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Arquivo para julho 8th, 2019

Alma, Mundo e unidade

08 jul

Há alguma coisa em nossa consciência que não podemos definir exatamente o que é, um espírito, um mecanismo de decisão, uma “visão de mundo”, o certo é que o que chamamos de interioridade tem uma camada profunda que os filósofos da antiguidade clássica chamaram de “anima”, aquilo que dá vida, que anima e que é em ultima instância também uma visão de mundo.

Queiramos ou não, temos na interioridade, uma “anima”, já o filósofo pré socrático Pitágoras (580-496 aC) acreditava na metempsicose que era a transmigração da alma de um corpo para o outro após a morte, e assim na sua cosmovisão acreditava na imortalidade da alma.

Também Plutarco foi autor do “Consumo da Carne”, tema que não apenas fala da alma, mas inicia uma separação entre a corpo da carne e a alma imortal.

O tema é aprofundado por Platão em A república, a sua anima mundi (“alma do mundo, do latim antigo tinha outro sentido que era o “psyché tou pantós”), tem a cosmovisão de uma alma compartilhada ou força regente do universo pela qual o pensamento divino pode se manifestar em leis que afetam a matéria, assim há uma força imaterial, que é ao mesmo tempo inseparável da matéria, que provê forma e movimento.

A sua doutrina não foi endossada por Aristóteles, que em sua obra De anima, aproxima-se mais de conhecimento ou intelecto ativo, do qual partirão reflexões das escolas estóicas e neoplatônicas, assim a ligação indireta entre Plotino e Platão passa por Aristóteles.

Plotino (205-260) será um raro filósofo da antiguidade a tentar um conceito não dualista de alma, a alma una descrita em sua obra Enéadas, parte do conceito de hipóstase que procede do poder criador, que na verdade é uma terceira hipóstase, um “nous” que gera a alma do mundo.

Entre os pensadores medievais que mantiveram as ideias de anima mundi estão Ficino, Pico dela Mirandola e Giordano Bruno com ensinamentos herméticos, os plantonistas de Cambridge, os vitalistas alemães Angelus Silesius, Goethe e Schelling, que tiveram grande influência em Bergson e através dele Vladimir Vernadsky e Teilhard de Chardin.

Schelling escreveu Da Alma do Mundo (1798), apesar da influência idealista guardava uma cosmovisão tentando unir a natureza orgânica e inorgânica conectando-a num continuum.

A noosfera é aqui a ideia que uma “alma mundo” pode cooperar com o mundo contemporâneo não sendo possível uma visão totalizante, a visão de mundo do planeta como “casa comum” e que tem uma “alma mundo” presente e que pode sustentar uma cidadania planetária.

Roger Scruton (75 anos) é um autor contemporâneo que aborda de modo polêmico o tema.