Arquivo para outubro, 2022
O real perigo nuclear
Enquanto a Rússia ameaça a entrada da Ucrânia na OTAN levaria a uma terceira guerra, a retórica dos países do Ocidente é que o uso de armas nucleares “táticas” pela Rússia seria a guerra, assim a guerra entre estes dois países indica a possibilidade de um confronto mundial que seria catastrófico.
Difícil encontrar neste cenário brechas para algum acordo de paz, a escalada da guerra é ascendente e mesmo a opinião pública se encontra dividida, como o cenário antes da 2ª. Guerra.
A Coréia do Norte já testou seus misseis de cruzeiro, a China eis que na visão do Japão alcançariam seu território, a China censurou sua internet (lá há um controle da rede eletrônica nacionalizada) e a Índia apresentou seu submarino capaz de lançar mísseis nucleares, a Rússia já possui a tempo.
A ideia de um escudo na forma de um mosaico (vários países ajudariam a Ucrânia a defender seu espaço aéreo), é uma tentativa de resposta a demonstração da Russia sobre sua capacidade de atingir não só pontos estratégicos em território inimigo, como testou uma resposta a OTAN.
A Turquia quer mediar um acordo e o Iran continua enviando seus drones a Rússia que melhorou sua capacidade de ataque, também os poderosos mísseis Himars estão sendo agora alcançados pela bateria antiaérea russa.
É pouco lembrado na literatura mas temos mais de 400 usinas nucleares, que bombardeadas cada uma é uma bomba, e a maior usina da Europa, a Zaporizhia (foto antes da guerra) encontra-se em meio ao conflito, a presença de tropas ali é um possível cenário de uma catástrofe que atingiria toda a Europa.
Difícil falar de paz, porém ela deve ser pensada dentro de um processo civilizatório que seja capaz de reverter a tendência ao ódio, a intolerância e a convivência pacífica entre opiniões diferentes, o cenário social e mundial é cada vez mais polarizado e a ideia de submeter o outro pela força cresce.
A crise, a falsidade e a clareira
Hoje vale bem pouco aquilo que se é de verdade, importa mais o marketing pessoal, a maquiagem que esconde os defeitos do aquilo que o o homem de fato é, isto é consequência da oculta do Ser.
Assim a ocultação da verdade é resultado desta ocultação do Ser, não sua causa, o pensamento vai nesta direção porque no interior de cada Ser há espaço para a falsificação, a mentira e a hipocrisia.
Assim não é o caso de quem mente mais, é a ausência de uma clareira onde a consciência de cada Ser se apresenta, e o fermento dos mentirosos cresceu, como a passagem bíblica de Lc 12,1=2 “tomai cuidado com o fermento dos fariseus que é a hipocrisia, não há nada de escondido que não venha a ser revelado, e não há nada oculto que não venha a ser conhecido”.
É certo que a categoria da “clareira” de Heidegger tem um sentido mais geral, envolve o todo que é oculto dentro de um Ser, porém para quem crê este todo se oculta em Deus, aquilo que somos no coração divino, e mesmo não crendo isto parece próprio a modernidade que não vê o todo.
A fragmentação do saber, a divisão social, a ausência de um pensamento transdisciplinar levou a um novo tipo de ocultismo, aquele que especializado só vê a parte e não vê o todo, ainda que a física quântica, a busca pelo universo infinito ou finito (procura-se sua borda) visto pelo James Webb, é a natureza e no interior do Ser que este todo habita e onde se esconde a verdade.
Como ela se ocultou foi a fragmentação social, a ausência de comunhão, onde o Todo se completa, a ausência de Amor transcendente (não é aquele da subjetividade idealista), onde somos capazes de enxergar o outro.
Formamos assim uma geração (no sentido de várias desde o século passado) se tornou má, egoísta e individualista, autofágica e excludente e com incapacidade de enxergar o Todo com clareza.
