Arquivo para abril, 2015
Idealismo ou realismo, imanente e transcendente
Realismo e Idealismo são duas filosofias que competem, em especial no campo do conhecimento e da educação, desde a Grécia antiga, essas teorias influenciam a filosofia da educação até os dias de hoje, e você sem saber pode aderir a elas.
A ideia é o básico do Idealismo já que ele se concentra na razão e no raciocínio e ela é o modo pelo qual uma pessoa traz à tona o conhecimento que tem dentro de si.
Na sua visão, o mundo existe principalmente na mente das pessoas e isto é verdade definitiva portanto devemos ter consistência de nossas ideias.
Quanto mais perfeitas forem as nossas ideias (no racionalismo cartesiano elas devem ser claras e distintas), melhor se pode servir, observar e viver no mundo, e o mundo é exterior ao Ser e não é ontológico apenas ôntico, em filosofês noúmeno.
No Idealismo de Immanuel Kant, o mundo existe, mas a nossa mente é separada dele e só pode percebê-lo através de um ato transcendente, isto é pelo pensamento do sujeito transcendente.
O Realismo é a escola de pensamento educacional que surgiu de um aluno de Platão: Aristóteles e é oposta ao idealismo.
A única realidade para ele é o mundo material, que o estudo do mundo exterior é o único meio confiável de encontrar a verdade; o mundo é um fenômeno objetivo ao qual a nossa mente precisa aderir para poder transformá-lo.
Também Santo Tomás de Aquino era realista e no tempo dele a corrente que deu origem ao idealismo moderno era então e nominalismo.
No o Realismo, uma pessoa é um vaso vazio de conhecimento quando nasce (uma tabula rasa) e este só pode vir de fora do ser, através da observação empírica. Essa filosofia foi a mãe do método científico moderno, um sistema de investigação baseado em fatos objetivos, ou seja, a investigação dos objetos pela experimentação.
Desta ideia de vazio de conhecimento quando nascemos surgiu a discussão de conhecimento inatos, imanentes e transcendência.
A imanência é um conceito religioso e metafísico que defende a existência de um ser supremo e divino (ou força) dentro do mundo físico (além da física – meta-physis), este conceito geralmente contrasta ou coexiste com a ideia de transcendência dependendo do filósofo e da época.
Empirismo e racionalismo
A disputa essencial entre o empirismo, que afirma que somos dependentes de nossa experiência sensorial para conquistarmos conhecimento, e o racionalismo que afirma que a razão independe da experiência, ao menos o racionalismo puro, está presente na ideia de representação, ou seja, que o conhecimento racional “a priori” para indicar que ele é então independente da experiência.
Estas “etiquetas” características do conhecimento universal seriam os universais, e aqui o racionalismo se liga aos nominalistas, enquanto os empiristas acreditam que não há “a priori”, o homem é uma folha em branco (tabula rasa é usado no filosofês), e aprende experimentando.
O experimentalismo nasceu primeiro, com Francis Bacon (1561-1626), que renova Organon, o texto sobre a Natureza de Aristóteles, por isto o chama Novum Organum, mas falta-lhe a consciência crítica, que aos poucos será construída em seus discípulos até chegar a David Hume (1711-1776).
Era uma posição filosófica que recorria à metafísica tradicional, grega e escolástica, aristotélica e tomista, ela será reelaborada e vai ser um dos impulsos do Renascimento.
Entre Hume e Bacon, do ponto de vista histórico, Descartes (1596-1650) foi um filósofo, físico e matemático, seu debate é com questões práticas que julga obscura, escreve em carta a Mersenne, diz que “os Conimbres são longos, sendo bom que fossem mais breves (crítica já então corrente, mesmo nas escolas da Companhia de Jesus) e não gosta das primeiras escolas, e isto o estimula a pensar um “método” novo como a navalha de Ockham.
Em 1619, viajou para o Reino Unido e segundo afirmam algumas biografias, em dia 10 de Novembro, teria tido uma visão em sonho de um novo sistema matemático e científico, mas só em 1637 escreveu seu Discurso do Método, que na verdade são meditações.
Mais tarde nasceu no Reino Unido, um movimento filosófico que foi de certa forma, o seu oposto, o empirismo crítico, com John Locke e David Hume, que vê problemas em sua razão pura e o seu famoso Método.
É o período que surge Isaac Newton (1642) (na foto o Geometra Divino de William Brake) e também o período final da guerra dos trinta anos (1618-1648) que muda o mapa da Europa.
