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Arquivo para fevereiro 15th, 2018

A antropotécnica e a ascese desespiritualizada

15 fev

Para definir sua antropotécnica, Sloterdijk vai estabelecer a relação das relações dentro das religiõesaoVazio atuais como os mais puros procedimentos antropotécnicos:

“Se reduzimos essas “religiões” às suas características essenciais, surgem três complexos básicos dos quais cada um tem uma relação clara com a dimensão antropotécnica. Primeiro, do lado dogmático: um clube de exercícios ilusionistas, rigidamente organizado, cujos membros no decorrer do tempo estão sendo impregnados com as concepções do milieu. Em seguida, do lado psicotécnico: um roteiro de treinamento para a exploração de todas as chances na luta de sobrevivência. Observamos, por fim, o topo do movimento; podemos ver tudo, mas nenhum “fundador de religião”: na nossa frente está um inescrupuloso, radicalmente irônico, flexível para todos os lados, business-trainer” (Sloterdijk, 2009, p. 168).

Vendo também a Scientologia e o movimento olímpico como religiões, ele usa o conceito de habitus, mas sem deixar de criticar o desenvolvimento feito tanto por Pierre Bourdieu como por Marx, resolvendo o problema de como a base ou a “infraestrutura” social se refletiria na “superestrutura” ou como a concepção geral da sociedade consegue penetrar o indivíduo de forma duradoura, eis o seu habitus feito como um procedimento antropotécnico.

Para atualizar e historicisar seu conceito ele recorre ao conceito de habitus em Tomás de Aquino e de hexis em Aristóteles, que “…descreve um processo aparentemente mecânico sob os aspectos da inércia  da superação para explicar a encarnação do espiritual. Eles identificam o homem como aquele animal que pode o que deve, se alguém se importou em tempo com suas habilidades.” (idem, p. 289).

Segundo o autor ao apresentar sua própria teoria do desenvolvimento cultural, a própria humanidade, apesar do fato de encontrarmos costumes e tradições diferentes em cada momento da sua história, não seguiu o roteiro conservador da identidade, por isto esta questão é falsa, embora seja referencia para muitos autores contemporâneos.

A conclusão sobre esta ascese desespiritualizada é treinamento, deixar-se operar: deixar-se-informar, deixar-se-divertir, deixar-se-servir, deixar-se-curar, deixar-se-transportar, e se este é, para o autor, o ser-aí, sua contraposição não é a negatividade geral, mas deveria ser o epoché geral, o deixar-se esvaziar, pode haver o ser-aí-não-ser que poderia se complementar como onto-antropotécnica, a luz do habitus social, fazendo uma releitura das condições antropotécnicas atuais e capaz de criticá-las, seria um ser esvaziado total, um não-ser-aí que é também ser.

SLOTERDIJK, P. Du musst Dein Leben ändern. Über Antropotechnik. Frankfurt, Suhrkamp, 2009.