Arquivo para novembro, 2017
Empoderamento, Autonomia e Estado
Magdalena Sepúlveda Carmona (2013) aponta claramente a relação entre emponderamento e pobreza: “A falta de poder é uma característica universal e básica da pobreza. A pobreza não é apenas uma falta de renda, mas sim caracteriza-se por um ciclo vicioso de impotência, estigmatização, discriminação, exclusão e privação material, que se reforçam mutuamente. ”
Emponderamento é algo sobre o desenvolvimento complexo chamado de “fuzzword” (Cornwall, 2007), parecido ao conceito de buzzword que surgiu em torno de novas tecnologias e campos de negócios como o e-commerce, assim como este o “fuzz” permite complexidade de múltiplas interpretações e definições, muitas vezes refletindo a uma predisposição teórica ou ideológica de seus expoentes, mas a ideia é um “fuzzie” de negócios para o mundo civil.
Ibrahim e Alkire (2007) enumeraram 32 definições diferentes, mas sobrepostas deste novo conceito,
Usaremos aqui uma definição baseada em Eyben (2011) que é aceita em muitos documentos internacionais de forças tarefas da ONU, por exemplo, onde:
“O empoderamento acontece quando indivíduos e grupos organizados podem imaginar seu mundo de forma diferente e realizar essa visão mudando as relações de poder que as mantiveram na pobreza, restringiu sua voz e privou-as de sua autonomia”.
A palavra auntomia aqui é importante, porque difere do assistencialismo que dá “esmolas” mas não empondera, pois significa capacitar populações de modo sustentável e irreversível, não basta assistir é preciso que no futuro os indíviduos e pessoas sejam autonomos, isto é e fato “boa gestão” de recursos.
Uma abordagem de capacitação é tanto um fim em si mesmo quanto um meio de erradicar a pobreza e a exclusão em seu sentido mais amplo (multidimensional), isto afirmam desde humanistas profundos até economistas que não veem de modo preconceituoso populações pobres.
As experiências efetivas de empoderamento tendem a envolver num “triângulo mágico”, nome dado em alguns relatórios, onde o ambiente da sociedade civil ativa, funcionários públicos ou líderes políticos comprometidos e mecanismos de aplicação que garantem que estas iniciativas “tenham coragem”.
Isso significa que a organização da sociedade civil no seu conjunto é um ativo e sua fraqueza ou ausência é um problema. Os governos precisam nutrir organizações independentes e ativas da sociedade civil e proteger o espaço em que podem operar.
A boa notícia é que a história parece estar firmemente do lado do empoderamento, como o alargamento e o aprofundamento globais dos direitos humanos, ainda que tenhamos retrocessos conservadores, a criação dos sistemas que superem áreas de vulnerabilidade e os programas sólidos de economias mais criativas é o futuro.
CARMONA, M. S. 2013. Report to the UN Human Rights Council of the Special Rapporteur on extreme poverty and human rights. United Nations General Assembly.
CORNWALL, A. 2007. Buzzwords and Fuzzwords: Deconstructing Development Discourse. Development in Practice, 17, 471-484.
EYBEN, R. 2011. Supporting Pathways of Women’s Empowerment: A Brief Guide for International Development Organisations. Pathways Policy Paper. Brighton: Pathways of Women’s Empowerment RPC.
IBRAHIM, S. & ALKIRE, S. 2007. Agency and Empowerment: A proposal for internationally comparable indicators. OPHI Working Paper Series.
Emponderamento civil e Estado
Hoje é dia da República no Brasil, que perspectivas podemos ter em termos de um Estado moderno ?
Um dos raros autores a tratar o empoderamento da sociedade é David John Framer que pensa a distribuição do poder governamental em favor da cidadania, não se trata de uma concessão do governante ou uma benesse que é dada a sociedade, é a força de reconhecer a incapacidade do Estado para sociedade promover soluções em ambientes de alta complexidade, que é característica da sociedade moderna.