O idealismo de Immanuel Kant (1724-1804) é uma tentativa de reconciliar racionalismo e empirismo, ele escreveu Crítica da Razão Pura, mas sua obra importante é a metafísica, na verdade é ele o fundador da modernidade, o auge durará pouco até Georg Hegel (1770-1831).
Uma “querela” entre a razão e os nomes
Este problema, que vem desde a antiguidade clássica, com Sócrates, Platão e Aristóteles é um problema ainda hoje para a ciência, ou aquilo que consideramos científico no sentido de verdadeiro, mas a disputa esquentou no final da Idade Média, com nominalistas e realistas.
Tudo parte de um escrito de Boécio (480-525 d.C.), no início da alta Idade Média, que usou um texto (que ficou conhecido como Querela dos universais) de Isagoge de Porfírio (234-309 d.C.), veja iluminura ao lado (foto), que afirmava:
“Assim, pois, evitarei em falar sobre os gêneros e as espécies, acerca da questão de saber se são realidades subsistentes em si mesmas ou se consistem apenas em meros conceitos mentais, ou se são corpóreas ou incorpóreas, ou se são separadas ou se existem nas coisas sensíveis e delas dependem, uma vez que se refere a uma questão que exige um tratamento profundo e requer um exame maior”.1
O problema percorreu a idade média e foi fundamental para estabelecer uma ideia primeira do racionalismo, através da lógica e da construção do conhecimento, mas no final da idade média, a chamada baixa idade média o problema quase desapareceu.
Foi Pedro Abelardo, um monge que era leitor de Orígenes, que reapresentou a tese como uma releitura da Hierarquia das espécies e dos gêneros de Porfírio, mas afirmou que as palavras (nomes) descrevem o mundo não se referem às palavras no sentido físico (os sons que emitimos quando falamos), mas às palavras como portadoras de significado.
Foi através da releitura dos escritos de Aristóteles sobre a alma e a metafísica, que no século XIII Tomás de Aquino e Duns Escoto elaboraram formas sofisticadas do realismo, no entanto no século XIV Guilherme de Ockham (em inglês Wilheim Ockham) rejeitou a ideia aristotélica de que o conhecimento intelectual resultava do fato que nossas mentem eram informadas por ideias universais resultantes dos objetos percebidos, substitui-a pela navalha de Ockham.
A navalha de Ockham é a ideia que entre uma explicação simples de determinada coisa e outra complexa, ficamos com a mais simples e, portanto não há “universais” que são inatos.
Para os realistas, um universal é um ente predicado de outros (ou especialmente) de todos os demais entes. Ele existe objetivamente, tanto como realidade em si, transcendente em relação ao particular (em latim: universais ante rem), seja como imanente, nas coisas individuais.
1Porfírio. Isagoge. Introdução, tradução e notas de Juan José García Norro e Rogelio Rovira. Edição trilingue (grego, latim e espanhol). Barcelona: Anthropos Editorial, 2003, p. 2-3.
Qual o papel da ONU hoje?
Democracias em crise, guerras se espalham por todo o planeta, e o papel da ONU é a apenas o de segurança, muitas entidades e organizações políticas acham que não.
A primeira reunião da ONU aconteceu em 25 de abril de 1945 portanto há 70 anos, na cidade de São Francisco nos EUA, com a presença de 51 governos e organizações não governamentais para elaborarem a Carta das Nações Unidas, porém passou a existir permanentemente a partir de 24 de outubro de 1945.
Sua sede da ONU embora seja em Nova Iorque, tem apenas 4 órgãos situados neste local, o Tribunal Internacional de Justiça está localizado em Haia, nos Países Baixos, e, há outros órgãos espalhadas por diversos locais do mundo.
O atual secretário geral da ONU, é o sul-coreano Ban Kim Moon, e a organização tem hoje 193 Estados-membros das Nações Unidas e só estes Estados podem votar na ONU.
Veja alguns destes órgãos:
Organização Internacional do Trabalho (Genebra, Suíça)
Organização Marítima Internacional (Londres, Reino Unido)
Fundo Monetário Internacional (Washington, D.C, Estados Unidos)
União Internacional de Telecomunicações (Genebra, Suíça)
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a (Paris, França)
Programa Alimentar Mundial (Roma, Itália)
Mas seu principal órgão onde a disputa política é acirrada e onde as forças ideológicas se concentram é o Conselho de Segurança, composto por 15 Estados-membros, sendo 5 membros permanentes (China, França, Rússia, Reino Unido, Estados Unidos) e os outros 10 membros são temporários que são alterados há cada dois anos, atualmente são membros Áustria, Bósnia e Herzegovina, Brasil, Gabão, Japão, Líbano, México, Nigéria, Turquia e Uganda.
