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Arquivo para junho, 2018

Pequenas coisas fazem diferença?

15 jun

A resposta é afirmativa, embora muitas vezes imaginemos que um pequeno ato de concórdia, de honestidade ou de esperança possam significar um ato ingênuo, não o mesmo quando pensamos no sentido físico, porém o pensamento cotidiano continua sendo o mecânico.

A física quântica e a teoria da complexidade demonstraram isto (o nome caos é também mal interpretado, pois é o fato que nem tudo é linear), porém parece mais “organizado”, mais “lógico” a lógica binária do sim e do não, e neste caso também não tem a ver com o mundo digital, apenas com o pensamento idealista.

Também a sabedoria bíblica, e os ensinamentos de Jesus refletiam isto, ao dizer do evangelista Marcos O Reino de Deus é como um grão de mostarda que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes da terra. Quando é semeado, cresce e se torna maior do que todas as hortaliças, e estende ramos tão grandes, que os pássaros do céu podem abrigar-se à sua sombra” (Mc, 4:31-32), quem já viu um grão de mostarda e viu sua árvore sabe isto.

É mais fácil e mais tentador seguir a corrente, porém se com pequenos gestos diários fazemos a diferença isto muda aos poucos a cultura a nossa volta, e pode se espalhar a outras pessoas, a mesma forma que um círculo vicioso é difícil de romper, um círculo virtuoso transforma os hábitos e o meio em que estamos inseridos.

Isto é válido para a natureza, por exemplo para a preocupação ecológica e não raramente já vemos muitas pessoas terem preocupação com a seleção de lixos, com as árvores e com os animais, isto fará diferença ao longo dos anos, é uma nova cultura que se cria.

A questão da honestidade é um reflexo do mundo da corrupção, se retirarmos pequenos atos de corrupção diária poderemos ao longo dos anos tornar a corrupção algo realmente hediondo disse uma ativista: “será lembrada de modo tão terrível quanto a escravidão.”

É preciso aplicar e ser resiliente em pequenos atos de atitudes cotidianas de verdade e justiça.

 

Caos e pequenas coisas

14 jun

Embora o caos sugira algo totalmente desorganizado, como teoria física e matemática ele significa sistemas dinâmicos altamente sensíveis e dependentes de suas condições iniciais, e a maioria dos sistemas como são complexos, dependem destas condições (veja o post anterior).
Na medida que o sistema evolui e se podemos pensar este sistema ao longo de muitos anos, o sistema que poderia mover-se “linearmente” vai sofrendo profundas alterações, e este tempo em que o sistema ao sofrer alterações torna-se imprevisível, é chamado período de estabilidade de Lyapunov (o fractal acima), por exemplo, este período calculado para o sol é de aproximadamente 50 milhões de anos, pode-se calcular para qualquer sistema dinâmico.
Neste ponto se unem teoria da complexidade, sistemas dinâmicos são complexos se vistos por longos períodos, sensibilidade das condições iniciais, elas podem determinar as mudanças nestes períodos de Lyapunov e teoria do Caos, todos os sistemas estão em constante organização e isto pode causar grandes instabilidades, dependendo do tempo.
Então pequenas coisas são instáveis ao longo de anos e dependendo das condições iniciais, que de início são pequenas coisas como uma batida de asa de borboleta.
O que podemos fazer ao longo dos anos então é aplicar estes conceitos a cultura humana, aos processos civilizatórios e as conversas e diálogos diários, pensando em sistemas humanos.
Pensando na natureza, no planeta e indiretamente na sociedade, é preciso não alterar o tratamento do solo, da água, das plantas e animais, para que possamos num futuro um pouco distante, agora já nem tanto, garantir a estabilidade do planeta, o plantio de alimentos e uma indispensável harmonia da natureza, em flores, frutos e beleza.
A teoria do caos portanto não é teoria da bagunça, é justamente a oposição a ela, se Francis Bacon e outros falavam em domínio da Natureza, não é menos importante sua máxima que dizia que “não se pode dominar a natureza, sem segui-la” que significa obedecer suas leis.

 

Pode uma batida de asa de borboleta causar um tornado ?

13 jun

O chamado efeito borboleta, surgiu de um artigo de E. Lorenz em 1975 numa revista de previsão atmosférica e por isto ficou um longo tempo escondido como “fenômeno”.

A primeira questão é esta, existe mesmo este artigo, porque é tão pouco mencionado ainda mais no Brasil uma vez que o nome do país aparece no título: “Predictability: Does the Flap of a Butterfly’s Wings in Brazil Set off a Tornado in Texas?” (previsibilidade: pode a batida das asas de borboletas no Brasil causar um tornado no Texas?), sim o artigo existe.

