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Arquivo para abril, 2018

O abandono na literatura

16 abr

O assunto parece escondido na literatura, mas não é, comecei a ler a trilogia Abandon da autora Meg Cabot porque havia referencia aos mitos de Hades e Perséfone.

                Mas o clima de excessivo suspense, a meu ver é claro, me fez desinteressado pelo livro e ao contrário de muitos outros que retomo e entendo o objetivo da autora, neste não o fiz.

                Para quem não conhece a mitologia Perséfone é filha de Zeus com Demeter, era uma deusa preocupada em colher flores, e aos poucos quando foi crescendo encantou o deus Hades, senhor dos mortos que pediu a filha em casamento, mas Demeter não queria que se casassem.

                Eles acabam se casando, mas Demeter pede a Zeus que a traga de volta no fim de uma complicada trama, Perséfone acaba ficando um período com Hades, que é o inverno no Olimpo, e um período com Demeter, que é a primavera no reino dos deuses gregos.

                Enfim, a trilogia não me parece no início nada disto, apenas era um toque “cult”.

                Outro livro mais realista me chamou a atenção, descubro a autora italiana Elena Ferrante, que escreve desde janeiro no The Guardian, sobre assunto de família, infância, gênero e envelhecimento.

                Enquanto esperava uma amiga, numa livraria de Lisboa, comecei a folhear o livro “Dias de Abandono” de Elena Ferrante, que conta a história (não sei se é verdadeira) de Olga que é abandonada por Mário e se vê presa a um cotidiano estilhaçado com dois filhos, um cachorro e nenhum emprego, mas vai lutar contra o sentimento de ser uma pobre mulher abandonada.

                Não fui até o fim, claro nem daria tempo e não comprei o livro para resistir a tentação de desviar de minhas leituras obrigatório que neste momento são muitas e a pilha é enorme, vi rapidamente na internet que 90% das pessoas que leram gostaram.

                O seu livro “A amiga genial” está indo para as TVs, em Portugal haverá uma série.

 

Fantasmagóricos e realismos

13 abr

Sem dúvida, a realidade pode não ser apenas aquilo que nossos sentidos indicam, mas também os sentidos fazem parte de uma boa descoberta da realidade, pode-se usar um óculos, um microcóspico e um potente telescópio para ver a realidade, mas usando o olho.
O que é difícil de se imaginar é como construção de narrativas podem iludir a realidade, podem torná-la diferente daquilo que a simples visão indica, jamais por exemplo, poder-se-ia imaginar que a física quântica daria origem a uma olha visão do chamado “mundo físico”.
Einstein, Podolsky e Rosen; três eminentes físicos na época, escreveram um artigo que se contrapunham a ideia da física quântica, que os quanta ocupavam um espaço entre “pulsos” e que entre eles não havia nada, eles três físicos diziam que era um ação a distância “fantasmagórica” e matematicamente foi demonstrado ser algo impossível, o fenômeno ficou conhecido como EPR (letras iniciais dos autores).
Recentemente, em estudo liderado por Ronald Hanson e publicado na revista Nature em 2015, a Universidade de Tecnologia de Delft, na Holanda, relata ter feito um experimento que, segundo eles, comprova uma das asserções mais fundamentais da teoria quântica –de que objetos separados por uma grande distância podem afetar um ao outro.
As aparições de Jesus, em diversos eventos, após sua partida e ressurreição trazia espanto e até mesmo medo aos seus discípulos, numa passagem pouco conhecida aparece a várias pessoas e diz (Lc 24,38-39): “Por que estais preocupados, e por que tendes dúvidas no coração? Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo! Tocai em mim e vede! Um fantasma não tem carne, nem ossos, como estais vendo que eu tenho”,
Infelizmente ainda hoje ele é um fantasma e até uma lenda para muitos, ainda que existam fatos históricos.

 

As (im)possibilidades reais

12 abr

Além do pensamento idealista contemporâneo, rendo-me ao fato que parte dele partiu de pressupostos religiosos presos ao mecanicismo e à ordem do universo, há um conjunto de possibilidades que a muito tempo já vem sendo pensado, e alguns comprovados, como postamos anteriormente ligados a física quântica e as possibilidades reais da ciência.

Em A física do impossível, Michio Kaku, que tem um livro famoso sobre o hiperespaço, usa um recurso inesperado, a ideia que em todas religiões existem outras dimensões da vida, escreveu: “a igreja acreditava no Céu, no Inferno e no Purgatório. Os Budistas têm o Nirvana e diversos estados de consciência. E os Hindus têm milhares de planos de existência” (p. 236), não conhece mas poderiam ser citadas as cosmogonias de diversas culturas e religiões onde a oralidade prevaleceu e muitos destes contos falam de outras dimensões.