Já é tempo de renovar seu papel, é preciso criar um programa solidário internacional para promover o fim da pobreza, evitar ditaduras e opressões, defender o direito de educação para todos e principalmente estabelecer a tolerância política, religiosa, de gênero e das culturas.
Hubble, infinito e pós-modernidade
Há vinte e cinco anos, exatamente no dia 24 de abril de 1990, o ônibus especial Discovery decolava para colocar em órbita um observatório com um telescópio Hubble, colocado na órbita do planeta, que mudaria a nossa visão do universo, nossa visão da física e quiçá da vida.
Foi possível observar pontos que antes eram inacessíveis aos olhos humanos e eram mistérios para os pesquisadores. Como a Nebulosa Olho de Gato (foto) detectada em 2004, uma nebulosa que está há 3.000 anos luz da Terra, uma nebulosa é um sol que passa a ejetar seus gases antes de se estabelecer como uma estrela solar. Como também a nebulosa Carina, a 7500 anos luz da Terra, formada por gás e poeira que permite aos astrônomos estudarem detalhes da formação de estrelas, a foto foi capturada em 2007.
A revolução copernicana que tirou a visão do geocentrismo, ideia que a terra era o centro do universo, auxiliou a liberar o homem de ideais teocentricos confusos e fazer emergir a ciência e a modernidade, que agora também estão em crise, mas o fato que enxergamos mais longe pode fazer com que nossa miopia seja ultrapassada e passemos a olhar o Outro não como extensão do eu e do Mesmo, mas com iguais direitos que Eu.
A partir da Terceira Meditação Cartesiana, o filósofo Emmanuel Levinas estabeleceu em sua obra Totalidade e Infinito, que há uma ruptura com a categoria da totalidade, que é a partir da relação entre o cogito e a ideia do infinito desenvolvida em Descartes, e de onde Levinas extrair seu projeto de repensar a relação entre o Mesmo e o Outro no plano da ética como filosofia primeira.
“E não devo crer que não percebo o infinito por uma verdadeira ideia, mas somente por uma negação do infinito .. ao contrário entendo de modo manifesto que há mais realidade na substância finita do que na finita e, por conseguinte, que a percepção do infinito é, de certo modo, em mim anterior a percepção do finito, isto é, que a percepção de Deus é anterior à percepção de mim mesmo, pois qual a razão por que me daria conta de que duvido, desejo, isto é, que sou indigente de algo e de que não sou totalmente perfeito, se não houvesse em mim nenhuma ideia de um ente mais perfeito por comparação com o qual conheço meus defeitos ?” (Descartes, 2004, p. 91-92).
Levinas reflete primeiro sobre a sua “duvida de tudo” que é contraditória com a percepção externa da ideia de infinito, uma vez que não é mais o cogito (a dúvida sistemática) que pensa o infinito, mas provém do “eu penso” e deveria ser da própria ideia da substância infinita (agora vista pelo Hubble), o segundo é a inadequação, pois o infinito não é um transbordamento do ideatum, mas a relação exterior que admite a experiência com o novo, o impensado e, portanto, fora da totalidade.
É neste infinito “impensado” que Levinas afirma a relação do Mesmo com o outro, “sem que a transcendência da corte os laços que uma relação implica … “ (Levinas, p. 35), e deste modo Levinas mostra como a modernidade fixa esta relação na base do “eu penso” próprio do racionalismo moderno, e esta é a distância entre a ideia do Outro com o ideatum que está no “ser transcendente, o infinito é o absolutamente outro” (Levinas, Totalidade e Infinito, p. 35-36).
É deste modo que separa a ideia de infinito de Descartes que está na busca filosófica da existência de Deus, enquanto em Levinas está vinculada à procura de uma relação entre o Mesmo e o Outro, que mantenha a exterioridade do Outro, e não presa a ideia do Mesmo.
DESCARTES, R. Meditações sobre a filosofia primeira. São Paulo-Campinas: Editora da UNICAMP, 2004.
LEVINAS, E. Totalidade e Infinito, Lisboa-Portugal, Edições 70, 1988.