É certo que a justiça divina é superior a humana, porém ela não a ignora, Jesus contou uma parábola de uma viúva que vai a um juiz injusto que depois te tanto perturbá-lo, ele decide resolver para não ter mais o importuno dela e “não venha me agredir” .
E jesus explica a parábola aos discípulos (Lc 18,6-7): “E o Senhor acrescentou: “Escutai o que diz este juiz injusto. E Deus, não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar?”, assim podemos ter esperança também numa justiça terrena.
A crise civilizatória e o pensamento
Não é um tempo propício para o pensamento, disse Peter Sloterdijk, dito de outro modo Edgar Morin pedia uma revolução no pensamento passando pela educação, o que se observa são correntes cada vez mais dogmáticas (é diferente de ortodoxas) em duelo, sem que uma compreenda ou argumente em função do universo da outra.
O contorno desta crise tem origem na incapacidade de caminhar para frente, os modelos propostos dão sinais de exaustão, a mídia e o senso comum apelam para argumentos superficiais, sem referencial claro e por vezes apelativos, isto chegou ao corpo social e a política.
Culpam as novas mídias, elas são apenas veículos do pensamento, a sua base cognitiva está na educação e no que é digerido no dia-a-dia das pessoas, e desde o início do século passado já dava sinais de exaustão, não poucos pensadores sérios comentam isto, de Nietsche a Freud, passando por escritores conservadores à direita e à esquerda, porque ambos retornaram as suas origens.
Há uma crise social, sem dúvida,, mas ela existe por ausência de respostas consistentes que mobilize a todos, o pensamento é segmentado, os grandes modelos e teorias faliram e o sinal disto é a sua radicalização a níveis irracionais, e o horizonte de guerra se desponta.
Em A cabeça bem feita, livro de Edgar Morin, ele afirma que a reforma do pensamento permitiria o pleno emprego da inteligência para responder a estes desafios e uma ligação entre culturas que estão dissociadas, trata-se de uma reforma não programática, mas paradigmática, ou seja, no que concerne a nossa aptidão para organizar o conhecimento.
Colocar tudo junto, exercer uma transdisciplinaridade, como aquela foi descrita nas considerações iniciais carta de Arrábida (Morin, Barsarab Nicolescu e Lima de Freitas a subscreveram): “Considerando que a ruptura contemporânea entre um saber cada vez mais cumulativo e um ser interior cada vez mais empobrecido leva à ascensão de um novo obscurantismo, cujas conseqüências, no plano individual e social, são incalculáveis.”(Feitas, Nicolescu, Morin, 1994).
Esta carta estabelece uma ética nova: “A ética transdisciplinar recusa toda e qualquer atitude que rejeite o diálogo e a discussão, qualquer que seja a sua origem – de ordem ideológica, científica, religiosa, econômica, política, filosófica” (Freitass, Nicolescu, Morin, 1994).
Freitas, Lima; Morin, Edgar; Nicolescu, Basarab . Carta da Transdisciplinaridade de Arrábida, Portugal Convento de Arrábida, 1994.
A paz não desejada
Dois lados a medir forças, com ataques cada vez mais agressivos, não é apenas o que ocorre na Ucrânia, mas o clima geral civilizatório, poucos acreditam na paz e na reconciliação dos povos.
A crise civilizatória é anterior as duas guerras e para muitos analistas ela se ampliou depois.
Até mesmo no meio religioso há quem condene, dizendo que se busca uma “religião única” ou a obra do demônio será um clima de tolerância e paz entre as religiões, afinal que Bíblia eles leem.
Os últimos ataques de Moscou a Ucrânia, lançou 80 mísseis em diversas cidades, incluindo a capital Kiev, o objetivo foi principalmente atingir a infraestrutura, algumas cidades tiveram cortes de luz e dificuldades de abastecimento, é considerada uma resposta ao bombardeio da ponte que liga a Criméia à Rússia.