Reconhece o autor que na literatura há pelo menos três tipos de universos paralelos: o hiperespaço, ou dimensões de ordem superior, o multiverso (não uni-verso) e os universos paralelos quânticos.

O fato que estamos presos as três dimensões, esclarece o autor vêm de Aristóteles, que sua obra Sobre o céu, estabeleceu a largura, a altura e a profundidade, que são traduzidas em três dimensões ideais: o ponto, a reta e o plano, que inexistem se examinados na natureza real, os fractais são uma redescoberta moderna (um monge já havia conjecturado) da ruptura destas dimensões para o um plano natural, é o fracionário natural, onde dimensões 0,7 ou 2,78 existem. que são os fractais.

O autor conta que Carl Gauss já havia conjecturado estas dimensões, mas foi um aluno seu que desbancou com um exemplo simples esta teoria idealista supondo uma esfera, nela a distância mínima entre dois pontos é uma arco e não uma reta, e um triângulo terá mais de 180 graus na soma dos ângulos.

Para a quarta dimensão vai buscar um recurso também surpreendente que é da historiadora de arte Linda Darymple Henderson, que escreveu: “Tal como o buraco negro, a ´quarta dimensão´ possuía características misteriosas que não podiam ser totalmente compreendidas, nem sequer pelos próprios cientistas.” (pag 238), reconhecendo a importância desta teoria.

Cita ainda o quadro Christus Hypercubus (imagem estilizada acima), de Salvador Dali, ele está “crucificado diante de uma cruz trimensional estranha e a pairar que é uma realidade em “tesseracto”, um cubo tetradimensional desdobrado.” (pag. 238)

Filmes como “Contato” feita a partir do romance de Carl Sagan e “Interestelar” onde naves viajam na quarta dimensão, os wormholes (buracos de minhoca) podem já sua virtualmente possíveis, um projeto que conta com mais de 100 milhões de dólares, foi lançado na Inglaterra em 2016 e conta com apoio de Stephen Hawking, micro-naves poderiam viajar nesta dimensão?

O futuro ainda trará surpresas, mas não faltarão falsos profetas fazendo sucesso contra ele, a crítica é a impotência posta em prática, quer dizer pouco ou nada fazem.

 

 

O (im)possível futuro da humanidade

11 abr

Critica a parte dos tecnoprofetas, é possível fazer especulações, no campo das hipóteses, portanto, sobre o futuro da humanidade, este é o livro mais recente de Michio Kaku, onde ele explora em detalhes ricos de possibilidades físicas e teóricas como a humanidade poderá, em passos graduais e com certeza olhados por comitês éticos, desenvolver uma civilização sustentável no espaço sideral.

É preciso dar alguns passos atrás e ver quanta coisa já conseguimos, através da leitura de outro livro deste renomado físico e alguém que vai no campo das hipóteses com fundamentos e base teórica para as especulações.

No seu livro de 2008, em boa tradução portuguesa do Editorial Bizâncio, seu livro “A física do impossível” mostra em que campo está a física, os avanços já conhecidos e os prometidos.

Depois de passar pelos grandes físicos do século XIX, James Maxwell, que questionou o fato dos campos magnéticos poderem se tornar elétricos e vice-versa numa clara descontinuidade, e ir até as possibilidades de invisibilidade baseado na nanotecnologia de metamateriais, ele cai na realidade e diz: “a maioria das máquinas nanotecnológicas não passa de meros brinquedos.” (p. 51)

A segunda busca de Kaku é o teletransporte (na foto filmes de ficção), o famoso artigo de Einstein, em que ele e outros colegas põe a prova o fenômeno dos quanta se teletransportarem sem passar por um estágio intermediário, rompe com o princípio Aristotélico ir de A para B passando por C intermediário, foi nos últimos cinquenta anos demonstrado, apesar do questionário de Einstein, Poldoslky e Rosen, razão pela qual ficou conhecido como fenômeno EPR.

A idéia é que se dois elétrons vibram em uníssono, o que é chamado de coerência, estas partículas estão ligadas por um tipo de conexão profunda, chamada “entrelaçamento quântico” (pag. 78), na década de 1980 Alain Aspect na França fez a experiência e comprovou que esta ligação de “entrelaçamento” existe, mas a pergunta é ela transportaria informação?