O ser, as coisas e valores
Que o ser está fragmentado, que o discurso e a cultura foram fragmentados no transcurso da modernidade todos sabemos, chamemo-la de líquida, gasosa ou virtual, não será pela adjetivação que resolveremos e colocaremos de volta a vida e a sociedade nos trilhos.
Reconhecer que as esferas pública e privada estão divididas e confusas quando não deveriam ser basta olhar os diversos níveis da “chamada vida pública” para saber que determinados estamentos (e não classes) tomaram conta do público e o tornaram privado.
O problema mais profundo é aquele que nos separada ou nos unes às coisas, sejam elas, dinheiro, tecnologia ou mesmo coisas intangíveis como ideologias, ideias e religiões, e ficamos não no campo da física, já que a meta-física que foi abandonada.
O problema é que as coisas intangíveis ou não são reconhecidas como tal, ou se reconhecidas são vistas separadas do Ser (e não do sujeito, categoria fragmentária da modernidade), já as coisas que se pegam (tangíveis) são vistas como “apropriações” apenas e não como coisas que devem ser pensadas também a partir do Ser, reclamava Husserl: “é preciso voltar as coisas por elas mesmas”, não queria o pai da fenomenologia separá-la do Ser, e sim exatamente o contrário construir, ou reconstruir o projeto ontológico, como no Ser e o Tempo (pdf).
O ser é mais geral, reclamou Heidegger, retomando a metafísica Aristotélica (livro B,4), lemos:
Ao se manter que o “ser” é o conceito mais geral, não pode isto significar que seja o mais claro e que dispense toda outra explicação. O conceito de ser é, ao contrário, o mais obscuro . (HEIDEGGER. 1960, p. 3).
Mas nós fixamos a lógica, as definições bem feitas, onde o Ser é indefinível, mas tão real quanto tudo o que é tangível, e então ficamos a procura do Ser que é.
Quem está aprofundando e tentando entender a profundidade deste Ser, as ciências ônticas (das coisas separadas do Ser, projeto idealista) não respondem por si mesmas , afirma Heidegger:
Toda ontologia, por mais rico e fortemente estruturado que seja o sistema de categorias de que dispõe, permanece cega e trabalha para a falsificação de sua mais autentica intenção, desde que não começa por esclarecer suficientemente o sentido do ser, e renuncia a compreender este esclarecimento como sua tarefa fundamental. (HEIDEGGER. 1960, p. 11).
Reclama Edgar Morin em A cabeça bem feita, ensinamos tudo, mas não se ensina o homem a aprender a viver, a ser cidadão, etc. no início do capítulo 2 do livro usa a citação do filósofo Blaise Pascal “não se ensina os homens a serem honestos”, poderíamos acrescentar a partir da Cabeça bem feita: não liga os saberes dando-lhes sentido, não se ensina a condição humana e sua relação com a natureza, que impõe limites, para nós (incluo os dois autores) a ontologia (ser) precede à ética, ao contrário do que pensam os especuladores líquidos da modernidade.
HEIDEGGER, Martin. Sein und Zeit. Tübingen: Max Niemeyer, 1960. Versão alemã em função da tradução para o inglês fixando as páginas.
Reformar o pensamento e a política
Continuando a ler “A cabeça bem-feita” de Edgar Morin, no capítulo 5 – Aprender a viver, o autor destaca logo de início que a maior contribuição de conhecimento do século XX foi saber justamente os limites do conhecimento., depois de criar uma “viático” para enfrentar as incertezas, nada mais próprio para o mundo atual, onde ele afirmar que a estratégia traz em si a consciência da incerteza que vai enfrentar e, por isso mesmo, encerra uma aposta (p.62), e encerra o capítulo trazendo uma reflexão que cada um deve estar plenamente consciente de que sua própria vida é uma aventura, mesmo quando mesmo tendo alguma pretensa segurança, deve estar plenamente consciente de participar da aventura da humanidade, que se lançou no desconhecido em velocidade, de agora em diante, acelerada (p.63) e a partir daí propõe sua cidadania.
No capítulo 6, “a aprendizagem cidadã” ele propõe que a educação contribua para a autoformação da pessoa (ensinar a assumir a condição humana, ensinar a viver) e ensinar como se tornar cidadão, que é também olhar para a democracia do futuro.
