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Sem tempo para Ser

25 abr

Nem a pandemia, nem o Home Office, nem as séries intrigantes (pessoalmente ainda prefiro sair e ir ao cinema) tornaram os homens mais calmos, mais serenos e felizes, tudo precisa ser acelerado.

O “Aroma do Tempo: um ensaio filosófico sobre a Arte da Demora” (2016) não é senão uma contraposição a este estigma destrutivo de nosso tempo que culmina em desejos de exclusão do Outro, de ódio e violências sem fronteiras enfim de guerra cada vez mais cruel num horizonte sombrio, não há tempo para ser, apenas para Ter, Saciar o mais simples entretenimento, não só os games.

O ensaio publicado originalmente na Alemanha em 2007, Byung-Chul atualiza o que não apenas uma aceleração do temo como também uma crise temporal assentada numa dissincronia não só da realidade num sentido mais nobre e poético, cuja descontinuidade leva a algo sem rumo, ordem e impossibilidade uma síntese ou conclusão que permita perdurar em um “aroma” as nossas vidas, como deve ser entendida sua “demora”.

Cita e analisa “Marcel Proust “Em busca do tempo perdido” (1913) o que ele chama de “cristal temporal” o sua visão do tempo aromático: “horas silenciosas, sonoras, fragrantes e límpidas” (em HAN, 2016, p. 59).

Vive-se um temo de angústia temporal, parece que o tempo gasto escoa elos dedos e se perde.

Aquilo que é substancial e essencial em nossas vidas, essência e substância são as principais formas de dissincronia do nosso ser, são remetidas ou a um delírio angelical (falsa essência) ou a uma forma física escultural, decorativa e irreal (falsa substância).

Como deduz Byung-Chul: “pressupõe que a existência é histórica, que cada um de nós tem uma trajetória. O aroma é o da imanência” (HAN, 2016, p. 59).

Na filosofia e na prática a imanência é algo que tem um fim em si próprio, ao contrário da transcendência que algo ou um fim fora e superior a si próprio.

Tal é o nosso “aroma” perdido do tempo, contemplar te vivenciar o Ser-no-tempo como tendo um fim além, como finaliza e conclui em seu ensaio Byung-Chul a correção necessária: “uma ampla medida de fortalecimento do elemento contemplativo” (Han, 2016, p. 186).

HAN, Byung-Chul. O aroma do tempo: um ensaio filosófico sobre a Arte da Demora. trad. Miguel Serras Pereira, Lisboa: Relógio d´Água, 2016. 

 

A Guerra e suas consequências

24 abr

Já enfatizamos aqui, dando contornos de uma crise (anteriores a guerra) que esta se inicia numa forma de pensar o mundo e consequentemente a economia, a política e a sociedade como um todo, assim não se trata deste ou daquele mundo, mas de todos mundos em conjunto.

A econômica não está separada deles, no entanto é a mais sensível e a que mais é pensada em termos da imprensa e das mídias.

Os oligarcas da Rússia, aqueles que não migraram ou foram mortos em situações estranhas, lembro das notícias de Sergey Protosenya, encontrado enforcado na Espanha e Pavel Antov que caiu do terceiro andar de um prédio na Índia, oligarcas lá em geral não criticam o governo.

Entretanto em reunião do Fórum Econômico de Krasnoyarsk, em março na Sibéria, Oleg Deriaska declarou que a econômica ode aguentar pouco mais de um ano e que depois haverão muitas quebras, no Ocidente não é diferente, a economia Europeia e a americana já sentem os reflexos, como líderes mundiais dos países capitalistas, toda economia deve enfrentar sérios problemas.

A Departamento de Defesa americano, acaba de pedir um orçamento de 842 bilhões de dólares, aumentando os já altos 816 bilhões do ano anterior, que significa um aumento de 3,2% e uma perspectiva de guerra ainda maior no horizonte deste ano, e a economia já acusa sérios danos.

A tentativa de formar um terceiro bloco, do qual o Brasil é um dos protagonistas e Makron da França tenta ser outro, é um fogo cruzado, já que os dois lados querem adesões unilaterais, há analistas, como Rodrigo Ianhez, que afirma que os russos têm uma leitura da posição brasileira que é “superestimada” para uma posição bilateral, a China ao contrário é claramente unilateral.

