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Arquivo para agosto, 2017

O que a tragédia de Edipo Rei ensina

17 ago

Há nesta tragédia de Sófocles, um claro conflito entre o livre arbítrio e o destino, e questionaEdipo até que ponto somos donos de nosso destino, se consideramos que existe uma força superior a nossa simples vontade humana, viveremos de maneira mais humilde e aceitaremos o destino de nossas vidas, ainda que lutemos para melhorar nossa sorte (que os gregos chamavam de fortuna). 

A tragédia narra a estória de Édipo, filho de Laio e Jocasta, era o rei de Tebas, a cidade que fora assolada por uma peste. Ao consultar o oráculo de Delfos, Édipo descobriu algo trágico sobre sua vida: ele foi amaldiçoado pelos deuses. Ele estava destinado a casar com sua mãe, com quem teve dois filhos e duas filhas, e a matar seu pai, o rei que governava a cidade antes de Édipo.

Seu pai Laio sabia da maldição e quando tive o filho abandonou amarrado a uma árvore entre Tebas e Corinto e sendo encontrado por um pastor foi criado por ele, já adulto Edipo decide retornar a Tebas e mata seu pai, em Corinto se casa com sua mãe Jocasta, sem saber quem ela era, e mais tarde ao saber que era sua mãe ela se mata e Édipo perfura os próprios olhos.

Perambulando pela cidade encontra a Esfinge, ser mitológico metade mulher e metade leão que aterrorizava Tebas com seus enigmas, a Esfinge lhe propõe o anima: “Qual é o animal que de manhã tem quatro pés, dois ao meio dia e três à tarde?

Édipo responde que essa figura é o homem, porque o homem na infância engatinha, na idade adulta anda ereto com os dois pés, e na velhice necessita da bengala (o terceiro pé) para se apoiar, mas no fundo a Esfinge lhe propõe o enigma sobre quem é o homem e o que é sua vida.

A estória carregada de simbolismo, influenciou até a psicanálise que chama os dramas da infância de “complexo de Édipo”, o casamento com a mãe também significa a relação que mandemos mesmo em idade adulta com a figura feminina ainda hoje numa sociedade machista.

Também a relação de Édipo com o sábio Tirésias é particularmente interessante, este não possuía a visão física, mas tinha sabedoria, enquanto Édipo que tinha a visão física lhe falta uma visão interior, quando começa esta visão quando desabafa com Jocasta: “Com esta narrativa me traz a dúvida ao espírito, mulher. Como perturba minha alma”, mas a rainha também é ambígua ao dizer que entregou o bebê a um pastor de sua confiança, o que mostrava sua incredulidade com os oráculos, tendo uma postura autoritária.

Não é por acaso que Aristóteles considerou a obra Édipo Rei como símbolo da tragédia grega.  

 

 

A tragédia e o destino

16 ago

A incompreensão da dor e da tragédia em nossos dias nos faz criar abismos Atragediae dores ainda maiores, não somos capazes de abraçar a própria dor e a alheia, mas há esperança.

A tragédia era derivada da poética e também da tradição religiosa da Grécia Antiga, possuindo raízes nos chamados ditirambos, cantos e danças realizados em homenagem e honra ao deus grego Dionísio, que os gregos chamavam do deus Baco.

Alguns afirmavam que as canções eram criadas pelos sátiros, que eram seres que cercavam Dionísio em suas festanças, foi isto que deu origem ao nome, das palavras gregas τράγος e ᾠδή, que significam respectivamente bode e canto, originaram na palavra tragosoiodé, canções dos bodes, daí a expressão bebeu como um bode, mas o importante aqui é a questão da tragédia como dor e desencanto, assim o derivado des-em-canto.

Mas a mudança, criticada por Nietzsche, foi a feita por Euripides que viveu de 480 a.C. a 406 a.C. , que opunha-se a Sófocles por ser realista demais e pessimista demais, mas o mundo dos deuses, já em Sófocles, se mostrava ausente e incompreensível, mas com Eurípides tornou-se algo ainda mais distante, de onde vem a expressão moderna “humano demasiado humano”.

Assim a sociedade do desencanto, gostamos não da tragédia da vida, mas do realismo trágico da violência, do mau feito e do mundo em desencanto.

