RSS
 

Arquivo para setembro, 2018

A verdade e os atos

14 set

Pode parecer estranho para o discurso moderno que a verdade esteja além dos fatos, é porque considera-se o que é factual aquilo que estaria além do agir e do pensar, mas não o é, diria o escritor brasileiro Rubem Alves: “A beleza está além das palavras”.
Por isso Heidegger, Gadamer e Byung-Chul Han e outros é claro, não puderam falar da verdade sem deixar de ter presente a obra de arte, não pela concepção idealista do “belo”, mas por aquilo que está entre a ação e a contemplação.
Uma das artes mais belas que é o teatro, não por acaso tem peças divididas em “atos”, porém que não deveria ser chamada de re-presentação, somente de presentação, vê-la ao vivo é quase uma imposição, vê-la filmada torna-se outra coisa ou cinema ou televisão, agora os vídeos da Web, que fazem sucesso, mas este sim são re-presentações, com muitos fakes.
E o que deve dirigir nossos atos, está no post anterior a citação de Gadamer: ““o que o homem precisa não é apenas o posicionamento persistente de questões fundamentais, mas o sentido do que é viável, o que é possível, o que é correto, aqui e agora” (Gadamer, 1987) e não uma nova mitologia moderna.
A verdade dos atos sempre foi difícil de ser aceita e até compreendida pelos homens, aquilo que sempre esteve “além das palavras” nos atos, diz o evangelista Marcos (8,27-29) sobre os atos de Jesus e que seu discípulos assistiram: “Quem dizem os homens que eu sou?” Eles responderam: “Alguns dizem que tu és João Batista; outros que és Elias; outros, ainda, que és um dos profetas”. Então ele perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?”, ainda que duvidassem Pedro disse que era o Messias, mas diziam “ele faz bem todas as coisas”.
O pós-factual ou a pós-verdade só é impactante atualmente pelo número de narrativas e a quantidade de pessoas capazes de seguir as pseudo-mitologias modernas, querem só os fatos que convém, mas a coerência dos atos continua tão rara quanto o foi em toda a história.
O educador brasileiro Paulo Freire dá a sentença: “É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal maneira que num dado momento a tua fala seja a tua prática.“

 

Então o caminho é o método

13 set

Além da verdade histórica, oposta a hermenêutica (Shcleimacher) e do historicismo românticos (Dilthey), Gadamer trata a questão da verdade ligada tanto a religião quanto a arte, uma antecipação transdisciplinar, e quem sabe talvez seu “método” (veja nosso post anterior a questão de Ricoeur), dito desta forma:

“Uma sociedade culta que se afastou de suas tradições religiosas espera mais da arte da consciência estética e do ‘ponto de vista da arte’ do que podem produzir. O desejo romântico por uma nova mitologia … dá ao artista e à sua tarefa no mundo a consciência de uma nova consagração. Ele é algo como um “salvador secular”, pois espera-se que suas criações alcancem em pequena escala a propiciação do desastre para o qual um mundo não salvo espera” (Gadamer, 1997), é claro que a salvação aqui é a terrena (secular) e não a celeste. 

Na verdade, é o que compreendemos por história que nos faz patinar em patamares da tradição, diz Gadamer sobre a história: “Na verdade, a história não nos pertence, mas sim nós a ela”, e se é ontológica, haverá um Ser que a faz cumprir.

Explica Gadamer as dificuldades não só histórica, mas principalmente dos preconceitos ligados a tradição: “É a tirania dos preconceitos ocultos que nos faz surdos ao que nos fala na tradição.” (Gadamer, 1997)

E acrescenta sobre esta dificuldade dialógica: “Não podemos entender sem querer entender, isto é, sem querer deixar que algo seja dito … O entendimento não ocorre quando tentamos interceptar o que alguém quer nos dizer alegando que já o sabemos.”, em geral não fazemos um vazio conceitual para ouvir o outro.” (Gadamer, 1996)

Indica como colocar isto em planos práticos e reais: “o que o homem precisa não é apenas o posicionamento persistente de questões fundamentais, mas o sentido do que é viável, o que é possível, o que é correto, aqui e agora. O filósofo, deve ser aquele que dentre todas as pessoas, deve, penso eu, estar ciente desta tensão entre o que ele alega alcançar e a realidade em que se encontra.” (Gadamer, 1997)

É preciso antever (virtualmente) possibilidades, mas ser capaz de adaptá-las dentro das possibilidades reais, assim não há hermenêutica ou historicismo românticos, ambos devem ter presente as realidades e interpretá-las.