A abertura à democratização das funções administrativas não é uma novidade absoluta do direito brasileiro, a experiência mais notória de deu a partir da Constituição de 88 com Conselhos em vários sistemas administrativos relacionado ao desenvolvimento dos serviços sociais, mas chamo a atenção a Constituição da Islândia feita por crowdsourcing e promoveu uma limpeza no país, no falimento de 2008.
Para se identificar a matriz teórica que esta iniciativas de governanças começaram a surgir, é fundamental para retificar os vícios identificados nos já quase 30 anos desta constituição, seja pelos bloqueios que se fizeram dentro destes novos modelos, do tipo “bloquear a pauta” e impedir avanços quando o determinado partido está no poder, quer por incompreensão da sociedade do modelo proposto.
Se tratam de iniciativas que devem partir da sociedade, não apenas a participação consentida ou de determinado matiz ideológico, mas o conjunto da sociedade devem sentir a governança, o deferimento ao que seja a compreensão do que é a democracia, da qual trata Bobbio (2000, p. 386) naquilo que chama de “poder em público”, a sociedade deve ser a promotora de um modo de decidir coletivo, isto que poderia ser chamada de uma abertura dentro da abertura democrática, ou amadurecimento democrático da sociedade brasileira.
Não é Estado mínimo, com menos poder, incapaz de alterar processos administrativos e judiciais que levem a sociedade a um ponto mais justo e transparente.
FRAMER, D. J. The languagem of public administration, Bureaucracy, modernity and posmodernity. USA: The Universidade of Alabama Press, 1995.
BOBBIO, Norberto. Teoria geral da política. A filosofia política e as lições dos clássicos. Trad. Daniela Beccaccia Versiana, 9ª. Imp. RJ: Elsevier, 2000.
Questões administrativas do Brasil
A já afirmada incompetência do Estado para cumprimento de seus deveres no campo da garantia aos direitos fundamentais, com alternâncias de propostas de modelos para boa administração em situações de regimes jurídicos justos, parecer ser ideia nova, mas não é.
O problema de nosso novo milênio é velocidade própria de surgirem soluções salvadoras, que não se permitem às ideias dos benefícios conquistados ao longo dos tempos, tanto para a aplicação correta das ideias, quanto para a avaliação justa do que foi feito.
O estado não admite um manual de “boas práticas” porque ele muda com o tempo e de acordo com o contexto social, e neste aspecto não se podem negar a influência das novas mídias que impulsionam as redes sociais para o bem e para o mal, por isto os Tribunal Eleitorais e também os sistemas de governança devem admitir novas “práticas”.
A Era Vargas por exemplo, propunha-se a consolidar uma nova configuração do aparelho de Estado, criar novas instituições como a manifestação das bases da formação da sociedade brasileira, é de Lustosa da Costa (2008, p. 843)
É de García de Enterría (1998) a indicação da importância do período pós-Revolução de 1930, para consolidar nova configuração ao aparelho do Estado, ao criar novas instituições como manifestação das bases da formação da sociedade moderna, onde a regulação jurídica, seria um instrumento de contenção do poder e de estabelecimento de uma potência governamental ativa, forte e universal, capaz de concretizar o projeto de reestruturação de sociedade.
Na verdade, o impulso ao capitalismo industrial, associado ao prestígio ao racionalismo, resultou em um ambiente que demandava da nova burocracia “…uma função econômica essencial: a coordenação das grandes empresas produtoras de bens e serviços, fossem elas estatais ou privadas…” conforme afirma Bresser Pereira (2001), mas que só iria se concretizar com o apoio americano no período de esforça de guerra “dos aliados” com a Companhia Siderurgia Nacional, criada em apoio aos americanos na II Guerra Mundial.
