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Arquivo para janeiro 5th, 2023

Obstáculos da alegria

05 jan

Certamente o oposto da alegria é a tristeza, mas o problema não é a certeza de que teremos muitas dificuldades e tristezas na vida, o problema está em não saber como tratá-la.

Diversos psicólogos indicam que o problema da educação familiar atual é não deixar que os filhos ou parentes ou mesmo agregados que compõe o círculo familiar contemporâneo aprendam a lidar com a perda, os obstáculos e as tristezas da vida, lembro de meu pai que no leito de morte perguntava por um filho que ainda não tinha vindo vê-lo, só depois partiu em paz.

No livro de Anselm Grün ele indica a leitura de “João Felizardo” (Hans im Glünck) dos Contos de Grimm (Cinderela, O pequeno polegar, João e Maria, etc.) onde o personagem expressa que não precisa do ouro, da força e nem mesmo do sucesso do trabalho, ao perder as pedras que amolava tesouras num poço, a ultima coisa que lhe restava, pula de alegria e agradece a Deus pela graça de livrar-se daquelas pedras.

Meu segundo livro de propósito anual “A nova síndrome de Vicky” de Theodore Dalrymple, que fala do barbarismo europeu, aponta também um fundo cultural da infelicidade, agora social, em leitura que faz em sites de encontros, eles surgiram porque as pessoas estão presas em universos pequenos embora estejam em multidões nos shows, festas e baladas noturnas (vejam que não é específico do virtual, como indicam alguns autores), vão procurar afoitamente em sites de relacionamentos uma saída para a ilusão.

Entre vários ensaios, o autor cita dois casos de muçulmanos, um homem e uma mulher que ao descrever o tipo de pessoas que são, diz assim o rapaz: “sou um sujeito distraído e relaxado. Sou bastante sarcástico e tenho um grande senso de humor. Às vezes sou uma criança, mas sei quando tenho que ser sério.  Acredito que temos nossos altos e baixos, mas devemos tentar ver o melhor das pessoas … Gosto de pegar meu carro e sair … Acompanhar as mudanças do mundo. Gosto de comer fora, de pegar um cinema, de boliche, sinuca e críquete” (Dalrymple, p. 42), diz-se tentar ser um muçulmano, “tentando se tornar um cinco ao dia” (os muçulmanos rezam 5 vezes ao dia), segundo o autor no Reino Unido muitos se declaram religiosos, ainda é um sinônimo de confiabilidade.

Outro caso que cita, já na página seguinte é de uma muçulmana, que diz no site: “Oi, gente, sou uma mulher que gosta de se divertir, tenho os pés no chão e não julgo as pessoas”, como se de antemão já se desculpasse da postura de alguns muçulmanos de julgar as pessoas (“os infiéis”), porém o que o autor quer apontar é que todos querem se desculpar de algo, estão tentando algo e poucas vezes se definem, o fato de serem muçulmanos é apenas um exemplo, poderia ser de qualquer outra religião, ou no caso da polarização política, de qualquer ideologia.

O tema do médico e psicólogo Anthony Daniels (Dalrymple é um pseudônimo) é o mal estar da cultura e adesão dos intelectuais a um certo tipo de barbarismo, que faremos alguns apontamentos na próxima semana, porém ligo aqui o tema da alegria, que deve ser e só pode ser neste momento da história algo interior, uma vez que exteriormente reina uma crise civilizatória e procuramos explicar suas razões e fundamentos.

É possível em meio a crise individual ou social, encontrar razões e motivos para manter a alegria e ajudar a humanidade a encontrar caminhos que levem a verdade e a felicidade.

DALRYMPLE, Theodore. A nova síndrome de Vicky – porque os intelectuais europeus se rendem ao barbarismo. Trad. Maurício G. Righi. São Paulo: É Realizações, 2016.