GADAMER, H.G. Verdade e Método, trad. Flavio Paulo Meurer. Rio de Janeiro, Petrobolis: 1997.

 

 

Sobre a verdade, mas qual é o método ?

12 set

A verdade positiva, estabelecida pela ciência e pelo iluminismo tiveram dois alicerces: a ideia (idealismo) ligada a experiência (empirismo), cuja tentativa inglória foi criar uma enciclopédia universal do conhecimento, o “sapere audi” (ousar saber) de Kant, com grandes feitos da modernidade foram insuficientes para abolir a guerra, criou uma crise de valores, uma concentração de riquezas e uma visão de mundo com sinais de fragilidade.
O que a transdisciplinaridade e os educadores sóbrios estão exigindo, uma volta as ciências que deem sentido a vida, ao humanísticos perenes, a Carta sobre o Humanismo de Heidegger, em que bradava: “mas nisto não se deve esquecer que “sujeito e objeto” são expressões inadequadas da Metafísica que se apoderou, muito cedo, da interpretação da linguagem, na forma da “Lógica” e “Gramática” ocidentais.” (Heidegger, 2005, p. 8).
O que chamamos de interpretação, afirma Heidegger no parágrafo 32 de “Ser e Tempo” (é mencionado em “Verdade e Método”), é na verdade desenvolver “as possibilidades projetadas da compreensão”, significa um processo dialógico onde seja possível reaver os pré-conceitos e uma nova “fusão de horizontes”, neste sentido o hermético é contraposto ao hermenêutico.
O pré-conceito, visto como antecipação da experiência humana, atesta o nosso vínculo a tradição na qual estamos mergulhados, mas é preciso o que Gadamer chama de “consciência-da- história dos efeitos” (tradução possível de “Wirkungsgeschichtliches Bewusstsein”), conforme explicação em seu texto “determinada por um devir histórico real, de tal forma que ela não possui a liberdade de situar-se em face ao passado”, dai sua critica a Dilthey.
O nosso distanciamento da verdade, Gadamer começa pela estética, uma cultura das aparências- pela qual começa seu livro, recapitula nos idealistas as ideias de gosto e de vivência (“Erlebnis”), esta última posta sempre com mais enfase, ainda que de modos distintos em Dilthey e Husserl , se desenvolverá de modo a falsear as “ciências do espírito” (ver em sua obra “A Extensão da Questão da Verdade à Compreensão nas Ciências do Espírito”), num esforço analítico de concretizar a chamada consciência histórica, nisto fundamenta-se toda sua crítica à hermenêutica romântica de Schleiermacher, à “Aufklärung” (Ilustração) e ao historicismo de Droysen, Ranke, Dilthey e Hegel.
Sua crítica vai ao fundo da noção de estética de uma obra de arte, quando um pintor, com certa técnica ou estilo, vai a pintura com uma certa técnica, o que se lê no quadro não é a alma do pintor, mas uma técnica própria da época, claro salvo raras exceções, em geral, é isto.
Sua análise é também a partir da analítica hermenêutica, ao criticar Schleiermacher dá-lhe também razão ao dizer que na obra de um artista, de um poeta, um escritor seria fundação perceber a intenção autoral, assim o exegeta a conheceria mais de perto do que o seu próprio autor e não apenas sua letra ou pintura, conhecer o Evangelho de São João seria, antes de nada, conhecer São João, nisto Gadamer rejeita o postulado da escola romântica.
Mas aceitará a escola romântica no “Vamos aos fatos” da “Aufklärung”: “este lê o texto joanino como protestante, aquele como católico, um terceiro como historiador da Palestina. Se varrêssemos todas essas pressuposições, talvez nas linhas escritas pudesse assomar um sentido prístino”, ora o Aufklärung” desejava o encontro de uma interpretação não preconceituosa, que afastasse tanto a tradição da autoridade, como a autoridade da tradição (isto é idealismo!), nisto os românticos estavam certos.
Restam dois senões, a resposta de Sloterdijk a Heidegger (Regras para o Parque Humano) e a pergunta de Ricoeur (O conflito das interpretações): seria então Verdade ou Método (ou, e não e), isto é, verdadeiramente ontológica?