É disto que bebem os tiranos, os extremistas e os insanos, por isto vemos uma crescente onda de racismo, intolerância e má política, só os tiranos podem se aproveitar deste ambiente, veja-se Charlotesville.

 

 

Os hologramas chegaram

15 ago

Embora sejam recentes e ainda há muita tecnologia para que se tornemAoHologram realidades “aumentadas” em nosso cotidiano, os hologramas chegaram pelo caminho que é o mais rápido de ser antecipado, o mundo da arte.

Em muitos ambientes recentes são necessários headseats para mesclar o holograma com o mundo real, e criar o que ficou conhecido como realidade aumentada, em outros usam-se espelhos ou projeções 2D para enganar nosso cérebro e ver as figuras em pleno ar, mas agora o salto para o futuro foi audacioso.

Segundo o artista Joanie Lemercier, imaginou a técnica pensamento nos filmes Minority Report e a saga Star Wars, para dar vida ao “no-logram”, a visão que tem da realidade aumentada, e fazer com que os visitantes de suas “instalações” curtam o conteúdo em sua própria perspectiva sem depender de equipamentos específicos, e por enquanto, são projeções geométricas e formas produzidas em sensoriamento (por exemplo, de um corpo humano ou de uma peça artística), formas geométricas e com movimentações dinâmicas para entreter o público,.

Mas ele utiliza tecnologias de monitoramento “tradicionais”, como análise de imagens e sensores de profundidade para fazer formas sejam projetadas adequadamente.

Enquanto o cenário da indústria segue em sofisticação, este cenário mais simples parece ser mais efetivo uma vez que recorre a tecnologias existentes, e ao criar formas praticamente humanas (veja uma das projeções feitas por Lemercier), parece mais efetivo.

O próprio artista já prevê que num futuro bem próximo, ele pensa em usar gás comprimido e névoas com partículas finas de água para exibir projeções num ambiente ecologicamente inofensivo, e que estarão simulando impressões volumétricas em ambientes imersivos.

 

 

Amazon agora vende tickets

14 ago

A Amazon volta a sacudir mercados mundiais, agora de tickets, já aparecem ofertas tanto noATPNitto site americano como no inglês, os tradicionais vendedores de ingressos estão ameaçados, como por exemplo, a Ticket Master que viu suas ações despencarem na bolsa americana.

Vai demorar para chegar no Brasil, mas o futuro já nos espera, o que acontece é que uma série de eventos e promoção de vendas locais, que significam empregos e algum dinheiro circulando nos locais dos eventos, podem ser subtraídos e gerar mais monopólio para o site que inicialmente vendia apenas livros digitais, agora já avança em outros mercados.

Mas as tradicionais vendedoras de tickets para eventos são culpadas, as taxas abusivas que cobram para as vendas podem chegar a 10% em grandes eventos e eventos que rapidamente esgotam ingressos, sem a garantia que estes ingressos podem cair nas mãos de cambistas.

Um dos controles que podem ser observados na Amazon é a limitação do número de ingressos por pagantes, como em geral são registrados no site este controle pode ser efetivo, é claro a menos que usem um grande número de laranjas, porém todos devem estar “registrados”.

No site inglês por exemplo, pode-se notar as finais de Tenis do ATP 1000 Nitto em Londres, de 2 a 18 de Novembro, além de outros como show dos GlobeTrotters, o evento para junho de 2018, o Glastonbury Festival em New Castle , Cardif, Manchester e Glasgow chamado El Sheeran que envolve música, performances e teatro, e muitos outros.

O mercado vai se agitar, nas bolsas já agitou caindo ações de empresas que vendem ingressos.

 

Confiança, fé e autonomia

11 ago

Conforme estabeleceu Giddens, há um limite entre a fé e a confiança, mas fatalmente JesusNasÁguasquem tem confiança precisará de algum “tipo” de fé para ampliar sua segurança e com isto sua autonomia, sem que ela desande para o individualismo ou isolacionismo.

É possível então qualificar a fé, recorramos aos místicos, e como civilização ocidental-cristã a figura de Jesus, a passagem em que caminha sobre as águas assustando seus discípulos que acham que é um fantasma, é bastante ilustrativa e pode nos dizer algo da fé, está assim em Mateus 28 a 30:

Então Pedro lhe disse: “Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água”.

