Arquivo para julho, 2018
Desaceleração e a técnica
Depois de criticar de modo convincente Baudrillard e de afirmar de modo categórico que “a mera velocidade não supõe grande influência na produção do sentido histórico” (p. 36).
O que conta sobretudo é a instabilidade da trajetória, o desaparecimento da própria gravitação, as irritações (irritationen) ou oscilações temporais.” (pag. 36), Byung-Chul Han cede a tentação de Baudrillard de que é a moderna tecnologia responsável por isto, ora, mas qual a origem disto?
O livro Cultura e Simulacro de Baudrillard é da década de 70, a internet era nascente com usuários acadêmicos, o Mal-estar na civilização de Freud é da década de 30, isto sem falar de Nietzsche que faleceu no início do século passado, mais precisamente em 25 de agosto de 1900.
Portanto é preciso retornar aos primeiros argumentos de Han que são mais sólidos, “a aceleração não é a única explicação plausível do desaparecimento do sentido” (pag. 35), e a “expressão ´átomos de sentido´ também conduz a um erro, porque o sentido não é nuclear” (idem), dá um pequeno passo na direção correta: “o repouso não é causado pela aceleração e pelo movimento de trocas, mas pelo já não-se-saber-para-onde” (pag. 38), uma falta de metas.
Vai criticar também Bauman, para quem o homem moderno é um peregrino no deserto, que pratica uma “vida a caminho” (pag. 43), e num relance retorna ao sentido afirmando “a secularização não comporta uma desnarrativização (Demarratovosoerimg)”, mas volta a trás e diz que a modernidade continua a ser uma narrativa, porém a cultura impressa e reprodução não tem o caráter mítico e escatológico da cultura oral, é outra narrativa, a romântica, já esclareceu Gadamer.
A crítica a técnica e ao progresso técnico é a tentação comum, apontá-la como religiosa é no mínimo contraditório já que ela é herdeira legítima das luzes e da razão, não é história como história da salvação, mas como determinismo histórico romântico a moda de Dilthey.
A imersão na cultura digital, ou na cibercultura, não desterritorializou (o rádio, a TV e o cinema o fizeram antes) nem secularizou, quem o fez foram as luzes e o capital financeiro que não reconhece pátria nem lugar, a narrativa que omite o processo de produção de vídeos, imagens, fotografias e também de código digital em todo planeta não é só uma inversão técnica ou tecnológica, é uma inversão cultural, graças a elas culturas e povos renasceram.
Não é preciso andar pelo mundo, porque o mundo anda por você, e isto é o que estimula jovens a conhecer outros países e lugares, o enraizamento pátrio que é anti-evolutivo e conservador, o homem andou pelo mundo antes de fixar fronteiras, quem fixou foram os impérios, que agora erguem muros e discursos pátrios radicais, o mundo já é uma aldeia global, o que há agora é um sentimento saudosista de um mundo que não volta mais.
O aroma e a significação
Assim como a arte, o aroma requer apreciação e sensibilidade, mas isto mais tempo do que significação, isto nos diz Byung-Chul Han: “o mundo está carregado de sentido. Os deuses não são mais do que portadores de sentido”. (HAN, 2016, p. 25).
Penetra no significado verdadeiro da narrativa, do oral primitivo e contemporâneo: “a narrativa cria o mundo do nada” (p. 25), mas não a deixa de liga-la a imagem: “o mundo pode se ler como uma imagem” (idem).
Sem citá-las Han parece penetrar na arte rupestre, ao desvelar a relação: “aqui tudo que tem sentido é a eterna repetição do mesmo, a reprodução do já sido, da verdade imperecível. É assim que o homem pré-histórico vive num presente que perdura.” (HAN, 2016, p. 26)
A cosmogonia de Han penetra no escatológico: “distingue de qualquer forma do tempo histórico que promete progresso … o eskáton indica o fim dos tempos … o tempo escatológico não admite ação alguma, projeto algum.” (HAN, 2016, p. 27).
Desvela também o sentido mais profundo da pós-verdade, “o tempo será desfactizado (defaktiziert) e, ao mesmo tempo, desnaturalizado (entnaturalisier)” (pag. 28), ao apontá-la já nas Luzes (o iluminismo): “a revolução refere-se a um tempo desfactizado. Livre de todo ser/estar lançado, de qualquer força natural ou teológica, o mundo, como um colosso a vapor, solta-se em direção ao futuro, onde espera encontrar a salvação” (pag. 29).