Heidegger, M. Carta sobre o humanismo 2 ed. rev. Tradução de Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Centauro , 2005

 

Breve história da mentira

11 set

Desde sempre as pessoas contam estórias de maneira que sua história parece um pouco melhor do que é, entenda história com h não são aquelas dos livros, mas dos fatos para os quais há artefactos, o que em direito chama-se prova instrumental.

Poder-se-ia ir na antiguidade clássica, onde encontraríamos Diógenes a procurar um homem honesto com uma lanterna, diria hoje um homem verdadeiro. 

Em tempos de partidarismo, que mais parecem torcidas fanáticas de futebol ou algum tipo de crença fundamentalista, a verdade se distorce para todo lado, o fato recente no Brasil da facada do Bolsonaro haviam desde teorias conspiratórias de um crime mal-executado, até quem defendesse que era tudo uma encenação, isto dito por intelectuais … pasmem.

Na história recente encontro o pensador e poeta do Modernismo espanhol António Machado y Ruiz, que escreveu La verdade también se inventa, portanto fake news são mais antigos, o que mudou agora é que intelectuais de pouca notoriedade e gente ignorante mesmo também o pode fazê-lo e com isto ganhar notoriedade mentirosa, mas é de fato notoriedade.

Encontro de Antonio Machado y Ruiz três frases muito interessantes: “Nunca percas o contato com o chão porque só assim terás dimensão uma ideia aproximada de sua estatura”, e “se é bom viver, ainda melhor é sonhar, e o melhor é despertar”, mas devemos despertar sempre e as vezes isto exigem podas, cortes diria, que quanto mais maduro mais profundos.

Lembro-me da frase de Cecília Meirelles: “Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira“, lembro também do Poema de Mário de Andrade, O valioso tempo dos Maduros.

No romance O Caminho Menos percorrido, Scott Peck faz uma afirmação para pensar: “Pode parecer menos censurável enganar os ricos do que os pobres, mas não deixa de ser um engano.  Perante a lei, existem diferenças entre cometer uma fraude num negócio, entregar a declaração de rendimentos falsa, usa cábulas num exame ou dizer em casa que se ficou a trabalhar até tarde quando se é infiel. É certo que uns enganos são piores que outros, mas na realidade não passam todos de mentiras e traições”, diria em politica, aos “crentes”.

Lembro mais uma vez Antonio Machado y Ruiz: “É próprio de homens de cabeças medianas investir contra tudo aquilo que não lhes cabe na cabeça”, os que mais se investem contra os outros tem verdade dogmáticas, sabedoria mediana (se as tem) e arrogância aos quilos.

Poderia fazer um longo tratado sobre o círculo hermenêutico e Verdade e Método (vols I e II) de Hans-Georg Gadamer, mas não.

Continuo a investir na educação que não seja a dogmática, nem a pragmática, mas a hermenêutica daqueles que sempre duvidam e sempre estão abertos ao pensamento do Outro.

 

O Palácio de Cristal e a era digital

10 set

Byung Chull Han descreve em suas que os conceitos de telecomunicações, ela foi anterior e fundamental para a internet, deve ser refletida com grande seriedade ontológica, pois é ela que designa a forma processual de densificação em números de interações e valores monetários, calcula-se que há dez milhões de e-mails por minuto e um trilhão de dólares ao dia (VÁSQUEZ ROCCA, 2012).

Esta alta densidade ocorre tanto na possibilidade maior e mais fácil de encontro entre agentes, quer na forma de transações (relacionais?), quer na forma de colisões, e isto descreve de certa forma o que lembra o chamado de Palácio de Cristal (idem).
O Crystal Palace de Londres, em 1850, já abrigava Exposições Universais e também centros de recreações que eram dedicados a “educação do povo”, esta sofisticada arquitetura, uma das mais imponentes do século XIX, antecipava um capitalismo globalizado e pretendia a absorção total do mundo que era produzido, muito antes da era digital.
Cita-o Dostoiévski e Walter Benjamin ainda mais frequentemente, e Sloterdijk (2005) usa-as em um artigo onde usa a ideia de Dostoiévski que encontro ali o culto a Baal como símbolo consumista e hedonista, onde uma doutrina das “finalidades” como um dogma do consumo.
Sloterdijk faz uma conexão com Benjamin: “O poder da metáfora do palácio de cristal de Dostoiévski para a filosofia da história é melhor medido quando justaposto à interpretação de Walter Benjamin das arcadas parisienses. A comparação é sugestiva porque num caso como no outro uma forma arquitetônica foi proclamada como a chave para o capitalismo. condição do mundo” (SLOTERDIJK, 2005, P. 279).
Será Byung Chull-Han que resolve esta dualidade ao estabelecer que há sempre um “mistério” que é desvelado e que isto é parte do belo e da verdade, que aos poucos se desvela.
É preciso pensar que apenas 4% do universo é conhecida, aquele da chamada da matéria bariônica, aquela composta de protóns, eletróns e neutrons, além de algumas subpartículas, a matéria escura que em parte é também bariônica e a chamada energia escura, uma força de ação repulsiva que permeia todo o espaço, são praticamente desconhecidas.