Não há inocentes nestes fatos, isto é a ação política de nossos dias, confundir ou até distorcer os fatos, uma imprensa realmente séria, arte dela é chamada de imprensa investigativa, por ser independente, procura fazer este trabalho, mas até ali as vezes se encontram notícias suspeitas.

Ninguém é apolítico é claro, porém é preciso encarar a verdade através dos fatos que ela revela.

Se analisarmos as consequências de uma guerra, no aspecto econômico que gera mais pobreza e fome e os mais frágeis são os mais atingidos, começamos a ter uma posição séria diante da verdade.

 

Olhar as coisas do alto

21 abr

Não são necessários milagres ou profecias para entendermos que mesmo nas realidades mais terrenas há coisas do alto, e elas respondem as realidades mais terrenas, sem elas não encontramos saídas e caminhos para uma vida plena, feliz e pacífica. É mais difícil pensar assim, mas é mais seguro.

Sem valores éticos, morais e responsáveis encontrar caminhos seguros para sair de conflitos, situações de insegurança ou de injustiça é quase impossível, pois um erro não corrige outro erro, e somente uma ação de amor e solidariedade resolve um conflito de ódio e divisão.

De divisão em divisão, de ódio em ódio, caminhamos num olhar apenas terreno sobre nossas dificuldades, não significa que devemos tirar o pé do chão e termos racionalidades nas decisões, significa que sem serenidade e atitudes sérias e proativas apenas pioramos o que está errado.

É comum mesmo em pessoas de boa vontade apelar para a violência e a força, ainda que o lado da justiça e da solidariedade seja o lado certo, agir com imprudência e crueldade tira o valor deste ato de força, o maior ato de força responsabilidade é agir com firmeza, educação e verdade.

Se estamos atribulados, ansiosos e sem equilíbrio não conseguimos encontrar o caminho da sabedoria, ouvir aquela voz interior do bom senso, da clareza e da verdade.

Também serve assim como para questões de justiça e direito para os verdadeiros valores culturais e religiosos, o uso do autoritarismo, que significa neste contexto falsa autoridade que muitos querem ter diante do cargo ou posição que possuem cometem o erro do argumento de autoridade e caem na armadilha fácil do poder em excesso.

Querem estar imbuídos de uma aureola de bondade quanto se investem contra as pessoas simples porém a graça de elevar os corações a valores do alto e retirar da situação difícil não é alcançada.

Para os cristãos uma das passagens mais significativas após a pascoa de Jesus que rememoramos a pouco na cultura cristã, é o episódio de Emaús em que enquanto Jesus caminhava entre eles e não percebiam, ainda ruminavam a morte violenta do Mestre, mas estavam cegos e não entenderam direito a vitória daquele que crucificaram.

Jesus pergunta: “o que ides conversando pelo caminho?” Eles pararam, com o rosto triste, e um deles, chamado Cléofas, lhe disse: “Tu és o único peregrino em Jerusalém que não sabe o que lá aconteceu nestes últimos dias ?” (Lucas, 24, 15-18) e deram sua versão terrena da pascoa.

E Jesus (ainda sem ser reconhecido) como explicar o sentido, já revisto elos profetas: “Será que o Cristo não devia sofrer tudo isso para entrar na sua glória?” (Lucas 24,26).

Aos poucos os corações deles foram se aquecendo e ao final entendem que estavam caminhando com o Mestre e depois pedem que fiquem com ele pois a noite chegava, mas Jesus desapareceu.

Não é preciso ter esta visão ou mesmo ter esta fé, é preciso escutar a voz do alto, dos valores sãos.

 

Se deseja a paz colabore com seus valores

20 abr

Não foram poucos os tiranos que disseram que para manter a paz faça a guerra, isto é muito antigo que será difícil determinar seu autor, o filósofo contemporâneo Jean Paul Sartre disse algo importante sobre isto: “Quando os ricos estão em guerra, são os pobres que morrem”, atualizaria não há nenhum interesse nos mais fracos quando impérios se digladiam.

