Arquivo para agosto 11th, 2017
Confiança, fé e autonomia
Conforme estabeleceu Giddens, há um limite entre a fé e a confiança, mas fatalmente quem tem confiança precisará de algum “tipo” de fé para ampliar sua segurança e com isto sua autonomia, sem que ela desande para o individualismo ou isolacionismo.
É possível então qualificar a fé, recorramos aos místicos, e como civilização ocidental-cristã a figura de Jesus, a passagem em que caminha sobre as águas assustando seus discípulos que acham que é um fantasma, é bastante ilustrativa e pode nos dizer algo da fé, está assim em Mateus 28 a 30:
Então Pedro lhe disse: “Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água”.
E Jesus respondeu: “Vem!” Pedro desceu da barca e começou a andar sobre a água, em direção a Jesus.
Mas, quando sentiu o vento, ficou com medo e, começando a afundar, gritou: “Senhor, salva-me!”
Mesmo um de seus principais discípulos após achar que era um fantasma, reconhece-lo e desejar andar sobre as águas afunda, faltou confiança, fé e principalmente autonomia.
O fato que seguidores de diversas correntes místicas tenham pouca autonomia os torna um pouco infantís, e dependentes de quase tudo do mestre, por isto é que muitas vezes morre o mestre, morrem os discípulos, mas Jesus não morreu … é outra história, e será preciso outro tipo de fé, embora muitos proclamem o Deus vivo, apresentam-no morto.
Um qualificador importante para a fé é sua irmã-gêmea a esperança, e ambas são filhas do amor, então a fé deve ter origem em algo que seja amor, precisa distribuir a confiança e o bem desejado com as outras pessoas e com o ambiente, para torna-lo “confiável” então este tipo de fé não é cega, mas uma fé que tem um “agir agápico”, que sana o ambiente.
O fato que a grande maioria dos grupos religiosos funcionam como sistemas fechados e não proporcionem ao ambiente que vivem uma melhoria sensível, primeiro nas relações e depois nas ações, e finalmente na fé; é que as torna um campo minado de preconceitos e maldades, querem ser ouvidos como mestres, mas são pequenos na escuta e na abertura.
Caminhar sobre as águas, a metáfora mais usada é dizer que é um mundo revolto e agitado por injustiças e desamor, não deve se opor a uma fé interior ativa e profunda.
Confia quem tem fé, mas a fé deve partir de uma alma aberta ao mundo e aos outros.