O desenvolvimentismo, entretanto, viria no início da gestão de Juscelino Kubitschek encontra a proposta de reforma administrativa, originária ainda do período Vargas, que depois criou neste governo a Comissão de Estudos e Projetos Administrativos (CEPA), que era “paralela”.
O nome “paralela” foi dado por Lima Junior (1998) para o projeto “50 anos em 5”, onde as autarquias, sociedade de economias mistas e outras estruturas em choque com o Congresso.
As ações administrativas de seu projeto de “50 anos em 5” de Juscelino, reservando-se a atuação executiva propriamente dita às autarquias, sociedades de economia mista e outras estruturas, num emprego daquilo que Lima Junior (1998, p. 10) qualifica como verdadeira “administração paralela”.
Pulamos o Regime Militar, merece uma discussão a parte devido a ditadura e pouco diálogo, no início do governo José Sarney, a Nova República, a pensada nova Lei Orgânica da Administração Pública Federal, para substituir o Decreto-Lei 200/67, e implantar-se ainda a Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), de nítida inspiração francesa.
A compreensão do que é o estado, o tipo de Administração Pública que se queria no Brasil redemocratizado envolveu uma prévia compreensão do modelo de Estado que nele se pretendia ter, na perspectiva da Lei Maior de 1988, a chamada Constituição Cidadã.
GARCÍA DE ENTERRÍA, Eduardo. Revolución Francesa Y administración contemporânea. 4ª ed., Madrid: Civitas, 1998.
LIMA JUNIOR, Olavo Brasil de. As reformas administrativas no Brasil: modelos, sucessos, fracassos. in Revista do Serviço Público, Ano 49, Número 2, abr-jun 1998, p. 5-32.
LUSTOSA DA COSTA, Frederico. Brasil: 200 anos de Estado; 200 anos de administração pública; 200 anos de reformas. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro 42(5):829-74, set/out. 2008,Disp em: < http://www.scielo.br/pdf/rap/v42n5/a03v42n5.pdf> Acesso: nov 2017
“Paradise papers” e a corrupção mundial
Depois do SwissLeaks (veja nosso post) e do Panamá papers (outro post), agora surgem os novos paraísos fiscais em ilhotas pelo mundo, denunciados como “Paradise papers”.
A denúncia, que envolve a rede de Jornalistas Investigativos de mais de 80 países, denuncia fraudes fiscais com base no vazamento de 13.5 milhões de documentos financeiros, vindo de um escritório internacional de advocacia com sede nas ilhas Bermudas, o Appleby, que foram primeiro obtidos pelo jornal alemão Suddeustsche Zeitung.
Entre as personalidades mundiais estão a Coroa Britânica, a cantora Maddona e o campeão mundial de formula 1 Louis Hamilton, mas aparecem os ministro Henrique Meirelles da Fazenda e o ministro Blairo Maggi da agricultura, além do empresário Paulo Leman. Dono da Ambev, a marca Heinz e a rede de lanchonetes Burger King.
Segundo o relatório pessoas ligadas a Trump como o secretário do comércio Wilbur Ross, e ligadas a Putin da Rússia, como seu genro, além de mais de 100 corporações multinacionais, tais como Apple, Nike e Uber, fogem de impostos por manobras contábeis habilidosas.
Ter dinheiro em paraísos não significa atos de corrupção, mas o fato de buscar paraísos fiscais com baixa tributação, e usar empresas “offshore” (ao pé da letra fora das costas, quer dizer sem muita fiscalização) pode ser um indício de evasão de divisas e também corrupção.
As informações detalham movimentações financeiras de mais de 120 mil pessoas desde 1950 e 2016, segundo a BBC de Londres não é um vazamento, mas uma enchente.
Parafraseando um jornalista, “é preciso passar o mundo a limpo”, deve emergir uma nova cidadania planetária que não suporte mais isto, e segundo análise de Big Data no Brasil, a palavra corrupção foi a mais citada este ano aqui, talvez seja o “ano da corrupção”.