O livro Arte da Guerra de Sun Tzu (século V a.C.): “o verdadeiro objetivo da guerra é a paz” é em si já uma frase paradoxal, os três tipos de paz sobre este conceito historicamente foram desmascarados: a pax romana era a submissão dos vencidos, a paz Eterna kantiana supunha um equilíbrio interno entre os três poderes republicanos, o equilíbrio entre as nações e o respeito a direitos humanos, basta ver o quadro internacional atual em que estes pressupostos foram violados e não garantiram a paz. O terceiro é a paz de Vestfália (1648) de tolerância religiosa.

É de Sartre também a frase: “nunca se é homem se não se encontra alguma coisa pela qual estaria disposto a morrer” e certamente para ele não seria a guerra, talvez algo valor do Alto, já que não disse “alguém pelo qual estaria disposto a morrer”.

Estaríamos dispostos a morrer para pedir paz e um progresso sustentável dos povos, sem valores que edifiquem este edifício, Edgar Morin diz de certa forma até utópicos, não criamos um modelo duradouro e sustentável de paz que não nos coloque em novas encruzilhadas e armadilhas.

Uma utopia é realizável se pensar que sem ela não estamos trilhando um caminho seguro, estamos sentados em um barril de pólvora, não só as armas nucleares, como também o número de usinas nucleares em todo globo, mais de 440, lembremos que Fukushima foi um desastre natural e Chernobyl foi um descuido humano.

Assim não só a guerra, como o desenvolvimento de tecnologias e equipamentos que não foram criados para destruição, mas sem códigos e valores éticos, morais e sociais realmente altruístas, não caminharemos para uma paz duradoura e seguro, primeiro é preciso desarmar as bombas.

Não alimentar nenhum tipo de ódio (onde há inimigos há dois lados), voltar a discussão séria sobre as armas e uso de energia atômica, controle ambiental seguro e durável, enfim a pauta é extensa para perdermos tempo com ódio improdutivo e que trabalha no sentido oposto.

 

Uma chance para a civilização

19 abr

No auge de quase 102 anos (completará em julho) em entrevista dada a Cesare Martinetti no jornal La Stampa, Edgar Morin fala de seu novo livro Di guerra in guerra (De guerra em guerra, editora Rafaello Cortina, 2023) onde faz suas reflexões sobre um interminável século XX que vive como testemunha, para ele ainda há coisas para serem digeridas:

“Queria recordar não só os terríveis males físicos, mas também os males intelectuais causados pelas guerras, ou seja, mentiras, visões unilaterais, maniqueísmo, ódio por todo o povo inimigo, por sua cultura, sua língua, suas obras literárias e artísticas e quis ajudar a mim mesmo e aos leitores a desenvolver essa consciência, diante de uma guerra que corre o risco de nos levar ao pior, através do processo de escalada e de radicalização.

Sua síntese desta guerra é que é militarmente localizada, mas mundialmente globalizada, porem tem esperança que podemos escapar dela.

Lembra que nos primeiros anos pós queda do muro o próprio Putin veio a Alemanha e chegou a fazer um discurso muito pró-europeu, porém os avanços da OTAN nas fronteiras da Rússia o irritaram e já em 2015, quando houve um acordo sobre a Criméia, a região do Donbass eclodiu em hostilidades.

Ressalta por outro lado “as guerras de reconquista lideradas pela Rússia na Chechênia e na Geórgia trouxeram os Estados Unidos, aliás a pedido dos países próximos da Rússia, a estender a OTAN até um cerco que os dirigentes perceberam como ameaça”.

Um Donbass compartilhado sugere o centenário pensador, sabe que sua posição parece mais utópica do que realista, mas pensa que esta é a função dos pensadores: misturar utopia e realismo, afinal é preciso despertar a esperança e a serenidade.

 

A frieza: da essência para a aparência

18 abr

Empatia, paciência, amor verdadeiro e sentimentos verdadeiros parecem distantes, corpos enfeitados, maquiados e tatuados, mentes distantes e frias, vazias e de pouca ideias inspiradas.