Cita Robespierre falando na cerimônia constitucional de 1793: “Les progrès de la raíson humaine ont préparé cette grande révolution, et c´est à vous que´est spécialement imposé le devoir le l´accélérer” (citado na página 29), era o triunfo da razão, também comenta a mesma experiência em “A morte de Danton” escrito por Büchner, ao citar Camille: “As ideias fixas comuns que passam por ser o senso comum são insuportavelmente aborrecidas.” (cit. P. 29).
Byung-Chul separa o tempo oral do histórico ao compreender “o mítico que funciona como uma imagem”, e vê a história da galáxia de Gutenberg como aquela que “cede lugar às informações” (p. 30), para dar a estas uma definição inédita: “na realidade, a informação apresenta um outro paradigma. No seu interior, habita outra temporalidade muito diferente. É uma manifestação do tempo atomizado, de um tempo de pontos (Punkt-Zeit).” (pag. 31).
Volto a página anterior para entender seu conceito de aroma: “A história ilumina … impõe uma trajetória narrativa linear … não tem aroma” (HAN, 2016, p. 30).
Contra a tese de Baudrillard, “a informação não se relaciona com a história como a simulação sempre perfeita do original ou da origem” (pag. 31), dirá por isto é um novo paradigma.
Dirá ao final deste capítulo que o tempo “precipita-se, apinha-se para equilibrar uma falta do Ser essencial”, fazendo que “a falta do Ser se torne ainda mais penetrante” (p. 32).
HAN, Byung-Chul. O Aroma do Tempo: um ensaio Filosófico sobre a Arte da Demora, Lisboa. Relógio d´Água, 2016.
Des-tempo e a morte
Recordando Nietzche, Chul Han fala do sentimento do último dos homens (em Assim falou Zaratrusta): “o que é o amor? O que é a criação ? O que é o anseio? O que são as estrelas?” (pag. 13), não é a pergunta angustiada de um pensador, mas antes a pergunta desesperada diante do fim: “Ex-pira (ver-endet) a destempo em vez de morrer” (HAN, 2016, p. 13).
Assim, explica o autor, o que não pode morrer devido ao tempo parece um “des-tempo”, então a “aceleração atual” é esta incapacidade de acabar e concluir, desaparece “qualquer tempo apropriado ou bom” (pag. 14), então a vida são pequenos prazeres a noite ou no dia.
Aqui aproxima engenhosamente Nietzsche de Heidegger: “ser livre para a morte”, mas há algo novo em nosso tempo onde “a fragmentação da morte reduz a morte ao parecer” (pag. 15), e dirão tanto Nietzsche como Heidegger “se opõe a fragmentação do tempo”, mas como ?
A análise de Han sobre Nietzsche é perfeita, afirma que ao invocar insistentemente sobre “o herdeiro” e a “meta” indica que “não está consciente do alcance que tem a morte de Deus” (pag. 16) pois o “presente reduz-se a um ponto temporal fugidio” (HAN, 2016, p. 16).
Aqui vai separar o “se” impessoal heideggeriano, do “último dos homens” de Nietzsche, enquanto em Ser e Tempo, Heidegger tenta “a história em vista do seu fim iminente”, a herança (e não o herdeiro de Nietzsche) e a transmissão como “legado” geram “uma continuidade histórica”, mas numa “des-presentação do hoje”, a contração do presente, e a perda da duração e a aceleração que são formas muito mais complexas, afirma Han.
Aqui retorno ao ponto, onde não há atração temporal entre processos, que seria no fundo aquilo que chamou de aroma do tempo, tanto na sua apreciação quanto na sua duração.
É um presente reduzido a picos de atualidade, intensifica, também o terreno da ação, à atemporalidade (Unzeitigkeit) (pag. 19), onde o contrário do tempo pleno, “é a de um tempo de duração vazia, que se dilata sem princípio nem fim” (HAN, 2016, p. 19).
Explica ao final deste capítulo, o que de certa forma intuía sem ter uma explicação exata, “as pessoas tendem antes, a apressar-se de um presente para outro. É assim que cada um envelhece sem se tornar maior”, então o tempo ex-pira a destempo.
HAN, Byung-Chul. O Aroma do Tempo: um ensaio Filosófico sobre a Arte da Demora, Lisboa. Relógio d´Água, 2016.
Carregar pesos ou uma vida leve
A mente humana é prodigiosa, mas é a primeira fonte de benefícios e malefícios, como um corpo que ao colocar alimentos estragados reagem, a mente reagirá ao que for colocado lá.