A resposta de Kaku é categórica: “não podemos enviar uma verdadeira mensagem, ou um código Morse, através da experiência EPR, mesmo que a informação viaje mais depressa que a luz.” (p. 79)

Já postamos sobre os robôs, agora queremos falar sobre a inteligência artificial, escreveu Kaku: “A ironia suprema é que as máquinas podem efetuar com facilidade tarefas que os humanos consideram ´difíceis, como multiplicar grandes números ou jogar xadrez, mas fracassaram quando se lhes pede que efetuem coisas extremamente ´fáceis´ para os seres humanos, como andar numa sala, reconhecer rostos ou tagarelar com um amigo.” (p. 130)

Pega o discurso de Marvin Minsky, do MIT, um dos fundadores da IA, que resumiu o problema do seguinte modo: “A história da IA é engraçada, pois os primeiros feitos reais eram belas coisas, como uma máquina que fazia demonstrações em lógica ou saía-se bem num curso de cálculo.  Mas, depois, começámos a tentar fazer máquinas capazes de responder perguntas sobre os tipos de histórias simples que se encontram num livro do primeiro ano do ensino básico.  Hoje não há nenhuma máquina que consiga isto.” (p. 131).

Exploraremos no próximo post  (im) possibilidades que podem tornar-se reais, na visão de Kaku.

 

Os falsos tecnoprofetas

10 abr

A ideia que a máquina é má, além de ser uma concepção anti-progresso evidente, procura sem conhecê-las desmentir a primeira lei de Kranzberg: a tecnologia não é boa, nem má nem neutra, mas em geral, desconhece-se as suas outras 5 leis: 2 – a invenção  é a mãe da necessidade, 3ª – a tecnologia se desenvolve em “pacotes”, 4ª  – as políticas tecnológicas são decididas, prioritariamente, com base em critérios não-técnicos,  5ª. – toda história é importante, mas a História da Tecnologia é a área mais relevante, e, 6ª. – a tecnologia é uma actividade humana, a História da Tecnologia também.

Jean-Gabriel Ganascia, em seu livro “O mito da singularidade: devemos temer a inteligência artificial?“ (Lisboa: Círculo de Leitores, 2018) desmascara a ideia que num futuro previsível, alguns marcam o ano de 2045 a máquinas possam vir a sempre completamente autónomas e substituir a inteligência humana que em ultima instância é o que as programa e governa.

Cita entre vários outros que acreditam nesta profecia, cujo ponto de ultrapassagem é chamado ponto de singularidade, Raymond Kurzweil, que a parte de sua precoce genialidade, com 15 anos escreveu um programa que partituras musicas para piano, prepara seu corpo e sua mente para serem “carregados” (um download cibernético) numa máquina futura.

Outro tecnoprofeta citado por Ganascia é Hans Moravec, que escreveu “Homens e Robots: o futuro da Inteligência Humana e Robótica” (1988) e “Robot: more machines to Transcendent Mind” (1998) que conduziria a uma transformação radical da humanidade.

Um último, que vale citação, Kevin Warwick escreveu I, Cyborg numa clara alusão a Eu, Robot  e que tornou-se conhecido do grande público por ter introduzido na pele um chip encapsulado num vidro dentro da própria pele, para comandar uma série de accionadores remotos, mas parece que seu projecto foi um fracasso, afirma Ganasci (pag. 13).

Os filósofos não ficam parados, deixo de lado aqui os críticos das tecnologias digitais atuais, para ir aos tecnoprofetas futuristas, digno de destaque e citado por Ganascia, Nick Bostrom, físico de formação, faz profecias em seus escritos, e particularmente num sucesso de vendas:
Superintelligence: Paths, Dangers, Strategies, prevendo entre outras coisas a trans-humanity.

Entre os catastróficos tecnoprofetas, Ganascia cita Bill Joy, co-fundador da Sun Microsystems, que escreveu um artigo: “Por que o futuro não precisa de nós”, o autor vai de Leibniz a Lyotard para mostrar porque estas teses parecem reais em nosso tempo, mas não nos estudos e resultados da Inteligência artificial.

São de fato tecnoprofecias, mas fora do tempo, o tempo de oráculos e profetas é da cultura da oralidade, que faz sentido no seu tempo ou nos herdeiros desta cultura: tribos e povos ancestrais que ainda tem esta forma de saber.