Li no livro “A menina que roubava livros” (The book Thief, 2005): “talvez esse seja um castigo justo para aqueles que não possuem coração: só perceber isso quando não pode mais voltar atrás”, é uma frase dura, porém foi importante para analisar o meu contexto social, pessoal e de amizades.

Minha inspiração para ler, escrever e procurar dentro de instituições, ambientes e mídias sociais algo inteligente, inspirado e doce, produtivo onde possa encontrar caminhos diferentes do que vejo e sinto a minha volta, me fez entender e admirar o livro de Markus Zusak, pelo menos que lembro da edição de 2013, ela procurava um refúgio, um escape para a situação contextual.

Me pergunto se esta situação sobre a tensão de uma possível guerra em larga escala é diferente, vejo muita hipocrisia e manipulações no ar, enquanto inocentes morrem numa guerra estúpida, outros se preparam para um confronto ainda maior que aos poucos se espalha por todo globo.

Lembro de uma passagem bíblica (Tessalonicenses 1,5:3) quando disserem: “Há paz e segurança, então lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que está grávida, e de modo nenhum escaparão”, mas para os apressados lembro que está escrito que isto não significará o fim.

Faltam esforços sinceros pela paz, espíritos armados não podem promover paz alguma, querem aliados para seu poder temporal, falta uma mensagem atemporal, além os interesses imediatos.

Assim caminham os corações, e já chegaram as escolas e ao cotidiano da vida mais simples e fugaz via uma dona de casa de uma cidade pequena exaltada no supermercado falando contra aquele tal político que pôs tudo a perder e uma criança que chorava por uma situação política que nem bem entendia.

Não se apaga fogo com gasolina, diz a sabedoria popular, porém a poesia não está mais no ar, não há canções que falam de amor puro, só interesses imediatos de pulsão erótica, numa sociedade que na verdade vive “A agonia do Eros”, um livro profundo de Byung Chul Han.

Não é determinada cantora popular que fala contra o ensino e a boa educação, a sociedade ecoa estes hinos e quase não há como fazer sucesso sem apelos emocionais e passionais fora do tom.

O desmanche da visão humana como Ser e sua transformação na visão utilitária do Ter teve uma origem histórica no pensamento ocidental e agora penetra e tenta destruir o seu significado.

ZUSAK, Markus. A menina que roubava livros. Trad. Vera Ribeiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2010.

 

O que é de fato a guerra atual

17 abr

Cada vez mais a guerra Rússia e Ucrânia se revela com os contornos de claros interesses de grandes impérios em choque: de um lado a Rússia que não aceitou a redução de seu território e influência a partir do final da segunda guerra mundial, de outro a OTAN como braço das forças capitalistas e sua influência mundial.

Na verdade, o grande império emergente é a China, e tem raízes na grande revolução cultural, uma tentativa feita por Mao Tse Tung, o primeiro líder da revolução chinesa, porém a tentativa de industrializar o país retirando gente do campo na década de 50 foi um fracasso causando a morte de fome de mais de 20 milhões de pessoas.

Os opositores liderados por Liu Shao-Chi, em 1959, afastam Mao, a família e seus aliados, que estavam isolados dentro do partido Comunista Chinês, e promovem uma reeducação da população preparando uma nova revolução industrial, desta vez atraindo capital e empresas do exterior, a mão de obra barata e a ideia que poderia ser uma abertura ao capitalismo, Hong Kong até recentemente não era controlada pela China, impulsionou este modelo.

Falando sobre o que seria a paz desejada para a Rússia, Putin declarou que seria uma “nova ordem mundial”, e nela estão envolvidas as conversas com a China e explicam as recentes manobras militares da Rússia no Oceano pacífico próximo ao Japão, as ilhas Curilhas que é disputada pelo Japão.

Foi um aceno claro para a parceria com a China, embora ela junto com o Brasil tenta formar um terceiro bloco para negociar a paz, pelo Brics estão mais próximos da Rússia, e isto inclui Índia e África do Sul que são também parte deste bloco econômico.

Do lado do ocidente, os países escandinavos: Finlândia, Suécia e Noruega realizaram manobras em conjunto com as forças da Otan, o quadro geopolítico se desenha com um quadro bélico perigoso.