E Jesus respondeu: “Vem!” Pedro desceu da barca e começou a andar sobre a água, em direção a Jesus.

Mas, quando sentiu o vento, ficou com medo e, começando a afundar, gritou: “Senhor, salva-me!”

Mesmo um de seus principais discípulos após achar que era um fantasma, reconhece-lo e desejar andar sobre as águas afunda, faltou confiança, fé e principalmente autonomia.

O fato que seguidores de diversas correntes místicas tenham pouca autonomia os torna um pouco infantís, e dependentes de quase tudo do mestre, por isto é que muitas vezes morre o mestre, morrem os discípulos, mas Jesus não morreu … é outra história, e será preciso outro tipo de fé, embora muitos proclamem o Deus vivo, apresentam-no morto.

Um qualificador importante para a fé é sua irmã-gêmea a esperança, e ambas são filhas do amor, então a fé deve ter origem em algo que seja amor, precisa distribuir a confiança e o bem desejado com as outras pessoas e com o ambiente, para torna-lo “confiável” então este tipo de fé não é cega, mas uma fé que tem um “agir agápico”, que sana o ambiente.

O fato que a grande maioria dos grupos religiosos funcionam como sistemas fechados e não proporcionem ao ambiente que vivem uma melhoria sensível, primeiro nas relações e depois nas ações, e finalmente na fé; é que as torna um campo minado de preconceitos e maldades, querem ser ouvidos como mestres, mas são pequenos na escuta e na abertura.

Caminhar sobre as águas, a metáfora mais usada é dizer que é um mundo revolto e agitado por injustiças e desamor, não deve se opor a uma fé interior ativa e profunda.

Confia quem tem fé, mas a fé deve partir de uma alma aberta ao mundo e aos outros.

 

Sistemas peritos, confiança e fé

10 ago

Toda a teoria de Giddens, revista em alguns aspectos nos posts anteriores,almoco_1932 é condicionada a estruturação e ao que chama de sistemas peritos, mas estes por sua vez estão fundamentados naquilo que chama de confiança também já explicada nos posts, com ressaltas a questão da fé.

Os sistemas peritos, conforme vistos por Giddens são o mais importante mecanismo de desencaixe, descritos assim:  “sistemas de excelência técnica ou competência profissional que organizam grandes áreas dos ambientes material e social em que vivemos hoje”. Apesar da maioria das pessoas leigas consultarem, apenas periodicamente, profissionais mas todos eles sob grande suspeita, por isto tantas teorias novas e tantos “sistemas alternativos”.

Embora o autor admita que a fé: “a confiança é inevitavelmente, em parte, um artigo de ” (Giddens, 1991, pag. 39), porém acrescenta: “há um elemento pragmático na , baseado na experiência que estes sistemas [peritos] geralmente funcionam como se espera que eles o façam” (idem).

Admite por último que embora fé e confiança “estejam intimamente ligadas” faz uma distinção entre as duas e se fundamentará para isto a distinção que Luhmann faz em faz em sua obra sobre confiança Trust and Power (Chichester: Wiley, 1979), o resto fica muito vago.

É importante dizer que esta fé não é propriedade exclusiva das cosmogonias ocidentais, na verdade todas religiões mesmo as não ocidentais terão alguma forma de fé, que isto sim é necessário distinguir de crença como crença em um só Deus (religiões monoteístas), em muitos Deuses (politeístas), onde não só humanos mas também animais, plantas, rochas, características naturais possuem “alma” sem diferenciá-las do mundo físico.

A fé é uma adesão a alguma hipotese que a pessoa aceita sem nenhuma prova racional e isto está na origem etimológica do latim fide, aqui razão não tem o significado moderno, mas o de raciocínio feito na mente, assim ela não seria cega, mas apenas antes de qualquer raciocínio, um epoché moderno, ou seja, tem uma forma de razão que é aceitar coisas além de nossos pré-conceitos.

Significa em última análise um passo a frente não no escuro, mas no mistério e ainda mais importane que isto é encontrá-lo avante, significa sair do limite do “sistema”.

A maioria das pessoas dá este passo por se encontrar (aparentemente) diante de um abismo, de um vazio, porém poderia fazê-lo conscientemente (assim não é totalmente cego) se acreditasse no que vem pela frente, tipo faça e tenha fé que tudo está bem, como a foto clássica de trabalhadores numa viga suspensa no que seria hoje, o RCA Rockefeller Center, tirada no dia 20 de setembro de 1932 e publicada no New herald Tribune em 2 de outubro daquele ano.

