Arquivo para fevereiro 28th, 2023
A questão da consciência
A grande questão para a Inteligência artificial foi até pouco tempo a autonomia, robôs, máquinas autônomas e agora automóveis autônomos, com toda polêmica o projeto evolui, a Alemanha, por exemplo, já prevê uma linha de carros autônomos para a próxima década que se iniciará.
A nova questão é a questão da consciência, ela já ocupa a cabeça dos filósofos a mais de um século, e pode conceituar de modo geral como a capacidade de assumir ações e consequências destas ações, o que tem a ver com autonomia, pois a autonomia é analisar as consequências dos atos praticados por máquinas, pelos limites de periculosidade e privacidade.
No âmbito da consciência social, ou histórica, este foi o grande debate de Gadamer com Dilthey, ao qual atribui uma concepção de consciência romântica pela ausência de uma “mediação histórica” a partir da facticidade, e pergunta “como se irá determinar a tarefa da hermenêutica” e encontra um ponto comum entre Schleiermacher e Hegel ” (Gadamer, 2002, Verdade e Método, p. 256), com os conceitos de reconstrução e integração, e segundo ele, Dilthey faz o caminho intermediário entre eles.
Explica Gadamer: “Schleiermacher e Hegel poderia apresentar as duas possibilidades extremas de resposta a esta pergunta. As suas respostas poderiam ser designadas com os conceitos de reconstrução e integração. Tanto para Schleiermacher como para Hegel, no começo se encontra a consciência de uma perda e [de uma] alienação frente à tradição, que é a que move a reflexão hermenêutica” (idem).
Entretanto dirá, cada um deles vai determinar a tarefa da hermenêutica de maneira diferente, e o que Gadamer chama de reconstrução e integração, significa a separação dos pré-conceitos e alienação em relação à tradição, e por isto reconstruir e integrar.
A célebre tese de Schleiermacher é “o que importa é compreender um autor melhor do que ele próprio se teria compreendido”, fez Gadamer pensar sobre a obra de arte, mas Schleiermacher fica preso a sua concepção de “história do espírito” que é seu conceito.
Já o que Hegel afirma, segundo Gadamer, é a criação de uma categoria ao afirmar que a essência do espírito histórico não consiste na restituição do passado, mas na mediação do pensamento com a vida atual, que é a prevalência e o idealismo do ideal sobre as questões factuais.
E a origem da consciência, como ela se deu, será que tem razão Terence Deacon ao afirmar que a mente veio da matéria, e com ela veio a consciência, se for verdade é possível pensar que de algum modo a máquina, nos níveis da Inteligência artificial, poderá ter “consciência” e então saberá que é máquina e que nós humanos não.
O que relacionamos nos vídeos de Gadamer e Peter Sloterdijk foi para introduzir esta questão, e se propõe a questão da verdade como gênese da consciência histórica (Gadamer, 2002, p. 265), assim a consciência de máquina não poderá ter este nível.
GADAMER H. G., Verdade e método, 4ª ed., tr. Flávio P. Meurer. Petrópolis: Vozes, 2002.