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Arquivo para junho, 2017

Diálogo e polifonia

02 jun

Uma presença importante no diálogo é a polifonia linguística, isto é, não se dialogarPolifonia apenas com um raciocínio na mesma linha ou ainda, quando um autor ao escrever um romance permite que seus personagens dialoguem em ângulos opostos do discurso.

Um dos linguistas a definir polifonia foi Bakhtin que a define como a forma de um tipo de romance que se contrapõe ao romance monofônico, usou para isto Fiodor Dostoiévski, onde cada personagem tem uma visão própria de mundo, voz e posição, ao interagir com outros.

Também na Bíblia em At 2,7-9 se pode ler: “Cheios de espanto e admiração, diziam: ´esses homens que estão falando não são todos galileus? Como é que nós os escutamos na nossa própria língua? “ evidencia o fato que uma mensagem universal estava surgindo e isto é mais importante que qualquer conotação linguística ou menos espiritual que se tenha, uma polifonia estava sendo formada na comunidade cristã primitiva e isto lhe dava força.

Embora correlatos, dialogismo não é polifonia, porque o princípio dialógico deve ser constitutivo da própria linguagem, porém os diálogos monofônicos (uma voz que domina as outras vozes) e os gêneros dialógicos polifônicos, onde vozes polêmicas discursam; podem, ambos serem usados em contextos diferentes.

Assim ambos podem estar presentes em um discurso, será dialógico quando o discurso do Outro é admitido como plausível, e será polifônico, quando uma voz não domina a outra.

 

Epistemologia e crise do pensamento

01 jun

O filósofo britânico David Hume, no século XVIII, escreve no Tratado da naturezaQuestionar humana, um questionamento da indução como mecanismo válido para a descoberta científica, foi a parte desta questão que Karl R. Popper, em A lógica da pesquisa científica, de Karl R. Popper (1902-1994), trouxe a “novidade” no debate da filosofia da ciência repetindo a ideia humeana.

O problema formulado por Popper tinha em sua base a separação, já feita também em todo idealismo, entre a metafísica (pseudociência) e a verdadeira ciência, a “ciência empírica”, mas Thomas Khun (1922-1996) em A estrutura das revoluções científicas vai questionar isto.

A história da ciência já demonstraria isto, ou seja, que periodicamente, um paradigma era substituído por outro, entretanto isto não se dá por uma simples observação incompatível com a teoria, conforme atestava o princípio da falseabilidade popperiano, o que ocorre é uma mudança de pensamento, ele cita Copérnico, mas Heisenberg com o princípio quântico e Albert Einstein com a Teoria da Relatividade são mais gerais.

O matemático e filósofo húngaro Imre Lakatos (1922-1974) seguiu as ideias de Popper, e o princípio da falseabilidade, amenizando-o: a história da ciência demonstraria que as teorias nunca eram completamente abandonadas, mesmo quando refutadas.

Paul Feyerabend (1924-1994) desenvolveu uma argumentação radicalmente inovadora em sua obra sugestivamente intitulada Contra o método, afirmando que nunca houve a possibilidade de estabelecer critérios objetivos para a avaliação das teorias científicas. Negando todo o método  do positivismo lógico, que defendeu um padrão metodológico único.

Entretanto esta crise já se aprofundou, já citamos Edmund Husserl, que perscrutava a crise das ciências europeias no desenvolvimento de sua fenomenologia, entre várias afirmações encontramos: “Com o despertar da reflexão da relação entre o conhecimento e o objeto, abrem-se obstáculos abissais.  O conhecimento, a coisa mais óbvia no pensamento natural, aparece de repente como um mistério”, e terá entre notáveis influencias posteriores como Heidegger e Gadamer, que retomam a questão ontológica, onde a consciência é essencial.

O sociólogo português Boaventura de Souza Santos, em seu escrito Um discurso sobre as ciências, revaloriza a polêmica introduzindo que a atenuação da distinção entre orgânico e inorgânico, humano e não-humano seria inútil, mas a questão da consciência não é tocada.

Edgar Morin, H.G. Gadamer, Lévinas e Ricoeur, além de outros pensadores contemporâneos concordam que é preciso uma virada no pensamento, envolto em complexidade e vivências