Arquivo para agosto 1st, 2017
A importância da fenomenologia
A importância da fenomenologia de Husserl, é que realizou de uma só vez a crítica ao psicologismo, através de seu posto mais avançado de seu mestre Franz Brentano, ao relativismo característico de nosso tempo e da modernidade e ao historicismo, em um trabalho pouco conhecido de J.F. Lyotard) ele frisou: “a esperança cartesiana de uma Mathesis universalis renasce em Husserl” (1957, p. 6), ainda que Lyotard mais tarde o critique.
O tema da epoché não é retornar a um retorno ao tema clássico da antiguidade, mas aquilo que chamou de “tese de um pressuposto: o homem está mergulhado em uma espécie de ´tese geral, isto é, uma compreensão implícita do mundo; o mundo é então essencialmente familiar ao homem, e, é dentro desta naturalidade que pretende-se dizer o que é conhecer o real:
“Eu tenho consciência de um mundo que se estende sem fim no espaço, que tem um desenvolvimento sem fim no tempo … descubro [o mundo] por uma intuição imediata, tenho experiência dele.” (1991, p. 37)
Ele entende por atitude natural, aquela que não cessa “de realizar o mundo como ontologicamente válido … Minha vida em todos os seus atos é de parte a parte orientada ao ente que pertence a tal mundo, … são interesses por coisas do mundo, realizando-se em atos que concernem a essas coisas, enquanto elas são correlato de minha intenção.” (1989, p. 519).
Então é sobre esse “ser no mundo” (Husserl foi aluno de Heidegger e sua expressão é anterior), é um Selbstverständlichkeit, e isto não pode ser posto em dúvida, então como se realiza seu epoché ? é tornar-se cético e como isto como a abstenção ante a inconstância no “espetáculo do mundo”, ou o que Husserl definiu como “distância em relação às validações naturais ingênuas” (Husserl, 1989, 154), mas esclarece que não é a “crítica ao conhecimento”.
A consciência do meio natural como uma “realidade existente” (daseiende: talvez daí Heidegger tirou seu dasein), mas ele questiona a duração dessa atitude: “É algo que persiste tanto quanto dura a atitude, isto é, tanto quanto a vida da consciência vigilante segue seu curso natural” (Husserl, 1991, p. 96).
O importante e isto está em seu opúsculo Meditações Cartesianas, não se trata de estabelecer uma “dúvida universal” pois não põe o ser em dúvida, mas somente os seus atributos, assim assume tensões universalistas, e agora é a fenomenologia que pode, com propriedade, ser concebida como transcendental, uma vez que permite por epoché uma “alteração total da atitude natural da vida” (Husserl, 1989, p. 168), colocando em cheque a objetividade como tal.
A epoché é então “uma certa suspensão do ulgamento que se compõe com uma persuasão da verdade que permanece inabalada” (Husserl, 1991, p. 100)
Ao operarmos esta epoché original, já o estudo de Lyotard sobre fenomenologia me 1956 também apontava isto, mostra a insuficiência que o procedimento radical de Descartes como dúvida tinha limitações, dito por Husserl assim:
“sendo dado que toda tese ou todo julgamento pode ser modificado com plena liberdade, e que todo objeto sobre o qual refere-se o julgamento pode ser posto entre parênteses, não permaneceria margem para julgamentos não modificados, ainda menos para uma ciência.” (Husserl, 1989, p. 102).
HUSSERL, E. La crise des sciences européennes et la phénoménologie transcedentale. Trad. G. Grande. Paris: Gallimard, 1989.
HUSSERL, E. Idées directrices pour une phénoménologie. Trad. Paul Ricoeur. Paris> Gallimard, 1991.