SLOTERDIJK, P. Crystal Palace. Chapter 33 of in Globalen Inneren Raum des Kapitals: Für eine philosophische Theorie der Globalisierung (In the Global Inner Space of Capital: For a Philosophical Theory of Globalization). Frankfurt am Main: Suhrkamp, 2005, pg. 265-276.
VÁSQUEZ ROCCA, Adolfo, “Sloterdijk: Modelos de comunicación ocultoarcaicos y moderno-ilustrados. Para una época de ángeles vacíos. Nómadas. Revista Crítica de Ciencias Sociales y Jurídicas, 2010 Disp.: http://www.ucm.es/info/nomadas/26/avrocca.pdf, Acesso em: setembro de 2018.

 

A metáfora, o imaginário e o velamento

07 set

Já postamos que o velamento é parte essencial da verdade e do belo, em Paul Ricoeur isto está mais claro em sua “Metáfora Viva” (1975), porque parte de sua hermenêutica fenomenológica está em relação essencial com a obra de arte, em que faz a passagem do momento arqueológico da hermenêutica para o teleológico, isto é, a lógica dos fins, além da lógica proposicional.
Já na mímesis grega, a produção artística e o novo tinham significado como instrumentos que dão sentido a realidade, porém a ultrapassa e pode-se dizer havia também algo teleológico.
Isto é inteiramente valido, pois ao ler a Metáfora Viva percebe-se que é uma releitura da Poética de Aristóteles, mas ele próprio esclarece a diferença ao expor que a metáfora vai além (meta) e transpõe (pher) para uma coisa que designa outro objeto, enquanto mimesis é a ideia de imitar.
Mas além da metáfora a questão importante em Ricoeur é a da imaginação, deve-se separá-la do virtual, as palestras inéditas de Paul Ricoeur nos Estados Unidos, foram documentadas e comentadas, isto já uma tradução, por George H. Taylor, onde aparece o conceito de “imaginação produtora” em 4 categorias: utópica, epistemológica, poética e sacro simbólica (Taylor, 2006), que me parecem mais ligadas ao virtual.
O próprio Aristóteles afirma que esta figura de linguagem (metonímia – substituição da palavra, sinédoque – substituem a parte pelo todo, etc.) é tangente a quem deseja expressas questões na oralidade e deve fazê-la na escrita.
Façamos uma passagem, usando recursos do virtual, da sintaxe (a estrutura da frase) ao sentido (sua semântica) chegando a lógica do discurso (a hermenêutica), isto sai de uma teoria da substituição do sentido (a falsa semântica em muitos discursos) para uma teoria do sentido, uma lógica subjacente ao hermenêutico, não mais como verdade dogmática, mas dialógica.
A questão da classificação cara ao enciclopedismo e iluminismo, resultará na questão de Gadamer se em toda ela não há uma metáfora subjacente, enquanto Derridá pergunta se não está nela toda a capacidade racionalista de classificar conceitualmente todos objetos.
Byung-Chul Han responde de maneira não dualista, a verdade e o belo estão “velados” e só que é capaz de ver através deste véu chega a “clareira” desejada, então a metáfora é um recurso e a hermenêutica dialógica um caminho, este caminho oscila entre o real e o virtual.
O virtual é assim o visível além do véu, e o real é o desvelado no atual, o represente, cuja memória no momento seguinte só poderá ser re-presentada ou atualizada.
Chul Han também fala do recurso da metáfora na Bíblia, como um recurso proposital para “para as tornar objeto de desejo”, penso que é mais que isto, é que alcançar a verdade se faz em passos e que grande parte da vida ainda é mistério.

RICOEUR, P. La Métaphore Vive, Paris, Éditions du Seuil, 1975.
TAYLOR, G. H., Ricœur’s Philosophy of Imagination. Journal of French Philosophy, Vol. 16, p. 93, 2006; U. of Pittsburgh Legal Studies Research.

