaro e o crescimento de sentimentos militaristas que levavam a guerra, Karl Kraus, um dramaturgo e escritor austríaco (eram nascido em 1874 numa vila da Boemia (hoje republica Tcheca), então parte do Império Austro-húngaro.

Ao contrário do jornalismo de seu tempo que criticava, daqueles que julgavam videntes como Raphael Schermann que estava em evidencia em Viena e que o criticava, a crítica de Karl Kraus era dirigida ao engajamento político-ideológico dos jornalistas de seu tempo, que criticava desde a linguagem vulgar que usavam até a decadência moral de seu tempo que espelhavam.

Famoso e conhecido nos dias atuais por seu livro “Aforismos” (Arquipélago Editorial, 2010), o qual definia como “O aforismo jamais coincide com a verdade; ou é uma meia verdade ou uma verdade e meia”, teve várias obras publicadas recentemente em português,  teve os lançamentos em português das obras “Os últimos dias da humanidade” pela editora portuguesa Relógio d´água e mais recentemente de textos do seu jornal “Die Fackel” (A tocha ou O archote, como preferem os portugueses) que são escritos já na 1ª. guerra mundial, a qual era um dos mais destacados opositores.  

Havia uma edição incompleta d´Os últimos dias da Humanidade, editada pela Antígona em 2003, por seu tradutor português Antônio Souza Ribeiro, lembra o jovem chegado em Viena que já escrevera “A literatura em demolida” de 1897 e “Uma coroa para Sião” em 1898, como “De facto, desenha‑se aqui com clareza o que irá ser a marca distintiva da posição de Kraus no campo literário vienense, definida por Edward Timms como um “isolamento combativo” ”  (pg. 96).

Enquanto os “media” de sua época se engajam em discursos ideológicos de seu tempo, escreve seu tradutor “… pelo contrário, Kraus está a lançar, de forma pioneira, os fundamentos do que poderia hoje chamar‑se uma crítica dos media, no que constitui uma das dimensões de mais flagrante actualidade da sua obra” (pg. 97).

Embora solitário, Karl Kraus não se fechou: ”A realidade é que, ao longo de toda a vida, ao mesmo tempo que se defronta com ódios irredutíveis no interior do campo literário austríaco e alemão, Kraus cultivou um círculo de relações muito alargado, que se intersecta com círculos intelectuais e artísticos relevantes e com vários nomes de destaque das primeiras décadas do século…” (pg. 97).

Com a eclosão da guerra em agosto de 1914, sairia apenas um número da Revista “Die Fakel” em dezembro de 1914 com o texto de 20 páginas “Nesta grande época”.

Depois de publicar novo texto curto em fevereiro de 1915, a revista  “  … volta a publicar‑se, em Outubro de 1915, com um número extenso de 168 páginas, é para se constituir como um espaço de rejeição violenta da política de guerra em todos os seus aspectos” (p. 101).

Além de sua importância para a história do jornalismo, Karl Kraus traz uma grande reflexão para os dias atuais.

RIBEIRO, Antônio Sousa. Os últimos dias da humanidade – manual de leitura, Portugal, Porto: Manual de Leitura Últimos Dias final.pdf (tnsj.pt), 2003.

 

Desoneração da violência e ira

12 set

Não foram as religiões abramicas (islamismo, judaísmo e cristianismo) que desoneram a violência, assim pensou Peter Sloterdijk em Ira e Tempo (Sloterdijk, 2012), na verdade foi a ideia do Iluminismo que fez da violência e domínio, desde o princípio da expansão do mercantilismo e que depois tornou-se colonial-imperialismo, que era anticlerical e pouco religioso, e depois foi sacralizado no “absoluto” de Hegel, cuja imagem do poder e do Estado se justapõe ao poder e dominação e nada tem ligado a Deus.

Assim esse poder é a desoneração da violência e sua captura e tutela pelo estado, assim pode-se desenvolver o plano colonial e imperialista, fundo da crise civilizatória de hoje, é um estado prepotente militar e autocrático, de liberal só o nome, não pode dar em outra coisa: a ira.

A constatação de Sloterdijk sobre a leveza e alívio, é particularmente clara supondo que o progresso iria numa jornada progressiva, nós pensaríamos numa resposta mais trivial que ele estaria levando as pessoas em condições melhores que as anteriores, e isto não é verdade.