O G7 marcou uma reunião de emergência, alertamos num post que a espera da reunião do G20 para novembro era um período muito longo, e o hemisfério norte já estará a beira do inverno e dependente do gás russo para os ambientes de aquecimento.
Todo o ocidente condenou os ataques russos, claros há muitos sites e informativos que são pró- Rússia e de fato alertamos no post de segunda-feira que uma proposta de paz seria possível.
A Rússia está em desespero pelos reveses ou agora temos de fato uma guerra total e aberta, que tipo de resposta o G7 poderá dar é uma dúvida, a Ucrânia quer um escudo protetor para estes ataques, a Rússia quer o reconhecimento das regiões anexadas.
O ministro das relações exteriores da Turquia Mevlut Cabusoglu pediu um cessar fogo urgente, mas salientou que uma “paz justa” seria a permanência da integridade do território da Ucrânia.
A reunião do G7 realizada no dia de ontem (foto) anunciou um apoio “indeterminado” a Zelesnky, porém de prático é a ajuda humanitária até 2024, enquanto o presidente ucraniano pede um sistema de defesa aérea que chamou de sua “prioridade número 1”, a guerra vai extrapolando os limites.
A Rússia tenta arrastar a Bielorrússia para a guerra, enquanto a ucrânia envolve a União Europeia.
Quando vemos a resposta de sanidade vir da Turquia e um ocidente se arrastando para a guerra, é preciso entender de onde vem esta crise civilizatória onde o ódio e a intolerância se espalham.
Pós-Deus ou a tentativa de Teocídio
Mais do que a leitura de Nietzsche sobre a “morte de Deus”, entender o radicalismo religioso, além do evangélica, há o semita, o islâmico e correntes neopentecostais, a leitura de Pós-Deus, é na verdade uma releitura da questão do mal ou de modo mais correto “Deus está morto, e fomos nós que o matamos”, aquilo que chamo de tentativa de Teocídio, impossível, quer ele exista ou não.
Se Deus existe não poderá ser morto apenas apagado da mente humana, na lógica do hegelianismo de Ludwig Feuerbach ele existe apenas na mente humana e neste caso não existiria de fato e caso exista não poderemos mata-lo já que é imortal e precede a todos e a tudo.
Peter Sloterdijk em parte da proposição e claro da hipótese que ele só exista na mente humana, uma fantasia delirante dos homens, dizem muitos ateus convictos, já que os gnósticos não consideram a hipótese, o mais importante filósofo alemão vivo (considero o papa emérito também importante), vai analisar além de Nietzsche e de Cioran, o intermezzo de Lutero.
Lutero é particularmente importante porque é a raiz não declarada do pensamento de Nietszche, filho de pais e parentes luteranos, alguns pastores, a reforma protestante é fundamental para se intender o fenômeno religioso ou a chamada “revanche do sagrado”, ela entrou na cena política.
O livro, com este nome atrairá poucos cristãos, tem um interessante percurso de diálogo que passa por Hans Jonas (The Gnostic Religion), Harold Bloom (Presságios do milênio), Franco Volpi (O niilismo), Sergio Givone (Storia della nulla), Ioan Culianu (The Tree of Gnosis) e Sylvie Jaudeau (Cioran ou le deernier homme), todos autores e exegetas de Cioran, que teve uma experiência mística “desfigurada” de natureza ateia, desencantadora e niilista.
Quem foi Emil Cioran (1911-1995), autor que escreveu a partir de Nag Hammadi, uma série de manuscritos encontrados após a Segunda Guerra que matou mais de 40 milhões de vidas, na África a 50 km de Luxor, num grande recipiente de barro, numerosos códices de papiro escritos em língua copta e em grande estado de conservação.
A grande biblioteca “gnóstica” rapidamente se espalhou entre os intelectuais, data de cerca de mil e setecentos anos atrás, portanto durante a emergência ocidental do cristianismo, o autor projeta uma mensagem mística para o nosso estado atual.