As outras duas questões colocadas pelo próprio Lorenz são:  se uma única borboleta poderia gerar um tornado, as batidas de asas anteriores ou subsequentes também poderiam causar e os milhões de outras borboletas também, e, se elas poderiam causar também poderiam evitar.

O que Lorenz propôs em termos gerais +e que as perturbações minúsculas não aumentar nem diminuíam a frequência de eventos como tornados, a questão que ele coloca em seu artigo é que a influência imediata de uma única borboleta pode fazer a presença de um tornado evoluir em duas situações diferentes, podendo em alguma instância bem inicial decidir sua presença ou não.

Esse pequeno evento pode ser fundamental, encadeado a outros, capazes de modificar o regime dos ventos e a temperatura em uma vasta região, passariam horas e o encontro das massas de ar podem provocar uma forte chuva em áreas que antes se determinava sol.

Daí vem o que Poincaré enunciou em 1908 como “sensibilidade das condições iniciais”, mas é preciso dizer que a formulação de sistemas caóticos de Lorenz distanciou-se muito do que é chamado de sistemas não lineares em matemática, a partir da ideia que linear é o mais comum, enquanto instáveis ou caóticos são não convencionais.

A maioria dos sistemas são instáveis, e isto é fundamental, Heisenberg de quem falamos em nosso post anterior, afirmou: “a física quântica derrotou a causalidade e a certeza que os sistemas estáveis e previsíveis nos oferecem, é famosa sua frase: “A Física quântica forneceu a refutação definitiva do princípio de causalidade.”

Pequenas ações, em sistemas humanos, também podem causar diferenças enormes e levar os sistemas humanos a estabilidade ou não.

 

O todo e a parte

12 jun

Uma questão essencial das pequenas coisas é não imaginá-las desvinculadas do todo, este é um problema complexo para o homem moderno, porque sua visão foi plasmada pelo idealismo para enxergar as coisas em pedaços, em partes isoladas, sem comporem um todo.

É assim para a filosofia, para as ciências, para as artes e até mesmo para a religião que vê Deus como a essência do “todo”, mas quase sempre segmenta-o de realidades humanas.

Um grande mestre e pensador sobre o tema, seu livro “A parte e o todo”, tem justamente este nome foi Werner Heisenberg (1901-1976).

O livro pode ser considerado sua autobiografia intelectual, onde faz diálogos com Einstein, Bohr, Planck, Dirac, Fermi, Pauli, Sommerfeld, Rutherford entre os nomes mais proeminentes da física de seu tempo, e também diálogos filosóficos com outros colegas.

Segundo diz o autor no prefácio: “A moderna física atômica lançou nova luz sobre problemas filosóficos, éticos e políticos. Talvez este livro possa contribuir para que os fundamentos dessa discussão sejam compreendidos pelo maior número de pessoas.”

É difícil resumir as ideias deste livro, segmenta-lo seria contradizer a própria proposta, porém o ganhador do prêmio Nobel da Física aos 31 anos (em 1932 portanto) pela formulação do princípio da Incerteza, afirmou sobre seu livro: “pretendi transmitir, inclusive aos que estão distantes da física atômica, uma impressão dos movimentos do pensamento (Denkbewegungen) que acompanharam a história do surgimento dessa ciência”.

A parte, por pequena que seja é essencial ao todo, a partir da moderna física atômica e quântica, e segmenta-la é realizar a fissão atômica, uma ruptura com a natureza e o homem.

 