O autor também fala da dor, lembra que até 1940 a ideia da dor era normal nos tratamentos centros cirúrgicos, não cita mas lembro que cicatrizes nos rostos masculinos indicavam virilidade e algumas era feitas de propósito, antecessores das atuais tatuagens, o autor lembra que os analgésicos aparecem na década de 40 e depois aos poucos os antidepressivos e estimulantes e finalmente as cirurgias plásticas que corrigiam o que deve ser corrigido em nós.

Diz o autor que o pensamento a direita é a disciplina e a esquerda é a salvação dos pobres, a disciplina cai em sonhos e leva ao mundo da lua, enquanto a pobreza na sua condição de caído, de perseguido por um sistema injusto se vê sempre vitimizado o que nem sempre é real, assim ambas narrativas escapam de um conceito de justiça, de paz e de equilíbrio e nos vemos em narrativas que justificam a ira e o desprezo pelo Outro,  vão em direção a ira.

Se o ser deve ser leve é ser alguém que não é sério, assim a leveza do ser é insustentável, ele deve ser em ambas narrativas “pesado”, transformando-se em balões de gás que estão em voos a esmo, o próprio voo não é razoável, embora o desejo final seja tudo pode, mas nada é.

Diz o cancioneiro popular brasileiro diria: “não há pecado do lado debaixo do equador”, mas já era o que havia na Europa pós-renascentista, na “divina comédia” de Dante que se transforma na comédia humana de Balzac,  foi ali que se fez a circum-navegação (na foto a armada de Jacob Hashimoto), sim a terra é redonda, então os povos deviam ser dominados e colonizados,  novamente a esferologia de Sloterdijk faz sentido.

O acontecimento fundamental de nosso tempo é sair deste fardo pesado do dogmatismo, do stress perfeccionista da sociedade do cansaço, sair das batalhas físicas, discursivas, políticas, projetistas e espaciais, a tecnologia para o homem e não do homem, robôs são máquinas.

É a agonia do pesado que tinha e que não tem mais uma narrativa coerente. a esferologia, parte do princípio de que uma espécie de “hermenêutica da existência” deve formar arte de figuras, sentidos e vocabulários de uma existência leve, digamos, descarregada do ódio pelo Outro que não é nosso espelho, claro o caminho reverso está aí, ele leva a ira e a violência.

SLOTERDIJK, P. Ira e tempo: ensaio político-psicológico. Estação Liberdade, 2012.

 

A guerra fria vai esquentando

11 set

Parece um paradoxo, mas não é, pois fato é que a Europa e todo hemisférico norte caminha para o Outono e depois inverno e em pleno frio os limites da polarização ideológica parecem extrapolar, novas armas, narrativas de vitórias em campos de batalha, etc.

Nem a tragédia do Marrocos (foto), apesar das condolências, parecem despertar um sentimento maior de solidariedade entre os povos, a própria África subsaariana ao lado esquenta com golpes e novas ditaduras militares.

A ampliação do bloco econômico dos Brics também fortalece esta polarização, apesar da reunião do G20, um bloco mais diversificado, a possível criação de uma nova moeda e a nova geopolítica apontam para um conflito que já se instalou em golpes e regimes autoritários, não significa que esta diversificação de moedas e novas forças económicas e políticas não devam existir, mas elas deveriam favorecer o campo diplomático e ao estabelecimento da paz.

No front da batalha mais declarada, a Rússia anuncia uma  imponente arma, não por acaso chamada de Satã II, capaz de transportar vários misseis ao mesmo sem se incomodar com nomes demoníacos, no front da guerra foi enviado um general chamado de Armageddon, Sergey Surovikin, que atuou na Síria e contra manifestações na Rússia, está agora no front.

Do lado da Ucrânia, cuja contraofensiva é mais lenta do que o esperado, novas armas com uranio enfraquecido foram recebidas dos EUA, enquanto treina pilotos dos novos caças de seus aliados, uma mudança de tática mais agressiva deve acontecer antes do inverno.

Há um front da paz enfraquecido, o presidente da Turquia tentou um novo acordo para liberar os grãos que saem da ucrânia pelo mar negro, mas aparentemente sem sucesso e um grande produtor de grãos da Ucrânia faleceu com sua família, quando um míssil atingiu sua casa em Odessa, Olesky Vadatursky.

Também crescem na Web propagandas de feitos na guerra, a paz parece distante e os espíritos e vozes do equilíbrio e do bom senso parecem sufocadas, sempre há esperança e pacíficos.

 

Temores de uma 3G

04 set

Uma terceira guerra mundial (3G), que seria a maior crise civilizatória já ocorrida, parece chegar junto com a proximidade do outono europeu, entrevistas de um repórter da BBC em Moscou dão conta que há um clima de patriotismo e apoio a guerra na Ucrânia, ainda que seja chamada pelo eufemismo de “operação militar especial”.