Verdade e Prudencia
A parábola das virgens prudentes fala da atenção que devemos ter a verdade e devemos zelar por ela, e o zelo é a eterna vigilância, no caso da hermenêutica é não se distanciar da reformulação e interpretação de nossos pré-conceitos, que não significa abandonar os princípios, isto é, estar diante da Verdade.
É como diz a parábola (Mt 25,1-2) “Reino dos Céus é como a história das dez jovens que pegaram suas lâmpadas de óleo e saíram ao encontro do noivo. Cinco delas eram imprevidentes, e as outras cinco eram previdentes Reino dos Céus é como a história das dez jovens que pegaram suas lâmpadas de óleo e saíram ao encontro do noivo.
Cinco delas eram imprevidentes, e as outras cinco eram previdentes.” e não sabiam a hora que o noivo ia chegar, assim quando este chega querem emprestar das prudentes.
O Círculo Hermenêutico é uma boa dica para a prudência, o diálogo (no círculo o Texto) para a compreensão parte de um pré-figuração (ou pré-conceitos), deve por uma distanciação positiva (se não escutar e abrir-se torna-se negativa) suspender julgamentos e pela explanação do Outro (o falante ou o autor do Texto) promover novos insights e novas possibilidades de relacionamento, chegando então a apropriação do texto e do discurso em nova configuração.
A possibilidade de uma grande transformação nos relacionamento entre o Mesmo e o Outro promove uma nova transformação levando uma nova compreensão.
A sabedoria não é fruto de um ego inflado, de bolhas de “sabedoria” e nem de pílulas de sapiência, é fruto de relações realmente humanas e só elas leva a VIDA, a boa CULTURA e a BOA POLÍTICA, enfim a nova sociedade.
Compreensão e Hermenêutica
A compreensão leva a sabedoria e certamente sabedoria é o oposto de ignorância, mas é possível uma sabedoria que brote da tradição e da vivência sábia, porém mesmo estas deverão ter presentes interlocutores que mergulharam em pensamentos e reflexões de outros, e que estes leram em algum lugar a tradição e os problemas da humanidade.
A ideia que apenas em um livro exista toda sabedoria é refutada até mesmo pelo filósofo cristão Tomás de Aquino com sua famosa máxima; “desconfie do homem de um livro só”, também Marx foi ler a economia “capitalista” de Adam Smith e Ricardo para escrever seu famoso “O capital”, mas é preciso dizer que poucos leem a Bíblia, o Capital, ou qualquer outro livro de referência básica ao pensamento de “tradição” que afirmam ter.
Edmund Husserl, Martin Heidegger, Hans-Georg Gadamer, Emmanuel Lévinas, Paul Ricoeur, Edgar Morin e muitos outros atestam que há uma crise no pensamento, ao menos no pensamento ocidental, pois há pouca leitura e aprofundamento no pensamento do mundo árabe e do oriental, o africano é quase incógnito.
Outra ideia é a de reduzir a cultura a ideologias, sendo que o exercício delas é na maioria das vezes submeter as culturas ao seu esquema de pensamento, Paul Ricoeur escreveu “a ideologia é esse menosprezo que nos faz tomar a imagem pelo real, o reflexo pelo original” (Ricoeur, 2013, pag. 84) e esta talvez seja o maior confucionismo de nosso tempo.
Sabedoria envolve compreensão, e a hermenêutica é a ciência da compreensão, porque envolve interpretação, superação de pré-conceitos, compreensão e diálogo e revisão d conceitos, o assim chamado círculo hermenêutico, cuja elucidação é feita por Gadamer.
Ainda que Gadamer o veja como preso a um historicismo romântico, Dilthey identificou três classes de compreensão: a primeira que ele chama de “juízos e as formações do pensamento maiores”, relacionada a ciência que inclui tanto as naturais como as ciências humanas, são exemplos um livro texto de biologia ou de matemática, mas também pode incluir conceitos como gravidade e outros presentes no senso comum; o segundo é a experiência vivida e são estas que levam as ações mas deveriam passar pelas primeiras, chama isto de nexo vital.