O efeito borboleta e as pequenas coisas

11 jun

Parecem que para mudar o mundo para mudar tudo devemos fazer coisas grandiosas, grandes projetos e na verdade não é bem assim, pequenas coisas podem fazer muita diferença, e a primeira coisa que podemos mudar somos nós mesmo, conforme a frase de Platão: “se quer mover o mundo o primeiro passo será mover-se a si mesmo”.
O efeito borboleta, pesquisado e defendido por Edward Norton Lorenz, que inclusive criou a figura ao lado, tem duplo sentido primeiro que ele descobriu que a batida da asa de uma borboleta poderia influenciar o clima, segundo que o gráfico que criou deste efeito (na física modelo de convecção do calor tem a forma das asas de uma borboleta.
Lorenz estava simulando modelos globais climáticos num computador, e executou outro modelo que retirando algumas casas depois da virgula o tempo de processamento seria menor e o resultado saia mais rápido, na prática mudou um pouco as condições do processo, e os resultados foram bastante divergentes.
Isto significa na prática que pequenas ações e intervenções em fenômenos podem ao longo de um percurso influenciá-los profundamente, o que nos dá esperança porque assim o pouco que fazemos de correto, de honesto e de inspiração ética pode no futuro mudar drasticamente as coisas, claro será preciso que outras pessoas façam pequenos atos.
Uma experiência pessoal foi perder uma pessoa querida por suicídio, me fez pensar muito imaginando o que poderia ter acontecido com aquela pessoa, depois de muito sofrimento uma psicóloga me explicou que não só sofrimentos e fatores sociais, mas também genéticos, físicos e emocionais poderia determinar a ação daquela pessoa.
Pensando no sentido positivo podemos fazer pequenos gestos, uma criança me pedia que jogasse bola com ela, estava apressado, parei e joguei uns cinco minutos com ela, ai o vizinho de um prédio que me viu com uma sacola na mão, me disse pode ir agora eu jogo com o miúdo (crianças em Portugal).
Também pensando no Brasil, o enorme sofrimento com todos acontecimentos sociais e políticos negativos, precisamos tentar enxergar pequenas ações que podem ser feitas, conscientizar as pessoas e ouvir quando alguém está muito convicto do seu ponto de vista.
Vejo que Portugal saiu da crise vencendo e recuperando o otimismo como povo, não perderam as esperanças, ainda que a crise tenha atingido muita gente e ainda hoje hajam reflexos, porém é perceptível a melhora.

 

Pode uma casa dividida sobreviver

08 jun

A palavra é Bíblia, mas vale para muitos países em toda a Terra e para o próprio planeta como um todo, é preciso um mínimo de unidade para progredir e garantir o progresso a todos.

A unidade está comprometida e risco de guerras, além das intermitentes guerras na África, meio oriente e tensões em vários países da Europa, pode em algum momento romper como o vulcão da Guatemala e as consequências seriam imprevisíveis.

A tensão com Irá volta a acontecer, e também a Coréia do Norte ainda tem resquícios de ameaça, além das tensões sociais em toda America Latina.

Como reagir a tudo isto ? é preciso buscar pontos de unidade e diálogo, a guerra não tem vencedores todos perder, e claro, os poderosos e a indústria bélica a lucram.

A palavra Bíblica de Marcos 3,23-25 diz: “Então Jesus os chamou e falou-lhes em parábolas: “Como é que Satanás pode expulsar a Satanás? e um reino se divide contra si mesmo, ele não poderá manter-se. Se uma família se divide contra si mesma, ela não poderá manter-se”, e além da ideia do reino de Deus, que é evidente, há também uma palavra ao homem: unidade.

Unidade é uma palavra divina, é claro que ela está sempre sobre certa tensão: desigualdades, injustiças, exclusões, preconceitos são todas formas inerentes de divisões, mas mesmo nestes casos o diálogo é possível e fundamental, a ideia que só a violência destrói violência é bélica.

Olhando sobre as próximas eleições no Brasil é preciso buscar pontos de convergências, mais de uma dezena de candidatos é um absurdo em custo e em confusão para as pessoas simples, é preciso debater ideia e programas sob pena de aceitarmos um aventureiro ou ditador.

O diálogo pode ser duro e até áspero, mas é preciso se dobrar para não romper e construir frentes partidárias em torno de programas e propostas, e também ter esperança.

 

O dualismo pós-moderno

07 jun

Poder-se-ia discorrer sobre o dualismo da pós-modernidade, mas ler Hegel é demasiado enfadonho, mesmo para aqueles que dominam o discurso filosófico, e penso particularmente que a questão do objetivismo x subjetivismo, natural x cultural e outras questões postas pelo pensamento da modernidade, e que são correntes no cotidiano, está já em outro ponto.

O ponto que situo é o das dicotomias infernais de Eduardo Viveiros de Castro: “Metafísicas caníbales: líneas de antropologia postestructural” (Katz Editores, 2010), ainda que possa haver uma edição em português caiu em minhas mãos uma edição espanhola, traduzida do francês.

Me chamou a atenção porque ele começa o livro sobre questões que julgo fundamentais: o retorno às coisas, o perspectivismo, o multinaturalismo e a esquizofrenia antropológica.