O bombardeio de informação, de consumo e principalmente a ausência de uma ética e uma estética de uma vida leve, leva as mais diversas doenças contemporâneas: a depressão, a ansiedade, o workaólico (trabalho excessivo), e sobretudo uma ausência de convívio saudável.
O filósofo coreano-alemão Byung -Chul Han escreveu que o problema atual já não é mais a aceleração, esta já passou, agora: “é somente um dos sintomas da dispersão temporal” (HAN, 2016, p. 9).
O filósofo já havia alertado estes problemas em “A sociedade do cansaço” e “A salvação do belo”, agora penetra na alma humana e diz que agora o que há é uma atomização do tempo, cada um passa a viver o seu fragmento de si como “seu pequeno eu”, com a “perda radical de espaço, de tempo, do ser-com (Mitsein)” (HAN, 2016, p. 10).
Na sociedade do cansaço desenvolveu o tema da “vita activa” referência a Arendt no animal laborans (ver nosso post), que conduziu a hiperatividade do trabalho (workaólico), agora já é “necessária a revitalização da vita contemplativa”. (HAN, 2016, p. 11).
Reduzir os pesos diários, tirar tempo para a natureza, para o passeio e convívio, não andar com muitos pesos, sacolas, e “atropelando o tempo”, também o consumo é uma descarga de maus hábitos cotidianos, de ausência de contemplação.
É curioso que mesmo para descansar precisamos carregar malas pesadas, comida e um serie de outras coisas que nos lembrem o dia-a-dia pesado e sem o “aroma do tempo”, é como sentir saudades de uma vida que no fundo queremos nos libertar.
Jesus ao mandar seus apóstolos para a missão, para que não se preocupassem com estas coisas, aconselha transportarem pouca coisa, em Marcos 6,8-9: “Recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado, nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura. Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas.”
A vida pode ser leve se não levarmos muitas “malas” e pesos, é curioso observar que mesmo os mendigos que não tem nada necessitem de transportar sacos e lixos, na verdade é o reflexo da mente que está ocupada de coisas estranhas e nada leves, ainda que vivam como sem-nada.
HAN, B.C. O Aroma do Tempo: um ensaio filosófico sobre a Arte da Demora, Lisboa: Relógio d´Água, 2016.
A mente e corpo, a relação com o mentalismo
Já postamos aqui sobre o estruturalismo, e aquilo que consideramos efeitos tardios da modernidade naquilo que chamou de estruturalismo ou desconstrução, que antes de Derridá já estão presentes no pensamento de Alun Munslow, e este por sua vez tem uma perspectiva “desconstrucionista” ligada ao pensamento de Hayden White e Keith Jenkins, que pode ser lido na revista Rethinking History.
Porém o objetivo aqui é fazer uma leitura, ainda que seja quase impossível, do angulo de visão da mente, há uma afasia chamada de Wernicke, que é justamente a alteração na linguagem oral e escrita, o que torna a comunicação sem precisão, por causa de alguma lesão neurológica.
Isto é particularmente interessante porque significa que é possível, sob circunstâncias restritas, ligar a mente a um processo antropológico de seu desenvolvimento, e tornar o processo “mentalista” ligado de certa forma ao histórico.
Assim a relação do cerebelo está ligado as funções musculares e de coordenação, enquanto o tronco cerebral regula as funções corporais (batida do coração, temperatura do corpo, etc.) e o Lóbulo temporal: a compreensão, a linguagem, a escuta, a memória a aprendizagem, mas curiosamente é ali que está ligada a área da linguagem oral e escrita, chamada de Wernicke.
Nas áreas superioridades estão as áreas de desenvolvimento humano historicamente posterior, especialmente no Lóbulo Frontal: moralidade, raciocínio, personalidade e outras.
Nagel toca o dilema corpo e mente, já falamos da mente do outro, partindo da premissa que admite que o outro é consciente, e se não concorda-se com o ceticismo, sabe-se que a relação de consciência com a mente só poderá ser aquilo que “depende do corpo”, ou da realidade.
Para explicar seu pensamento faz a experiência de comer um chocolate e pergunta se com instrumentos que pudessem medir as sensações dentro do cérebro: “Mas poderia encontrar o sabor do chocolate?” (pag. 31).