Há uma fratura no bloco europeu, já que Macron diz que a França não será “vassalo” dos aliados americanos, entretanto pode também ser uma força para o terceiro bloco da “paz”.

Uma paz sem rendição e sem vencedores parece a única saída possível, difícil, porém possível.

 

A arte, a consciência e o divino

14 abr

A arte é uma expressão da alma humana, “diz indizível, exprime o inexprimível, traduz o intraduzível” é a frase atribuída a Leonardo da Vinci, sem ela não expressamos humanamente o belo e não nos opomos a visão destrutiva e redutiva do simples olhar só do que vemos.

A humanidade construiu aparelhos para ver e sentir cada vez mais longe, o telescópio James Webb está nos fazendo olhar e estudar o mais profundo do universo, mas um universo inteiro existe em cada alma humana e mesmo o aparato tecnológico mais avançado pode traduzi-la ou imitá-la.

Este sim é o grande delírio humano, o mito da inteligência maquínica que ultrapassaria a humana, chamado de ponto singular, o desejo de vida eterna transportando sentimentos humanos para as máquinas, o delírio humano construiu tecnologias avançadas o que é bom, mas imaginá-la como dotada de alma e emoções humanas é um delírio daqueles que não acreditam que no mistério do infinito universo há uma consciência de um Ser e não de rochas e compostos químicos.

O fato que nos confundimos no curso da história reduzindo-a ao subjetivismo idealista não é digno do percurso humano, nem mesmo da ciência que para Edgar Morin é preciso retornar ao ponto em que enxergamos e admitimos a incerteza, afinal é este um dos princípios quânticos.

Recentemente uma Teoria da Informação Integrada (ITT) termo criado por Giulio Tononi, criou a ideia que era possível calcular um número “phi” representando a conectividade das redes, seja o cérebro, um circuito ou o átomo, agora esta ideia avançou e cientistas afirmam que é possível calcular este “phi”,

A pesquisadora e cientista cognitiva Susan Schneider, afirmou a New Scientist: “eu acredito que a matemática pode nos ajudar a entender a base neural da consciência no cérebro, e talvez até de máquinas, mas inevitavelmente deixará algo de fora: a qualidade dessa experiência, sentida internamente”.

Para os cristãos, até mesmo os discípulos era difícil acreditar no que viam depois da ressurreição de Jesus, foram ao túmulo e viram “um jardineiro”, caminharam para Emaús e não perceberam que o acompanhavam e por fim Tomé queria “tocar suas chagas” para acreditar.

Na passagem João 20,27 Jesus diz a ele: “põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel”, aos que creem isto é um fato.

 

Por uma filosofia do olhar

13 abr

Ela já existe, até procurei as raízes e não encontrei e é aí que está o problema, dialogar com o que está presente na cultura, na filosofia e na arte sobre o que é o olhar e como é possível a partir daí desenvolvê-la de modo a dialogar com a cultura contemporânea.

Por exemplo, uma boa leitura de Schiller já citamos esta semana a sua “Educação estética do homem”, na arte não citei Gustav Klimt de propósito, ele tem elementos do simbolismo e toda literatura da arte reconhece, mas sua “arte nouveaux” traz algo de novo (foto sua obra o abraço).

Edgar Morin ao analisar “Cultura de massas do século XX” enfatiza os múltiplos sentidos do homem moderno:”a linguagem adaptada a esse anthropos é a audiovisual, linguagem de quatro instrumentos: imagem, som musical, palavra, escrita. Linguagem tanto mais acessível na medida em que é o envolvimento politônico de todas as linguagens” (pag. 45) e assim este olhar tanto pode se dispersar com se integrar dando a esta nova linguagem um olhar novo.

Ela não é mais específica de uma única mídia (som, imagem e objetos existem como arte desde sempre), para Morin isto é “do jogo que sobre o tecido da vida prática” (idem) e este simbolismo em Klimt é de fato uma visão integrada, mas não é específico dele, vejo-o também em Kandinsky suas obras parecem ter também música e poesia, mesmo sendo apenas quadros.

No cinema o diretor japonês Akira Kurosawa num dos quadros do filme Viver, faz a integração de pintura e cinema ao dar movimento aos quadros de Van Gogh, assim mais do que multimídia este movimentos artísticos podem ser chamados de transmídias, pelo fato de integrar aspectos da arte.