O cidadão é definido, em uma democracia, por sua solidariedade e responsabilidade em relação a sua pátria (p.65) e apresenta uma das maiores dificuldades em pensar o Estado-Nação reside em seu caráter complexo, pois ele é ao mesmo territorial, político, cultural, místico, religioso (p.66), será que hoje reconhecemos isto ?
Para há uma forte correlação entre desenvolvimento de nossa consciência e a consciência que habitamos nossa pátria terrena, que é olhar a todo o globo.
No capítulo 7, ele questiona os famosos “os três graus” da educação, passa a descrever chamado o ensino primário, onde as primeiras interrogações devem ser feitas, já no ensino secundário aprofundá-las para que o ensino universitário seja maduro.
Então a finalidade da “cabeça bem-feita” é beneficiar um programa com um questionamento que parte do ser humano, ou seja seria através das interrogações do ser humano, que se descobre sua dupla natureza: a biológica e a cultural (p.75).
É preciso, pois, compreender a causalidade mútua inter-relacionada a causalidade circular (retroativa, recursiva) e as incertezas da causalidade. Desta forma, formar-se-á uma consciência capaz de enfrentar complexidades (p.76-77).
No capítulo 8, “a reforma do pensamento” Edgar Mohin retoma o segundo e o terceiro princípios do Discurso sobre o Método que regem a consciência científica. O segundo princípio é tido como princípio da separação; e o terceiro como princípio da redução (p.87).
. O pensamento que une substituirá a causalidade linear e unidirecional por uma causalidade em círculo e multirreferencial; corrigindo a lógica clássica pelo diálogo capaz de conceber noções complementares e até antagonistas, e completará o conhecimento da integração das partes em um todo, pelo reconhecimento da integração do todo no interior das partes (p.92-93).
No capítulo 9 “Para além das contradições” Morin nos apresenta os problemas da educação na contemporaneidade. Esses problemas, segundo o autor tendem a ser reduzidos a termos quantitativos: “mais créditos”, “mais ensinamentos”, “menos rigidez”, “menos matérias programadas”… sair dessa reforminhas que camuflam ainda mais a necessidade de reforma de pensamento (p.99).
Morin reforça a tese que vem sendo discutida em todo livro: não se pode reformar a instituição sem prever a reforma das mentes, mas não se podem reformar as mentes sem uma prévia reforma das instituições (p.99).
Boa leitura, há um acesso aberto do livro. “A cabeça bem-feita”.
Reformar o pensamento: o mais difícil
Entre as várias crises que enfrentamos, já chamada de policrise pelo educador e pensador Edgar Morin, um dos aspectos mais profundos é o da reformar o pensamento, e quase tudo que está nos moldes do pensamento moderno ou pretensamente pós-moderno está em crise.
O livro A Cabeça bem-feita de Edgar Morin é uma formula breve, mas difícil, de partir de um ponto relativamente simples, afirmar o educador, que por sugestões de Jack Lang, o então ministro da Educação na França, imaginou fazer inicialmente um “manual para alunos, professores e cidadãos”, (Morin, p. 9) projeto que reformou e continuou, propôs superar a atual fragmentação do conhecimento através do pensamento complexo, passando por uma reforma do pensamento por meio do ensino transdisciplinar, capaz de formar cidadãos planetários, solidários e éticos, aptos a enfrentar os desafios dos tempos atuais.
O capítulo I apresenta os desafios, conectando saberes separados em disciplinas, propondo reuni-los em conteúdos mais polidisciplinares, transversais, multidimensionais, transnacionais, globais, planetário (Morin, p.13).
O capítulo 2 é o coração do livro, por isto intitulado a cabeça bem-feita, o filósofo Edgar Morin introduz a citação de Pascal “Não se ensinam os homens a serem homens honestos, mas ensina-se tudo o mais”, não é uma frase por acaso, mas revela a profunda crise moral que todos enfrentamos, não no Brasil, mas em nível planetário, então aonde pessoas honestas podem encontrar refúgio para enfrentar a parada.
No capítulo o capítulo ele explica como uma aptidão geral de inteligência, pode tornar-se apta para colocar e tratar os problemas de maneira organizados e que permita estabelecer ligação entre os saberes e dando-lhes sentido (p.21).
No capítulo 3 o autor trata da condição humana, assunto já tratado por Hannah Arendt e que é ligada e parte da retomada ontológica, mas que não depende só de reflexões filosóficas e literárias, mas depende das ciências naturais renovadas e reunidas, de assunto que são pouco antropocêntricos, mas ligados ao home: a Cosmologia, as ciências da Terra e a Ecologia (p.35).