“Mas as pessoas pensam que acreditar numa alma é algo antiquado e pouco científico. Tudo o mais no mundo é feito de matéria física – combinações dos diferentes elementos químicos?” (pag. 32), “os cientistas descobriram o que é a luz, como crescem as plantas, como se movem os músculos – é só uma questão de tempo até descobrirem a natureza biológica da mente. É assim que pensam os fisicalistas.” (pag. 33), no domínio da mente chamou-se aqui mentalistas.
O autor explica que uma teoria “avançada do fisicalismo [mentalismo] é a de que a natureza mental dos seus estados mentais consistem nas relações com as coisas que os causam e coisas por eles causadas” (pag. 36), um retorno a casualidade, que a própria física contemporânea tratou de negar, Heisenberg enunciou e a física das partículas e a astrofísica comprovaram.
O assunto é complexo, mas o livro de Nagel é uma boa introdução ao problema corpo-mente.
NAGEL, T. Que quer dizer tudo isto? Uma iniciação a filosofia. 5a. ed., Lisboa: Gradiva, 2018.
Nagel, o fisicialismo e o ser
Todo o fisicalismo moderno, a physis grega é outra coisa, é essencialmente reducionista, pois “todo o reducionista tem a sua analogia preferida, retirada da ciência moderna” (Nagel, 1974)
Embora Nagel não defina o que é físico para ele, diz textualmente em nota de rodapé, afirma que “para além de ser interessante, uma fenomenologia que seja objetiva neste sentido poderá permitir que as questões acerca da base física da experiência adquiram uma forma mais inteligível” (Nagel, 1974).
Ainda que Aristóteles tenha chamado os pré-socráticos de “physikoi”, isto não tem a ver com a concepção moderna, assim como não se pode traduzir physis por natureza simplesmente.
Destaca-se aqui dois autores que falaram sobre este conceito grego, para Jaeger: “a palavra abarca também a fonte originária das coisas, aquilo a partir do qual se desenvolvem e pelo qual se renova constantemente o seu desenvolvimento; com outras palavras, a realidade subjacente às coisas de nossa experiência”, enquanto Burnet, por sua vez, afirma que “na língua filosófica grega, physis designa sempre o que é primário, fundamental e persistente, em oposição ao que é secundário, derivado e transitório”.
São estas concepções que mais se aproximam de Nagel, porém pode-se dizer seu conceito é quase ontológico: “mas fundamentalmente um organismo tem estados mentais conscientes se e só se há algo que é ser esse organismo — algo que é ser para o organismo.”
Porém o conceito importante e definitivo de Nagel é que pode fazer sentido perguntar se como é ser um morcego, mas não é concebível perguntar-se como é ser uma tostadeira, a física tem limites e se quiser pode-se ir mais fundo, já postamos aqui sobre a “Incomplete Nature: the mind emerged to matter” de Terrence Deacon.
NAGEL, T. Como é ser um morcego? (1974). Rev. Abordagem Gestalt. vol.19 no.1 Goiânia jul. 2013
É possível simplificar a filosofia ?
Sim e não, conforme postamos a semana passada, há complexidade na simplificação e nem tudo que é simples pode ser correto, na maioria das vezes é um reducionismo, onde a simplificação alterou a análise do fenômeno tornando outra coisa do que é.
Mas alguém que conseguiu isto, ao menos em parte, foi Thomas Nagel, propôs-se a abordar temas como: o mundo além das mentes, para além de outras mentes, o velho paradoxo corpo e mente, como é possível a linguagem, existe o livre arbítrio, quais desigualdades são injustas, a natureza da morte e o sentido da vida.
Sem dizer autores e nomes está abordando problemas centrais da filosofia, vai se utilizar também de exemplos práticos, didáticos e começa por uma pergunta sobre as coisas que é no fundo a pergunta de boa parte da filosofia: “será que as coisas pareceriam diferentes se de fato existissem apenas em sua mente … e se fosse apenas um sonho gigante? … (NAGEL, 2018, p. 13).
“É mesmo possível que não tenhas um corpo nem um cérebro – uma vez que as tuas crenças acerca disso vêm unicamente dos dados dos teus sentidos.” (NAGEL, 2018, p. 14).
Começa então a dividir as correntes da filosofia, “a conclusão mais radical a retirar daqui seria a de que a tua mente é a única coisa que existe” (p. 15), esta é a corrente solipsista.
A segunda posição é “pode existir ou não um mundo exterior, e, se existe, pode ser ou não completamente diferente da maneira como te parece – não há maneira de o saberes ?” (p. 15), esta é a posição do ceticismo.