O repórter entrevistou o blogueiro Andrei Afanasiev, pró-Kremlin e professor universitário, e também ouviu o outro lado de analistas militares que dizem que a propaganda estatal esconde os fracassos e perdas militares na guerra, entrevistou ainda atividades anti-guerra embora a maior tenha deixado a Rússia ou esteja presa.

O cenário apesar de uma boa quantidade da população manter certa indiferença é de um clima crescente de guerra, algum medo do futuro e nenhuma esperança de paz a vista.

O envolvimento da OTAN cada vez mais declarado e ostensivo cria um clima ainda pior, na semana passada houve um ataque ao aeroporto russo de Pskov, e na Ucrânia ameaça de bombas nas escolas que estão retornando as aulas, desde o início da guerra 3.750 escolas foram parciais ou totalmente destruídas por mísseis e bombas, segundo a Ucrânia.

Noutro front que começa a se desenha uma guerra, após as eleições houve um golpe militar no Gabão, país de língua e influencia francesa, o presidente reeleito Ali Bongo Ondimba, cuja família governa o país a 56 anos, encontra-se preso e as eleições foram consideradas fraudulentas.

Países da União Centro-Africana condenaram o golpe, agora cresce o número de países que não se alinham ao Ocidente e uma guerra pode se iniciar na região que já assisti a outros golpes e juntas militares governando os países, recentemente houve em Níger com apoio da Rússia  (Mali, Guiné, Burkina Faso, Chade e Tunísia são ex-colônias francesas) (veja o mapa).

Na famosa crise dos mísseis em Cuba, três generais da Marinha Soviética deveriam aprovar o disparo de mísseis segundo protocolo russo, mas um deles Vasili Alexandrovich Arkhipov era contra, e isto evitou um holocausto nuclear trágico, a esperança é que existam outros Vasilis que impeçam a guerra 3G.

 

Religiao, Filosofia e Humanismo

01 set

Nem é religioso aquele que simplesmente proclama uma fé sem conhece-la, nem aquele que segue uma série de preceitos sem entender os fundamentos. No cristianismo o que é Amor, a filósofa Hannah Arendt, por exemplo, estudou como seu doutorado “O amor em Santo Agostinho” enquanto Edith Stein descobre a partir da filosofia e de Santa Tereza d´Ávila um caminho religioso e tornou-se freira e mártir (morreu em Auschwitz).

Há muita apologia a superstições e crendices no meio religioso, porém elas não eram desconhecidas por Jesus, é famosa a questão do sábado, que Jesus pergunta se é justo salvar alguém de uma doença no sábado (Mateus 12,10),  chama os fariseus de “sepulcros caiados” (1Jo,2,27) e por fim termina por último revelando aos apóstolos que deverá sofrer muito da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e mestres da lei (Mateus 16,21-22), ao que Pedro se assusta e pede que isto não aconteça, e Jesus o repreende e o chama dizendo que ele não tinha uma inspiração divina.

Assim não é o modelo de vida pública de muitos religiosos nominais, falsos profetas e gente com pouca profundidade de fé que podemos entender o que é religião, mas há um sentido antropológico, filosófico e claro teológico que dão base aos ensinamentos do amor, do suportar a cruz, de não construir ódio, vingança ou rancor a moda daqueles que não creem.

Agostinho superou o dualismo maniqueísta do bem contra o mal, trata-se do Amor que é muito superior a tudo e o mal é apenas sua ausência, Boécio e depois Tomás de Aquino instituíram a questão da pessoa e do Ser, que é parte da polis, mas inseparável dela.

A importância de Severino Boécio, venerado como santo pela igreja católica (sua data é 23 de outubro) para a história da ciência e da filosofia, da “querela dos universais” e da importância da razão, de Tomas de Aquino e de figuras atuais como Edith Stein não separam a fé do pensamento humano e do humanismo contemporâneo.

O humanismo antropocêntrico do período renascentista, a questão da perspectiva foi central na pintura e nas artes, mas é também deste período A Utopia de Thomas Morus.

Disto nasceu a modernidade e seus dualismos (objetivo x subjetivo, corpo x mente, espiritual x material) parte do dualismo ontológico: o ser é e o não ser não é, entretanto, há agora o princípio do terceiro incluído vindo de Stéphane  Lupasco e Barsarab Nicolescu, é físico e real.