 

Pós-modernidade, uma volta ao início e a atual

09 ago

O autor (Anthony Giddens) que estamos lendo, faz exatamente no capítulo da “confiança”Fiducia uma abordagem ao nihilismo fazendo uma crítica em bloco a Nietszche e Heidegger, com a qual não estamos de acordo, mas não deixa de ressaltar a importância de ambos, o primeiro por ter feito uma ruptura com o iluminismo, e o segundo (ainda que não diga diretamente) que a “nova perspectiva” (qual a do iluminismo??) superava a “tradição do dogma” (pg. 89).

Diz o autor que “o pós-modernismo tem sido associado não apenas com o fim da aceitação de fundamentos como o ´fim da história’” (pg. 60) o que é verdade, mas deve-se fazer uma breve distinção entre pós-modernidade e pos-modernismo, o primeiro é o fenômeno o qual desde de Nietszche é apontando, mas desenvolvido com Husserl, Heidegger e Gadamer, já o segundo é a ideia que a próprio fenômeno já seja uma nova etapa da humanidade.

Chama ao exercício de tentar aproximar a questão da consciência história (nome que considero mais correto para a historicidade, veja-se Verdade e Método de Gadamer) de “futurologia” e vai chamar de “desencaixe” esta ideia que após mapear o passado possa se pressupor “uma orientação futura deste tipo” (pag. 61), então retoma a “elucidação do pensamento moderno”, mas não deixa de fazer o discurso convencional; “este processo como um processo de globalização, um termo que deve ter uma posição-chave no léxico das ciências sociais” (p. 62), o que não deixa de ser um discurso que faz um “desencaixe” com a tradição, para usar o argumento do próprio autor, deve-se rever o iluminismo sem apelar para ele.

O discurso e aqui encontramos contradições no seu modelo de confiança, a “apropriação reflexiva do conhecimento” que tenta negar o progresso do período iluminista ao afirmar: “deslocado a vida social da fixidez da tradição”, o que chama de “fixas simbólicas e sistemas perigos” que de fato envolvem confiança é colocado num modelo sistêmico, pois a vê como distintas do modelo de “crença baseada em conhecimento indutivo fraco”, o também é uma crença, o problema é justamente coloca-la em diálogo com a tradição para emergir o novo.

Vê o conhecimento com um “poder diferencial” com alguns indivíduos ou grupos mais aptos para adquiri-los, mas o processo de mundialização do conhecimento não é o inverso ?

Estamos de acordo com o poder dos valores e o impacto das consequências não pretendidas, conforme seu conceito que “à vida social transcende as intenções daqueles que o aplicam para fins transformativos”, não seria justamente isto a questão da consciência histórica ?

Sua hermenêutica dupla, que a vê como “a circulação do conhecimento social” que deve ser aplicado “reflexivamente” alteraria as circunstâncias originais, é puro romantismo.

Vai fazer alusões ao sua categoria-chave que é a globalização, com alguns enfoques diferentes de outros autores, mas dentro da visão fechado dos que seguem o modelo de sistema, não por acaso começa com considerações sobre McLuhann.

sem considerar o paradoxo do neo-positivista Kurt Gödel que afirmava que o sistema já tem suas contradições internas e só pode ser provado como verdadeiro por uma asserção externa, no caso da pós-modernidade que já é a externa, devemos dialogar com a tradição para que seus conceitos-chave: liberalismo, capitalismo, estado, lógica, legalidade, entre muitos outros, sejam feitos não apenas em uma dupla hermenêutica, mas numa hermenêutica aberta onde os pré-conceitos de qualquer hermenêutica “fechada” possa ser superada.

 

Confiança o que é ?

08 ago

Conforme dissemos o tema da confiança é um tema recorrente na pós-modernidade, Confiançamas o que de fato ela significa, porque exatamente este tema entrou neste  tempo de mudanças?

