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Arquivo para maio 1st, 2018

A clareira do ser

01 mai

O entendimento da posição de Heidegger sobre o que considera a “clareira” depende da compreensão adequada dos conceitos de transcendência, mundo e formação de mundo, que pode ser simplificado como visão de mundo (Weltanschauung), porém é explicitado  em suas obras o Ser e tempo (1927) e Conceitos fundamentais da metafísica (1929/30).

Assim é a descrição feita por Sloterdijk em suas Regras para o parque humano (2000), pois tende a justamente a simplificar este horizonte de questões que Heidegger transita ao enunciar uma diferença radical entre o animal e o homem, numa tentativa de superar a dicotomia infernal entre cultura e natureza, que vem na modernidade sobre o homem “lobo do homem” ou “bom selvagem”, entre outras possibilidades.

O posicionamento de Heidegger acerca da diferença entre animais e homens está ligado a sua interpretação sobre o existir humano, sua transcendência (Transzendenz) na qual o homem, e somente o homem é formador de mundo.

Numa conferência de inverno, em 1929/30, elaborou o que mais tarde seria “Os conceitos fundamentais da metafísica: mundo – finitude – solidão”, ele trata diretamente da questão da diferença entre o animal e o homem.

Avesso à tese tradicional, que seria a racionalidade diferença especial do homem, Heidegger não aceita também que questionamento esteja numa teoria da evolução das espécies, justamente por haver diagnosticado que toda teoria deste gênero já pressupõe determinações prévias tanto do que seja o homem como também do que seja o animal.

Não é nem criacionista nem evolucionista o que ele quer saber é quais caracteres ontológicos dependem do enunciado que perfaz a vitalidade do vivente ante o sem-vida: a pedra e os materiais minerais em geração, a poeira cósmica num sentido mais cosmológico.

Com isso vai formular três teses para criar uma caracterização da essência da vida: 1) a pedra é sem mundo; 2) o animal é pobre de mundo, e, 3) o homem é formador de mundo.

Heidegger tem claro em sua reflexão filosófica, que a relação entre metafísica e ciência positiva ainda precisaria ser pensada em sua ambiguidade característica a de sempre diferenciar sujeito de objeto, assim sua transcendência não é idealista, no método fenomenológico-hermenêutico, as diferenças modais que se explicitam nos distintos modos de ser nelas considerados, o ser-pedra, o ser-animal e o ser-homem, tendo claro, cada um é ser.

Resolvem ainda duas outras premissas da modernidade, uma religiosa que é a crise entre criacionismo x evolucionismo, há uma evolução porque o homem é formador do mundo e há uma criação porque se distingue do animal que não é formador do mundo.

Não se trata de fortalecer a tese do antropocentrismo, então a crítica de Sloterdijk é válida, uma vez que para ele é preciso “esclarecer a clareira”, mas tanto para ele como para Heidegger o humanismo tornou-se anti-humanismo, e chega a afirmar como “a mais miserável’ da “história da Europa” (Sloterdijk, 2000, p. 20) e basta lembrar o horror das duas guerras mundiais.