É tempo de rever o humanismo e nenhuma face da realidade humana pode ficar sem uma necessária revisão: o que é o Ser, o que é a ideia (o eîdos grego ligado ao Ser) e o que significam os mitos e cosmogonias modernos diante de um olhar mais profundo ao sagrado com diálogo e profundidade.

 

A ética, o humanismo e a filosofia

31 ago

Peter Sloterdijk disse ao jornal El país: “ a vida atual não convida a pensar” (em 03/05/2019) e a “era do humanismo está terminando” disse Achille Mbembe historiador e pensador pós-colonial camaronês: o humanismo hoje é uma questão de estado e portanto de poder, como sua base é o economicismo impera um humanismo de tipo materialista nem sempre considerado os valores humanos.

A filosofia virou justificativa ideológica do poder, a polarização levou a extremos até mesmo a negação de autores cujo autores juram defender, o epistemicídio eurocêntrico esquece seus fundamentos mais básicos e se entregam a polarização política.

O que significou a ética spinoziana? Qual a crítica da razão atual? Sloterdijk aponta o cinismo.

A guerra era inevitável em uma crescente polarização política e nova ordem econômica pelo avanço da economia chinesa.

A filosofia atual já pensa em alternativas de humanismo, Edith Stein fenomenóloga e aluna de Husserl explorou a questão da Empatia, Heidegger outro aluno de Husserl a questão do Ser,  Emmanuel Lévinas sobre influência hermenêutica husserliana e Heidegger define o humanismo como além da essência ou seja, o humanismo do outro homem, que pode ser um ponto de partida para o novo humanismo, e também Habermas (A inclusão do Outro) e Byung Chul Han (A exclusão do Outro) tocam o tema.

A religião se confunde entre ritualismo, fundamentalismo e ausência de valores humanísticos básicos: amor, solidariedade e fraternidade, assim a leitura bíblica é manipulada e parcial, o secularismo avança em campo minado pela ausência de valores humanitários da fé.

Espera-se que nesta crise e fragmentação do desenvolvimento civilizatório os lideres e homens influentes possam encontrar serenidade, diálogo e equilíbrio para possíveis saídas.

A filosofia não pode ser outra coisa que não coopere com a paz, com o avanço civilizatório.

 

 

É no outono que se contam as galinhas

28 ago

Aproxima-se a primavera no hemisfério sul e o outono no hemisférico norte, é o período que os europeus sabem que devem ter provisões fazer reparos nas casas para algum tipo de proteção ao frio: sistemas de calefação, carvão, gás e organizar a dispensa para este período.

Há um ditado no leste europeu, versão de nosso ditado “não se contam com os ovos antes da galinha botar”, lá se diz “no outono que se contam as galinhas”, isso serve para a guerra que se aproxima de completar dois anos no leste europeu e que respinga em toda humanidade.

Muitos analistas, entre eles o português Miguel Monjadino, afirmam que o principal objetivo de Kiev “é recuperar território suficiente até o outono para manter o apoio da sua sociedade, de Washington e das capitais europeias para uma campanha militar na primavera” de lá que será nosso outono aqui, só depois de março de 2024.

Analistas americanos indicam mais de 500 mil militares já mortos nesta guerra, e ainda há de se considerar o fim do acordo sobre embarque de grãos da Ucrânia na região dos portos do mar Negro e aumento de armas, e agora também aviões.

Porém a contagem das perdas já começa, o desastre com um avião brasileiro que caiu na Rússia e matou seus ocupantes chama a atenção para mais uma morte estranha de opositores de Putin, a morto do chefe do grupo paramilitar Wagner, Yevgeny Prigozhine todos ocupantes do avião foi confirmada em análise genética.  

Ao mesmo tempo que dava condolências a família de Prigozhine, Putin afirmou que cometeu muitos erros na vida, numa alusão clara que não gozava mais de sua simpatia.

No lado econômico os BRICS, aliança que participa a Rússia e o Brasil, anuncio um aumento de seus membros e uma possível moeda no futuro, o objetivo é competir com o euro e o dólar.

A paz parece cada vez mais distante e o aumento de tensão é cada vez maior.

 

Plano cultural e ameaça a paz

21 ago

A Rússia anunciou oficialmente a revisão dos de todos livros de história ensinados aos adolescentes, que lá são a 8ª., 9ª. e 10ª. série do ciclo de ensino, recontando a história das décadas de 1970 a 2000, período do fim da “União Soviética” e uma nova seção dos anos de 2014 aos dias atuais, onde a guerra é chamada de “operação militar especial”.