 

As redes e relações (in)visíveis

09 abr

Um dos assuntos em foco hoje são as redes sociais, elas não são de hoje, o problema é que hoje elas estão em evidencia, mas continuam a guardar certos aspectos de invisibilidade, confundidos com virtualidade, façamos uma análise histórica.

As redes de comércio na antiguidade, por mar e por terra, os colégios invisíveis, definidos por Solla Price em seu trabalho “O desenvolvimento da ciência: análise histórica, filosófica, sociológica e econômica”, de 1976, chama as redes científicas de redes colaborativas, onde os pesquisadores se comunicam, trocam informações e experiências, significa que mesmo na ausência, através dos trabalhos impressos e das conferências, os autores colaboram.

Essencialmente, uma rede é uma teia de nós (elementos) e links (conexões) entre os nós, embora estes participantes sejam autônomos, as consequências das conexões em redes podem ultrapassar os seus próprios limites por conexão para “fora” através dos laços fracos.

Na análise de redes podem ser identificados apenas por razões didáticas, três tipos: as redes egocentradas (ego networking), as redes de análise global (Global Networking) e as redes de relações entre atores, chamadas TAR (Teoria Ator-Rede)  com origem nos trabalhos de Michel Callon.

As redes de aeroportos, as redes de transportes de containers a nível mundial, as redes de telecomunicações e evidentemente a internet, a Web é uma camada sobre esta rede. 

As redes globais são influenciadas fortemente pelas mídias, e elas criam certa dose de invisibilidade, uma vez que as redes colaborativas de publicações são também foram chamadas de colégios invisíveis por autores como Solla Price, mas aceleradas pela velocidade dos meios, os mídias eletrônicas tem maior velocidade de publicação e comunicação que a impressa, então blog, twitter e as mídias de redes sociais como Facebook ocupam um papel novo na atualidade, mas não são em si redes, mas mídias de redes.

Diversas medidas podem ser pensadas, a centralidade de proximidade (closeness) de um ator mede o quanto um nó está próximo de todos os outros, maior será a medida de proximidade, a centralidade de intermediação (betweenness) mede a importância de um nó na circulação da informação.

Então, para efeito de informação, o betweenness é a medida do controle que um ator detém no fluxo de informação e closeness é a facilidade que um ator tem do acesso à informação.

A invisibilidade, enfatizando presente nos colégios “invisíveis” na modernidade, é relativa ao processo de comunicação e informação que pode ir além dos autores-atores ao longo da rede, a virtualidade por sua vez refere-se a potencialidade de aumento da capacidade da rede.

 

Ver e crer: sentir o real

06 abr

Ao contrário do que pensa o senso comum, o virtual não se opõe ao real, mas aponta-lhe um caminho, tecnologias digitais já em desenvolvimento como realidade aumentada, realidade virtual e hologramas são virtuais não no sentido de irrealidade, mas de potencialidades.

O que se poderá resultar delas ainda depende de alguns avanços  tecnológicas, mas o desenvolvimento destes artefatos, como para criar hologramas 3D testado na Universidade de Brigham Young (ver nosso post) publicado na revista Nature de janeiro, ainda dependerão de avanços tecnológicos para chegar ao mercado num futuro próximo, esta é sua virtualidade.

Numa sociedade da informação, a leitura ocupa um papel central, não por acaso está ligado ao artefato impresso, a chamada Galáxia de Gutenberg, no entanto pode-se imaginar que a cultura oral tenha pouco a ver com esta, ou apenas se componha com ela, mas isto não é um fato.

A cultura oral, o ver está ligado ao ouvir, pode parecer curioso ou estranho que nesta cultura é essencial o escutar, e o falar significa certa autoridade, foram assim com os oráculos, profetas e mestres em culturas afros, deve-se ter o dom de contar neles os mitos ocupam lugar de destaque, é por isso que desenvolvemos aqui: vendo não veem, e ouvindo não escutam.

Poderia ser o contrário, se pensamos na fotografia, na TV e no Cinema, mas a chamada “sociedade do espetáculo”, que Guy Debord definiu o espetáculo como o conjunto das relações sociais mediadas pelas imagens, mas estas são apenas artefatos modernos, pois as pinturas rupestres seriam então o que ?

A linha de análise que embora tenha críticas, parece mais coerente é a de Paul Virilio, que a moderna sociedade caminha com “velocidade” para as novas mídias, e a dança e o teatro seriam as verdadeiras resistências a esta velocidade,

Mas Virilio rende-se ao afirma que inovações tecnológicas transformam, modificam, alteram o espaço geográfico em todas as escalas (local, nacional e global), não diz isto, no entanto, é preciso humaniza-las, e este processo será cada vez mais coletivo, é inerente a estas mídias.

