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Arquivo para novembro 17th, 2021

A verdade e o método

17 nov

Hans Georg Gadamer é o herdeiro da hermenêutica ontológica de Heidegger, e desenvolveu a hermenêutica filosófica através de sua obra prima Verdade e Método, publicada pela primeira vez em 1960.

Para desenvolvê-la precisou revolucionar a hermenêutica ocidental moderna, através da crítica da estética, a teoria da compreensão histórica e o desenvolvimento da ontologia da linguagem, para complementar o método heideggeriano do círculo hermenêutico.

A publicação de Verdade e Método significa ainda nos dias de hoje, um estudo novo na ciência da interpretação e que entra numa importante fase denominada hermenêutica filosófica, que deve auxiliar as disciplinas humanas a buscar a partir da experiência a compreensão do próprio ser, constituindo uma nova tentativa filosófica de avaliar a própria compreensão como um processo de conhecimento do estatuto ontológico do homem, fundando assim uma nova antropologia.

Enquanto filosofia da linguagem, estamos em pleno processo da viragem linguística, não se constituem apenas o acesso à coisa e não a verdade, pois também a correspondência entre palavra e coisa só ocorre quando se conhece a coisa, dessa forma o aprendizado (ensino, busca, pergunta, resposta e a própria informação) só é feito pelo pensar que conduz as coisas ao mundo das ideias, e assim as palavras não passam de representação de signos ao qual se atribuem sentido. e começa seu estudo por Humboldt.

Foi Wilhelm von Humboldt que utilizou a teoria da “força do espírito” humano como fonte produtora de línguas, a tese dele aborda uma “filosofia idealista que destaca a participação do sujeito na apreensão do mundo, mas também a metafísica da individualidade, desenvolvida pela primeira vez por Leibniz” (GADAMER, 2008, P. 568).

Como forma de questionar a história desenvolvida de modo idealista, Gadamer ao fazer a crítica de Dilthey parte do pré-conceitos, onde o historiador “submete a alteridade do objeto aos próprios conceitos prévios” (Gadamer, 2008, 513), e está assim ilustrado em seu texto: “apesar de toda metodologia científica, ele se comporta da mesma maneira que todo aquele que, filho de seu tempo, é dominado acriticamente pelos conceitos prévios e pelos preconceitos do seu próprio tempo” (Idem).

Para uma nova compreensão, como ponto de partida para uma nova antropologia, interpretar não é um meio de se chegar a compreender, mas entrar no próprio conteúdo do que se quer atribuir um sentido de forma unitária ou unilateral, mas que a “Coisa de que fala o texto vem à fala” (GADAMER, 2008, p. 515).

O texto no final questiona a própria linguística que afirma que cada língua realiza isso à sua maneira, porém o autor ressaltar outro foco procurando uma unidade entre o pensar e falar, isto se infere ao fato que qualquer tradição escrita só pode ser compreendida, apesar da grande multiplicidade das maneiras de falar, identificando uma unidade existente entre a linguagem e pensamento, pensamento e fala, e neste caso qual é a conceitualidade de toda compreensão? A interpretação conceitual é o modo como se realiza a própria experiência hermenêutica. 

Como toda compreensão é uma aplicação da linguagem, o intérprete está sempre em um desenvolvimento contínuo de conceitos, a linguagem se mantém viva tanto no falar como no compreender todo o processo de compreensão, interpretação e pensamento.

GADAMER, H.G. Verdade e Método I. Traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. 10.ed. Petrópolis: Vozes, 2008