As respostas de Giddens (1991) são muito relevantes e trazem boas reflexões, a partir da página até a página 65 que lemos em duas etapas, primeiro 9 questões da confiança:

1 – Ela está relacionada a uma ausência no tempo e no espaço, embora alguns autores deem preferencia ao tempo (O ser e o tempo, por exemplo) e outros ao espaço (os movimentos ocupa-se e os pensamentos do “engagement”).  Esclarece: não haveria necessidade de se confiar em alguém se suas atitudes e seus processos de pensamentos fossem visíveis.

2 – A confiança está “basicamente vinculada” à contingência e não ao risco como pode-se supor, ou seja, deve-se dar credibilidade em face de resultados contingentes, seja em relação a ação de indivíduos ou de sistemas.

3 – A confiança é diferente da fé em uma pessoa ou sistema, ela é o que deriva desta fé, assim tem pouca fé quem pouco confia, é o elo entre fé e crença, conforme Giddens, é isto que a distingue do “conhecimento indutivo fraco”, pois em certo sentido ela deve ser “cega”.

4 – O autor fala em confiança em fichas simbólicas ou sistemas peritos, mas claro que isto não se baseia na fé, pode ser de uma certa fé em sistemas, mas “diz respeito antes ao funcionamento apropriado do que à sua operação enquanto tal”, aqui enganam-se muitos.

6 – Na modernidade, a confiança existem em contextos: a) consciência geral da atividade humana, b) escopo transformativo amplamente aumentado da ação humana, pelas instituições modernas, Mas o conceito de risco substitui o de fortuna, mas não quer dizer que os pré-modernos não tinham noção de risco ou perigo, apenas que as causas naturais e o acaso substituíram as cosmologias religiosas, leia por exemplo “Acaso e caos” de David Ruelle, embora noutro contexto.

7 – Risco e perigo estão intimamente ligados, mas não são o mesmo, o risco pressupõe o perigo, mas o perigo é um risco mal calculado e inconsequente.

8 – Risco e confiança se entrelaçam, a confiança serve para reduzir ou minimizar os perigos.

9 – O risco não é uma questão individual, existem “ambientes de risco” e a tradição ou o termo que prefiro usar “a cultura originária” é um modo de integrar e monitorar a ação espaço-temporal de uma comunidade.

Não pulei a quinta não, apenas foi para ressaltar é possível como diz o autor, neste ponto “uma definição” que é a “crença na credibilidade” de uma certa pessoa ou sistema, tendo em vista “o conjunto dos de resultados e eventos”, claro isto é envolto de “amor” ou “princípios”.

Aqui entendemos porque é pós-moderno, pois isto deve pressupor valores e voltaremos a isto.

 

Pós-modernidade e confiança

07 ago

O livro de Anthony Giddens que se refere Às consequências Modernidade analisepós-modernismoPt que o  “estilo, costume de vida ou organização social que emergiram na Europa a partir do século XVII e que ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em sua influencia” (Giddens, 1991, p. 17-20) aprofunda o tema sobre a (in)existência de uma  “pós-modernidade” que não tem a menor importância, pois é apenas uma questão terminológica, já que sabemos que a modernidade passou, e que hoje não basta inventar novos termos para a compreensão dos fenômenos sociais, mas dizer o que de fato é a própria natureza da Modernidade.

Entre os diversos tópicos abordados ali um é assunto recorrente em minhas leituras, que é o o ritmo da mudança da era da Modernidade e o escopo da mudança, pois já algumas das transformações sociais penetram virtualmente no mundo todo e com isto a natureza intrínseca das grandes instituições modernas, sem nenhuma correspondência em períodos históricos anteriores, já acontecem como por exemplo “o sistema político do Estado-nação, a dependência por atacado da produção de fontes de energia inanimadas, ou a completa transformação em mercadoria de produtos e trabalho assalariado”, uma vez que idealistas como Hegel pretenderam que estas instituições fossem “eternas”.

Um segundo relevante é a relação com o conhecimento, para ele “o conhecimento sociológico espirala dentro e fora do universo da vida social, reconstituindo tanto este universo, como a si mesmo como uma parte integral deste processo” (Giddens, 1991, p. 24) como quer o cientificismo moderno, mas parece também estar em cheque.

O terceiro tema particularmente importante, é o tema da confiança, já tratado em autores como Nicklas Luhmann e Talcot Parsons , afirma Giddens citando a definição de confiança feita pelo Oxford English Dictionary, que esta seria compreendida como “crença ou crédito em alguma qualidade ou atributo de uma pessoa ou coisa, ou a verdade de uma afirmação” (GIDDENS, 1991, p. 38).