O anuncio foi feito por Vladimir Medinsky, conselheiro russo do presidente Vladimir Putin em uma coletiva de imprensa, e ao atingir a faixa etária dos adolescentes, não apenas prevê uma guerra longa, estes estão sendo preparados para os próximos 10 anos quando serão adultos, como desperta desconfiança de planos militares mais audaciosos que a guerra na Ucrânia.

As ameaças a Polônia já são reais, e além da Polônia pertencer a OTAN, isto relembra o 1º. de setembro de 1939 quando a Alemanha invadiu a Polônia deflagrando a 2ª. Guerra Mundial.

Isto coloca a paz mais distante, e a esperança vem agora do bloco de aliados declarados ou táticos do governo russo, o próprio Zelensky da Ucrânia acredita que os Brics, banco internacional que a Rússia participa pode ser uma última tentativa e mediação da Guerra.

A guerra cultural com narrativas até opostos, sobre o que é o processo civilizatória e sua ameaça são cada vez mais presentes no cenário mundial, uma guerra em escala global nos dias de hoje, com armas nucleares muito mais letais que anteriormente é a ameaça civilizatória real.

Entre várias análises, o escritor e jornalista israelense Yuval Harari, autor do livro “Sapiens – Breve história da humanidade”, declarou ao jornal londrino The Guardian, que a guerra da Ucrânia vai definir o futuro de todo o mundo, “A cada dia que passa fica mais claro que a aposta de Putin está falhando. O povo ucraniano está resistindo de todo o coração, conquistando a admiração do mundo inteiro e vencendo a guerra”, mas há outras visões.

O que está claro que o processo civilizatório está em xeque sim, não no sentido que os livros culturais da Rússia apontam, não se trata da vitória desta ou daquela tendência “cultural” e sim da convivência de ideias diferentes dentro de ambientes democráticos e de diálogo.

Sempre há esperança para a paz, mas espíritos armados e ameaças preparam somente a guerra.

Jesus relembra ao jovem rico (Mt 19,18-19) os mandamentos: “Jesus respondeu: “Não matarás, não cometerás adultério, não roubarás, não levantarás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe, e ama o teu próximo como a ti mesmo”, mas diz a leitura que ele vai embora porque era muito rico, isto vale para o dinheiro, mas também para o orgulho, o poder e a arrogância.

 

Entre o testemunho e o perdão: a cura

18 ago

A análise de Paul Ricoeur se o perdão pode curar vai da memória ao esquecimento, mas o autor esclarece que “no quadro da dialéctica mais vasta do espaço da experiência e do horizonte de experiência”, e lembra que Freud chama isto de “translaboração”, que significa ultrapassar a crença que o passado é fechado e determinado e o futuro é indeterminado e aberto.

Os fatos passados são inapagáveis: não podemos desfazer o que foi feito, nem fazer que o que aconteceu não tenha acontecido, mas é preciso lembrar que o testemunho de quem sofreu os fatos ou de quem os praticou pode e deve ser modificado, em função de “nossas lembranças”.

Não se trata do perdão, ou de construir nova narrativa, mas Paul Ricoeur relembra Raymond Aron em sua Introdução a Filosofia da História, como o que ele chama de “ilusão retrospectiva da fatalidade” e que ele opõe a obrigado do historiador de se transportar para o momento da ação e se fazer contemporâneo dos autores.

O autor sentencia: “toda memória é seletiva”, e lembra o autor “se poderia implantar o esquecimento da fuga, a estratégia da escusa, a tarefa da má-fé, que faz do esquecimento passivo-activo um empreendimento perverso”, assim não é só esquecer, mas re-ver.

O ponto do texto de Ricoeur onde pode ser inserido o testemunho é precisamente este no qual afirma, tentando conjugar perdão com trabalho e luto: “Ele casa-se com um e com outro. E, juntando-se a ambos, traz aquilo que em si não é trabalho, mas precisamente dom, O que o perdão acrescenta ao trabalho de lembrança e ao trabalho de luto é a sua generosidade”, diria então lembrando que “dom” tanto em francês (don, termo usado na obra de Marcel Mauss) ou em italiano donno, tem uma tradução difícil (dádiva?), mas seria mais próximo de gratuidade, não gosto de dádiva porque embora possa ter algo de divino, é um desapego de quem dá (o perdão) e é um testemunho.

Relembrando o mito adâmico bíblico, parece natural a morte, a vingança e a guerra, mas é o dom e o perdão que podem dar uma reviravolta civilizatória e construir a paz e a prosperidade.

RICOEUR, P. O perdão pode curar? Trad. José Rosa, Esprit, n. 210, 1995. (pdf)