Permanece até hoje está aura de “descoberta” de Nag Hammadi, na verdade dava asas ao que chamo de Teocídio, tirá-lo não só das mentes e sim construir uma “mística” niilista sem Deus, porém ela não escapa do que é, um niilismo exótico.
Sloterdijk fala da ascese desespiralizada, Cioran também o é, a busca de uma ascese sem toda esta falsa radicalidade difusa, não resiste a mínima ideia de princípios praticados, confunde a todos, e a política também está contaminada por ela, o único caminho possível para todos parece ser o ódio.
O ódio é o Teocídio mais veemente e eficiente, onde ele entrou, qualquer ascese possível saiu.
SLOTERDIJK, Peter. Pós-Deus. Trad. de Markus A. Hediger. Petrópolis: Vozes, 2019.
A paz possível
Enquanto a Ucrânia realiza avanços no sul, na região próxima a Kherson, e Putin oficializa a anexação das 4 regiões em disputa (Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia), o empresário americano/sul-africano Elon Musk propõe um plano de paz, surpreendente para sua visão.
A ideia era a realização de referendos nas quatro regiões anexadas citadas acima, mas desta vez sob a supervisão da ONU, o fornecimento de água potável a Criméia (que depende da Ucrânia para isto) e a manutenção da Ucrânia como neutra em relação a OTAN.
Claro isto é para ser colocado numa mesa de negociação, surpreende porque o empresário até o presente momento era plenamente favorável a Ucrânia, e agora sofreu duras críticas do país, e por outro lado um aceno da Rússia para sua proposta.
Quanto valem as vidas humanas ali, de ambos os lados, o perigo de uma guerra nuclear, agora a tensão sobe também na Coréia do Sul com testes de mísseis e aviões na fronteira da Coréia do Norte, enfim é preciso tirar um pouco da pressão para fazer as mentes sadias respirarem.
O lado militar da guerra, teve pequenos avanços da Ucrânia no Sul e a explosão de uma ponte na Criméia, enquanto a Rússia prepara seus reservistas para novas ofensivas na região, os caríssimos mísseis HIMARS (high Mobility Artillery Rocket System) que tem dado exito aos avanços da Ucránia, são limitados em número e caríssimos, lembro que na guerra do Afeganistão eram lgo acima de 5 milhões de dólares, um afronto a pobreza e os níveis de vida de muitos povos.
O inverno chega no final do ano no hemisfério norte, e a corrida contra o tempo na guerra pode ser um mal sinalizador para ambos lados, a Ucrânia avançar a qualquer custo e a Rússia arriscar a vida de milhões de jovens numa guerra insana e a constante ameaça nuclear.
Já há testes sendo feitos, os possíveis alvos e que armas seriam usadas são pensadas por analistas de guerra, como se tratasse de um simples jogo de xadrez e não um risco civilizatório.
Pensar na paz é urgente, todos dizem querer, mas o que se vê em campo é uma crescente tensão e desafio aos limites do racionalismo humano (na foto acima é a rendição de um tanque russo, porém bem que poderia ser uma bandeira de paz).
Arrependimento, graça e gratidão
Quando conseguimos nos encontrar com o Outro, perdoá-lo e também arrepender naquilo que não foi bem neste encontro, encontramos espaço na vida para a graça e a gratidão, não por acaso um é derivativo do outro.
A gratidão não exclui mas supera sentimentos ruins de nossas vidas, também o excesso de positividade pode levar as exigências e aos perfeccionismos que não levam a um encontro, mas a exclusão do Outro, tolerar pequenas faltas, que muitas vezes são só diferenças, é necessário para alcançar a graça, e a graça quando chega até nós deve encontrar a gratidão.]
Muitos lembram de pedir graças, quando não pedem a Deus, pedem a alguma forma de falsa mística ou falsos deuses, encontrar energias cósmicas, que de fato existem, mas só terão uma ex-sistência se estiver diante do Ser, aquele que é e aquele que sempre foi, afinal a teoria mais atual da física é que antes do Big Bang já havia algo, então algo além desta ex-sisência, um puro Ser.