Um exemplo de cultura oral está na passagem famosa de Tomé, que interpretada na cultura da informação dizem é ver para crer, está errado, é sentir para crer, releia-se a passagem de João 20,25=27:

Os outros discípulos contaram-lhe depois: “Vimos o Senhor!” Mas Tomé disse-lhes: “Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei” … e Jesus disse: põe o dedo aqui e olha minhas mão.”

Jesus apareceu e pediu que ele tocasse também em outras passagens Jesus aparece e só quando fala, e reparte o pão é “visto”, o homem moderno precisa tocar e sentir.

 

Vendo não veem

05 abr

Ouvir já escrevemos aqui, é o fato de possuir o aparelho auditivo, escutar é coisa para quem processa mentalmente. aquilo que ouviu, não é possível fazê-lo sem alguma atenção e algum saber, ao menos da linguagem na qual está ouvindo.

Imaginava em Portugal, que em toda a península Ibérica, já havia visto na Espanha, há alguma cultura ligada a visão, algo parecido a tradição oral, mais ainda mais primitivo, sim pois as pinturas rupestres são anteriores a escrita e provavelmente originárias da cultura oral.

Descubro perguntando sobre a importância cultural da Cidade Caldas da Rainha, relativamente próxima a Lisboa, a figura de Rafael Bordalo Pinheiro  (1846-1905), inventor do Zé-Povinho, foi também jornalista da gravura, folhetinista do lápis, cronista gráfico, ceramista falido, cartunista antes do tempo. republicano, com algo anticlerical, uma de suas  pioneiras caricaturas satíricas se pode ter convulsionado seu país no final do século XIX, ainda monarquista, mas já com ideias republicanas fortes.

As suas cerâmicas que não vingaram em seu tempo, hoje são obras de arte difundidas no mundo interior, no Brasil já vimos aqueles vasos em forma de pinheiro, xícaras (chávenas em Portugal) e outras louças (loiças na terrinha), feitas em formato de frutos e decoradas, feitas muito mais ao gosto do “zé povinho” que as louças reais da aristocracia portuguesa.

Assim como a escuta exige um treino, o olhar exige um duplo treino, pois o artista quer dar ao público algo além do convencional e por isto faz esta ou aquela nuance em seus artefatos,

Talvez a própria expressão de Zé Povinho, usada também no Brasil devemos a ele, também lá como cá esta expressão pode denotar um sentido pejorativo.

O fato da visão no sentido artístico, tanto pode recorrer a figuras míticas, cavalos alados e unicórnios, mula sem cabeça e saci Pererê em lendas populares e outras imagens podem em algum sentido serem místicas no sentido até mesmo de antevisão da realidade, muitos artistas estiveram avante de seu tempo.

Um visionário de nosso tempo não pode recusar as mídias e redes sociais, sendo redundante, é falta de visão.

 

Escutando não ouvem

04 abr

O fato fisiológico de se escutar pode estar em contraste com a apreensão do conteúdo no cérebro humano, isto é, pode-se ter um aparelho auditivo adequado ou até mesmo artefatos que ajudem, mas mesmo escutando não ouvem, isto é não apreendem o conteúdo.

A visão de McLuhan que a comunicação, como meio tende  a ser definida como transparente, inócua, incapaz de determinar quais são os conteúdos comunicativos que estão veiculados.

 A sua única incidência no artefato, seja ela qual for, no processo comunicação seria negativa, devido a ruídos ou obstáculos na veiculação da mensagem, esta já era a preocupação enquanto aparato de Claude Shannon, mas agora McLuhan chama que tanto a mensagem feita oralmente ou por escrito, seja ela transmitida por rádio, televisão, põe em jogo novas estruturas sendo elas artefatos destinados a ampliar os sentidos realçando contornos e outros nuances do que é comunicado, neste trabalho relaciona com o artista que deseja realçar algo.

Dito de forma mais direta, para McLuhan, o meio, o cana (termos mais apropriado para Shannon)l, os artefatos de tecnologia que a comunicação se estabelece, não é apenas constitui a de certa forma de comunicado, mas determinará em última instância o próprio conteúdo.

O que McLuhan chama a atenção é o facto de uma mensagem proferida tanto oralmente

quanto por escrito, ao ser transmitida pelo rádio ou pela televisão põe em jogo o conteúdo.

