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Arquivo para fevereiro 5th, 2021

Porque é necessário um “epoché”

05 fev

Toda a nossa forma de ver a vida está filtrada por uma visão de mundo, um complexo de valores, educação familiar, social e religiosa num sentido lato, isto é, todos temos alguma crença, ou então teríamos toda a explicação do mundo sobre os enigmas da natureza, do homem e da vida.  A pandemia poderia ter mudado a visão.

Esta visão “cosmológica” implica sempre (não é quase) em valores pré-conceituais, ou seja, como classificamos o mundo, as coisas e os modos sociais de desenvolver a vida, esta cosmovisão foi chamada por Heidegger de Weltanstchauung, a palavra é importante porque toda tradução é imprecisa.

Na vertente ontológica que Heidegger bebeu, está a fenomenologia de Husserl, seu professor, e para ele a esta era “a descrição daquilo que aparece” ou a “ciência que tem como objetivo ou projeto essa descrição”, e para ele é ela própria um conceito de método, que Hans Georg Gadamer aprofundou mais tarde em “Verdade e Método”.  

No entanto muitos beberam da fenomenologia de Husserl, cada um a seu modo, Karl Jaspers, Emmauel Levinas, Edith Stein, Jean Paul Sartre, Gabriel Marcel, Hans Georg Gadamer, Paul Ricoeur, Martin Buber, Nicolai Hartmann, Hans Jonas, e aquele que a transformou em filosofia Hans-Georg Gadamer.

O sentido aberto do Ser em Heidegger extrapola os campos sócio-políticos, biológicos ou antropológico (por isto é ontológico, ou próprio do Ser), e o conceito de Dasein significa estar lançado no mundo enquanto o “Ente” são as coisas em sentidos diversos, ou seja, tudo o que falamos, sentimos, entendemos, nos comportamos em última análise aquilo que “somos”.

Se entramos nesta clareira o Ser é também aquele que precisa de auxílio, de cura, de escuta, de uma palavra de aceitação enquanto Ser do Ente, ou seja, nas suas funções enquanto vivência.

Ainda que a exegese bíblica considere encerrada toda a análise do envio dos discípulos de Jesus ao mundo, ide pelo mundo e proclamai a boa nova e curai os doentes, este cuidado com o próximo (no sentido amplo da palavra “curar”) também significa abertura, “epoché” e transcendência.

Ide pelo mundo com uma visão de mundo ampliada, além do seu círculo restrito.