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Arquivo para fevereiro 26th, 2018

A desconstrução e a pós-estruturalismo

26 fev

Há sempre no ar uma ideia de que estamos rompendo com valores tradicionais, tornandoaDesconstrução tudo “líquido” ao se desconstruir, mas isto é diferente de demolir ou de simplesmente abandonar valores que pareciam sólidos na modernidade.
A desconstrução no sentido filosófico de Jacques Derridá (1930-2004) só pode ser ligada a ideia da leitura de texto do pós-estruturalismo, e o estruturalismo está ligado a Levy Strauss, e o pós-estruturalismo utiliza as premissas básicas do próprio estruturalismo, além de Derridá pode-se citar Roland Barthes.
Desconstrução no sentido que Derridá deu ao seu pensamento, não pode ser confundido com um conceito ou um método, é justamente a ideia que a objetividade (como um método) não pode ser utilizada para fundamentar a desconstrução, o sentido que parece mais correto é o de uma “estratégia” para ler textos e interpretá-los, por isto a forte ligação com a questão da gramática (uma das principais obras de Derridá é a Gramatologia).
Diz então Derridá sobre sua estratégia (não conceito e nem método): “O que me interessava naquele momento … o que tento continuar agora sob outras vias, é a par de uma ´economia geral uma espécie de estratégica geral de desconstrução … atravessar a fase de um derrubamento [do que chama de dupla ciência] … aceitar essa necessidade é reconhecer que, numa oposição filosófica clássica, não tratamos, com uma coexistência pacífica de um vis-a-vis, com uma hierarquia violência … desconstruir a oposição é primeiro, num determinado momento, derrubar a hierarquia.” (Derridá, 1975, p. 53-54).
Para ele o pensamento metafísico tradicional (eu diria o idealista da modernidade o é mais profundamente) é o logocêntrico, que identifica-o por pares: identidade e diferença (seu principal argumento), razão e sensação, lógica e retórica, masculino e feminino, mas sem dúvida seu principal é a fala e escrita.
Isto é central aqui pois ele trata no fundo da oralidade (bem anterior a modernidade) e a escrita (de Gutenberg para cá), e penetra naquilo que consideramos essencial em ontologia que é a presença, mas seu argumento é diferente dos existencialistas, embora também se oponha a lógica geral como método: “A história da metafísica, como a história do Ocidente, seria uma história dessas metáforas e dessas metonímias (os diferentes nomes que utilizamos para nos referir a um centro ou fundamento estável a partir do qual possamos pensar a totalidade de uma estrutura ou mesmo a realidade em geral].” (Derridá, 1995, p. 231).
Em posições Derridá afirma que a diferância (tradução portuguesa que não é a diferença de outras traduções) é que se deve ligar a sua ideia de desconstrução “a um ponto de ruptura com Afhebung e da dialética especulativa” (Derridá, 1975, p. 56) em oposição clara a ideia na filosofia de Hegel que se pode reduzir um conceito a outro, mas sim há um jogo, a incessante alternância de primazia de um termo sobre o outro, produzindo por isto uma situação de constante indecisão.
Aqui penetra-se no discurso sobre o estruturalismo: “Por oposição ao discurso epistêmico, o discurso estrutural sobre os mitos, o discurso mitológico deve ser ele próprio mitomorfo.” (Derridá, 1971, p. 230) e sobre este discurso o próprio Levy Strauss escreveu: “será acertado considerá-lo [seu livro] como um mito: de qualquer modo, o mito da mitologia” (Lévy-Strauss apud Derridá, 1971, p. 242).
A ênfase de Derridá na textualidade e na escrita não é a ruptura com a filosofia, é antes uma compreensão mais aprofundada da viragem linguística para além dos jogos e o fato que ele seja visto tão estreitamente ligado a literatura é a penetração de sua leitura em departamento de literatura, mais específica nos Estados Unidos.
“O jogo” para Derridá “é sempre um jogo de ausência e presença, mas se quisermos pensar radicalmente, é preciso pensa-los antes da alternativa da presença e ausência; é preciso pensar o ser como presença ou ausência a partir da possibilidade do jogo, e não inversamente” (Derridá, 1971, p. 248).
A diferância assim está no “dentro” e “fora” da presença, sua desconstrução assim procura relacionar-se com a mitologia mas desmontá-la, numa perspectiva etnocêntrica, que faz prevalência do pensamento conceitual sobre o mítico, do raciocínio lógico sobre a bricolagem, que é feita pelo próprio Lévy-Strauus, pensar o mito como forma de pensamento original é reduzí-lo a episteme.

Referências:

Derridá, J. Posiçõe. Semiologia e Maerialismo. Tradução de Maria M. C. Barahona. Lisboa: Plátamo, 1975.
Derridá, Jacques. Margens da Filosofia.Campinas: Papirus, 1991.
___ A escritura e a diferença. São Paulo: Perspectivas,  1971.