Sua tese central é que existe aí uma dupla operação: 1) estudar a evolução dos meios comunicativos usados pelos homens ao longo da sua História, e, 2) identificar as características especificas de cada um desses diferentes meios/artefatos de comunicação.

Estes são dois pontos centrais de sua investigação que estão na raiz de uma de suas obras fundamentais, a saber,  Understanding Media, de 1964.

Assim desenvolve três galáxias, quando apenas uma é lembrada, a Galáxia de Gutenberg, que é típica da cultura escrita e depois a impressa com as possibilidades de reprodutibilidade, mas há a cultural oral ou acústica que é anterior, onde a questão da escuta é fundamental, nelas mestres (no sentido oral), oráculos e profetas ocupam um papel central, e, a atual que McLuhan chamava de eletrônica, mas pode-se como prolongamento falar de uma galáxia digital em rede, onde tem-se  mídias de redes que não devem ser confundidas com as redes, pois estas existem nas galáxias anteriores.

Desta forma quem está preso a Galáxia de Gutenberg pode não escutar a Galáxia da cultura oral, e aqueles que estão presos a Galáxia dos meios eletrônicos, chamo-a de Shannon, não escutam a Galáxia da cultura oral e da Galáxia de Gutenberg, os artefatos multimodais poderão mudar isto?

 

Ricardo Pereira e José Simão ?

03 abr

Lendo Ricardo Araújo Pereira, apesar do nome comum que em Portugal é quase sempre comum, descobri que ele é o José Simão daqui, mas raramente apela, há apenas um “post”, já expliquei que o que ele escreve poderia ser um blog, mas não ganharia dinheiro, apenas um fala da palavra “f.” mas logo em seguida esclarece ironicamente: “ estamos perante alguém que deseja dizer um palavrão e não consegue – o que prova que é preciso ter formação para ser malformado”, depois fazendo galhofa culpa o Ministério da Educação e o corretor.

Mas no restante do livro apela pouco, apesar do livro todo ser uma crítica as rabugices dos novos puritanos e agelastas, subtítulo do livro , aproveito para explicar que agelastas, é aquele tipo sério que nunca ri.

Lembrei-me do título e do Ministério da Educação ao viajar com uma professora muito culta, aposentada a 20 anos e professora de Português e Francês, nossa igual ao Brasil era chic ensinar francês aqui, quando perguntei do uso de dois cês (eles continuam usando), ela logo desconversou e se disse preocupada com a educação e pessoas que leem cada vez menos.

Ricardo Pereira, em todo o livro vai citando autores de Shakespeare a Lewis Carrol (o seu texto Contra a mariquice política, onde fala do livro Sylvie e Bruno onde a multidão gritava: menos pão mais impostos), passando por Cervantes, George Minois que escreveu a “história do riso e do escárnio”, onde diz Ricardo está escrito: “O riso é um assunto sério demais para ser deixada só para os cômicos”.

Mas fiquei pensando quase no fim deste livro é preciso sim um pouco de riso, mas talvez não o escárnio, talvez este seja o mal da comicidade brasileira, muito escárnio, humor sem graça, muita apelação, e o que é pior só podemos rir de determinado partido, o politicamente correto, ai que saudade da Dilma, ela sim tinha frases “celebres”.

Melhores que a Trump citado por Ricardo Pereira, que ao ser encontrado um drone americano no mar da China escreveu no twitter que era uma“fato sem presidente”, para depois corrigir para “sem precedente”, mas não vou deixar de citar José Simão que esclareceu que a grande diferença entre o Presidente da Coréia do Norte e o Trump é “quem tem o topete mais belo”.

Não é alienação rir um pouco relaxa o ambiente tenso não apenas nacional mas mundial, ri aos montes com um colega de Portugal ao dizer que tenho problemas coma “paternidade” deles.

Mas ler é importante, cito aqui outro trecho do Ricardo Pereira em que ironiza Angola onde cidadãos foram presos por lerem livros em inglês, soube  que há este tipo de reação também nos Camarões e na Costa do Marfim.

Esclarece num dos textos que o que escreve tem a intenção de fazer os leitores lerem, embora em nota de rodapé diz que isto possa ser uma ironia, é uma espécie de “mise en abyme” que em nota de rodapé diz que pode ser encontrado no Wikipedia, claro outra ironia mas está lá sim, usado por André Gide para dizer de narrativas que podem ter outras dentro delas, ao pé da letra “narrativa em abismo”.

Talvez um pouco de piada faça isto e permita ao leitor fazer outras leituras fora do “dogma”.