Exprime sobre a segunda como “tirando a elucidação de como uma situação, um propósito, um meio e um nexo vital se interseccionam numa ação, ela não permite nenhuma determinação inclusiva da vida externa da qual surgiu”.
A terceira a mais essencial são as expressões da experiência vivida, dita assim por Dilthey: “Uma expressão da experiência vivida pode conter mais nexo de vida psíquica do que qualquer introspecção pode perceber”, assim em parte ocorre devido a aspecto da compreensão que ainda não se percebe, penetrar nisto leva a um círculo hermenêutico voltando a juízos e formações maiores, embora Dilthey não tenha formulado assim, seria o círculo hermenêutico.
DILTHEY, W. Obras escolhidas – vol. 3 A fundação do mundo histórico nas ciências humanas, 2002.
RICOEUR, P. Hermenêutica and Ideologias, 3ª. Edition, São Paulo: Vozes, 2013.
Conhecimento e compreensão
Quando a informação está em nossa mente ela se torna conhecimento, mas nem sempre isto significa compreensão, repetir máximas (ditados, belas frases, etc.) não significa que temos conhecimento, porque a informação não passou pela etapa da compreensão.
Isto não é uma patologia moderna, ou simplesmente que a TV, a Internet ou algum vírus invadiu nossa mente e nos prejudicou a capacidade de conhecer, ainda que algumas pessoas possam ter dificuldades, alguém com Alzheimer ou uma criança dispersiva, porém tenho a impressão que o chamado “déficit de atenção” foi longe demais, e é um fator social que torna algo difícil de compreender, na Alemanha e a na França, há sempre um assistente social de plantão e não um médico ou farmacêutico para ministrar remédios às crianças.
Um dos problemas graves de nosso tempo, alerta Edgar Morin, é que estamos acostumamos a acreditar que pensamento e prática são compartimentos distintos da vida, ou de maneira mais grave ao pensamento já estruturado, o mundo da teoria e o da prática.
Assim para ideólogos significa que quem pensa o mundo não faz o mundo e vice-versa.
Porém se olharmos ao longo da história houve um tempo em que os sábios, eventualmente chamados de cientistas ou artistas, circulavam por diversos campos da cultura. Matemática, física, arquitetura, pintura, escultura eram matéria-prima do pensamento e da ação, também relembrou Morin em uma palestra em 2015 no Brasil, no Programa Milênio.
A revolução industrial derrubou a ideia do saber renascentista e, desde o século 19, a especialização foi ganhando força e nos esquecemos de religar os saberes, um apelo de Morin para a educação.
Perguntado como ensinar e o que é conhecimento, Edgar Morin respondeu: “Eu proponho, no ensino, a introdução de temas fundamentais que ainda não existem. Quer dizer, proponho introduzir o tema do conhecimento, pois damos conhecimento sem nunca saber o que é o conhecimento. Mas, como todo conhecimento é uma tradução seguida de uma reconstrução, sempre existe o risco do erro, o risco de alucinações, sempre.”
Quantas nas áreas das ciências, das tecnologias e que é mais lamentável na área das patologias, nunca se viu tantas patologias, classificar as pessoas segundo patologias não é senão a forma patológica mais grave, vê-se só o mundo cinzento, não há luz e nem esperança.
Questionado sobre as ferramentas que surgiram nas últimas décadas, entre elas o mundo digital, Morin respondeu: “Antes de mais nada, é verdade que informação não é conhecimento. Conhecimento é a organização das informações. Então, estamos imersos em informações e como elas se sucedem dia a dia, de certa forma, não temos como ter consciência disso. De outra parte, os conhecimentos, como eu disse, estão dispersos. É preciso uni-los, mas falta esse pensamento complexo.”