Neste capítulo o ser humano é revelado em sua complexidade: ser, ao mesmo tempo, sendo totalmente biológico e totalmente cultural (p.40), poderíamos então repensar a cultura.
No capítulo 4 Aprender a viver, Edgar Morin nos apresenta o pensamento do filósofo Émile Durkheim “o objetivo da educação não é o de transmitir conhecimentos sempre mais numerosos ao aluno, mas o de criar nele um estado interior e profundo, uma espécie de polaridade de espírito que o oriente em um sentido definido, não apenas durante a infância, mas por toda a vida” (p.47), paro por aqui porque reformar o pensamento é uma revolução.
Quem quiser ler, há um pdf disponível na internet, mas é preciso ter “A cabeça bem-feita”.
Operadoras continuam a crescer e faturar aqui
O grupo Telefônica, sua filial brasileira é dona da Vivo, já havia anunciado o aumento de capital para cerca de 3 bilhões de euros (em torno de R$ 9 bilhões) que serviu para financiar a fechar negócio com a operadora de banda larga brasileira GVT do grupo francês Vivendi.
A compra acertada com a Vivendi é em torno de 4,66 bilhões de euros (perto dos R$ 15 bilhões) segundo informações em diversos veículos à vista, que significa cerca de 12% da Telefônica brasileira, ou seja continuam ganhando dinheiro fácil aqui.
A Vivo tinha uma pequena dificuldade junto ao CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), pois existem operações concorrentes da TIM em seletas cidades do estado de São Paulo, e a GVT entrou a pouco tempo neste mercado mas com preços agressivos, mas ainda a cobertura e base de clientes é baixa, de forma que a unificação ainda não garante uma melhora do serviço no estado de SP.
Então qual o sentido da aquisição da GVT, as operações fixas da Vivo se concentram apenas no estado de São Paulo, integrando a GVT aos seus negócios, ela passa a ter uma presença em diversas capitais do país e operará com TV por assinatura, telefonia fixa, móvel e banda larga, ampliando o leque de serviços.
Esperamos que isto resulte em algum ganho de preço e melhora de serviços.
Maquiavel e maquiavelismo
Por imaginar situações políticas instáveis e como era possível torna-las estáveis, Maquiavel que vivem de 1969 a 1527, período em que se estabelecem os primeiros governos estáveis em muitos pequenos estados europeus, mas quase sempre governado por um príncipe com poderes absolutos, no entanto, envoltos em grandes problemas e instabilidades, este foi o contexto em que Nicolau Maquiavel escreveu sua principal obra “O príncipe” (1513).
Maquiavel tenta responder questões ainda hoje pertinentes: que vícios e virtudes são toleradas em governantes, faz um apelo a humanidade do governante da seguinte forma: todos dirão que é louvável encontrar em um príncipe somente as qualidades consideradas boas, dentre todas aquelas supracitadas, mas não sendo possível possui-las, nem inteiramente observá-las, porque a condição humana não o permite, é necessário que ele seja tão prudene que saiba fugir à infâmia daqueles vícios que o fariam perder o poder: e se possível evitar também os vícios que não lhe tiram o poder, mas não o conseguindo, pode se abandonar a eles sem atribuir-lhes importância.
Assim ao mesmo tempo que ele admite vícios benéficos, ele afirma que uma moral ordinária poderia levar a destruição do Estado, assim Maquiavel admite atitudes políticas que possam ser consideradas vícios, mas vê que há um tipo de vícios que não é aceitável ao Estado.
Trocando em miúdos é aceitável alguma dose de favorecimentos devido a presença no Estado de uma pessoa comum que possua vícios, mas não é aceitável que todo e qualquer tipo de falta de moral seja encontrado em governantes porque pode levar a destruição do Estado.
Para avaliar homens comuns temos que ter critérios claros de juízo, coisas que seriam aceitas em pessoas comuns e, portanto toleráveis em governantes e coisas que em governantes não seriam admissíveis, assim diz o autor do Príncipe: “existem qualidades que têm aparência de virtude, mas levam o príncipe a ruína; e outras que, sob a aparência de vício, produzem a sua segurança e o seu bem-estar”, claro que é o bem esta político e não o seu bolso.
Não são aceitáveis aqueles vícios, que para manter o bem estar, destroem o bem estar do Estado e consequentemente de todo o povo, enfim a arte de governar deve ter princípios.