Assim uma verdadeira filosofia da graça deve levar a gratidão, não é apenas o Universo e a sorte que conspiram, ou mesmo algum “segredo” que seria a pura positividade, ela pode ser ilusória.
Assim a gratidão afasta os sentimentos de maldade e intolerância de nossas vidas, inclui as pessoas que de fato são boas e aumentam nossa potencialidade para as boas virtudes.
Na passagem bíblica em que 10 leprosos são curados, somente um volta para agradecer a Jesus,
Ao vê-lo Jesus pergunta onde estão os outros (Lc 17,17-19): “Não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão? 18Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?” 19E disse-lhe: “Levanta-te e vai! Tua fé te salvou”.
A ingratidão não apenas afasta a graça, mas explica sua ausência e a dificuldade de conviver em ambientes de harmonia, sinceridade e paz.
Arrepender, recomeçar e graça
Arrependimento não é o mesmo que remorso, este fica vinculado ao passado e impede um recomeço positivo, não há consciência da culpa e não se alcança novo estado de graça.
A graça é viver a vida em plenitude, com os limites que a vida impõe a todos, porém arrependidos, pode comprimir o passado estritamente ao que foi: um erro, e viver bem o presente e o futuro através da superação de uma angústia que é inalienável a responsabilidade da falta ou erro cometido.
Arrepender-se é viver intensamente e verdadeiramente o presente, ainda que algum sofrimento ou marca fique do passado, quem deu um passo após isto conseguiu recomeçar.
Ludwig Feuerbach, mais conhecido pelas Teses de Marx contra o hegelianismo dele, chamado de velho hegelianismo, na sua maturidade escreveu sobre o remorso, sua leitura é importante pelo confronto que faz tanto com Schopenhauer como com Kant.
Feuerbach reconhece a originalidade do sujeito e o propõe num âmbito mais amplo de liberdade, exame o remorso e o arrependimento como condições de imputabilidade de um ato,
Em oposição a Schopenhauer, Feuerbach vai afirmar que o caráter de um homem não é inato, nem imodificável, por isso é equivocada a pena de morte, e também aqui cabe a discussão sobre o direito do Estado Moderno sobre a vida humana, tema sempre polêmico e importante.
Contra Schopenhauer, Feuerbach afirma que o caráter do homem não é inato, nem imodificável, por isso é equivocada a pena de morte.
O fundamento da liberdade é o eu que age no jogo das paixões e é essencialmente a relação com o Outro, o que é amplamente explorado na literatura moderna por Paul Ricoeur, Lèvinas e outros autores, há uma retomada fenomenológica desta questão.
As sugestões no campo da moral e jurídico é essencialmente em relação esta relação com os outros, e as sugestões nestes campos são particularmente interessantes, mas permanecem as questões éticas, como aquela do fundamento absoluto da obrigação moral, que está posta em Kant na explicação do que é consciência moral.
Esta discussão se amplia em alguns autores para o campo da sensibilidade (SERRÃO, 2007) e da mística (TOMASONI, 2010), onde se pode incluir de modo mais amplo a questão da graça, acrescentaria o reconhecimento da graça onde há arrependimento e recomeço.
Referencia:
SERRÃO, Adriana Veríssimo. Pensar a sensibilidade. Baumgarten – Kant – Feuerbach, Lisboa, Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa 2007.
TOMASONI, Francesco. Tra misticismo e scienza: l’uomo e la sua ‘sensibilità’ nell’Eklektik, in: L’umanesimo scientifico dal Rinascimento all’Illuminismo, a cura di Lorenzo Bianchi e Gianni Paganini, Napoli, Liguori 2010,
Crime, castigo e arrependimento
O romance Crime e Castigo de Fiodor Dostoievsky é considerado um dos grandes romances da literatura universal, narra a história de um personagem que planeja a morte de uma velha agiota, e ao se deparar com a irmã dela, acaba por mata-la também, viverá um drama de consciência.