O simplismo é a forma mais desorganizada de conhecimento, é o reducionismo, é ver a vida e os homens sem toda beleza que há neles … portanto, não é simples assim (expressão muito usada).
Informar, conhecer e saber
Em tempos de crise cultural, a informação é abundante e nem sempre verdadeira, o conhecimento é limitado e a sabedoria escassa.
Embora seja do senso comum que para conhecimento é necessário informar, pouco se sabe sobre o que é informação, e o pouco conhecimento tempo pouca chance em tornar-se sabedoria, então transbordam as “máximas” (frases feitas deslocadas de contexto), a autoajuda (nome impróprio para o autoconhecimento) e o fundamentalismo, miséria da filosofia.
Há muitas possibilidades para a informação, mas se a considerarmos como presente na vida dos seres, então uma definição encontrada no Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa que remete a origem da palavra no latim informatio (delinear ou conceber ideia) entende-se como dar forma ou moldar na mente, onde ela se in-forma, passando a informação a ser ontológica (exemplo acima).
Porém este formato seja na língua, linguagem ou em alguma forma de signos esta informação já existe, e esta relação está tem uma raiz semiótica dado por Beyno-Davies onde o conceito multifacetado de informação é explicado em termos de sinais e de sistemas de signos-sinais.
Para ele há quatro níveis interdependentes, ou camadas da semiótica: a programática, a semântica, a sintaxe e o empírico (ou experimental que prefiro pois não é empirismo).
Enquanto a Pragmática está preocupada com o propósito de comunicação, a Semântica se preocupa com o significado de uma mensagem transmitida em um ato comunicativo (que gera uma ontologia) e a Sintaxe está preocupada com o formalismo utilizado para representar uma mensagem.
A publicação da dissertação de Claude Shannon, em 1948, intitulada A Mathematical Theory of Communication é uma das fundações da teoria da informação onde a informação não somente tem um significado técnico mas também de medida, podendo ser chamada de sinal apenas.
Foi Michael Reddy que observou que “‘sinais’ da teoria matemática são “padrões que podem ser trocados”, neste sentido são códigos, onde a mensagem contida no sinal deve expressar a capacidade de “escolher dentre um conjunto de mensagens possíveis”, não tendo significado único, pois precisa ser “decodificada” entre as possibilidades que existem.
Deve ter certa quantidade de sinais para poder superar a incerteza do sinal transmitido, será conhecimento se a relação entre sinal e ruído (presente na codificação e transmissão do sinal) for relevante e o grau de entropia não tiver destruído o sinal transmitido.
A teoria da comunicação analisa a medida numérica da incerteza de um resultado, por isso tende a usar o conceito de entropia da informação, geralmente atribuído a Claude Shannon.
O conhecimento é aquilo que se obtém da informação quando ela transmitida pode ser retida de alguma forma na mente humana, a informação que permite isto é ontológica.
Brasileiros explicam poeira do Buraco Negro
Ao fotografar com telescópios de Infravermelho, em vez de encontraremos um toro (espécie de rosquinha circular), os pesquisadores S. F. Hönig, M. Kishimoto, M. A. Prieto, P. Gandhi, D. Asmus, R. Antonucci, L. Burtscher, W. J. Duschl e G. Weigelt, encontraram uma poeira que era empurrada para longe do buraco negro na forma de um vento, indicando um fenômeno novo e desconhecido pela física, a publicação foi feita no Astrophysical Journal em 2013.
A astrofísica brasileira Thaisa Storchi Bergmann da UFRGS, muita citada em inúmeros artigos, que já havia encontrado o buraco negro supermassivo na galáxia NGC 1097 fonte dos inúmeros trabalhos posteriores, já alertava que a Teoria dos Buracos Negros poderiam ter equívocos, uma vez que haviam evidências da presença de uma nuvem achatada, com um formato anelar, composta de plasma (prótons e elétrons) e hidrogênio girando a 10 mil quilômetros por segundo (km/s).