O início do primeiro capítulo “Anti-narciso” confessa que abandonou a ideia de fazer um livro para escrever sobre ele, como fazia Borges, e lança uma pergunta: “o que deve ser conceitualmente a antropologia dos povos que estuda ?” e segue a esta: “Las diferenças e as mutações internas da teoria antropológica se explicam principalmente (e desde o ponto de vista histórico-crítico exclusivamente) por estruturas e conjunturas das formações sociais, dos debates ideológicos, dos campos intelectuais e dos contextos acadêmicos que surgiram os pesquisadores ? é esta a única hipótese pertinente? No seria possível proceder a um deslocamento da perspectiva que mostro que os mais interessantes entre os conceitos, os problemas, as entidades e os agentes introduzidos pelas teorias antropológicas tem sua origem na capacidade imaginativa das sociedades (ou dos povos, ou dos coletivos) que propõem explicar?” (Viveiros de Castro, 2010, p. 14).

A estas perguntas penetra finalmente na dicotomia infernal que considero essencial na modernidade: “Não será ali onde reside a originalidade da antropologia, nesta aliança, sempre equívoca, porém com frequência fecunda, entre as concepções e as práticas provenientes dos mundos do “sujeito” e do “objeto” ? “ (idem).

A pergunta então do “Anti-Narciso” é então epistemológica, isto é, política, e o autor afirma que se todos estão mais ou menos de acordo  que é preciso uma descolonização do pensamento, e nisto reside o “anti-narciso”.

O discurso de Viveiro de Castro é consistente porque afirma que o “outro” é sempre pensado e “inventado” de acordo com os sórdidos interesses do Ocidente, e depois irá discorrer sobre o “perspectivismo” e “multiculturalismo”, é impossível sintetizá-los num post, então só pontuamos estas perspectivas, chamadas pelo autor de “canibais” ou metafísicas da predação”.

O perspectivismo é a ideia que toda teoria é particular e depende da “perspectiva do sujeito”, ou multiculturalismo é a ideia da “convivência” de muitas culturas em diversas regiões, mas ambas carecem e uma “descolonização” do pensamento, então a dicotomia permanece.

 

O dualismo de Kant

06 jun

Apesar de Kant ter feito uma crítica de Descartes ele não penetra na questão corpo e consciência (ou mente como querem muitos), mas naquilo que ele considerou o núcleo do pensamento cartesiano a “representação” das coisas (fenômenos):

 “Toda a nossa intuição não é mais do a representação de um fenómeno ; as coisas que nós intuímos não são, em si próprias, como nós as intuímos, nem as relações entre elas são em si próprias tais como nos aparecerem;”

É pelo que ele chama de “coisa” que pode se confundir como o fenômeno, mas trata-se da tese que o ser humano tem uma espécie de software na sua cabeça que interpreta o mundo: o cérebro não é um recipiente para onde são “atirados” os objetos do mundo, ele processa “naturalmente” a cultura do mundo e a vê-lo de certa maneira.

Se vivesse em nosso tempo diria que é uma pintura, e não uma fotografia, e ainda assim diria que as duas são “representações” pois não é possível conceber a realidade objetiva, apenas subjetiva, isto é, na mente do sujeito, então é ainda dualista.

Sua espécie de dualismo, é a oposição entre os conceitos de “intuição derivada”, por um lado, e “intuição originária”, por outro lado, não uma cultura originária, mas intuição.

Já a “intuição derivada” é, segundo Kant, a “intuição sensível” do ser humano; e a “intuição originária” é a “intuição intelectual” que Kant diz que é divina e não cultural.

Não fiquem felizes os religiosos, embora a maioria entenda isto como “transcendência” e que deu na religiosidade “vaga” dos dias de hoje, aquela que afirma que qualquer intuição é do “Espírito Santo”, sem ter relação com a objetividade, eis o Kant puro.

O grande problema kantiano que refletirá na filosofia, aquela que Marx dizia dos velhos hegelianos, onde o Homem e Deus estão em realidades totalmente separadas e sem alguma possibilidade de interação ontológica, eis o Deus “morto”.

O pensamento kantiano que considero mais essencial é aquele que:

 “E se tirássemos do centro o nosso sujeito ou mesmo só a constituição subjetiva da sensibilidade em geral, toda a constituição, todas as relações dos objetos no espaço e no tempo, bem como o espaço e o tempo desapareceriam porque, como fenómenos, não podem existir em si próprios, mas apenas em nós.”

Quando a física moderna descobre que espaço e tempo não são absolutos, o centro de gravidade de Kant fica “balançado” e o a objetividade é questionada pois o sujeito passa a ser parte do fenômeno, então não é só representação, mas parte “ontológica”.

 

O dualismo racionalista

05 jun

A base de todo racionalismo ocidental encontra-se o dualismo cartesiano, seu fundamento mais essencial está na res-extensa e a res-cogitans, no fundo é a ideia de que há uma substância “pensante” e outra “corporal”, mal traduzida como dicotomia corpo-mente, na verdade em termos da filosofia atual é a ideia que separa corporeidade da consciência histórica.