Isto reeduca e estimula o olhar, porém há o aspecto da possibilidade de dispersar o olhar, porém nada fazer mais isto do que as monomídias horizontais modernas e os “mídias” sociais não estão fora disto, assim a reeducação do olhar passa pelo estímulo de outros sentidos e do espiritual que não é aquele idealista (ver post anterior) que estão separados.

Assim apesar de ser um simbolista é justo pensar Klimt como integrante da “arte nouveaux”, já que ele ajudou a criar o Movimento de Secessão em Viena, cujo objetivo era romper as tradições conservadoras que se enraizaram na história e criar uma visão internacionalista e abrangente de gêneros artísticos contemporâneos e atemporais.

A integração em novas mídias desta visão é a apresentação no histórico Atelie des Lumiéres, em Paris de uma animação transmidiática de Vang Gogh (foto), que inaugurou uma série em 2018 justamente com a obra de Gustav Klimt também animada.

Por isto não é uma síntese de contrários, mas a fusão de horizontes artísticos em movimento, a crise atual é a visão dualista de mundo, da arte e dos valores que são atemporais.

 

MORIN, Edgar. Cultura de massas do século XX. trad. Maura Ribeiro Sardinha. 9ª. edição. Rio de Janeiro, Forense, 1997.

 

O que é belo para o idealismo

12 abr

Contradizemos no post anterior a visão de visão e de belo do sentido idealista, mas o próprio Schiller é descendente desta visão, ainda que tenha tentado reconstruir “a unidade da natureza humana”, nisto ele tem razão, pensou em reconstruir no modo idealista moderno.

Para Hegel a estética, e por conseguinte o Belo, é a ciência que se ocupa do belo artístico e não o belo natural, para ele o belo natural é produto do espírito (Geist), e, por ser produto do espírito, é partícipe da verdade e do que existe na natureza, veja que o espírito assim como a “transcendência” idealista é ligada a natureza e ao humano, é distante do espiritual místico.

Para um revolução interna ao idealismo, três correntes da arte estão imersas nele: o simbolismo, o classicismo e o romantismo, para muitos autores modernos, cito Byung Chul Han, permaneceu a cultura do liso, do plano e do “transparente” (vidros, plásticos, etc.).

Esta pseudo-revolução que se deu no interior da arte idealista é chamada de autossuperação, uma espécie do que foi chamado no idealismo alemão de novos hegelianos, porém faz uma divisão ainda mais profunda na arte: a pintura, a música e a poesia.

A escultura é considerada uma arte “nobre”, afirma Hegel: ““A escultura introduz o próprio Deus na objetividade do mundo exterior; graças a ela, a individualidade manifesta-se exteriormente pelo seu lado espiritual” (Hegel, 1996, p. 113), novamente o exterior é objetivo, uma escultura e não um Ser, o outro e com ele toda sua subjetividade.

Já o simbolismo foi a que “procura realizar a união entre a significação interna e a forma exterior, que a arte clássica realizou essa união na representação da individualidade substancial que se dirige à nossa sensibilidade, e que a arte romântica, espiritual por essência, a ultrapassou” (Hegel, 1996, p. 340).

Ao ver as consequências deste pensamento “romântico” Hans-Georg Gadamer vai criticar a visão romântica de consciência de Dilthey, com graves consequências no historicismo moderno quase todo ele idealista e distante da realidade, assim trata-se de criar o modelo “ideal” para a consciência e para o belo e não o transformar como pensam fazê-lo os idealistas.

A arte nouveau, principalmente de Antoni Gaudí (na foto a Casa Batlló, em Barcelona) considero a expressão mais fiel porque recupera os elementos naturais (luz, cor, ar e natureza) sem “afetações” e resquícios do simbolismo e do romantismo, como por exemplo, presente no “Style Tiffany” nos Estados Unidos ou o “Style Glasgow” no Reino Unido que tem elementos, ao meu ver, do simbolismo, embora também chamada de “art nouveau”.

Retomando o post anterior há uma confusão visão de ética porque está separada da estética.