O personagem Raskólnikov, a polícia prende um inocente que acaba confessando pela pressão que sofreu, o personagem vai confessar o crime depois de sofrer uma enorme influência de Sônia, que compartilha com ele a descrição da ressurreição de Lázaro, contida no Novo Testamento.
O lançamento do livro foi em 1866, porém foi publicado em trechos antes numa revista literária, em onze capítulos do Mensageiro Russo, trata também de temas socialistas, porém de modo profundo e especial a questão da consciência.
A ideia que há justificativa para crimes em função da problemática social, e evidentemente uma agiota não é uma figura agradável, porém a morte e de modo mais amplo a guerra é deprorável.
A questão desta consciência individual não é apenas do período do autor, que viveu alguns anos inclusive na Sibéria no período dos czares,
Diversas histórias se desenvolvem em paralelo, entre elas o romance de Raskólnikov, entre elas o romance de Sônia com o protagonista, filha de um funcionário público, e a quem doou o dinheiro, a consciência individual e social estão amplamente discutidas neste romance.
O arrependimento é uma cura interior, a maior de todas que podemos ter em vida, ela sana e até “ressuscita” pessoas que morrem depois que cometeram atos graves e não apenas o homicídio, todo ato de ódio e desamor é uma tese um pequeno ato de “morte” do outro.
O romance de Dostoievsky é de grande importância para os dias atuais, quando a morte, o roubo e a as diversas mortes parecem justificáveis e não o são.
DOSTOIEVSKY, F. M. Crime e Castigo. Original 1866. Digitalizado 2004. (pdf)
Não há neutralidade nem inocência presumida
O resultado eleitoral no Brasil foi surpresa para muitas pessoas, entre os partidos em disputa há sempre um triunfalismo, isto é até natural, porém dentro das regras e das leis eleitorais que incluem as regras para divulgação de pesquisas e esta é a maior surpresa da eleição no Brasil.
O pior resultado das eleições democráticas é sempre algum arranhão na democracia, já frágil.
O livre debate de ideias e de propostas políticas é essencial na política e na sociedade como um todo, estes limites quando são extrapolados criam lacunas de ódio e intolerância prejudiciais ao processo político, não há como dizer que as pesquisas erraram e muito, porém erraram apenas em um sentido e isto é além da neutralidade presumida dos institutos de pesquisa.
Não há só desinformação, portanto, há também má informação e mal trabalhada pelos órgãos que deveriam preservar os critérios científicos matemáticos e estatísticos, dizer que houve uma virada às vésperas das eleições, é possível em dois até 4 pontos porcentuais, acima da alegada margem de erro, porém chegaram a 10% e até mais, isto não contribui com a democracia e tumultua.
Até mesmo o STF e STE se isentam de qualquer culpa ou pedido de investigação, afinal todas as pesquisas devem ser levadas ao Supremo Tribunal Eleitoral para poderem ser divulgadas, ou seja, ele pode não referendar (não é ele que faz a pesquisa), mas autoriza a divulgação e é solidário.
Para que não haja exploração político-eleitoral é necessária uma resposta a sociedade, até mesmo pesquisadores e analistas sérios comentaram o fato, cito Pablo Ortellado da USP (veja entrevista à BBC) que deu entrevista afirmando que devem rever os “métodos”, entenda-se aqui método por metodologia, penso que é pouco é preciso ter critério de neutralidade científica e política.
Para o bem da democracia, para um percurso pacífico e democrático no segundo turno é preciso sim esclarecer a sociedade como um todo, dizer que as pesquisas não influenciam é sofisma.
É preciso salvaguardar o processo eleitoral democrático e respeito as regras do jogo, no Brasil é muito difícil, mas a frágil democracia precisa disto e espera-se uma resposta à sociedade.