“Se não podes ter a certeza de que o mundo fora da tua mente existe agora, tu próprio, como podes ter a certeza de que tu próprio existisse antes? (p. 16), e isto remete ao problema do tempo, da memória, da informação, da linguagem e do ser.
No final o autor afirma que é “impossível acreditar seriamente que toda as coisas no mundo à tua volta podem não existir na realidade” (p. 20), isto pode ser tão evidente que não necessitamos de fundamentar, mas ainda assim haveriam três questões sérias:
1) Faz sentido a possibilidade de o mundo interior ser tudo que existe, mas existindo o exterior quem garanta que não seja diferente do que pensa?
2) Se qualquer destas hipóteses sejam possíveis, existe alguma maneira de provar a ti mesmo que essa hipótese não é de fato verdadeira ?
3) Se não podes provar que existe seja o que for fora da sua própria mente, será correto continuar a acreditar na existência de um mundo exterior?
Existindo o mundo exterior, o problema é saber se tudo se move como um relógio ou seja é pré-determinado, o assim chamado determinismo, ou se há o livre-arbítrio e as coisas podem ser escolhidas, o autor fala da escolha de pessoas entre comer um belo pedaço de bolo ou uma fruta, e o fato que o sol não pode escolher de não levantar-se no início do dia, porém mesmo na natureza a física das partículas demonstra que há um indeterminismo na natureza.
Aborda isto no capítulo 6 daí virá a questão da lógica no capítulo 7.
Se pensar que existem as duas coisas deve pensar que existem também outras mentes, e estas mentes terão experiências e visão das coisas diferentes da sua, há um modo de ver que as duas estariam corretas ou as duas erradas, o que é certo ou errado ? Abordará isto no capítulo 7, e o certo e errado diante da justiça, abordará isto no capítulo 8, e a morte o que é, capítulo 9 e o sentido da vida, capítulo 10.
NAGEL, T. Que quer dizer tudo isto? Uma iniciação a filosofia. 5a. ed., Lisboa: Gradiva, 2018.
Porque é preciso pensar?
Sonhava em escrever um livro de filosofia, não o escreverei mais, talvez faça considerações, como as que farei aqui, mas ao encontrar inesperadamente o autor Thomas Nagel em: “Que quer dizer tudo isto? Uma introdução à filosofia” em sua 5ª. edição (Gradiva, 2018) penso que ele fez o trivial: apresentar questões fundamentais em palavras do cotidiano.
Assim, farei apenas comentários, não é um resumo, são apenas apontamentos, e talvez seja interessante dizer como o encontrei, foi até de outra obra: Como é ser um morcego? (The Philosophical Review LXXXIII, pp. 435-50, 1974), onde diz que esta pergunta pode fazer sentido, mas não faz sentido perguntar como é ser um tostadeira, atualizando para os dias de hoje como é ser a Robô Sophia, embora hajam pessoas fazendo esta pergunta.
Não é esta questão que responde diretamente, mas questões atuais que estão no pensamento cotidiano, ou seja: Como sabemos seja o que for, o que são as outras mentes, o significado das palavras, a liberdade (o livre arbítrio), a morte e o sentido da vida.
A filosofia parece não tratar disto, mas trata só que em diálogo com outros pensadores, esclarece o autor logo no início do livro: “a filosofia é diferente da ciência e da matemática … não se assenta em experimentações nem na observação, mas apenas no pensamento.” (p. 8).
Todos nós pensamos, é equivocado pensar que só filósofos e cientistas pensam, a questão da filosofia é; “questionarmos e compreendermos ideias muito comuns que usamos todos os dias sem pensar nelas” (p. 8), e ao fazermos isto somos levados “na onda” para onde ela queira nos levar, em tempos de crise e profundas mudanças isto pode ser fatal.
Explica o autor, entre outras coisas duas perguntas que considero essenciais: “Um físico perguntará de que são constituídos os átomos ou o que explica a gravidade, mas um filósofo irá perguntar como podemos saber que existe qualquer coisa fora das nossas mentes” (p. 9),
Isto é essencial porque esta é a pergunta idealista contemporânea, e o idealismo é a grande filosofia de nosso tempo, ele é a base do que convencionou-se chamar de modernidade.
NAGEL, T. Que quer dizer tudo isto? Uma iniciação a filosofia. 5a. ed., Lisboa: Gradiva, 2018.
Simplicidade e Sabedoria
Simplificar não é reduzir conceitos ou coisas que são naturalmente profundas, entre elas, o amor, a sabedoria e o próprio conhecimento são difíceis de serem tratados de modo simples, e não devem ser vistos com simplismos e pouca sabedoria, porém é possível com a vida e com exemplos do dia a dia muito concretos mostrar e demonstrar o que é o conhecer humano.