Gadamer tratou isto de modo muito aprofundado, primeiro separando a consciência histórica romântica, analisando principalmente Dilthey, e depois a questão da teoria e prática, fazendo um elogio a teoria, na contramão dos “práticos” que no fundo são empiristas modernos.

Rex extensa é aquilo que chamamos de coisa um substância material, enquanto a res cogitans é a substância pensada, ou coisa pensante, na verdade o dualismo corpo-mente é o psicofísico, que também pode ser pensado em termos atuais como corpo-consciência.

O código cartesiano então o que é ? é algo que não suspende o ego, o eu do individualismo contemporâneo, por isso pode ser chamado também de ego cogitans, como alguns autores fazem, caso de Husserl e Gadamer.

É equivocada as ideias de que Descartes tenham raízes fenomenológicas, a leitura do texto de Husserl: “do objetivismo ingênuo a um subjetivismo transcendental”, encontrando desse modo o “fundamento racional absoluto” de todas as ciências positivas é uma interpretação apressada, pois serão questionadas  e “incluídas de um só golpe no parêntese da epokhé”, sendo sabadio que o epokhé além de anterior ao pensamento cartesiano tinha para a filosofia antiga um “esvaziamento” completo de categorias e do próprio ego para penetrar na a-letheia.

Assim o ser do res cogitans não é,  ser essencial, mas apenas residual; , pois não pela redução transcendental ao que “todo ente concebível para mim e toda esfera de ser de um tal ente” ao ego absoluto, e sim pela abstração lógica e matemática, nada tendo a ver com o transcendente.

Husserl é claro ao apontar que no § 10 das Meditações cartesianas, intitulado “Como faltou a Descartes a orientação transcendental”, é possível captar o eu puro e suas cogitationes.

O cogito ergo sum não é, portanto um epokhé, pois não suspende o próprio ego e suas pré-concepções e a tabula rasa que será um acréscimo de Kant também terá problemas.

 

O dualismo e o estado

04 jun

Talvez em nenhuma área o dualismo seja tão “injusto” quanto no direito, é tão verdadeiro que para o direito internacional existem duas teorias: a do dualismo e do monismo.

A teoria dualista defende que o Direito Internacional e o Direito Interno (aquele que diz respeito a Estado em relação a outros) são dois sistemas totalmente distintos e independentes, o último regula as relações entre Estados e, portanto não é obrigatória entre os indivíduos, a alusão ao idealismo é clara por o “estado” assim como o “indivíduo” são elementos “ideais”.

Já a teoria monista defende que o Direito é único tanto nas relações do Estado com a sociedade, quanto nas relações entre Estados, e esta corrente divide-se em duas: a primeira que é chamada de monismo internacionalista prevendo que existam normas do Direito Internacional face ao Direito Interno, prevalece a do Direito Interno, e o outro chamado Monismo Nacionalista que defende que nesta mesma situação, a primazia é do Direito Interno sobre o Internacional, em tempos de nacionalismo exacerbado isto é importante ser debatido.

O Brasil em sua Constituição é omisso (em direito se diz silente) quanto à teoria adotada, mas a posição do Supremo Tribunal Federal é no sentido de uma Teoria Dualista moderada, recebendo o Tratado Internacional o Status de Lei Ordinária, por disposição constitucional, salvo os tratados sobre Direitos Humanos, cujo 2º. Do artigo 5º. Da Constituição Federal atribui eficácia a normal supralegal, quer dizer que é superior a lei na hierarquia jurídica.

Trocando em miúdos, devemos ter ou não leis internacionais além das disposições gerais de direitos humanos da ONU, as humilhações e preconceitos com estrangeiros em muitos países do mundo tem gerado uma odiosa relação que muitas vezes explodem em violência.

A necessidade de discussão destas questões “doutrinárias” já é tempo, e não devemos mais falar apenas em Nações Unidas, mas em algum tratado de “unidade” entre as nações, algo na linha que já vai a União Européia, talvez um bom caminho, seriam União da America Latina, a União Pan-Africana e quem sabe a Asiática, recompondo o globo fragmentado em nações.

Não significa de forma alguma a submissão ou a negação das culturas locais, muito ao contrário, acordos internacionais poderão evitar a submissão de algumas culturas “com maior prevalência” seja financeira, colonial ou bélica sobre as outras.

É preciso olhar para o planeta como um todo e pensar numa cidadania mundial.