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Arquivo para fevereiro 3rd, 2020

Ainda a identidade

03 fev

A filosofia conceituou a questão da identidade usando apenas o princípio lógico, A deve ser A não podendo não ser não-A, mas a própria questão de “ser” tem fundamento metafísico e ontológico pois o que é ser A ou não ser, enquanto Ser esta identidade lógica é apenas auto-identidade.
Assim grupos culturais e religiosos que buscam a própria identidade só podem se definir como ser se estão em relação ao não-A, este segundo princípio é a diferença, mesmo Hegel afirma que é esta negatividade que pode permitir o que a reflexão ser A pode ter em si.
Heidegger após explicar este princípio da identidade lógica A = A, ao afirmar que “é cada A ele mesmo o mesmo; ela diz antes consigo mesmo é cada A ele mesmo o mesmo. Em cada identidade reside a relação ´com´, portanto, uma mediação uma ligação, uma síntese, a união numa unidade” (Heidegger, 2006, p. 39), expliquemos melhor usando o próprio Heidegger.
Ele expõe logo em seguida que na história ocidental, ao contrário do que se imagina e se diz, a identidade “aparece, através da história do pensamento ocidental com o caráter de unidade” (idem), e ela não é um “insípido vazio daquilo que, em si mesmo desprovido de relações, persiste na monótona uniformidade” (idem), ou seja, ela é diversa, existe e persiste a diferença.
Como então esta ideia de identidade do mesmo, do nós fechado em grupos, de falsa coletividade e diversidade persistiu, as razões são igualmente históricas, como afirma Heidegger: “somente a filosofia do idealismo especulativo, preparada por Leibniz e Kant, funda, através de Fichte, Schelling e Hegel, um lugar para a essência em si mesmo sintética de identidade” (ibidem, p. 39).
Assim, esclarece Heidegger: “permanece vedado ao pensamento representar a unidade da identidade como monótona uniformidade e abstrair da mediação que impera na Unidade” e conclui: “Onde tal acontece, a identidade é representada apenas abstratamente” (ibidem).
Isto é claro não fica sem uma negatividade ontológica, pois o ser vê-se obrigado a exigir a sua diferença, a sua negatividade e muitas vezes o faz de modo radicalmente contestador, porque há uma ausência de mediação, o que se faz em abstrato é falar do diverso, do diferente, mas no concreto ignora-o, expulsa-o assim que ele se manifesta como um Outro.
Heidegger, M. Que é isto – a filosofia – Identidade e diferença. RJ, Petropolis: Editora Vozes, 2006.