Giddens adverte a mudança deste tema para o de sistemas, como no caso de Luhmann, onde:

“Um dos significados disto, numa situação em que muitos aspectos da Modernidade tornaram-se globalizados, é que ninguém pode optar por sair completamente dos sistemas abstratos envolvidos nas instituições modernas. Este é mais obviamente o caso de fenômenos tais como o risco de guerra nuclear ou de catástrofe ecológica.” (GIDDENS, 1991, P. 88).

Tanto a ideia crença como a de crédito , para o autor, estão vinculadas de algum modo à ideia de fé.

O próprio Giddens esclarece que Luhmann distingue fé e confiança, ressaltando que esta deve ser compreendida especialmente em relação ao risco, um termo originado a partir da época moderna.

Sem concluir o que entende-se por confiança ainda, pós-modernidade refere-se, na visão de Giddens ao processo em que: “todos os fundamentos preexistentes da epistemologia se revelam sem credibilidade; que a história é destituída de teleologia e consequentemente nenhuma versão de progresso pode ser plausivelmente defendida; e que uma nova agenda social e política surgiu … “ (GIDDENS, 1991, P. 36)

GIDDENS, Anthony. As conseqüências da Modernidade. Tradução de Raul Fiker. São Paulo: Unesp, 1991.

 

O vazio e a transfiguração: espiritual ou existencial

04 ago

A transcendência de Kant e de todo idealismo não é senão a negação existencialTransfiguraçãoJesus do objeto, ou diríamos no raciocínio de Husserl o objeto-no-mundo, sua mundialidade, mas o que acontece nessa variação entre minha percepção e o mundo ?

Segundo Husserl, os objetos do mundo se apresentam sob vá-rias perspectivas (Abschattungen), assim uma cadeira diante de mim pode ser apreendida sob diversas variações de perfil (Abschattung).

Para apreender conforme a epoché, o objeto deve ser submetido às diversas variações possíveis de perfil no intuito de se apreender a essência desse mesmo objeto, isto é, aquilo que permanece inalterado no mesmo, e isto é sua redução fenomenológica (epoché) ou um depurar do fenômeno a fim de se alcançar o objeto com total evidência, a essência do fenômeno, ou seja seu eidos (de onde veio a ideia moderna), mas esta variação é objetiva e subjetiva ao mesmo tempo, a isto chamou de variação “eidética”.

Chegamos então a epoché, o fazer um vazio completo usando a redução transcendental, onde mergulhamos num estado que pode parecer uma perda da consciência do mundo real, mas ao contrário de tornar o fenômeno mais problemática, ao re-apresentar o fenômeno de maneira transcendente, ele é mais consciente, mais evidente.

Na passagem bíblica da transfiguração, onde Jesus aparece “transfigurado”, os apóstolos queriam ficar ali pois o mundo “eidético” (ao lado apresentamos o belo quadro de Giovanni Bellini que representa a figura, vemos a Trindade tendo Jesus ao centro e duas figuras mais velhas ao lado, porque a razão idealista é incapaz de tornar-se verdadeiramente eidética, isto é, ver a mesma pessoa em três perfis, e mais grave, uma humana, uma sumamente divina e feliz a terceira não é nem uma pomba nem um fogo, mas outra figura humana, o renascentista Bellini não era ainda um idealista (veja ao fundo um camponês em sua vida normal), mas ainda havia nele o dualismo céu e terra, os apóstolos queriam permanecer ali, mas Jesus quer descer do monte Tabor e volta a terra:

O evangelho de Mateus diz que Pedro pensava tratarem-se de três pessoas bíblicas, ao afirmar: “Pedro tomou a palavra e disse: ‘Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés, e outra para Elias. Pedro ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra … saiu uma voz que dizia: Este é meu filho amado … “, humano e transcendente, precisaram de concílios para estabelecerem a natureza divina e humana de Jesus, mas a Trindade é ainda `oculta´ para os que apenas só divinizam ou humanizam Deus, os sujeitos e objetos, então o “mundo relacional” continua complicado, eis a crise cultural e espiritual do mundo moderno, mas relação com o objetivo e subjetivo.