 

O véu e a verdade

06 set

O filósofo Byung-Chul Han dita a sentença: “ser belo é fundamentalmente estar velado” (Han, 2016, p. 40) para depois se apoiar em Walter Benjamin que vê também a “crítica da arte uma hermenêutica do encobrimento … não tem de levantar o véu, mas antes, o que tem a fazer é elevar-se à verdadeira intuição do belo, mas somente graças a um conhecimento muito exato do belo como véu, tem de elevar-se a uma intuição que não se revelará nunca a isto que chamamos de empatia … pura do ingênuo à intuição do belo como segredo” (Idem, p. 40).

Mas Chul Han vai além: “a beleza não se comunica nem à empatia imediata nem à observação ingênua. Ambos os procedimentos tentam levantar o véu ou olhar através dele …” (idem), é por isso que embora em toda época sempre houvesse o encobrimento, somente agora com a “empatia imediata”, diria precipitada já Benjamin a reivindica, é que o belo se torna mais obscuro e com a verdade acontece o mesmo.

Chul Han vai ao texto, e usando Santo Agostinho afirma que “Deus obscurecera propositadamente as Sagradas Escrituras com metáforas, como uma ´capa de figuras´, para as tornar objeto de desejo … maximiza o prazer através do texto e torna a leitura um ato amoroso” (p. 41).

Já a leitura, o texto e as verdades em nosso tempo a objetividade tenta através do sujeito cognoscente, uso no plural porque para a ontologia a verdade é mais que sujeito é Ser e, portanto, só pode ser desvelada na relação de seres, entretanto o sujeito do idealismo “transcende” para chegar ao conhecimento do objeto, do qual só tem “percepções”.

É um sensitivismo primário, parece verdade e desvelar, no entanto, é puro discurso, não há de fato o conhecimento do objeto como coisa, reivindicara já Husserl que era preciso voltar as “coisas mesmas”, isto é, não as reificar, mas desvelá-las.

A verdade da empatia imediata é pouco elaborada, não espera a reflexão, a contemplação, vive de uma impulsividade quase doentia, as vezes doentia mesmo, embora logo se frustre diante dos fatos, chega a negar os fatos e isto assusta.

Não se trata de cegueira coletiva, mas ausência de dialogia coletiva, falta de empatia mais profunda, de relações e laços menos formais e menos superficiais, aí falta verdade e beleza.

Han, B.C. A salvação do belo. Lisboa: Relógio d´Água, 2016.

 

Verdades, tautologias e crenças

05 set

Li atônito que Noam Chomsky afirmou: “as pessoas não acreditam mais nem em fatos”, as crises  (não é única, pois há crises políticas, ideológicas e até humanitárias) embora todas com contorno econômico, a raiz profunda delas é para uma rejeição a própria cultura.

Alguns dirão identidade, embora não deva ser deixado de lado, os discursos que vejo nesta linha beiram o psicologismo, o conceito filosófico correto deve ser visto com a questão de relação, enquanto a psicologia vê como problemas de personalidade, comportamentos e funções mentais, então para mim é outra coisa.

No caso sociológico tem na ideia de auto-concepção, aspectos de representação social como uma pessoa única, ou em termos quantitativos o que a difere das outras em aspectos culturais, de gênero, de nacionalidade, agora identidade online ou algo que seja formativo da própria identidade.

Embora cultura entre como um aspecto sociológico,  ela é redutiva porque cultura é mais abrangente que aspectos de identidade e nacionalidades, Alfred Kroeber e Clyde Kluckhohn encontraram, pelo menos, 167 definições diferentes para o termo “cultura”, o que mostra a abrangência do termo.

Ficamos com uma definição reduzida, porém que incorpora elementos essenciais: todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade” de Edward B. Tylor, para nosso tema pois envolve conhecimento, crenças e verdade.

Sistemas que ignoram as crenças não são verdadeiros, mas tautológicos, mesmo admitindo uma intersecção entre crenças e conhecimento, pois ignoram que há conhecimento ligado ás crenças (figura inferior).

Sistemas que admitem que em toda cultura há crenças, podem diferenciar o conhecimento presentes em culturas diferentes e que possuem um núcleo de conhecimento distinto, mas em ambos podem haver verdade, é um conhecimento dialógico e relacional.

A arte, a moral e os costumes que estão dentro destas culturas podem não ter relação com a verdade, mas cada uma tem um núcleo diferente de conhecimento (x e y na figura) que tem relação com a verdade, os fatos e atitudes ajudam a manter esta verdade relacional.