Porém em tempos de pós-verdades e de acesso livro a produção e difusão do conhecimento, os equívocos do simplismo e da cultura rasa podem ter efeitos devastados, o que não significa confundir e tornar complexo desnecessariamente aquilo que se explica ou que se demonstra.
Assim como o conhecimento reduzido de determinado assunto ou objeto de estudo pode e em geral leva a um reducionismo, termo usado em termos científicos para dizer que a redução da complexidade não explicou o fenômeno que se propunha estudar, é uma das maiores causas do empobrecimento cultural contemporâneo, ao qual a Web é apenas um “meio” de difusão.
Estudos que levam a uma melhor estruturação do conhecimento como as Ontologias, a Web Semântica e agora um novo alvorecer da Inteligência artificial, levam sem dúvida a um maior progresso do pensamento humano e do conhecimento científico.
É preciso, volta-se a enfatizar não complicar além do necessário e também não reduzir além do possível para a essência de um fenômeno ou objeto de estudo não seja perdida ao estudá-la.
Em termos sociais, geralmente se impõe pela autoridade muito mais pela forma que de fato pelo conteúdo, a pompa que tem determinados conhecimentos não significa necessariamente a sabedoria ou profundidade de conhecimento, muitas vezes troca-se a forma pelo conteúdo.
Assim, se alguma divindade ou suprema sabedoria estivesse entre nós dificilmente seria reconhecida, como na cultura cristã a passagem bíblica de Marcos 6,3 reflete: ´Este homem não é o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? Suas irmãs não moram aqui conosco?´ E ficaram escandalizados por causa dele.”
Não se escandalizem pela simplicidade, mas justamente pela ausência dela entre aqueles que se arrogam conhecimento e sabedoria.
Questões simples e complexas da Web Semântica
Sempre nos deparamos com conceitos alguma parecem uma coisa no senso comum e não o são, tornam-se complexas coisas que eram simples, é o caso de muitos exemplos: as redes sociais (confundidas com as Mídias), os fractais (números ainda genéricos demais para serem usados no dia a dia, mas importantes), a inteligência artificial (que não é a humana), enfim inúmeros casos, podendo ir para o virtual (não é o irreal), as ontologias, etc.
Estes são os casos da Web Semântica e das Ontologias, onde toda simplificação leva a um erro.
Provavelmente por isso, um dos precursores da Web Semântica Tim Hendler, escreveu um livro Semantic Web for Ontologists modelling: : Effective Modelling in RDFS and OWL (Allemang, Hendler, 2008).
Os autores explicam no capítulo 3 que quando se fala de Web Semântica “de uma linguagem de programação, normalmente nos referimos ao mapeamento da sintaxe da linguagem para algum formalismo que expressa o “significado” dessa linguagem.
Agora quando falamos “de semântica´ da linguagem natural, muitas vezes nos referimos a algo sobre o que significa entender o enunciado – como ir das letras ou sons estruturados de uma linguagem para algum tipo de significado por trás deles. Talvez a parte mais primitiva dessa noção de semântica seja uma representação da ligação de um termo em uma declaração à entidade no mundo a que o termo se refere.” (Allemang, Hendler, 2008).
Quando falamos de coisas do mundo, no caso da Web Semântica falamos de Recursos, conforme dizem os autores talvez isto seja a coisa mais incomum para a palavra recurso, e para elas foi criada uma linguagem de definição chamada RDF como Framework de Descrição dos Recursos, e eles na Web tem uma unidade de identificação básica chamada URI, juntamente um Identificador Uniforme de Recursos.
No livro os autores desenvolvem uma forma avançada de RDF chamada de RDF Plus, que já tem muitos usuários e desenvolvedores, para modelar também ontologias usando uma linguagem própria para elas que é o OWL, o primeiro aplicativo é chamado SKOS, Uma Organização simples do Conhecimento, que propõe a organização de conceitos como dicionários de sinônimos, taxonomias e vocabulários controlados em RDF.
Como o RDF-Plus é um sistema de modelagem que fornece suporte considerável para informações distribuídas e federação de informações, é um modelo que introduz o uso de ontologias na Web Semântica de modo claro e rigoroso, embora complexo.
Allemang, D. Hendler, J. Semantic Web for the Working Ontologist: Effective Modelling in RDFS and OWL, Morgan Kaufmann Publishing, 2008.