A brasileira recebeu inúmeros reconhecimentos e prêmios por seus trabalhos.
Agora dois brasileiros, em trabalho publicado em julho de 2017 na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, os astrônomos brasileiros João Steiner e Daniel May, ambos do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, concluíram contrariando o senso comum, que os buracos negros expulsam boa parte do gás que fica no centro das galáxias ao invés de engoli-lo, e localizaram com maior exatidão como é feito.
Os astrônomos mostraram que o vento é formado em dois estágios. No primeiro estágio, a forte radiação eletromagnética proveniente do disco na vizinhança do buraco negro (vento primário) impactando o toro de poeira localizado a três anos-luz do buraco negro, que evapora o toro expulsando o gás nele contido.
O segundo estágio é mais violento, ocorre quando o vento primário e um poderoso jato de partículas, colimado por um forte campo magnético central, atinge uma grande nuvem de gás molecular (composto principalmente de moléculas de dois átomos de hidrogênio) localizada a 100 anos-luz de distância do buraco negro, ainda no centro da galáxia (que tem um diâmetro de 100 mil anos-luz).
Aos poucos o buraco negro, desconhecido pela ciência, vai ficando mais “claro”.
Complexidade, simplificidade e pureza
Parecem contraditórios em tempos de crise, mas não é, na verdade o reducionismo é a tentativa de reduzir o humano, o natural e toda a complexidade da vida em verdades dogmáticas e por isso nada simples e nada puras, porque simples não é simplificidade por desconhecimento ou preconceito.
O Complexo é justamente entender que cada pessoa, o conjunto da sociedade, cada ser da natureza e o conjunto do universo se relacionam, interagem num todo complexo e que tudo isto é simples se estiver abertos ao Outro, à Natureza e a TodosUniverso que nos rodeia.
Encontramos nas pessoas mais simples, a complexidade da vida e a sabedoria que penetra nas revelações mais profundas da Natureza e do Universo,
Mahatma Gandhi afirmava que se toda literatura ocidental se perdesse e restasse só o Sermão da Montanha, nada se teria perdido, e ele não era cristão.
Einstein afirmava que era mais fácil quebrar um átomo que um preconceito, pois é na complexidade da formação e do pensamento humano que encontramos muitos problemas, maiores em tempos em que a modernidade quer se afirmar diante de valores já decadentes: sua moral, seu modelo de estado, de harmonia social e de visão de mundos estão em cheque.
Dentre as bem-aventuras que nada mais são narradas no texto bíblico de Mateus , todas bem-aventuranças são importantes, porém duas nos remetem diretamente ao centro da revelação que são: Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a face e Deus e Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus, pois ambas nos colocam diante de Deus: de sua face e como sua filiação.
Em momentos de tanta malícia, de confianças cada vez maiores que geram divisões e confrontos, a pureza (que não é ingenuidade reducionista) é um valor essencial, reclamou Adorno em Minima Moralia, “que mundo é este em que até uma criança desconfia de um presente”, e diríamos do mundo que nem mesmo a justiça a qual deveríamos ter respeito parece não merecê-lo.
Que tipo de paz queremos, que tipo de mansidão queremos (Feliz os mansos porque herdarão a terra), eis a questão que nos é interpelada pelos tempos sombrios que vivemos.
Diversas imagens podemos lembrar de bem-aventuranças na bíblia: o samaritano (que socorre alguém que foi ultrajado), Zaqueu (que era um usurpador e se arrependeu), cegos, viúvas e tantos outros personagens, mas talvez a maior bem-aventurança esteja diante de Madalena, a ex-prostituta que muda radicalmente de vida e torna-se uma das mais fiéis no seguimento de Jesus.
A imagem dela diante da bem-aventurança de ter encontrado seu perdão é a figura (desenho) mais essencial para uma sociedade corrompida e com dificuldades de retomar seu caminho.