 

Schlemmer e o Virtual

04 set

Muitas são as possibilidades biográficas para Oskar Schlemmer (1888—1943), para entender o humanismo de Schelemmer, começo pela sua disciplina “O homem” que ele ministrou na Bauhaus em “Matéria de ensino: o homem”, tendo como objetivo “familiarizar o aprendiz com o homem todo, fazendo-o a partir de dois tipos distintos de consideração: o aparamento visível e a sua apresentação”, como aparece no site: www.tipografos.net/bauhaus/.
A ideia do bale triádrico parte de três participantes (dois do sexo masculino e um feminino), 12 danças e 18 figurinos, há forte influência do teatro de marionetes, a ideia de movimentos maquínicos, síntese de sua visão da modernidade dividida em dois movimentos principais: a mecanizada, que torno o homem como uma máquina e o corpo um mecanismo, e, a dos impulsos primordiais, as profundezas de nossos impulsos criativos.
Ele via na geometria coreográfica da dança uma síntese, as origens dionisíacas e emocionais da dança, que torna rígida e apolínea em sua forma final, mas queria estar livre da bagagem histórica da ópera e do teatro, e assim, ver o homem transformado pelo traje e pela dança.
Ele viu nos fantoches e marionetes movimentos superiores os seres humanos, fazendo uma leitura a partir do virtual diria que tem uma “gramática”, e usando um raciocínio de Schelemmer pode se dizer que “o meio de toda arte é artificial”, sendo, portanto, um artefacto virtual.

Ao analisar o corpo como geometria: viu a cabeça e os olhos como círculos, assim o corpo torna-se uma estatueta de onde deriva o traje, e finalmente, os movimentos da dança e a musica surgem dai, formando o “todo” do homem por onde iniciamos a análise de seu trabalho.
Nascido em 04 de setembro de 1888, completaria 130 anos hoje, razão que está no Google.

 

Julia 1.0: uma nova linguagem de computação

03 set

Quando o cenário das lijguagens de computação não parecia mais apresentar novidades, surge um projeto audacioso do MIT que pode mudar esta lógica, trata-se da linguagem Julia, desnecessário dizer que é open source.
Em um evento de Londres em 2018, o JuliaCon os desenvolvedores: o professor Alan Edelman, Jeff Bezanson, Stefan Karpinski e Viral Shah liberaram o Julia 1.0, declaron Edelman na época: “Julia vem revolucionando a computação científica e técnica desde 2009”, trabalharam desde este ano em uma nova linguagem que combinavam Ruby, MatLab, C, Python, R e outras além de ter recursos paralelos, de inteligência artificial e fácil conexão com bancos de dados semiestruturados.
Os comandos são parecidos aos já populares C, C++ e Java, por exemplo, o programa de calculo das raízes da equação do 2º. Grau:

function quadratic2(a::Float64, b::Float64, c::Float64)
  sqr_term = sqrt(b^2-4a*c)
  r1 = quadratic(a, sqr_term, b)
  r2 = quadratic(a, -sqr_term, b)
  # pode retornar múltiplos valores sem uso da palavra return
  r1, r2
end

A versão lançada no dia 7 de agosto de 2018, e sua versão estável no dia seguinte chamada de Julia 1.0 coloca-a definitivamente no universo das linguagens de programação da atualidade.
O release par oa Julia 1.0 (Julia 1.0.0-rc1) foi lançado em 7 de agosto de 2018 e a versão final um dia depois. A equipe escreveu que o código que é executado sem avisos no Julia 0.7 será executado de forma idêntica no Julia 1.0.
Julia usa JIT (MCJIT [50] do LLVM) que gera código de máquina nativo diretamente, antes de uma função ser executada pela primeira vez, não são bytecodes executados em uma máquina virtual (VM) ou traduzidos como o bytecode em execução, como copor exemplo, Java, a JVM ou Dalvik no Android, é código nativo mesmo.
Julia também é usada para impulsionar carros autônomos e impressoras 3-D, bem como aplicações em medicina de precisão, realidade aumentada, estruturas genômicas, aprendizado de máquina e gerenciamento de risco.
Conforme afirmou o professor Edelman: “O lançamento da Julia 1.0 indica que Julia está pronta para mudar o mundo técnico combinando a produtividade de alto nível e a facilidade de uso do Python e do R com a velocidade veloz do C ++”, mudanças vem ai.